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domingo, 28 de fevereiro de 2010

NOITE EM IPANEMA

A noite de sábado foi em Ipanema. Quente, mas suportável. Reserva para 20 horas no premiado restaurante Satyricom (Rua Barão da Torre, 192, Ipanema). Chegamos no horário. Mesa já disponível para dois. Atendimento eficiente. O local foi enchendo na medida em que os ponteiros do relógio se aproximavam de 21 horas. Fila de espera enorme na entrada do restaurante. Eleito pela revista Veja 2009-2010 como o melhor pescado da cidade. Obviamente que escolhi um peixe para experimentar. Para acompanhar, um vinho branco chileno que não conhecia, Santa Alvara, sauvignon blanc. Pedi um tornedor de atum, acompanhado de rúcula e legumes levemente grelhados. Ric pediu um pargo assado com pimentões coloridos, azeite, batatas e azeitonas pretas. Enquanto esperávamos, aceitamos o couvert, com pães da casa, pasta de grão de bico, pimentões, berinjela e tamboriu. O pão de tomate é ótimo, vale a pena. O peixe também estava saboroso. Resisti à tentação e não me empanturrei de pão, como costumava fazer nos restaurantes. Os pratos que passam por nós são bem montados, com aparência e aroma marcantes. Uma perna de cordeiro assado me chamou a atenção, pelo tamanho e aromas. Nossos pratos chegam. São bem servidos. O restaurante é caro, mas a comida é farta. Nada de amostras de comida, como em alguns restaurantes por aí. O atum estava ótimo, tostado por fora e bem vermelho por dentro. Experimentei o pargo de Ric. Achei delicioso, leve. Só tomei um dedo de vinho, pois a dieta segue firme. No final, um café descafeinado. Ficamos uma hora e quarenta minutos no restaurante.  De lá, fomos a pé até a Rua Teixeira de Melo para encontrar com nossos amigos de São Luís. A ideia inicial era esticar a noite no Galeria Café (Rua Teixeira de Melo, 31, Ipanema), mas ele ainda estava fechado, só abrindo depois de 22:30 horas, conforme placa afixada no local. É um misto de bar e boate, voltado para o público GLS. Decidimos esperar em um bar no quarteirão de cima da mesma rua, o Boteco Belmonte (Rua Teixeira de Melo, 53 B, Ipanema). Sentamos em uma mesa para quatro do lado de dentro, pois todas as mesas da calçada já estavam ocupadas. Logo o bar encheu. Não quis nada, pois estava satisfeito com o jantar. Meus amigos pediram algo para comer e beber. Ficamos conversando, até o estresse se instalar, como sempre provocado por Ric. Meus amigos ficaram visivelmente sem lugar, desistindo de ir para o Galeria. Depois de uma hora de bate papo, decidimos voltar para dormir. Foi o que fiz logo que cheguei.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

QUE BOM TE VER VIVA

Sábado de dolce far niente no Rio de Janeiro. Manhã dedicada ao sono e à atualização deste blog. Tempo nublado e abafado, mas sem chuva. Almoço no Gula Gula (Avenida Henrique Dumont, 57, Ipanema). Comida saudável regada com um papo agradável. Salmão grelhado, legumes cozidos no vapor, arroz integral, Paris, Nova Iorque, Siena, Florença e Lisboa. Depois, voltei para casa. Li jornais de sexta-feira. Decidi ver mais um dos filmes que trouxe na minha bagagem. Optei pelo misto de ficção e documentário Que Bom Te Ver Viva (Que Bom Te Ver Viva), de Lúcia Murat, produção brasileira de 1989 que aborda a questão das torturas durante a repressão militar no cenário político brasileiro. São nove depoimentos de mulheres que sobreviveram às torturas sofridas na prisão nos idos de 1970. O interessante é que Murat entremeia depoimentos reais de sete mulheres toruradas, coloca em cena um depoimento escrito de uma que não quis se identificar e põe Irene Ravache interpretando uma anônima que sofreu a mesma situação. Os depoimentos são fortes, sensíveis, emocionantes, humanos, diretos. Quanto à Irene Ravache, ela dá um show de interpretação, fazendo um monólgo, se dirigindo quase sempre às câmeras, como se falasse diretamente conosco. O tema já foi tratado em livros, peças, artes visuais e filmes, mas neste há um diferencial. O olhar feminino para o tema das torturas e de como estas sobreviventes levaram adiante suas vidas, geralmente com a maternidade sendo um elo de força e esperança. Os homens neste filme são apenas coadjuvantes. Belo filme. Gostei.

CAIÇARA

Noite de sexta-feira quente no Rio de Janeiro. Cansado, decido assistir ao filme Caiçara (Caiçara), de Adolfo Celi. Produção brasileira de 1950, considerada o primeiro clássico da Companhia Vera Cruz. Estrelada pela bela atriz Eliane Lage, o filme conta a história de uma mulher órfã que vivia em um asilo onde foi buscada por um estranho para se casar. Ela se casa, muda-se para a ilha onde ele morava, mas não se dá bem com o marido, autoritário e com hábitos rústicos. Ela desperta desejo em alguns moradores da ilha, especialmente do sócio de seu marido em um pequeno estaleiro. Ainda há uma preta velha misteriosa que lida com o sobrenatural. A cópia do filme no dvd está muito ruim, com péssima qualidade de som. Há cenas inteiras em que eu não entendia nada. No dvd não há a opção de assistir com legendas, o que poderia ajudar na compreensão dos diálogos. De qualquer forma, foi interessante conhecer este trabalho de 1950, considerado por alguns críticos como a inserção do cinema brasileiro no cenário internacional. Eliane Lage era estreante e levou bem o papel da mulher infeliz no casamento. É claro que ela consegue um grande amor ao longo do filme. O cenário escolhido para o fim pode soar estranho, mas a mensagem que o diretor quis passar de fim e começo de uma vida me pareceu convincente. A melhor cena para mim é um tapa na cara que Marina (Eliane Lage) leva do marido com a câmera focando apenas o rosto da atriz. Não aparece o tapa, mas a expressão facial e o movimento do rosto transmitem para nós, espectadores, a sensação de que houve um tapa. Também gostei muito da cena seguinte ao tapa, quando Marina, com um dos ombros descobertos, se vê no espelho, revelando toda a beleza de Eliane Lage. Apesar dos problemas técnicos do dvd e de certa ingenuidade do roteiro, gostei de conhecer este clássico do cinema nacional.

RIO DE JANEIRO

Depois de ter almoçado pela quinta vez na semana no restaurante Terra Viva, em Brasília, seguindo a minha determinação de mudanças de hábitos alimentares, peguei Ric e bagagens para irmos ao aeroporto. No check in da TAM, muita fila, mesmo na posição de atendimento para quem tem o cartão de crédito TAM Itaú. Quando fui atendido, faltava menos de meia hora para o voo partir. No check in, uma demora inacreditável. O atendente me disse que o sistema operacional de emissão de cartão de embarque e etiqueta de bagagem era novo e que ele cometeu um erro. Foram necessários outros dois atendentes tentarem consertar o erro. Depois de muitas desculpas, tentativas e erros, conseguiram emitir minha etiqueta de bagagem. O tumulto era geral nas filas da TAM. Muita gente reclamando com medo de perder seus voos. Por incrível que pareça, o voo saiu no horário marcado e foi muito tranquilo. Pousamos no aeroporto Santos Dumont na hora exata, mas toda a pontualidade se esvaiu na longa espera para entrega das bagagens. Foram mais de trinta minutos. Com as malas nas mãos, comprei uma corrida de táxi em carro especial até Ipanema (R$ 46,00). Prefiro comprar estas corridas no aeroporto, pois o motorista pode dar a volta que quiser sem alteração no preço já pago previamente no balcão da empresa. Um amigo de Brasília nos emprestou o seu apartamento no Rio de Janeiro para nos hospedarmos neste final de semana. Com trânsito muito travado devido a hora do rush, o taxista saiu por caminhos alternativos, evitando a orla. Outro amigo também está no apartamento e deixou a chave para nós na portaria do prédio. Só colocamos as malas e saímos para comprar alimentos e bebidas para o café da manhã dos três dias na cidade. Escolhemos um supermercado perto. O tempo estava nublado e bem abafado. Na saída do supermercado, chuviscava um pouco. Voltamos ao apartamento, guardamos as compras, desfizemos as malas. Ligamos para amigos de São Luís, também na cidade para o show do Coldplay. Combinamos de nos encontrar para jantar. Como eles estão hospedados em um hotel em Copacabana, foi lá nosso ponto de encontro. Eu nunca havia tomado um transporte alternativo na vida. Foi a primeira vez, pois o trajeto Ipanema-Copacabana fiz de van, pagando R$ 2,20 pela passagem. Já na companhia dos amigos do Maranhão, percorremos a pé as ruas de Copacabana, nas imediações do Posto 6, para escolher um restaurante na orla para o jantar. Como estou com restrições alimentares, disse que teríamos que escolher um local que tivesse peixe grelhado ou assado no cardápio. Escolhemos o bar e butequim Manoel & Joaquim (Avenida Atlântida, 3.806, Copacabana), para apreciar um bacalhau à portuguesa. Embora no cardápio indique que o prato é para duas pessoas, ele serve com tranqulidade três. Pedimos tal prato para dividirmos por três. O garçom, muito simpático, informou que demoraria um pouco. Sem problemas, pois não tínhamos nenhuma pressa. Quando chegou, o aroma era delicioso. Eles assam o bacalhau envolto em folhas de couve, ao invés de papel alumínio. Aparência do prato também é apreciável. No entanto, achei o sabor insosso, sem sal. O melhor era a couve. Ficamos jogando conversa fora por quase duas horas no restaurante. Cansados, resolvemos não esticar a noite. Apenas uma volta a pé para casa. Acompanhamos nossos amigos até o hotel e de lá seguimos pela orla de Ipanema até o Posto 10, região onde estamos hospedados. Com um pouco de sono, mas sem vontade de dormir, optamos por assistir a um filme em dvd, pois eu trouxe na bagagem quatro filmes. O escolhido foi um filme nacional, objeto de post específico.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

RIO DE JANEIRO

Sexta-feria abafada em Brasília. Dia de reunião de trabalho, como sempre, mas também dia de viajar para o Rio de Janeiro, onde vou conferir o show do Coldplay. Capa de chuva na mala, pois a previsão do tempo é muita chuva neste final de semana. Também coloquei na mala filmes em dvd, caso a chuva atrapalhe sair. Ficarei no apartamento de um amigo, em Ipanema.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O LOBISOMEM

Noite de quarta-feira. Depois de um dia estafante de trabalho, nada como uma reflexologia para relaxar. Foram quarenta e cinco minutos de massagem nos pés e mãos reconfortantes que me fizeram até tirar uma soneca. Terminada a sessão, fui para outra sessão, desta vez de cinema. Com dois convites para a rede Cinemark, eu e Ric fomos conferir O Lobisomem (The Wolfman), de Joe Johnston, produção do Reino Unido em conjunto com os Estados Unidos, de 2010. Conta no elenco com Benício Del Toro, Emily Blunt, Anthony Hopkins, Geraldine Chaplin e Hugo Weaving. Refilmagem de um clássio do terror do cinema. Esta nova versão não me agradou. O filme é sombrio, muito escuro. O roteiro é confuso e a história é mal explicada. Já vi melhores filmes com lobisomem, inclusive comédias rasteiras. Achei Benício Del Toro muito preso na pele da besta fera. Além disto, todos os personagens são superficiais, não há aprofundamento em nenhum deles. Não gostei.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

TESTE DE AUDIÊNCIA - ANO IV

Nesta terça-feira, dia 23 de fevereiro de 2010, fui com um amigo na sessão surpresa do Teste de Audiência, projeto que entrou em seu quarto ano em Brasília. Para quem não sabe, trata-se de uma projeção de um filme brasileiro em longa metragem em fase de finalização, seguida de debate com o diretor ou produtor da fita. O evento é mensal e gratuito, contando sempre com um bom público fã do cinema brasileiro. Não posso fazer comentários sobre o que vi, pois assinamos um documento nos comprometendo a não fazer nenhuma menção ao filme até que ele esteja finalizado e lançado. Antes do debate, todos os presentes preenchem um formulário com as nossas avaliações sobre o filme. O filme é do diretor baiano João Ricardo Mattos e se chama Trampolim do Forte. Minhas críticas serão postadas tão logo o filme seja lançado.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

FIM DO HORÁRIO DE VERÃO

Enfim terminou o abominável e nefasto horário de verão. Durante o período em que ele vigorou, meu organismo custou a se acostumar. Agora tudo voltará ao normal.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

REPRESA DE QUEIMADOS - REPLAY



Foi tão bom o sábado que levantei cedo no domingo e voltei ao sítio de meus amigos. Represa de Queimados, Cristalina, Goiás. Dia quente, com brisa e uma deliciosa rede na varanda. Tudo de bom!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

REPRESA DE QUEIMADOS



Passei a tarde do sábado em uma casa de campo de dois amigos à beira do lago da foto. Fica a 100 quilômetros de Brasília, já no estado de Goiás. Sossego, tranquilidade, bom papo, comida gostosa, alimentos orgânicos, colhidos na hora na horta do local.

LARANJA AZUL



Depois de uma excelente tarde de sábado, fui conferir a peça Laranja Azul, em cartaz no Teatro II do CCBB. O valor do ingresso foi R$ 7,50, referente a meia entrada por ser correntista do Banco do Brasil. O texto é do inglês Joe Penhall, com tradução de Guilherme Leme e Marcelo Veloso. Guilherme Leme também cuida da direção e o elenco conta com Rogério Fróes (Dr. Foster), Pedro Osório (Dr. Greg) e Rocco Pitanga (Christian, o paciente). A peça se passa em um hospital psiquiátrico londrino, motivo pelo qual todos nós da plateia recebemos jalecos brancos na entrada do teatro. Com ambiente todo em branco, o público se assenta ao redor de uma sala do hospital, mais parecendo um aquário ou uma jaula, onde vemos desfilar as verdades de cada personagem. Discussões sobre poder, submissão, racismo, esquizofrenia são recorrentes ao longo dos cinquenta e cinco minutos em que o texto é encenado. O interessante jogo de verdades faz com que a plateia oscile em torno de cada personagem, fazendo com que a cada instante, a verdade de um seja a preponderante. Antes de começar o espetáculo, uma horrenda música eletrônica invade nossos ouvidos, parecendo intencional para que entrássemos no clima do hospital psiquiátrico. Até parecia que a música nos levaria à loucura. Gostei da interpretação de Rocco Pitanga, que conseguiu transmitir naturalidade e humanidade a seu personagem. Rogério Fróes é sempre o mesmo, na minha opinião, engolindo as palavras em meio ao sufoco no final das frases que exigiam uma maior velocidade. No final das contas, achei interessante o texto, mas poderia ter rendido mais. Embora a verdade acabe não sendo esclarecida, o que considero um ponto positivo do texto, permitindo várias leituras, há um corte muito brusco para terminar a peça.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

MÚSICA QUE OUÇO XXVII




Despretensioso como um piquenique - dançante e agradável

PRECIOSA - UMA HISTÓRIA DE ESPERANÇA

Depois de uma relaxante reflexologia em casa, resolvi conferir mais um filme candidato ao Oscar 2010. Escolhi ver Preciosa - Uma História de Esperança (Precious), de Lee Daniels, produção americana de 2009 concorrente a melhor filme, melhor diretor, melhor atriz (Gabourey Sidibe), melhor atriz coadjuvante (Mo'Nique), melhor roteiro adaptado e melhor edição. Elenco majoritariamente negro ou afro-descendente. É a história de Claireece Precious Jones (Sibide), uma adolescente que é maltratada pela mãe, estuprada pelo pai, analfabeta, gorda, pobre e sem perspectivas de vida. Ela encontra alento em uma escola "alternativa", para onde são enviadas alunas problemáticas. A partir daí, ela deixa de ter sonhos impossíveis e começa a acreditar em si mesma. O filme é narrado em off, o que eu não aprecio. De qualquer forma, é um filme emocionante, com a plateia enxugando as lágrimas nas cenas mais tocantes. Mo'Nique faz uma mãe tão perversa, como há muito não se via nas telas (talvez seja a mãe mais violenta que o cinema já produziu). É assustador vê-la maltratando física e psicologicamente a filha e seus netos. Parece que ela não tem coração. Creio que sua interpretação vá levar o Oscar deste ano. Há participações especiais dos cantores Mariah Carey e Lenny Kravitz. No final das contas, achei interessante, mas não gostei.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

CINZAS

Nova era se inicia para mim.

Reflexão.
Incenso.
Vela aromática.
Leitura.
Reflexologia.
Paz.
Mudança de hábitos alimentares.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

CORPO DOLORIDO

Acordei nesta terça-feira de carnaval com o corpo muito dolorido, reflexo do esforço físico do dia anterior. Fiquei com a sensação de que estava gripando. Dia de fazer as malas e retornar para Brasília. A manhã foi curta, pois levantamos tarde para tomar o delicioso café da manhã na pousada. Tentamos um late check out, mas não conseguimos. Arrumamos as malas, as colocamos no bagageiro do carro, fizemos o acerto (R$ 1.316,25 para cada quarto por três noites de carnaval). Pedimos para deixar os carros no estacionamento da pousada. Não só deixaram, mas disseram que poderíamos usar de todas as dependências comuns do local a tarde inteira, incluindo a piscina. Saímos para o almoço. Como nas vezes anteriores que estivemos na cidade, fomos comer um tucunaré grelhado com legumes no restaurante Celita (Rua Rui Barbosa, 1, Largo da Ponte de Pedra, Centro Histórico). Já sabendo que o prato era demorado, pedimos para petiscar lambaris fritos. Quando o tucunaré chegou à mesa, uma hora depois de feito o pedido, estávamos famintos. O restaurante ficou lotado. O peixe estava muito bem feito. Não conseguimos comer tudo, especialmente por causa do calor. Eu, particularmente, estava sem fome, tanto que nem a entrada experimentei. Depois de pagar a conta (R$ 146,00), voltamos a pé para a pousada, entramos nos carros e pegamos a estrada. Fiz o percurso em duas horas. A estrada estava bem cheia, com movimento intenso no trecho de volta para Brasília. Cheguei cansado, com sono e dor de cabeça. O suficiente para tomar um remédio, deitar e dormir. Fim do carnaval de 2010. A quarta-feira de cinzas está nas portas. É tempo de reflexão, de penitências, de alterar ritmos e hábitos.

NOITE DE CALOR INTENSO

A noite de segunda-feira de carnaval em Piri foi especialmente quente. Qualquer caminhada de poucos metros, já suava em bicas. Demos um volta para observar o movimento, antes de jantarmos. Como nas noites anteriores, muita gente nas ruas conversando, sambando, fotografando e bebendo, sempre em copos e garrafas de plástico. Quando decidimos jantar, voltamos para a pousada, pois a noite era de cardápio especial de massas no Capim Santo Bistrô (Rua Direita, 79, Centro Histórico), já incluído no pacote carnavalesco. Demoramos muito na mesa, jogando conversa fora, apreciando a comida. O calor continuava intenso. Foi preciso muito gelo nos copos para tentar refrescar um pouco. A sobremesa, uma espécie de bolo gelado, com pêssego, chamada picada de abelha, estava saborosa. Eu decidi subir para o quarto depois do jantar. Nada me faria voltar para a rua depois de ter acordado bem cedo, enfrentado estrada de terra para nadar nas águas gélidas da Cachoeira do Abade, ido à Fazenda Babilônia se fartar no café sertanejo, não ter dormido à tarde e ainda fazer uma caminhada pelo centro histórico no início da noite. O corpo pedia descanso. No quarto, liguei a tv para conferir o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, mas logo perdi o interesse. Peguei o livro que estou lendo. Ric saiu para, mais uma vez, acompanhar as marchinhas na Rua Direita. Depois de meia hora que ele tinha saído, retorna eufórico e decidido a se fantasiar. Colocou a roupa que ele fez para dublar o Ney Matogrosso, se enfeitou com glitter e penas, voltando para as ruas. Só chegou novamente ao quarto depois de três horas da manhã, feliz com o sucesso que fez nas ruas de Piri.

ENCONTRO COM UMA ESTRELA DO CINEMA

Há muito tempo sabia que a estrela do cinema nacional da época de ouro dos estúdios Vera Cruz, Eliane Lage, mora em Pirenópolis. Ela fez os filmes Caiçara, Sinhá Moça, Ângela, Ravina e Terra É Sempre Terra. Desta vez, Ric foi a campo para descobrir onde Eliane Lage mora e não foi difícil chegar ao seu endereço. Ele conseguiu o telefone da filha dela, ligou, marcou um encontro no coreto da praça, onde ocorre uma feira de artesanato e lá a filha lhe deu o endereço. Nesta segunda-feira de calor intenso em Piri, depois de uma tentativa de dormir na parte da tarde, nós quatro fomos até a casa da atriz, bem próxima à pousada onde estávamos. A casa estava toda fechada, mas tocamos campainha. Uma simpática e elegante senhora, do alto de seus oitenta anos, abriu a porta. Era a própria. Ela nos convidou a entrar, conversamos um pouco. Perguntamos sobre o livro que escrevera. Falamos da nossa intenção em comprar. Ela disse que escreveu para os filhos e netos, mas que foi bem recebido. Uma editora se interessou e ele foi publicado. O livro é autobiográfico, datado de 2005. Chama-se "Ilhas, Veredas e Buritis". Cada exemplar custou R$ 80,00 (compramos dois). Ela explicou que é caro, pois há muitas fotografias. A capa tem uma linda foto da atriz quando jovem. Ela fez duas singelas dedicatórias nos dois exemplares que adquirimos, um deles para meu amigo Pek. Batemos um breve papo com a presença de uma amiga dela, mineira de Conselheiro Lafayete. Há mais de trinta anos, Eliane Lage mora na pacata Pirenópolis. Antes de deixarmos o papo, registramos o momento em máquina digital.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

CACHOEIRA DO ABADE

Terceiro dia de carnaval. O calor continua presente. Refrescar nas cachoeiras da região é a opção. Nunca tinha ido a nenhuma cachoeira nas minhas outras vindas a Pirenópolis, mas desta vez capitulei. Escolhemos uma relativamente perto e saímos cedo, logo após o café da manhã, para evitar a multidão que iria tomar banho nas águas frias do Parque dos Pirineus. Ric ficou dormindo. Pouco mais de meia hora e chegamos na entrada da Cachoeira do Abade. Entrada a R$ 10,00 (as placas indicam o preço de R$ 13,00) por cabeça. Com boa infraestrutura, a recepção oferece chuveiros, banheiros, lanchonete com mesas e cadeiras para descanso. Compramos água e descemos o calçamento feito de pedras da região (as chamadas pedras pirenópolis iguais às chamadas pedra são tomé em Minas Gerais), mostrando que o turismo sustentável não agride o meio ambiente. O calçamento vai até a queda d'água e há corrimão de madeira nas partes mais íngrimes, facilitando a vida de pessoas idosas ou sedentárias. Descemos junto com uma galera de meia idade que chegou em uma van no local. Paramos no mirante para fotos. No caminho há várias espécies vegetais do cerrado com placas indicando o nome popular e o científico. Há um entrocamento, onde para o lado direito chega-se ao canion e para o lado esquerdo, chega-se à Cachoeira do Abade e o lago gelado que se forma antes do Rio das Almas seguir seu caminho. Optamos em descer para a cachoeira primeiro. Já estava com bastante gente. Há um vigia para evitar lixos e ousadias maiores na hora de enfrentar as águas geladas. Entrei no lago. Geladíssimo. Acostuma-se rápido com o frio. Uma recarga de energia positiva necessária. Estava precisando. Deixei ali as urucubacas que carregava nos últimos dias. Depois de fotos e fofocas, nós três resolvemos conhecer a área dos canions. Bonito, mas local estreito para nadar. Mais fotos e subimos para ir embora. No estacionamento, ao lado da recepção, já havia muitos carros. Concluimos que chegamos e estávamos saindo na hora exata. No caminho de volta, muito apertado, tivemos que parar diversas vezes para a fila de carros que ia em direção à cachoeira passar. Cruzamos vários carros, cheios de gente. Com certeza, a cachoeira iria ficar insuportável. Voltamos para a cidade, mas não paramos. Seguimos direto para a Fazenda Babilônia (Rodovia GO-431 km 03), onde um café sertanejo nos aguardava. Por R$ 30,00 por pessoa, come-se uma infinidade de quitutes preparados na hora, tais como bolo de mandioca, pão de queijo, pamonha assada e frita, paçoca de pilão, costelinha de porco, linguiça, almôngedas, matula de frango, queijo frescal, requeijão quente, melado, suco de maracujá e de goiaba, leite, café, melancia, biscoitos salgados e doces, broa de fubá, enfim, tudo que é bom e engorda. Tivemos que esperar meia hora para preparar nossa mesa, pois o local estava cheio. O ideal é pedir lugar separado, para não ter que dividir os quitutes com estranhos. Foi o que fizemos. Depois de saciados, voltamos para a cidade descansar um pouco.

BACALHAU, MUVUCA, BATUCADA E MARCHINHA

Noite de domingo em Piri. O calor continuou insuportável. A pé, percorremos o percurso do carnaval de rua da cidade. A multidão já se aglomerava na Rua do Rosário. Batucadas, mascaradas, apitos, confete, crianças, adultos, jovens, muitos jovens com bebida nas mãos (em garrafas pets devido à proibição de garrafas e copos de vidro nas ruas). Fomos direto jantar. O restaurante estava fechado, mas com as janelas abertas. Escolhemos uma janela e perguntamos se estava funcionando. O simpático proprietário abriu a porta do misto de antiquário e restaurante, dizendo que estava aberto, mas mantinha a porta fechada, pois em época de carnaval, muitos querem apenas usar o banheiro da casa. O restaurante é o Bacalhau da Bibba (Rua do Rosário, 42-A, Centro Histórico), cujo cardápio, enxuto, só tem pratos com o famoso peixe salgado. A escolha da mesa ficou por nossa conta. Escolhemos uma sala onde havia uma mesa montada para seis pessoas. Tudo no restaurante está à venda, desde os quadros nas paredes, até mesas, cadeiras, louça, talher e copos. A garçonete colocou um ventilador na sala onde estávamos para amenizar o calor que fazia. Um sino, também à venda, ficava em cima da mesa para chamarmos os empregados da casa. Pedimos uma porção de bolinhos de bacalhau como entrada. Sequinhos e com mandioca para dar a liga, estavam deliciosos. Como prato principal, pedimos duas especialidade da casa, ou seja, bacalhau ao forno com alho frito, cebolas, batatas e azeitonas pretas, acompanhado de arroz branco. O prato demorou a chegar. Uma batucada passa na rua, levando uma multidão atrás. A alegria é contagiante. Cada prato serve duas pessoas. Embora com o sal um pouco acima, gostei  do prato. Ficamos quase duas horas no restaurante. A conta ficou em R$ 447,00. Descemos a rua da muvuca, mas logo voltamos, pois estava congestionada de gente ao redor de uma batucada que não andava. Foi bom, porque vimos o movimento em todo o centro. Ao chegar na Rua Direita, uma multidão dançava ao som de marchinhas tocadas por uma banda ao vivo em palco montado para a ocasião. Tiramos algumas fotos e voltamos para a pousada, com Ric furioso, pois tinha  a ideia de sair fantasiado na noite, mas ninguém estava a fim de ficar. Ele desistiu da fantasia, mas não desistiu da noite. Chegou na pousada, se arrumou e saiu novamente, dizendo que não iria na cachoeira no dia seguinte. Deitei e dormi.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

DOMINGO DE CARNAVAL EM PIRI

Dia nublado, mas bem abafado. Foi assim a manhã de domingo em Piri. Depois de um fausto café da manhã na pousada, saímos para caminhar pelas ruas e praças da cidade. Durante a caminhada, vimos como a cidade está cheia, com muita gente nas padarias tomando café da manhã, barracas de camping lotando os locais destinados a elas, carros estacionados em frente às muitas pousadas da cidade. Foi legal ver seis tucanos voando baixinho e pousando em uma árvore. No caminho, percebemos que a Igreja Nossa Senhora do Carmo estava aberta, fato que nunca vimos nas nossas vindas para Piri. Resolvemos conferir. A igreja agora é um museu, o Museu do Carmo (Largo do Carmo, s/n, Centro Histórico), com pequeno acervo de arte sacra. A entrada custa R$ 2,00. Pagamos e conferimos em menos de quinze minutos a exposição permanente. Fiquei feliz com a reforma que estão fazendo no altar da igreja, muito detonado pela ação do tempo. Os andaimes e o material de trabalho dos restauradores estão em área onde é possível acompanhar a restauração. Pelo fato de estarmos em pleno feriado de carnaval, a restauração estava parada. Há também paineis com a história das igrejas da cidade. Gostei muito de uma peça de cobre em formato de peixe do século XIX que estava exposta. Há imagens de santos em madeira e em gesso, candelabros, ex-votos, santos de roca, balcão, entre outros objetos encontrados nas igrejas históricas do Brasil. Também gostei que havia público interessado em pagar a entrada para conhecer o museu. Depois desta visita, cruzamos a ponte de madeira sobre o Rio das Almas, quando vimos uma multidão se banhando nas águas claras do rio. Do outro lado da ponte, a antiga cadeia da cidade também virou museu, o Museu do Divino (Rua Bernardo Sayão, s/n, Centro Histórico) Resolvemos conferir. A entrada também custa R$ 2,00, mas não havia ninguém para cobrar. A exposição permanente está no segundo piso, mas é fraca. Há grandes paineis informando sobre as festas religiosas que envolvem o divino, com poucos objetos, particularmente aqueles usados durante a festa das Cavalhadas, que ocorre no mês de maio na cidade. O primeiro piso é destinado a exposições temporárias. Havia uma exposição de artistas locais. Depois desta rápida visita, continuamos nossa caminhada pela cidade, subindo, pela agradável Rua Aurora até o ponto mais alto da cidade, onde fica a Igreja do Nosso Senhor do Bonfim. Paramos para tomar uma água de coco. De lá, retornamos para a pousada, passando pela Ponte de Pedra e pela Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, terminando o passeio que durou duas horas e dez minutos. Na pousada, apenas vinte minutos de descanso. Voltamos para a rua para almoçar. Escolhemos o Empório do Cerrado (Rua do Rosário, 22, Centro Histórico), na famosa rua dos restaurantes, bares e cafés. Optamos em ficar do lado de dentro, com menos calor e a possibilidade de beber em copos de vidro, pois a prefeitura proibiu servir garrafas e copos de vidro no período do carnaval. Decisão acertada. Todos os garçons são simpáticos. Nas paredes, uma mistura de quadros e objetos para vender. Vi uma máscara do boi das cavalhadas do mesmo artista plástico que me vendeu uma máscara semelhante. Confesso que achei mais bonita a exposta no restaurante. Pedimos de entrada pasteis mistos, com recheio de carne moída e de frango com pequi. Só comi o primeiro, pois não gosto de pequi, fruto muito apreciado por estas bandas. Como prato principal, experimentei o salmão grelhado com molho de pesto de baru, acompanhado de risoto de alho porró e o mesmo alho porró frito picado bem fininho. Bom prato. Ficamos quase duas horas no restaurante. A conta ficou em R$ 224,62. O restaurante aceita cartão. Os três ainda pararam em um café na mesma rua para comer uma marmelada e tomar um cafezinho. Voltamos para a pousada para descansar, pois à noite, depois do jantar, vamos ver o carnaval de rua da cidade.

NOITE CALMA NO SÁBADO DE CARNAVAL

Depois de um descanso e de ler os jornais do dia, nada como um banho frio para aliviar o calor que faz em Piri. No pacote que fechamos com a pousada, na noite de sábado estava incluído o jantar. Preferimos, então, ficar no restaurante da pousada, chamado Capim Santo Bistrô (Rua Direita, 79, Centro  Histórico). Há vários ambientes onde as mesas são montadas. O mais agradável, com certeza, fica do lado de fora, em um jardim de cheiros (são vários vasos com ervas culinárias), mas já estava ocupado. Ficamos em um salão com apenas uma mesa montada, com decoração clássica, com dois grandes castiçais de velas. Os guardanapos estavam dobrados na forma de um catavento. O jantar, como os bistrôs franceses, tem uma fórmula pronta, na qual escolhemos uma entrada (salada de folhas com três opções de molhos), um prato principal (escolhi um peito de frango com pesto de baru, uma castanha do cerrado, acompanhado de batatas gratinadas, arroz branco e vegetais cozidos no vapor) e uma sobremesa (experimentei o petit gateau de chocolate com sorvete de creme). O serviço é simpático e eficiente. A comida é bem feita. Durante o jantar, um dos garçons nos pergunta se seria incômodo para nós uma noiva passar pela sala onde jantávamos. Não fizemos nenhuma objeção. O casal de noivos, devidamente paramentado, passou para uma série de fotos na pousada. Terminamos o jantar e eu decidi deitar, pois sentia muito sono (resultado do remédio que tomei para uma leve dor de cabeça no final da tarde). Cris e Marcelo fizeram o mesmo, enquanto Ric foi conferir o carnaval de marchinhas da cidade.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

CARNAVAL EM PIRENÓPOLIS

Mais uma vez em Pirenópolis, Goiás. Eu, Ric, Marcelo e Cris. Fizemos o percurso Brasília-Piri em dois carros. Estrada bem movimentada. Gastamos uma hora e quarenta para chegar na pousada que estamos. Novamente escolhemos, como da última vez em que aqui estivemos, a Pousada O Casarão (Rua Direita, 79, Centro Histórico). Estamos na mesma prumada, no segundo piso, cercados de árvores e pássaros cantando. Entramos pelo estacionamento, pois, da última vez, Emi levou consigo o controle remoto que abre o portão. A recepcionista não entendeu porque entramos por dentro da pousada. Mostrei o controle, explicando o engano de meu amigo. Rimos muito. Depois de instalados e com a fome apertando, pois já passava de meio dia, saímos a pé para almoçar. Pela cidade toda há faixas pedindo para as pessoas deixarem os carros, andando a pé, pois há vários pontos do centro histórico que o trânsito está interditado. A cidade tem os postes coloniais enfeitados com fitas e bolas coloridas. O som alto dos carros, comum em Goiás, está proibido. Há um palco montado na  Rua Direita, rua da pousada, onde uma banda tocará nas noites marchinhas de carnaval. Há servidores municipais controlando a entrada permitida de carros nas ruas. Parece que a organização vai funcionar direito. A muvuca, como sempre, acontece perto da Rua Nossa Senhora do Rosário e às margens do Rio das Almas. Paramos em um novo restaurante na rua dos bares (a citada na última frase). Bistrô do Cheffe (Rua do Rosário, 22, Centro Histórico). Com decoração bem simples, mesas e cadeiras de bambus, escolhemos uma mesa próxima à janela para ver o movimento. De entrada, bolinhos de mandioca fritos. Sequinhos e saborosos. Como prato principal, pedimos duas panelinhas (cada panelinha serve duas pessoas), uma onipresença nos cardápios dos restaurantes que servem comida goiana, mas que nunca havia provado. Consiste de arroz bem molhado no óleo, com linguiça picada, pedaços de lombo suíno e pimenta dedo de moça. Decorado com cebolinha picada bem fininha e palmito. É servido na mesa em uma pequena panela, daí o seu nome. Acompanha, em tijela à parte, feijão carioca caseiro. O prato estava ótimo. Com cinco garrafas de cerveja e dois refrigerantes, a conta ficou em R$ 158,40. Com o tempo abafado, suando em bicas, demos uma volta nas ruas do comércio, com movimento de turistas comprando artesanato. Paramos no Café da Ponte (Largo da Ponte de Pedra, Centro Histórico) para uma sobremesa, um biscuit, ou seja, um biscoito recheado de sorvete, totalmente dispensável. Como não estou tomando café, esperei os três beberem o café pedido, deixamos R$ 15,00 para pagar a conta e voltamos para a pousada, passando em uma farmácia e no banco para tirar dinheiro, já que vários lugares da cidade ainda não aceitam cartões de crédito, como no restaurante em que almoçamos. Hora de descansar. Enquanto os três foram aproveitar a piscina, preferi ficar no quarto, dormindo, pois esta foi a proposta que me fiz para este carnaval: muita leitura e descanso. Acordei no final da tarde, atualizo este blog e já tenho em mãos os jornais do dia para ler.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

VOX BRAZILIS

Noite de quinta-feira. Depois de uma bela reflexologia nos pés, mãos e cabeça, fui conferir os shows dos grupos vocais Núcleo Orgânico Performático e Mambembrincantes, ambos no projeto Vox Brazilis, em cartaz no CCBB de Brasília. Teatro vazio. Belos shows. Ingresso, como sempre, bem barato, a R$ 7,50 a meia entrada por ser correntista do Banco do Brasil.
O primeiro a entrar no palco foi o grupo paulista Núcleo Orgânico Performático, formado por cinco mulheres e dois homens. Quatro mulheres também fazem parte de outro grupo vocal que se apresentou na semana passada no mesmo projeto, cujo show tive a oportunidade de conferir, o Vozes Bugras. Foi um show interessante. Os integrantes do grupo tiram sons do corpo, com belos arranjos para canções de domínio público e versões para músicas de Tom e Vinícius. O ponto alto do show foi a interpretação para Quiquiô, uma canção indígena. O grupo utilizou voz e percussão com canos de PVC, no melhor estilo Uakti. Intimista, foi cantada bem próximo da primeira fila, onde eu estava sentado. Gostei muito.
O segundo show foi do grupo de Brasília, já com três cds gravados e um quarto sendo preparado. O Mambembrincantes entrou pela plateia e logo de início conquistou o público presente, especialmente algumas crianças que resolveram dançar na beira do palco. Com músicas de composição própria, o líder do grupo, Chico, colocou os presentes de pé para dançar uma ciranda. O público, inclusive eu, formou uma grande roda no teatro e dançou de mãos dadas. Um grande boneco foi uma atração à parte. Jaraguá, um pássaro enorme, dançou e sentou no colo de alguns dos presentes. Uma performance que divertiu a plateia. Ao final, os dois grupos entraram em cena e nova ciranda foi dançada pelo público. Também gostei muito.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O FIM DA ESCURIDÃO

Não tinha informações sobre o filme O Fim da Escuridão (Edge of Darkness), dirigido por Martin Campbell e com Mel Gibson no papel de um tira honesto de Boston, Estados Unidos, que tem sua filha assassinada em frente à sua casa. Entrei na sala de cinema sem grandes pretensões. Achei o filme sensacional. Roteiro bem feito, bem amarrado, com personagens interessantes e bem construídas. É um policial com várias reviravoltas, com boas sacadas para prender nossa atenção. Gibson é Tom Craven, um policial tranquilo, com fala pausada. Não é um filme de ritmo alucinado, muito antes pelo contrário, mas não é lento. Final esperado, mas de forma poética. Gostei muito do que vi.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

AMOR SEM ESCALAS

Domingo em São Paulo, pós show magnífico de Beyoncé. Calor forte. Voltamos ao Shopping Cidade Jardim, pois todos tínhamos curiosidade de conhecer a sala vip do complexo de cinemas da rede Cinemark. O preço é salgado, R$ 42,00 a inteira, mas digo que compensa. A sala é muito confortável. A distância da tela para a primeira fila tem oito metros. As cadeiras são de couro e tem descanso para os pés, como aquelas chamadas cadeiras do papai. Há porta copos e mesas móveis em todas as poltronas. Enquanto esperávamos, decidimos comer alguma coisa. Há cardápio, incluindo vinhos e espumantes. Fizemos nossos pedidos, pagamos e tudo foi entregue dentro da sala, pois os lugares são marcados. Um luxo!
O filme era um dos dez concorrentes ao Oscar 2010 de melhor filme, Amor Sem Escalas (Up In Yhe Air), de Jason Reitman, produção americana de 2009, com George Clooney, Anna Kendrick e Vera Farmiga, ambas também concorrendo ao Oscar como melhor atirz coadjuvante. História chata, sem grandes empolgações. Um executivo que viaja pelos Estados Unidos contratado pelas empresas com a missão de demitir seus trabalhadores. O mote é a fixação do executivo (Clooney) em acumular milhas e viver a vida de solteiro. Ao longo da história, conhece uma mulher executiva que também vive pelos ares e os dois tem um romance. Também tem que demonstrar para uma colega de trabalho que seu método de demissão cara a cara é mais eficiente e humano do que utilizar a tecnologia, como ela propõe. Não gostei da interpretação de Clooney e nem mesmo das atrizes que estão no páreo do Oscar. Valeu por conhecer a sala, muito mais interessante do que o filme.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

BEYONCÉ

Tarde de sábado. Como sempre, chove em São Paulo. Saímos do hotel às 18 horas em direção ao Estádio do Morumbi, local do show de Beyoncé. Pegamos um táxi. Motorista falante. Trânsito lento, mas descemos praticamente em frente ao portão indicado no nosso ingresso para entrar. Sem tumulto, entramos facilmente. Todos com capa de chuva nas mãos, pois o tempo estava fechado. A pista já tinha um grande número de pessoas. Havia alguns claros na multidão, sinal de que poças de água suja estavam formadas. Esperamos pouco, pois o show de Ivete Sangalo começou antes do previsto. Eram 19:45 horas. Elétrico e contagiante. Ivete desfilou seus sucessos dançantes, agitando todo o Morumbi. As arquibancadas davam um show, pulando, levantando as mãos e cantando junto com a cantora baiana. Na primeira música, Na Base do Beijo, Ivete escorregou no palco molhado e caiu, mas não perdeu a pose, fazendo brincadeira com o fato. Show de cinquenta e cinco minutos, terminando com País Tropical, de Jorge Ben Jor. Imediatamente, começaram a arrumar o palco para o show principal da noite. A espera foi longa, mas nada de chuva. O céu já estava estrelado. Infra de comida e bebida muito boa, com ambulantes passando sem parar. Bebidas estavam geladas e eram servidas em copos de plástico. Depois de esperar por uma hora e meia, as luzes se apagam, anunciando a entrada de Beyoncé em cena. Show magnífico, com uma interação da cantora americana com a plateia, que cantava todas as músicas. A produção é um espetáculo à parte, com um telão de alta definição no fundo do palco. Mesmo quem estava a longa distância, conseguia ver tudo o que se passava. Todos os sucessos foram cantados, com ótimas coreografias. A cantora é um sucesso. Carismática, agradeceu aos presentes, anunciando que era o maior público de sua vida. A galera do gargarejo era mostrada no telão cantando sílaba a sílaba todas as músicas. Alguns choravam de emoção. Depois da metade do show, Beyoncé atravessou uma passarela bem perto do público e caminhou até um segundo palco montado alguns metros à frente do primeiro. Ali ela ficou mais perto de seus fãs e fez alguns números. Voltaria a este palco quando da homenagem a Michael Jackson, interpretando seu grande sucesso Halo. Quando os acordes de All The Single Ladies são ouvidos, a galera vai ao delírio. Primeiro uma montagem divertida é mostrada no telão, com várias pessoas fazendo a performance da música. Em seguida, Beyoncé entra para arrasar na dança e na música. Ao final, ela troca de roupa umas dez vezes. Show de duas horas fantástico. Ela comprovou que, aos 28 anos, já é uma diva. Nota mil. A saída do estádio foi sem problemas, com a multidão em êxtase pelo que vira. Andamos um pouco, mas foi fácil negociar com um taxista. Cobrou R$ 50,00 para nos levar até o nosso hotel. Já de madrugada, fomos comer na Lanchonete da Cidade, onde víamos várias pessoas comentando sobre o memorável show da noite, a maioria com sapatos e pés sujos da lama da pista do estádio.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

CIDADE JARDIM

Manhã de sábado ensolarada em São Paulo. Café da manhã no hotel e compras no Shopping Cidade Jardim (Rua Magalhães de Castro, 12.000, Cidade Jardim) o atual templo do luxo da cidade. Percorremos com calma todo o local. Almoçamos no Nonno Ruggero, restaurante do grupo Fasano. Escolhi um risoto de parmesão e carne de ossobuco. Delicioso. De sobremesa, experimentamos o famoso bolo de chocolate da franquia portuguesa O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo, que possui um quiosque no shopping. Realmente o bolo é divino. Antes de sair, não resisti, como em oportunidades anteriores e comprei uma bolsa Louis Vuitton, obviamente dividindo no cartão de crédito.

INVICTUS

Já em São Paulo, com Ric e mais dois amigos de Belo Horizonte, decidimos ir ao cinema na noite de sexta-feira. Afinal, temos que apresentar ao hotel ingressos de show, teatro, cinema, concerto ou museu para justificar a diária cultural que estamos pagando (R$ 139,00 por apartamento com café da manhã) no Mercure Jardins. Em época de pré-entrega do Oscar 2010, optamos por um dos filmes concorrentes em cartaz no Cine Bristol, Center 3, na Avenida Paulista e próximo ao hotel. Paguei meia entrada por ter o cartão de crédito do Itaú (R$ 10,00). O filme foi Invicuts (Invictus), de Clint Eastwood, produção americana de 2009, com Morgan Freeman e Matt Damon. Freeman é Nelson Mandela, já eleito presidente da África do Sul e com a ideia de unificar o país, recém saído do regime do aparthaid. Damon é o capitão da seleção nacional, chamada Springbok, de rúgby, esporte praticado pelos brancos. Os negros preferem o futebol. A copa do mundo ocorre justamente na África do Sul, em 1995, com um time desacreditado por todos, pois perdera todos os torneios e amistosos jogados um ano antes. Mandela vislumbra a possibilidade de um início de unificação do país com este time de rúgby. Cheio de frases de efeito, parecendo sair de um livro de auto-ajuda, com interpretações convincentes de Freeman e Damon e com a história conhecida pelos registros da imprensa, achei que o filme empolga. A gente torce, mesmo sabendo o que acontecerá, fato antecipado pelo próprio título do filme. É leve, com cenas divertidas. As filmagens dos jogos é de um realismo fantástico. Gostei do que vi.

VOZES BUGRAS

Na última quinta-feira, iniciou mais um projeto diferente no CCBB de Brasília. Chama-se Vox Brazilis. Ingressos a R$ 7,50 a meia entrada para correntistas do Banco do Brasil. Trata-se de uma série de shows com grupos vocais brasileiros. Serão oito grupos, divididos em quatro grupos de dois. Assim, em cada show, há dois grupos se apresentando. Fui no primeiro dia do projeto, com os grupos Mawaca e Vozes Bugras, ambos de São Paulo, como as atrações anunciadas. Depois de meia hora de atraso, esperando as portas do teatro se abrirem, funcionários do centro cultural informam que o grupo Mawaca, por problemas com a mesa de som, não se apresentariam. Ofereceram a opção de assistir apenas o show do Vozes Bugras, com troca de bilhetes para o dia seguinte, em uma apresentação especial do Mawaca às 19 horas. Preferi ficar e conferir o grupo que não conhecia. O teatro ficou vazio, com menos da metade de sua capacidade preenchida. Novas explicações sobre os problemas técnicos e o Mawaca entra em cena, também pede desculpas e canta, à capella, uma canção de ninar do Haiti. Muito bonita. É a vez do Vozes Bugras entrar no palco. Sete mulheres, sendo quatro vocalistas, uma contatora de histórias e duas percussionistas. O grupo resgata canções de cunho religioso, além de fazer um belo estudo sobre as músicas de raiz. O forte da apresentação é quando elas cantam juntas. Em separado, a tendência para quem assiste é fazer as inevitáveis comparações. No final, uma interessante performance com batucada pelo corpo. Achei válida a experiência de conhecer este grupo e sua proposta. Na plateia, a maioria parecia ter acabado de sair de uma aula de yoga. Até brinquei com uma amiga, dizendo que a turma do oooohmmm estava por ali. Ao passar pela bilheteria, troquei o ingresso para a apresentação do dia seguinte, mas deixei com uma amiga, pois não estaria em Brasília. Algumas pessoas tiveram a coragem de, mesmo assistindo ao show, pedir o dinheiro de volta. Só pediria o dinheiro de volta se optasse em não ver o show.

CHAMPAGNES

Mais um encontro da Confraria Vinus Vivus, em sua quadragésima primeira reunião, ocorreu nesta semana. O tema da noite foi champagnes. Antes, os dez confrades fizeram um aquecimento identificando possíveis aromas que seriam percebidos nos champagnes selecionados para a degustação. Utilizamos o Le Nez du Vin, uma caixa com pouco mais que cinquenta vidrinhos com aromas florais, de frutas, defumados, entre outros. Foram separados os vidrinhos com aromas mais característicos dos champagnes. Em seguida, partimos para a degustação. Primeiro, um Dom Perrignon Vintage 2000 (R$ 650,00), o mesmo champagne com o qual brindei a chegada de 2010, em Salvador. Gostei muito. Em sequência, uma cava espanhola foi ofertada pela anfitriã. Kripta, ela vem em uma diferente garrafa, sem fundo achatado, inspirada nas antigas ânforas, o que não a permite ficar em pé. Forte, foi bem apreciada pelos confrades, mas, se comparada aos demais champagnes da noite, deixei ela em último lugar. Como terceiro vinho da noite, um Krug (R$ 770,00), com sabor marcante e aromas de pão tostado. A grande atração da noite seria a famosa Cristal 2002 (R$1.650,00). Para mim, uma decepção. O mais caro dos champagnes e não me agradou. Achei muito leve, fraca mesmo.
Na votação, Krug levou a melhor, com sete votos. Três votaram como o número um da noite o Dom Perrignon Vintage 2000. Realmente, Cristal 2002 foi a grande decepção para os presentes. Ainda vive da fama do passado.
Logo após terminarmos a degustação, a anfitriã nos brindou com uma nova degustação, desta vez de azeites. Chile, Tunísia e Marrocos foram as origens dos azeites. Houve também um quarto azeite, também do Marrocos, mas de argan, uma fruta local. Para acompanhar, um delicioso tartare de salmão em cama de beringelas. Deliciosos os azeites, todos eles. Preferi o azeite de oliva do Marrocos.
Para finalizar, uma massa com camarões e abobrinha, acompanhada pelo vinho branco Forest Ville (R$ 75,00), 100% chardonnay, safra 2007, oriundo da Califórnia, Estados Unidos. Todos sabem que tenho implicância com os vinhos brancos, mas achei o vinho degustado bem fraquinho.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

BAMBUS

O dia estava lindo. O céu muito azul, apenas com fiapos brancos quase transparentes de nuvens no horizonte distante. Zilca estava em um local descampado, aproveitando o sol da manhã. Uma grande sombra foi tomando conta do espaço ao seu redor. Uma sensação de abafamento e falta de ar lhe acometeu. Ela olhou para cima. Viu uma massa verde caindo em sua direção. No princípio, não conseguiu distinguir o que era, mas logo seus olhos identificaram um enorme feixe de bambus despencando. Os bambus caem em sua cabeça.
Zilca abriu os olhos e identificou o teto de seu quarto. Sua respiração estava ofegante. O lençol de baixo estava ensopado, principalmente no local em que ela estava deitada. Era mais um sonho com bambus. O quarto sonho em menos de quinze dias. Zilca começou a se preocupar. Pensou que era um sinal. Como das vezes anteriores, ela não conseguiu mais pegar no sono. Eram quatro horas da manhã. Levantou-se, ligou o seu computador para pesquisar na internet o significado de sonhar com bambus. Nada encontrou. Leu seus e-mails, respondeu alguns. Pegou um livro para ler. Leu até a hora de arrumar sua mala para mais uma viagem de trabalho. Zilca era diretora de uma empresa estatal e viajava muito pelo país. Participaria de uma importante reunião em Salvador. O voo estava marcado para o final da manhã. Depois de tudo pronto, tomou um banho, se aprontou e chamou um táxi. O motorista que sempre lhe atendia chegou na hora marcada. José era um senhor aposentado de uma estatal e complementava sua renda com as corridas de táxi. Gostava de conversar muito com seus clientes mais assíduos. Zilca logo perguntou se ele sabia o significado dos sonhos. José disse que não acreditava nestas coisas. Ela ficou encucada. No aeroporto, depois de ter feito o check in, procurou um livro sobre o tema na livraria. O atendente indicou o que mais vendia. Estava fechado em um plástico, impedindo-a de ali mesmo fazer sua consulta. Comprou o livro para ler durante o voo. O avião sai no horário. O livro é interessante, mas nada fala sobre bambus. Zilca leu o livro todo na hora e meia que dura o trajeto até Salvador. A reunião seria somente no dia seguinte. Ela se instalou no hotel indicado pela empresa e saiu para passear um pouco. Só pensava nos tais bambus. Ao regressar para o hotel, recebeu uma mensagem de um colega de trabalho a convidando para jantar. Ela entrou em contato com Augusto, confirmando sua presença. À noite, Augusto a pegou na porta do hotel. Ele tinha uma queda por Zilca, mas ela nunca dera chance a ninguém desde que se separou do único marido. A separação ocorreu havia quinze anos. O marido, um espanhol, levara os dois filhos pequenos para morar com ele na África e nunca mais dera notícias. Ela não tinha emprego na época e concordou que os filhos ficassem com seu ex-marido. Adolfo, o mais velho, tinha seis anos e Zéfrancisco tinha quatro anos. Zilca caiu em depressão quando percebeu que seu ex tinha levado as crianças embora e nunca mais os viu. Passou por vários tratamentos psicológicos, mas nunca superou o trauma. Continuou a viver sua vida, mas reservada e calada. Terminou o curso de Ciências Econômicas, prestou concurso para a empresa estatal para a qual trabalha até então. Augusto sabia desta história por conversar com a mãe de Zilca, enquanto ela era viva. Zilca era filha única e depois que sua mãe faleceu, se fechou mais ainda.
Augusto escolheu um belo restaurante para o jantar. Conversaram vários temas durante a agradável e quente noite de Salvador. Zilca falou sobre seus sonhos, mas Augusto era cético e nada ajudou. De volta ao hotel, sem sono, Zilca ligou a TV. Zapeando, parou em um canal para atender o celular. Uma reportagem sobre um estranho campeonato estava passando. Ela não se interessou, continuando a falar ao telefone. Apenas mirava a TV, pois ela ficava à sua frente. Começou uma entrevista com o campeão mundial da categoria. O entrevistador diz que o campeão tinha um estranho nome e era brasileiro, mas desde menino morava fora do Brasil. Seu nome era Zéfrancisco. Zilca ouviu, mas não se ligou no detalhe. Quando viu o campeão na tela, achou que suas feições eram conhecidas. O nome apareceu na tela: ZÉFRANCISCO PEREZ. Ela ficou muda, deixou o celular cair no chão. Era seu filho, não tinha dúvidas. Não conseguiu identificar o esporte. O programa estava no fim. Ela ligou depressa para a recepção, perguntando sobre o acesso à internet. Não tinha levado seu notebook. Desceu até o business center do hotel para buscar o endereço eletrônico do programa de TV. Achou, anotando o telefone. Voltou para o quarto e ligou para o número. Como era tarde da noite, apenas o plantonista atendeu, dizendo que não havia ninguém da produção do programa naquele momento e ele não sabia responder o que Zilca perguntava.
Foi a noite mais longa de sua vida. Zilca não conseguiu grudar o olho. Rolou na cama a noite inteira. Quando o sol raiou no horizonte, com bela vista de sua janela, ela pegou o telefone e novamente fez a ligação para o programa de TV. Depois de muitas transferências, Zilca consegue falar com alguém. Ela perguntou apenas onde seria a apresentação do campeão Zéfrancisco. Obteve a resposta de que seria em Lauro de Freitas, na entrada do aeroporto de Salvador. Que sorte! Estava em Salvador. Esqueceu a reunião e foi para o local indicado, na hora marcada. Muitas pessoas se aglomeravam no belo túnel de bambus que dava acesso ao aeroporto. Bambus! Zilca relembrou seus sonhos. Era um sinal, mas que esporte seria este que seu filho praticava?
Com atraso de meia hora, chega o campeão. Zilca chegou o mais perto que pode. Zéfrancisco é apresentado como campeão mundial de escalada de bambus. Zilca tremeu. Novamente bambus. Com uma destreza incrível, Zéfrancisco sobe nos bambus que formavam um grande arco. Parecia um animal fazendo aquilo. A demonstração durou vinte minutos. Em seguida, Zéfrancisco, que não gostava que o chamassem de Zé, foi para a entrevista. Antes, ele fez um pequeno discurso: "Sou brasileiro, embora cresci em Moçambique e hoje moro na Espanha, terra de meu pai. Sempre dedico minhas vitórias e minhas apresentações a meu irmão Adolfo, que faleceu quando tinha doze anos de uma estranha doença que nunca diagnosticaram. Penso sempre em minha mãe brasileira que não conheci, pois também faleceu quando eu ainda era bebê. Estou feliz de estar na terra onde nascemos". Zilca foi às lágrimas e num rompante gritou: "Eu não morri, eu estou aqui meu querido filho". Ninguém acreditou naquilo, nem mesmo Zéfrancisco. Zilca chorava, mas não saía do lugar. Tiraram o campeão dali. Acharam que Zilca queria aparecer na TV. Repórteres se viraram para ela. Ela chorava muito. Não dizia nada. Pegaram seu celular e ligaram para a última chamada registrada. Augusto atendeu. Logo ele a buscou. Ela estava em estado de choque. Foi levada para um hospital. Deram-lhe um calmante. Ela dormiu e sonhou. Sonhou novamente com bambus. Muitos bambus. No meio deles, Zéfrancisco pequenino.
A enfermeira passou e percebeu um leve sorriso no rosto de Zilca. Sua maca estava molhada, não havia respiração e, em sua mão, um pedaço de bambu.