Meu amigo Adilson fez uma ponta em Temporada, filme mineiro, rodado em Contagem e Itaúna. O filme ganhou o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Fiquei atento na data de estreia. Li no site Filme B que Temporada tinha a estreia nas telas de cinema no dia 17 de janeiro, mas ao consultar a programação dos filmes em cartaz em Belo Horizonte na segunda-feira, dia 07 de janeiro, vi que havia uma sessão do filme às 20 horas no Cine Belas Artes. Confesso que não fiz uma leitura atenta. Como ainda estava de férias, saí de casa em direção à Praça da Liberdade, onde parei para tirar algumas fotos, aproveitando a luz de final de dia. Cheguei na bilheteria do cinema por volta de 19:15 horas. Estava vazia. Sem pestanejar, pedi uma entrada inteira para a sessão das 20 horas de Temporada. A bilheteira sorriu dizendo que a sessão de Temporada seria somente na quarta-feira, dia 09 de janeiro, às 20 horas. Fiquei frustrado. Nem tive a ideia de comprar antecipadamente. Retornei para a Praça da Liberdade e aproveitei a disposição para fazer uma caminhada de uma hora a passos largos. Em casa, coloquei na agenda com notificação para não perder horário para ver o filme.
Na quarta-feira, dia 09/01/2019, às 19:00 horas pulou na tela de meu celular a notificação sobre o horário de Temporada. Como já estava praticamente pronto, foi só calçar um tênis e sair. Fui caminhando desde minha casa. Caminhada curta, de exatos doze minutos até o Cine Belas Artes. Qual não foi a minha surpresa quando lá cheguei e vi dezenas de pessoas com ingressos nas mãos. Havia um fila enorme em frente à bilheteria. Na parede acima da bilheteria estava o cartaz do filme com a tarja ESGOTADO. Não entedia a fila. Resolvi perguntar. As pessoas que ali estavam tinham comprado o ingresso pela internet (nem pensei nesta possibilidade, pois sempre que vou ao Belas Artes, consigo facilmente comprar entrada), mas tinham que fazer a troca na bilheteria. Várias pessoas chegavam, olhavam o cartaz, faziam cara de frustração e iam embora. Outras, para não perder a viagem, entravam na fila para comprar ingresso para outros filmes em cartaz. Fiquei um tempo fora da fila, observando quem chegava, verificando se alguém tinha ingresso sobrando, se alguém queria vender alguma entrada. Encontrei gente conhecida que também tinha ido para ver o filme. Era a pré-estreia. Ouvi um cara dizendo que estavam fazendo uma fila de espera, em frente à sala 1, onde seria a sessão. Existia a possibilidade de liberar a entrada para os sem ingresso depois de todos que o tinham estivessem acomodados. Lembrei dos festivais de Brasília, onde por mais de uma ocasião fiquei em fila como esta para sentar no chão. Não queria isto desta vez. Mas não arredei pé, resolvendo entrar na fila para comprar ingresso, torcendo para ter alguém oferecendo entrada por ali. Esta fila estava muito lenta. Já eram 19:50 horas e ainda havia mais de dez pessoas na minha frente, todas com impressos comprovando a compra da entrada pela internet. Na minha frente um casal de meninas enamoradas conversavam alegremente quando uma jovem chegou para cumprimentá-las. Uma das meninas perguntou pela Jennifer. A jovem respondeu que Jennifer queria vender seu ingresso. Não tive dúvidas e entrei na conversa, reforçando a pergunta de onde estava Jennifer, pois eu queria comprar seu ingresso. A jovem disse que Jennifer estava em casa, mas seu ingresso estava com ela, no seu celular. Perguntei o valor que o vendia. Ela cobrou o valor que havia pago: R$ 8,80, esclarecendo que era meia entrada. Eu disse para ela ficar comigo na fila, que não havia problema em relação à meia entrada, pois eu faria o complemento na bilheteria. Às 20:05 horas chegamos na bilheteria. A jovem mostrou seu celular, onde havia o comprovante de compra de dois ingressos, para a bilheteira, que solicitou o comprovante da meia entrada. A jovem mostrou sua carteira de estudante e recebeu os dois ingressos. Dei R$ 10,00 para ela, dizendo que não precisava se preocupar com o troco. Ela ainda buscou moedinhas em sua bolsa, mas eu insisti que não tinha problema. Peguei o ingresso, passei rapidamente no banheiro, e entrei na sala. Do lado de fora, uma enorme fila de espera. Consegui sentar onde sempre gosto, na terceira fileira. Todos da fila de espera entraram, mas a maioria ficou acomodada no chão, muitos deles deitados. Antes do início do filme, toda a equipe foi até a frente fazer uma breve saudação, incluindo o diretor André Novais Oliveira e o pessoal da Filmes de Plástico. Filme mineiro, filme independente. Enfim, às 20:22 horas, teve início da projeção.
Que filme lindo. Grace Passô interpreta magistralmente Juliana, uma recém empossada agente de vigilância sanitária da Prefeitura de Contagem que visita os moradores da cidade combatendo o mosquito da dengue. O filme dispensa qualquer glamourização da pobreza, trazendo uma narrativa delicada, simples, do cotidiano de pessoas comuns, de gente como a gente, a vida como ela é. Grace Passô dá um tom bem contido à personagem no início do filme, mas vai crescendo, saindo de uma posição isolada para explodir em felicidade com os novos amigos e companheiros de trabalho. Temporada ainda traz uma ressignificação para o que conhecemos como paisagem. Nada de prédios e casas de arquitetura arrojada, jardins e praças bem cuidados, mas um panorama de casas ainda em tijolo, sem pintura, rodovia movimentada, uma laje cheia de quinquilharias e até um lago com esgoto, com direito a escavadeira fazendo o seu desassoreamento. E tudo com lirismo. Um filmaço. Valeu não ter desistido de esperar para conseguir entrar nesta pré-estreia. Ao final, ainda houve um interessante bate-papo com a equipe do filme, com a sala repleta de gente.