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quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

IMPERDOÁVEL (THE UNFORGIVABLE)

Imperdoável (The Unforgivable), 2021, 112 minutos.

Direção de Nora Fingscheidt, tendo no elenco Sandra Bullock (Ruth), Jon Bernthal (Blake), Viola Davis (Liz), Vincent D'Onofrio (John), entre outros.

A trama: Ruth, após cumprir pena de 20 anos de reclusão por um crime violento contra um policial, recebe liberdade condicional e tenta se inserir na sociedade novamente, conseguindo um emprego, no turno da madrugada, em uma fábrica de processamento de pescados, e, de dia, em uma ONG, como marceneira, seu ofício antes da prisão. Ao mesmo tempo, tenta se reencontrar com a irmã, a quem não vê desde que foi presa. Neste processo, as pessoas não a aceitam, sendo marcada como uma assassina de policial. Os filhos do policial morto não concordam com sua liberdade e querem vingança. Um advogado que trabalha voluntariamente vai ajudá-la no caso.

É um filme sobre superação. Sandra Bullock, que também é uma das produtoras da película, durante toda a projeção, é apresentada sem nenhum glamour, com olheiras no rosto, cabelos desgrenhados e roupas com um ou dois números maiores do que a personagem usa. Ela até se esforça bem, construindo uma Ruth sofrida, mas determinada em alcançar seus objetivos. No entanto, o filme fica perdido quando se trata dos personagens secundários. Não há uma definição clara do papel de cada um no roteiro, mudando de comportamentos sem muita explicação, ou mesmo sumindo da história. Um desperdício dos talentos de D'Onofrio e, principalmente, de Viola Davis, que dá um show de interpretação em uma curta cena em que dialoga com Bullock do lado de fora de sua casa.

Gostei, mas nada que me tenha feito a cabeça.

Disponível na Netflix.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

CURTAS DIRIGIDOS POR STANLEY KUBRICK

Stanley Kubrick é um gênio do cinema, mas os três únicos curtas que dirigiu ficam bem abaixo da média de seus longas.

Os três curtas são documentários, sendo os dois primeiros em preto e branco. Todos eles rodados na década de 1950.



O Padre Voador (The Flying Padre), 1951, 9 minutos - mostra a rotina do Pe. Fred Stadtmuller para atender os fiéis de sua paróquia no Novo México, cujas longas distâncias ele pilotava um avião para chegar.






Dia da Luta (Day of The Fight), 1951, 16 minutos. Narra um dia na vida do lutador de boxe Walter Cartier. Narrativa muito formal.






Os Marinheiros (The Seafarers), 1953, 29 minutos. Primeiro trabalho que Kubrick usa as cores. Ele também é o responsável pela fotografia. É um filme promocional sobre o Sindicato dos Marinheiros norte-americano. Ficou mais de 40 anos  perdido. É muito machista. Vale apenas como registro histórico.




Disponíveis no YouTube.

NÃO OLHE PARA CIMA (DON'T LOOK UP)

Não Olhe Para Cima (Don't Look Up), 2021, 138 minutos.

Direção de Adam McKay, contando com um super elenco: Leonardo Di Caprio, Jennifer Lawrence, Merryl Streep, Cate Blanchet, Rob Morgan, Jonah Hill, Timothée Chalamet, Mark Rylance, Tyler Perry, Ron Perlman, Ariana Grande, Himesh Patel, entre outros.

Desde o dia da sua estreia em streaming, em 24/12/2021, é o filme mais comentado pelos perfis das redes sociais que acompanho. Há muitos falando bem e outros tanto falando mal.

Desculpe-me aqueles que falam mal, mas parece que vocês não entenderam a sátira ou se sentiram atingidos (jornalistas, entre eles).

O filme é uma tragicomédia, que satiriza bastante o mundo superficial das redes sociais, onde aparecer conta mais do que a preocupação de uma iminente colisão de um cometa com a Terra. Também arrasa com os negacionistas, com as empresas de ponta de tecnologia (representando o sempre predador sistema capitalista), que sempre miram em seus lucros bilionários, com os políticos que fazem de tudo para se perpetuar no poder, ou, no mínimo, se dar bem enquanto o poder está em suas mãos. Isso sem falar na crítica à imprensa, sempre aliada do capitalismo, e uma alavancadora/perpetuadora da ignorância da população. Outro ponto a destacar na ironia proposta pelo roteiro é a praga que se instalou no mundo de que tudo tem que ser visto pelo lado positivo, pela animação e alegria constantes (trabalho de coaching, que abomino...).

Mas a forma irônica que ele utiliza em sua narrativa, nem sempre será assimilada por todos, especialmente pelos negacionistas, pois alguns deles estão utilizando o filme para confirmar suas teses absurdas de direito à liberdade de não se vacinar, por exemplo.

Como o filme é recheado de estrelas de Hollywood, com muitos multiplamente premiados nas categorias de melhor ator/atriz, era se esperar excelentes performances. No entanto, tais performances de excelência não preenchem toda a narrativa, se limitando a alguns momentos da projeção.

Não é um grande filme, não traz novidades em quesitos de cinema em si (muito padronizado), mas é bem filmado, tem bons diálogos, faz rir e sentir raiva ao mesmo tempo, não traz final previsível, tem duas ótimas cenas pós créditos, com muita ironia e bom humor. É um retrato do nosso mundo contemporâneo, especialmente do Brasil.

Ao finalizar o filme, acabei por me lembrar da música Panis et Circense, dos Mutantes:

Mas as pessoas da sala de jantar
Essas pessoas da sala de jantar
São as pessoas da sala de jantar
Mas as pessoas da sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer

Enfim, vale muito assistir.

Disponível na Netflix.

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

SEGREDOS MÁGICOS (OUT)

Segredos Mágicos
(Out), 2020, 12 minutos.

Animação dirigida por Steven Clay Hunter que integra o programa SparkShorts, feito para televisão americana e disponível, aqui no Brasil, na Disney+.

Greg e Manuel vivem juntos em uma casa, para onde se mudaram recentemente e têm um cachorro. Greg nunca assumiu sua homossexualidade para seus pais, que, de repente, chegam na casa para comemorar a nova moradia. E agora?

Na confusão de esconder as coisas, a coleira do cachorro vai parar em Greg, que troca de personalidade com o cão. A magia se instaura, e é o cão que tenta esconder a foto de Greg e Manuel juntos.

Uma lisérgica história que indica a importância da aceitação das pessoas como elas realmente são, sem necessidade de enganar, de se esconder, de viver a vida com medo.

Vi, em 24/12/2021, na Disney+.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

A CRÔNICA FRANCESA (THE FRENCH DISPATCH)

A Crônica Francesa (The French Dispatch), 2021, 107 minutos.

Dirigido por Wes Anderson, que contou, como em todos os seus filmes, com um elenco espetacular, alguns deles em aparições curtíssimas: Tilda Swinton, Léa Seydoux, Benicio Del Toro, Adrien Brody, Frances McDormand, Timothée Chalamet, Jeffrey Wright, Bill Murray, Mathieu Amalric , Cécile de France, Owen Wilson, Steve Park, Willen Dafoe, Elizabeth Moss, entre outros.

São três histórias escritas para o fictício diário The French Dispatch, além de um obituário.

As histórias são filmadas em preto e branco e não têm relação entre si, enquanto as cenas fora das histórias são coloridas.

A primeira é sobre um presidiário que se torna um artista plástico famoso; a segunda sobre um levante de um grupo de estudantes; enquanto a terceira discorre sobre um chef de cozinha que serve um comissário de polícia, que tem seu filho sequestrado, gerando uma perseguição digna dos filmes noir. Tilda Swinton é a "escritora" da primeira parte; Frances McDormand da segunda, e Jeffrey Wrigth da terceira.

As cores utilizadas são fortes, com uma cenografia sensacional, bem característica dos filmes de Anderson. Tudo muito nem angulado, com simetrias geométricas. O diretor também utiliza do recurso de cartoon para contar parte da terceira história.

Deliciosa comédia, com elenco afinadíssimo, que tem ganhado alguns prêmios de roteiro original e de elenco.

Vi, em 26/12/2021, na plataforma Stremio.


ENCONTROS (ENCOUNTER)

Encontros (Encounter), 2021, 108 minutos.

Direção de Michael Pearce, estrelado por Riz Ahmed (Malik), Lucian-River Chauhan (Jay), Aditya Geddada (Bobby) e Octavia Spencer (Hattie).

O filme é uma mistura de ficção científica, suspense e drama, embora nem todos os gêneros aconteçam ao mesmo tempo.

A abertura de Encontros é sensacional, bem ao estilo dos documentários de ciências do Discovery ou do National Geographic. Mostra um asteróide caindo na Terra. Dele saem microrganismos que entram na cadeia alimentar de insetos até chegar em um mosquito que, por sua vez, pica um homem, dentro de quem o microrganismo se multiplica, fazendo da raça humana seu hospedeiro, mas alterando o humor de quem está infectado. As imagens tamanho gigante dessa cadeia alimentar é maravilhosa.

Malik é um ex-combatente de guerra que entra em uma desesperada missão para salvar seus filhos dos microrganismos. Os filhos vivem com sua ex-mulher e o atual marido.

Depois de uns quarenta minutos de filme, há reviravoltas imensas no roteiro, passando de ficção científica para um suspense com roupagem de drama bem pesado.

Ao tentar fazer esse plot twist, o diretor brecou um bom argumento para cair em um lugar comum dramático que já vimos centenas de vezes nos cinemas. Inclusive com possibilidade de se prever o final muito antes de chegarmos ao fim da projeção.

Mesmo com a presença de dois grandes atores, Riz Ahmed e Octavia Spencer, a parte do drama não alça voos.

Destaque para o jovem ator Lucian-River Chauhan que não se intimida ao contracenar com Ahmed. Ele consegue passar para o expectador toda a angústia, medos e dúvidas que vai adquirindo na jornada com seu pai e seu irmão menor.

Vi, em 25/12/2021, no Amazon Prime Vídeo.


domingo, 26 de dezembro de 2021

A FUGA (FLEE)

A Fuga (Flee), 2021, 90 minutos. Dirigido por Jonas Poher Rasmussen.

Flee é um documentário. Flee é uma animação. Flee é um grande filme.

Conta a história real de um refugiado afegão que vive na Dinamarca.

Em forma de animação, seguimos a história de persistência, determinação, tristezas, frustrações de Amin e sua família, desde sua infância em Cabul, quando gostava de brincar na rua trajado com os vestidos de sua irmã, passando pela prisão política e desaparecimento do pai, pelo refúgio da família na Rússia, onde sofreram com a corrupção policial, com as tentativas de sair da Rússia usando o serviço pago de coiotes, até sua chegada, sozinho, adolescente, em Copenhagen, onde é acolhido pela assistência social.

Amin conta sua história "secreta" ao longo das filmagens, como se estivesse em um consultório de um psicólogo. Tudo isso em momento anterior ao seu casamento com Kaspar.

Ele consegue estudar, se vê livre para viver sua vida, inclusive em relação à sua homossexualidade, se tornando um profissional bem sucedido e respeitado.

Amin sempre esteve fugindo: fuga do Afeganistão para a Rússia como refugiado, fuga da Rússia, um país onde não tem como conseguir ter uma vida digna, fuga de um sistema controlador (Afeganistão), fuga de um sistema policial corrupto (Rússia) , fuga de seus medos, fuga de sua sexualidade, até que encontra a paz ao decidir relatar no documentário a sua verdadeira história de vida, que sempre guardou contigo.

O documentário faz crescer, em quem está o assistindo, um complexo mix de sentimentos: raiva, tristeza, frustração, solidariedade, compaixão, felicidade e amor.

Necessário.

Vi, em 24/12/2021, na plataforma Stremio.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

CASA GUCCI (HOUSE OF GUCCI)

Casa Gucci (House of Gucci), 2021, 158 minutos.

Dirigido por Ridley Scott, que contou com um fabuloso elenco: Lady Gaga (Patrizia Reggiani), Adam Driver (Maurizio Gucci), Al Pacino (Aldo Gucci), Jeremy Irons (Rodolfo Gucci), Jared Letho (Paolo Gucci), Salma Hayek (Pina), Jack Huston (Domenico De Sole) e Camille Cottin (Paola Franchi).

No início dos anos 2000, eu li o livro Casa Gucci - Uma história de glamour, ganância, loucura e morte, escrito por Sara Gay Forden, tendo gostado muito da narrativa. Ao tomar conhecimento que o livro seria adaptado para a telona, fiquei empolgado, ainda mais depois que vi o elenco confirmado. Minhas expectativas ficaram enormes.

Depois de muito relutar em ir ao cinema, pois ainda evito aglomerações, venci meu receio e fui ao Cine Una Belas Artes, sessão de quinta-feira, às 17:30 horas, pagando pelo ingresso o valor de R$ 30,00 (inteira). A sala de projeção estava bem vazia. Nem dez pessoas assistiram ao filme naquele horário.

O filme me decepcionou. É longo demais, mas deixa enormes lacunas da vida de Patrizia Reggiani. Por exemplo, não há nem menção à Allegra, a segunda filha do casal Patrizia/Maurízio. Para quem não conhece a história, ficou parecendo que os dois somente tiveram Alesandra como filha. Também ignoram totalmente o tumor cerebral que fez com que Patrizia fosse para mesa de cirurgia poucos anos antes do assassinato (a defesa alegou problemas psíquicos consequentes do tumor no julgamento, mas este fato não foi aceito pelo tribunal do júri).

Outro lado decepcionante é a forma como mostram a evolução de Maurizio em seu relacionamento com Patrizia. De um homem apaixonado e seguidor dos conselhos e ideias de sua esposa, do nada ele passa a ignorá-la. Não há um ponto de inflexão para mostrar esta alteração de comportamento no filme. Para quem leu o livro, sabe que ele começou a ir para baladas e sair com modelos.

As performances são muito ruins, especialmente a de Jared Letho, que está over, com falsetes e trejeitos horríveis. Adam Driver está apático, duro, bem diferente dos outros dois filmes que estrelou em 2021 (Annette e O Último Duelo). Lady Gaga está histriônica, com um sotaque horroroso. Outra com um péssimo sotaque é Salma Hayek. Al Pacino também não está bem. Talvez os melhores em suas performances são Jeremy Irons e Camille Cottin, ambos com participações bem reduzidas no filme.

Para não só dizer daquilo que não gostei, destaco o figurino e a direção de arte, com ótima reconstituição de época, especialmente mobiliário.

Quanto a Ridley Scott, prefiro quando ele dirige ficção científica ou filme histórico, como O Último Duelo, também de 2021, muito superior a Casa Gucci, embora menos badalado.

Vi, em 23/12/2021, no Cine Una Belas Artes, Belo Horizonte, MG.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

ATAQUE DOS CÃES (THE POWER OF THE DOG)

Ataque dos Cães
(The Power of The Dog), 2021, 128 minutos.

Direção de Jane Campion. No elenco: Benedict Cumberbatch (Phil), Kirsten Dunst (Rose), Jesse Plemons (George) e Kodi Smit-McPhee (Peter).

Enfim, consegui ver o aclamado e tão incensado filme Ataque dos Cães na Netflix. É um dos grandes favoritos a vários Oscar 2022, já tendo ganhado algumas dezenas de prêmios em 2021, especialmente como filme, direção, ator, ator coadjuvante, roteiro adaptado e fotografia.

Confesso que minhas expectativas eram muito altas, tendo em vista não só os prêmios já arrebatados, mas também às notas que a crítica especializada tem dado ao filme. Ao final, não me arrebatou, embora reconheça um belíssimo trabalho de direção e de interpretação de todo o elenco (méritos para Jane Campion).

Jane Campion traz para esse faroeste passado nos anos 1920 vários elementos de seu famoso filme O Piano (1994), pelo qual ela ganhou o Oscar de roteiro original: a contemplação da natureza (as paisagens de Ataque dos Cães são de tirar o fôlego de tão belas e ao mesmo tempo, sufocantes), o ritmo lento das cenas, os detalhes focados em primeiro plano, a dificuldade de se estabelecer um amor de verdade, os conflitos internos dos personagens, e, claro, um piano.

Há uma desconstrução proposital do mito viril de um vaqueiro, que por décadas tem ficado no imaginário popular como a encarnação de um John Wayne. Em Ataque dos Cães, Phil é um vaqueiro amargurado com a vida, se irrita facilmente com a felicidade alheia, prefere a solidão (quase um ermitão, pois nem banho gosta de tomar), e tem um conflito interno enorme em relação à sua sexualidade. Ele quer demonstrar para as pessoas com quem convive que é um macho viril, com atitudes machistas, homofóbicas, que faz questão de verbalizar sua heterossexualidade. No entanto, quando está sozinho, isolado em sua natureza particular, toma banho pelado no rio, e sonha com seu mentor como vaqueiro, de quem guarda um lenço.

Por outro lado, Peter é um jovem afeminado que vai morar no rancho porque Rose, sua mãe, se casou com George, irmão de Phil. Uma relação de amor e ódio se instala entre Phil e Peter, que vai ser treinado pelo primeiro, para ser um vaqueiro. Ao longo do filme, Peter se mostra, apesar de sua fragilidade aparente, ser forte a ponto de matar animais sem nenhum tipo de piedade. Ele, sim, é o verdadeiro vaqueiro, mas sem aquela áurea de macho viril como nos faroestes dirigidos por John Ford.

Há várias insinuações sexuais no filme que demonstram a atração de Phil por Peter - a mais explícita para mim é, já quase no final, o plano fechado que a diretora faz no modo como Phil trança a corda de couro, que é um presente para Peter.

É um filme lírico, talvez o motivo pelo qual não tenha me arrebatado, pois poesia não é o meu forte, mas é um bom filme, merecedor dos prêmios que tem ganhado.

Vi, em 22/12/2021, na Netflix.


quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

BELFAST

Belfast, 2021, 98 minutos.

Escrito e dirigido por Kenneth Branagh. Estrelado por Jude Hill (Buddy), Catriona Balfe (Mãe), Jamie Dornan (Pai), Judi Dench (Avó), Ciarán Hinds (Pop).

Rodado em preto e branco, o filme se passa em 1969, na cidade de Belfast, Irlanda, no início da fervente guerra religiosa entre protestantes e católicos. No meio dessa confusão, uma família protestante vive em uma rua onde moram várias famílias católicas. Esta família é o n
úcleo do roteiro, com destaque para o garoto Buddy, interpretado lindamente pelo estreante Jude Hill.

Branagh traz suas memórias da infância em Belfast para a telona, que transborda emoção. Quem me conhece sabe que, com raríssimas exceções, não curto filmes com protagonistas crianças. Mas Belfast entra na exceção. Não há como não se envolver com a vida de Buddy, seus esforços nos estudos, primeiro amor, convivência com pais, avós, vizinhos, colegas de escola.

A sua vida flui, apesar de certas dúvidas e receios (o medo de se mudar de Belfast, de não conseguir se relacionar com outras pessoas longe de Belfast), com muita alegria de viver. Na medida que o filme evolui, referências da infância aparecem em cena, como um livro de Agatha Christie, um brinquedo dos Thunderbirds, carrinhos Matchbox, e muita referência audiovisual, seja na televisão da família ou na sala de cinema: o seriado clássico Jornada nas Estrelas; o filme Mil Séculos Antes de Cristo (One Million Years B.C.), estrelado por Rachel Welch; ou o cowboy símbolo máximo da virilidade no cinema, John Wayne;entre outros. Também há momento para relembrar Ginger Rogers e Fred Astaire, em uma dancinha dos pais de Buddy na rua em frente à casa deles.

Trilha sonora muito bem escolhida. Fotografia bem concebida por Haris Zambarloukos, com tomadas em claro/escuro que fortalecem as cenas.

Até o momento em que vi Belfast, o filme já tinha arrebatado vários prêmios, entre eles:

1. Escolha do Público - Festival de Toronto.

2. Filme e roteiro original - Washington DC Area Film Critics Awards.

3. 10 melhores filmes do ano African American Film Critics Awards.

4. Top 10 filmes do ano - New York Film Critics Online Awards.

5. Filme, direção, ator coadjuvante (Ciaran Hinds), roteiro original, jovem ator (Jude Hill) e 10 melhores filmes do ano - Phoenix Film Critics Society Awards.

6. Filme, roteiro original e jovem ator (Jude Hill) - Las Vegas Film Critics Society Awards.

Vi, em 22/12/2021, na plataforma Stremio.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

MEDO E DESEJO (FEAR AND DESIRE)

Medo e Desejo (Fear and Desire), 1953, 62 minutos. Primeiro longa de Stanley Kubrick, que também assina a fotografia e a edição.

Rodado em preto e branco, tendo como atores Frank Silvera (Mac), Kenneth Harp (Corby), Paul Mazursky (Sidney), Stephen Coit (Fletcher) e Virginia Leith (a mulher).

Como o tema do Clube de Análise Fílmica de dezembro 2021/janeiro 2022 é Stanley Kubrick, aproveitei para iniciar minha preparação para as aulas vendo o primeiro filme deste gênio do cinema. Foi a primeira vez que o vi, mas, ao vê-lo, consegui lembrar de várias cenas dos filmes que consagraram o cineasta.

Kubrick manifestou, anos mais tarde, que era uma obra quase amadora.

Quatro soldados estão perdidos em uma selva, tentando atravessar um rio, fugindo dos inimigos, que estão nas imediações, em uma guerra não especificada em nenhum momento da projeção.

Muitos elementos presentes em Medo e Desejo irão aparecer, mais tarde, nos filmes de Kubrick. O plano fechado no rosto dos atores, mostrando suas expressões faciais, estará presente em Laranja Mecânica, Nascido para Matar, Lolita e O Iluminado, por exemplo (minha memória está ótima, pois visualizei na mente várias destas cenas de plano fechado nestes filmes que citei). O horror da guerra, com as consequentes sequelas psicológicas nas pessoas, é sempre constante: Glória Feita de Sangue, Nascido para Matar, por exemplo. O desejo carnal vai aparecer em Laranja Mecânica, Lolita, e Barry Lyndon, e De Olhos Bem Fechados. A narrativa em off está em 2001: Uma Odisseia no Espaço, por exemplo.

A fotografia é parte da trama, pois funciona como um agregador às tensões vivenciadas pelos soldados.

A edição, e aqui vou concordar com Kubrick, é quase amadora.

Enfim, embora não tenha apreciado a trama, foi legal ver um filme identificando elementos que apareceriam na curta obra de Kubrick.

Vi, em 09/12/2021, no Belas Artes À La Carte.


quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

KING RICHARD: CRIANDO CAMPEÃS (KING RICHARD)

King Richard: Criando Campeãs (King Richard), 2021, 144 minutos.

Direção de Reinaldo Marcus Green, com Will Smith (Richard Williams), Aunjanue Ellis (Oracene Williams) e Jon Bernthal (Rick Macci).

Cinebiografia de Richard Williams, o pai das famosas tenistas Vênus e Serena Williams. O filme foca na construção das tenistas, com ênfase em Vênus Williams, a mais velha e a primeira das filhas a fazer sucesso nas principais quadras de tênis do mundo.

Williams é obstinado, otimista, estrategista, chantagista, fazendo de tudo para que as duas filhas se tornem famosas e ricas. Para conseguir isso, vale quase tudo: treinos noturnos em qualquer dia da semana, até mesmo debaixo de chuva, disciplina excessiva, exige de todas as cinco filhas dedicação aos estudos, de fazer análises de tudo, até mesmo de um simples desenho animado, como Cinderela. Ele tem ajuda, pero no mucho, de sua esposa e também treinadora, especialmente de Serena.

Vênus e Serena viraram, desde cedo, um "produto" que o pai tentava vender para financiadores ricos e/ou para treinadores famosos. É a lógica do capitalismo dominando, o que fica claro quando chega a primeira proposta de contrato de exclusividade com a Nike para Vênus, quando ela ainda tinha 14 anos de idade. Ele condicionou tão bem sua filha, que não aceitou e uma espécie de leilão veio em seguida, com todas as grandes marcas esportivas oferecendo contratos de exclusividade, com valores astronômicos.

O roteiro procura humanizar Williams, mas para mim, ele atingiu seu objetivo, com as duas filhas virando estrelas mundiais do mundo esportivo, plenas de fama e dinheiro, mas a que custo? Sacrificou infância, adolescência, amizades, amores juvenis, não só das duas, mas das suas cinco filhas.

As performances de Smith, Ellis e Bernthal podem render indicações nas premiações 2021 do cinema norte-americano. Se irão ganhar são outros quinhentos.

Vi, em 08/12/2021, utilizando a plataforma Stremio.


quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

ETERNOS (ETERNALS)

Eternos
(Eternals), 2021, 156 minutos.

Direção de Chloé Zhao, tendo um elenco enorme, entre eles, Gemma Chan (Sersi), Richard Madden (Ikaris), Angelina Jolie (Thena), Salma Hayek (Ajak), Kit Harington (Dane), Kumai Nanjiani (Kingo), Lia McHugh (Sprite), Brian Tyree Henry (Phastos), Lauren Ridloff (Makkari), Barry Keoghan (Druig), Ma Dong-seok (Gligamesh), Bill Skarsgard (Kro), e Harish Patel (Karun).

Mais uma leva de heróis do universo Marvel que chega aos cinemas, desta vez sob a direção da ganhadora do Oscar 2021 de melhor diretora, Chloé Zhao. Elenco de peso, diretora premiada, expectativas foram criadas. É ruim quando se vai ao cinema com expectativas altas (e desta vez, eu fui ao cinema, sessão vespertina, com pouquíssimas pessoas na sala de projeção do Cinemark Pátio Savassi), pois a decepção pode ser enorme. E foi este o caso.

Como são heróis pouco conhecidos da maioria das pessoas, eles tiveram que ser apresentados ao público. Os eternos são dez, o que demanda um tempo longo só para a audiência saber quem é quem, seus poderes e temperamentos. Para não ficar cansativo, a diretora optou por desenvolver a trama paralelamente a esta apresentação, com idas e vindas do passado para o presente, afinal eles são eternos e estão na Terra há milênios. Tal apresentação ficou enfadonha e, como era de se supor, não deu conta de aprofundar cada personagem. Ao final, não teve nenhum eterno que me cativou.

Também houve a preocupação da inclusão, tão em voga no cinema nos dias atuais. Aqui foi um prato cheio, pois como são personagens não tão populares como Homem de Ferro ou Capitão América, a construção dos personagens pode levar em conta características que permitiram fazer a representação de todes: gordo, gay, preto, asiático, latino, indiano, louro, deficiente (uma eterna é surda-muda), mulher, homem, enfim, todes representades. E, para mim, ainda ficou a dúvida do gênero da personagem Sprite (no Brasil, foi traduzido como Duende): fluido, trans, menina, menino?

Outro ponto importante: o empoderamento feminino. As mulheres lutam de igual para igual com os homens e os Eternos são comandados por uma mulher.

A mão de Zhao bem presente com muita filosofia, tomadas de paisagens em planos abertos, sequências lentas.

Obviamente, como em todo filme Marvel, nos pós créditos há a introdução de dois novos personagens, sinalizando uma continuação.

Spoiler: os eternos são eternos, pero no mucho.

Vi no Cinemark Park Savassi, em Belo Horizonte, dia 07/12/2021, pagando R$ 12,00 (meia entrada utilizando o cartão Elo).


terça-feira, 7 de dezembro de 2021

A FAMÍLIA ADDAMS 2 - PÉ NA ESTRADA (THE ADDAMS FAMILY 2)

A Família Addams 2 - Pé na Estrada
(The Addams Family), 2021, 93 minutos.

Animação dirigida por Greg Tiernan, Conrad Vernon, Laura Brousseau e Kevin Pavlovic. As vozes das personagens clássicas são de Oscar Isaac (Gomez), Charlize Theron (Mortícia), Chloe Grace Moretz (Wednesday), Javon Walton (Pugsley), Nick Kroll (Uncle Fester), Bette Midler (Grandma) e Snoop Dogg (it).

A animação começa bem, onde piadas inteligentes aparecem em uma feira de ciências do colégio de Wednesday, mas foi só. Depois da feira, a família Addams põe o carro na estrada em uma "road trip" pelos Estados Unidos, deixando a história repetitiva, com piadas sem graça, e situações manjadas e previsíveis. O famoso humor ácido que consagrou a Família Addams é deixado totalmente de lado. Uma pena, pois havia muito a explorar com a verve ácida da família para a história de Wednesday que se questiona se realmente pertence àquela família disfuncional, sendo a única cabeça brilhante no meio de um bando de loucos.

Fiquei com a impressão que os produtores/diretores ficaram com uma preocupação excessiva de fazer um desenho animado sem excluir nenhum tipo de pessoas, colocando todos eles em pé de igualdade. Há personagens, para além da família principal, brancos, pretos, asiáticos, latinos, gordos, magérrimos, baixos, altos, gays, lésbicas, casados, solteiros, enfim, puseram todo mundo na animação.

No entanto, há boas tiradas durante os 93 minutos de duração, como quando Tropeço senta no piano em um bar cheio de motoqueiros, começando a dublar o hino gay I Will Survive, eternizado na voz de Gloria Gaynor. A dança que vem a seguir, com personagens de todos os tipos e cores, é hilária.

Vi em 06/12/2021, utilizando a plataforma Stremio.




segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

007 - SEM TEMPO PARA MORRER (NO TIME TO DIE)

007 - Sem Tempo para Morrer (No Time to Die), 2021, 163 minutos. Direção de Cary Joji Fukunaga, tendo entre os atores do elenco: Daniel Craig (James Bond), Ana de Armas (Paloma), Léa Seydoux (Madeleine), Rami Malek (Lyutsifer Safin), Lashana Lynch (Nomi), Ralph Fiennes (M), Ben Whishaw (Q), Naomi Harris (Moneypenny), Roy Kinnear (Tanner), Jeffrey Wright (Felix Leiter) e Christoph Waltz (Blofeld).

Esclareço, de início, que sou um grande fã de 007. Desde criança assisto aos filmes e que meu James Bond favorito é Daniel Craig, embora Sean Connery é excepcional como o agente secreto mais famoso do mundo.

Este Sem Tempo para Morrer é especial, pois é a despedida de Craig no papel de Bond e, diferente das trocas anteriores de atores, quando a história seguia como se todos fossem um único James Bond, neste filme o ciclo se encerra, embora após todos os créditos finais aparece a informação de que James Bond retornará.

E como encerramento de ciclo, o filme tem uma forte carga emotiva: Bond não é mais 007, está casado, é monogâmico, descobre que é pai e quer um futuro de paz e tranquilidade para ele e sua família (ele estranha o termo "família" em determinada altura da projeção).

O MI-6 continua sendo dirigido por M, que nomeou um novo 007, ou melhor, uma nova 007 - mulher e negra (inclusão positiva!), estando às voltas com um roubo do laboratório da agência secreta inglesa de uma arma biológica fatal para a humanidade.

É um filme que tem um pé no passado do personagem Bond, trazendo para a história atual fatos ocorridos em filmes anteriores: menção à sua primeira mulher, Vesper Lynd, a volta da mais famosa organização criminosa Spectre, quadros em uma sala da MI-6 com fotos dos atores que interpretaram M, menção ao seu irmão.

Mas as marcas registradas de James Bond estão mais que presentes: perseguições com carros de luxo, mulheres lindas (Ana de Armas, Léa Seydoux, Lashana Lynch e Naomi Harris), o indefectível drinque Martini ("batido, não mexido"), gadgets de alta tecnologia criados por Q, um vilão que quer destruir a maior parte da humanidade (Safin), uma música tema escrita e interpretada por uma cantora de sucesso (Billie Eilish), situações surreais em que Bond escapa quase sem ferimentos, a trama se passa em mais de um país (Cuba, Reino Unido, Itália), figurino impecável do agente secreto.

O filme emociona, comove, diverte muito.

Vi, em 05/12/2021, no Stremio.

domingo, 5 de dezembro de 2021

O ÚLTIMO DUELO (THE LAST DUEL)

O Último Duelo (The Last Duel), 2021, 152 minutos.

Direção de Ridley Scott, contando no elenco com Matt Damon (Jean de Carrouges), Adam Driver (Jacques Le Gris), Jodie Comer (Marguerite de Carrouges) e Ben Affleck (Pierre D'Alençon).

Filme baseado em livro de Eric Jager, que é baseado em fatos reais, com roteiro assinado por Nicole Holofcener, Ben Affleck e Matt Damonn (os dois voltam a assinar juntos um roteiro depois de anos). A produção, entre outros, é de Ridley Scott, Ben Affleck e Matt Damon.

A trama se passa na Idade Média, Século XIV, tendo como mote o último julgamento com duelo até a morte na França (daí vem o título), sob o reinado de Charles VI, que é caracterizado como um idiota. A história é sobre um estupro. Mas temos a mesma história contada a partir da perspectiva dos três envolvidos: Jean de Carrouges, um cavaleiro fiel ao rei, mas em bancarrota financeira, que se casa para ganhar o dote e ter um herdeiro, Jacques Le Gris, seu antigo amigo, lutando juntos em batalhas, que tornou-se desafeto, sendo o principal conselheiro do Conde Pierre d'Alençon, e Marguerite de Carrouges, a esposa de Jean.

A primeira cena nos indica que o filme terminará em um duelo, para então começar as três visões do estupro.

Após sabermos os três aspectos do estupro, a trama nos coloca como participantes do julgamento, gerando dúvidas e mais dúvidas, embora a minha torcida já estivesse definida. Um julgamento no qual a igreja católica é dominante, e o Rei Charles VI define que a verdade será revelada, por vontade divina, no resultado da luta final.

O duelo é muito bem filmado, com cenas que parecem reais, tanto na parte em que os duelistas estão ainda nos cavalos, quanto nas lutas entre os dois em terra.

Na história, estamos nos anos 1300, mas a questão da posição da mulher na sociedade pode ser trazida para os nossos dias, pois como naquela época, ainda temos mulheres como propriedades dos homens, e há muita gente que culpa uma mulher por ter sofrido um estupro. No filme, o crime de estupro não é contra a mulher, mas sim contra a propriedade do marido.

O Último Duelo diverte, mas também nos leva a refletir.

O trio central da trama - Damon, Driver e Comer - entrega performances muito boas. Driver está presente em três filmes com potenciais de premiações em relação a 2021 (Annette, O Último Duelo e Casa Gucci). Comer deixa de lado o jeito moleca perversa de Killing Eve para entregar uma mulher doce, mas decidida neste filme de Scott (que também aparece duas vezes nos possíveis indicados para as premiações - O Último Duelo e Casa Gucci).

Um detalhe que não gostei: os penteados são horríveis. Damon aparece com um cabelo igual a Chitãozinho & Xororó, Affleck está com um cabelo super louro, e os penteados de Comer para as suas aparições públicas são bem caricatos.

Vi, em 04/12/2021, no Stremio.


sábado, 4 de dezembro de 2021

DUNA (DUNE)

Duna (Dune), 2021, 155 minutos. Adaptação do livro de ficção científica de Frank Herbert, que já tinha sido adaptado para o cinema em 1984, com direção de David Lynch, cuja versão foi execrada pela crítica, sendo fracasso de bilheteria. Nesta nova versão que chegou aos cinemas em 2021, a direção é de Denis Villeneuve, experiente em ficção científica, tendo um super elenco a seu dispor: Timothée Chalamet (Paul Atreides), Rebecca Ferguson (Jessica Atreides), Zendaya (Chaní), Oscar Isaac (Leto Atreides), Jason Momoa (Duncan Idaho), Stellan Skarsgard (Barão), Josh Brolin (Gurney), Chang Chen (Dr. Yueh), Sharon Duncan-Brewster (Dra. Liet Kynes), Dave Bautista (Rabban), Charlotte Rampling (Mãe Mohiam) e Javier Bardem (Stilgar).

Logo no início do filme, sabemos que a história não acaba, pois aparece no letreiro "Parte Um". O planeta Arrakis é desértico, mas é o único que produz especiarias para todo o universo. Seus habitantes convivem com a areia, com o calor, com vermes enormes que vivem debaixo das areias escaldantes, além de estarem sempre em luta com os homens do Imperium, que dominam o planeta e a produção das especiarias. A Casa Artreides é nomeada a nova administradora de Arrakis, para onde se muda toda a família e seu séquito. Jessica e Leto são casados, tendo como único filho Paul, que vai sendo treinado pela mãe na arte do domínio das pessoas com força do pensamento e pelo pai na arte das lutas para ser seu sucessor. Ele tem sonhos premonitórios, sabe ler a mente das pessoas, descobrindo seus passados, e nunca matou ninguém. Os Atreides sofrem um golpe e praticamente são dizimados, restando a Paul e sua mãe buscar os habitantes de Arrakis para fazer uma aliança.

Seitas secretas, fanáticos religiosos (os habitantes de Arrakis acreditam na chegada de um prometido), conspirações políticas, muitas naves em guerra como em Star Wars, efeitos especiais magníficos, lutas super coreografas, mas um tanto quanto confuso e cansativo pela longa duração.

Javier Barden e Zendaya têm participação bem pequena, mas importante, sinalizando que na Parte Dois seus personagens terão mais relevância para a história. Agora é aguardar para ver se o roteiro confuso desta primeira parte tenha melhores esclarecimentos na parte ou partes seguintes, já que li que teriam mais dois filmes para completar a saga.

Vi, em 03/12/2021, na HBO Max.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

BANDO À PARTE (BANDE À PART)

Bando à Parte (Bande à Part), 1964, 95 minutos.

Direção de Jean-Luc Godard, tendo como protagonistas Anna Karina (Odile), Claude Brasseur (Arthur) e Sami Frey (Franz).

Mais um filme de Godard revisto para as aulas do Clube de Análise Fílmica, cujo foco de novembro foi justamente o cineasta francês, que completou 91 anos neste 03 de dezembro de 2021.

Nesta nova experiência, claro que novas nuances foram por mim observadas, muitas delas graças às já citadas aulas do clube.

Acho que foi a quarta vez que vi este filme e minha opinião quanto ao conteúdo continua a mesma desde a primeira vez: o filme é muito chato.

Uma história de Franz e Arthur, dois assaltantes, jovens, que se unem a Odile, uma também jovem, todos frequentadores da mesma aula de inglês, para assaltar a casa onde vive Odile, pois nela, um tal Sr. Stoltz (não fica clara no filme a relação de Odile com tal personagem), guarda uma quantia considerável de dinheiro. Os três nem traçaram um plano para realizar o assalto, partindo para a ação, resultando em trapalhadas, desacertos, atos não pensados e frustrações.

Parece que a preocupação de Godard era fazer inúmeras citações, muitas delas literárias (leitura de Romeu e Julieta em sala de aula do curso de inglês, ou Arthur dizendo para Odile que seu sobrenome era Rinbaud, por exemplo), que não necessariamente são totalmente percebidas pelos que assistem ao filme. Também é muito preocupado com a forma, com os enquadramentos, com as citações que indicam ações que acontecerão ao longo do filme, pela luz (o filme é rodado em P&B), com a homenagem aos filmes de gangsters do cinema norte-americano. Com tanta preocupação, o roteiro acaba ficando para escanteio: é fraco e bobo.

Anna Karina começa com uma interpretação suave, quase inocente, para fazer uma performance exagerada, forçada mesmo, quando todos estão na casa para roubar o dinheiro. Algo meio teatral, um overacting.

Para não ficar só no que não gostei, a melhor cena acontece com os três personagens em um bar, jogando conversa fora, até que um deles diz que não tem mais nada para falar, momento em que Odile propõe um minuto de silêncio. O diretor corta totalmente o som, e ficamos na agonia dos segundos passarem. Uma clara crítica à juventude francesa da época. Após o silêncio, vem uma deliciosa dança dos três com passinhos ensaiados, lembrando-me dos bailes que frequentava na minha adolescência.

Há uma cena desnecessária, que não agrega nada à trama, que hoje seria cravada de críticas e cancelamentos: Arthur, caminhando com Odile, imita como um conhecido seu anda, pois é deficiente físico. E há cenas de puro machismo no comportamento de Arthur e Franz para com Odile.

Também tem um que de elitismo europeu. No diálogo final, Odile e Franz se preparando para viajar, ela pergunta se no Brasil há leões, cuja resposta de Franz é positiva, mas de forma irônica. Termina a projeção, uma voz em off indica que o próximo filme seria as aventuras de um casal francês nos trópicos, em CinemaScope e Technicolor. Na época, os filmes que atraíam multidões aos cinemas eram aqueles rodados com estas duas tecnologias.

Vi, em 02/12/2021, em DVD.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

7 PRISIONEIROS


7 Prisioneiros
, 2021, 93 minutos.

Produzido por Fernando Meirelles e Ramin Bahrani, dirigido por Alexandre Moratto, tendo como protagonistas os atores Rodrigo Santoro (Luca) e Christian Malheiros (Mateus).

Venceu os prêmios Orizzonti Extra (prêmio do público) e Sorriso Diverso Venezia Award (melhor filme em língua estrangeira), ambos no Festival Internacional de Cinema de Veneza.

Mateus e mais três jovens do interior de São Paulo decidem deixar a família e o trabalho na roça para tentar a sorte na capital. Eles são aliciados por um homem que, na despedida dos jovens, entrega um pacote de dinheiro para seus familiares, sinalizando que o futuro seria melhor. Em São Paulo, são deixados em um ferro velho controlado por Luca, que será um verdadeiro carrasco para eles. Os quatro ficam alojados com condições degradantes em um aposento no próprio local de trabalho e têm seus documentos retidos. Logo descobrem que o tal futuro promissor viraria um pesadelo. Mateus, líder nato, passa a questionar Luca sobre seus direitos e pagamento de salários, quando descobre que estavam devendo um montante astronômico, pois seriam descontados do salário deles o dinheiro entregue para a família, o alojamento, a comida, os itens de higiene. Trabalhariam sem nada receber até quitar a dívida, que, logicamente, aumentaria sempre.

O filme me deixou tenso na maior parte da projeção, pois sempre esperava Mateus liderar a turma para não só escapar, mas também se vingar, e para isso teve várias oportunidades. No entanto, o que vemos é a perpetuação do ciclo, pois Mateus, aos poucos, vai saindo do lado dos jovens escravizados (escravidão contemporânea), passando para o lado do opressor. Neste rito de passagem, ele tem acesso às estratégias de funcionamento do tráfico de pessoas para o trabalho forçado em São Paulo. Tal tráfico é tanto de jovens como ele, mas também de imigrantes que viam no Brasil uma oportunidade melhor do que em seus países de origem.

Percebe-se, ainda, que Luca não é simplesmente um patrão frio e mal, pois ele faz parte de uma engrenagem da qual existem pessoas acima dele, incluindo um político que entra em campanha para novas eleições. Ele dá ordens, mas também as recebe. A questão é muito mais complexa do que possa parecer.

Mateus fez uma opção clara: deixar seu passado para trás e ter um futuro melhor para si e para sua família, mesmo que isso custe a liberdade e a dignidade de outras pessoas, incluindo seus companheiros que iniciaram a jornada junto com ele.

Ao final, um dos companheiros queima, com um cigarro, o braço de Mateus. Ao partir com Luca para uma nova etapa (participar da campanha política), ele, dentro do carro, olha para a queimadura. Ele abandonava ali seu passado, mas a sua marca ficaria para sempre.

O final não é o que esperamos, mas reflete a vida como ela é.

Há alguns erros no roteiro, especialmente no que diz respeito à fiscalização trabalhista que acontece no ferro velho. Os fiscais se identificam como fiscais do Ministério Público do Trabalho - MPT, enquanto nos seus coletes está escrito Auditoria Fiscal do Trabalho. O MPT não tem fiscais, mas sim procuradores do trabalho, enquanto a fiscalização trabalhista é de competência do Ministério do Trabalho e Previdência. O modus operandi da fiscalização também é eivado e erros.

Vi, em 01/12/2021, na Netflix.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

O ESPIÃO INGLÊS (THE COURIER)

O Espião Inglês (The Courier), 2020, 112 minutos.

Dirigido por Dominic Cooke, estrelado por Benedict Cumberbatch (Greville), Merab Ninidze (Oleg) e Rachel Brosnahan (Emily).

A trama se passa no auge da Guerra Fria entre Estados Unidos e a então União Soviética. Greville, um empresário industrial, é abordado por diplomatas ingleses/americanos para ir a Moscou e se aproximar do informante soviético Oleg, que era militar, sendo uma espécie de correio entre Moscou e Londres (olha aí o motivo do título original), levando fotos de documentos secretos dos soviéticos que indicavam uma guerra nuclear. Greville aceita, torna-se amigo de Oleg, entra numa fria, é preso, torturado na cadeia, mas fica firme no seu intuito de proteger o amigo, que também é preso, e nada revelar sobre o que ele transportava.

Filme de espionagem, baseado em fatos reais (o verdadeiro Greville aparece no final da projeção), com ótimo figurino. A fotografia é um caso à parte, pois revela toda a tensão que vivia Greville quando estava em Moscou. Nestes cenários moscovitas, o diretor de fotografia usou tonalidades amareladas, dando um ar de filme policial dos anos 1940/1950, mas sem chegar a ser um "noir", mas carregado de tensão. Quando a KGB entra em cena, o filme quase se torna preto e branco, aí sim, resvalando no clima noir.

Gosto muito do ator Cumberbatch. Neste filme ele é super convincente, com momentos de tensão, de emoção, de desespero, de firmeza. Uma interpretação com olhos e expressões faciais.

Vi, em 30/11/2021, no Amazon Prime Vídeo.

terça-feira, 30 de novembro de 2021

FERIDA (BRUISED)

Ferida (Bruised), 2020, 129 minutos.

Filme dirigido e protagonizado por Halle Berry, que estreia na direção.

Berry é uma lutadora de MMA que abandona o octógono durante uma luta, no auge da carreira. Alguns anos depois, ela vive uma relação tóxica com seu companheiro, também seu empresário, mergulhou de cabeça no alcoolismo, não consegue se fixar em emprego e precisa de grana. Para piorar, o filho de seis anos que ela havia abandonado, deixando-o com pai, fica órfão de pai e vai viver com ela. O menino não fala pelo trauma de ter visto o pai morrer. Ela, então, volta a treinar para encarar novamente o octógono e ganhar dinheiro.

História de superação, de redenção, de afirmação como mulher, negra, em um universo essencialmente masculino.

Este tipo de filme já vimos um montão de vezes. Não consigo deixar de fazer comparação com o filme Menina de Ouro, dirigido por Clint Eastwood.

Ferida é mais cru, menos sentimental, com ótima performance da atriz Halle Berry.

Embora não sejam os temas centrais, racismo e misoginia estão inseridos na trama.

A luta final é muito bem filmada, cheia de detalhes técnicos de uma luta livre (que não aprecio), mas é longa demais. A luta de disputa do título mundial é entre uma negra (Berry) e uma argentina, com uma bela mensagem, ao final, de união entre as mulheres, especialmente as mais discriminadas no território norte-americano: negras e latinas.

No mais, muitos clichês neste tipo de trama.

Vi, em 26/11/2021, na Netflix.  

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

SPENCER

Spencer (Spencer), 2021, 117 minutos.

Direção de Pablo Larraín, roteiro de Steven Knight, estrelado por Kristen Stewart (Diana).

Primeiramente, até ver Spencer, tinha sérias restrições quanto ao trabalho de Stewart, especialmente por seu papel na saga Crepúsculo e como protagonista do horrível Branca de Neve e O Caçador. Mas minha percepção dela como atriz mudou totalmente depois de sua performance como a Diana-Spencer, a eterna Lady Di, no filme Spencer. Realmente é digna de indicações como melhor atriz como apontam as pré-listas e apostas para as premiações do cinema norte-americano de 2021, em especial o Oscar.

Nunca li nenhuma biografia sobre Lady Di, por isso não posso dizer se a história narrada em Spencer é fiel aos fatos ou se há muita licença poética do roteirista e do diretor. O que sei é que o filme é muito bom, com bela direção de arte, figurinos deslumbrantes e uma fotografia de encher os olhos.

A história se concentra nas festividades do Natal de 1991 em um castelo da família real inglesa.

Diana está completamente perdida mentalmente (na cena inicial, um indicativo deste transtorno, ela entra em uma lanchonete na beira da estrada e pergunta onde ela está), se sentindo um peixe fora do aquário dentro da família real. Seus problemas psíquicos se tornam um transtorno, tanto para ela, como para seus filhos e para a realeza. Sofre de bulimia, tem um pé na esquizofrenia, enxerga o fantasma de Ana Bolena, cuja biografia ela estava lendo. Fica apática, sem vontade de nada, ou melhor, sua vontade é se livrar do casamento, das amarras daquela família e ser livre (há uma metáfora interessante, quando ela conversa com um faisão que está prestes a ser morto, juntamente com vários outros da mesma espécie, em um tiro ao faisão, tradição da família real. Ela insiste para o faisão fugir, ir para longe dali).

Ela é vigiada o tempo todo, tanto pelos paparazzi, que ficam de tocaia nas imediações do castelo onde passa as festividades do Natal, quanto pelos empregados, todos fidelíssimos à rainha.

É um filme sobre a solidão. Mesmo cercada de empregados e de familiares, Diana sempre está cabisbaixa, com olhares parados, imersa em seus pensamentos e em seus devaneios, não podendo ser dona de seu próprio destino (até as roupas que ela vai vestir em cada refeição é ditada pelas regras da realeza).

Nesta etapa de sua vida, o casamento com o Príncipe Charles já estava degringolado, sua relação com ele era meramente formal, o caso extraconjugal dele já era público. Há um ótimo diálogo entre Diana e Charles onde ele diz que todos eles deviam ser dois. Um tipo para ser visto pelo público e outro, entre paredes.

O filme mostra uma rainha má, um príncipe distante e uma Lady Di com sérios transtornos psicológicos. Até que ponto cada uma destas características é verdadeira é o grande nó da questão.

Vi, em 26/11/2021, no Stremio.


domingo, 28 de novembro de 2021

O DEMÔNIO DAS ONZE HORAS (PIERROT LE FOU)

O Demônio das Onze Horas (Pierrot le fou), 1965, 110 minutos.

Direção de Jean-Luc Godard. Protagonizado por Jean-Paul Belmondo (Ferdinand) e Anna Karina (Marianne).

Eu vi este filme no início dos anos 1980, quando era estudante de economia na UFMG. Na faculdade tinha um cine clube que eu costumava frequentar. Só passava filmes de cineastas cultuados, como é o caso de Godard.

Confesso que detestei o filme.

Quatro décadas depois, o revi, pois estou inscrito no Clube de Análise Fílmica, coordenado pelo Prof. Alisson Gutemberg, cujo tema das aulas de novembro é o cinema de Jean-Luc Godard.

Revi Pierrot le fou com outro olhar. Já tinha participado de duas aulas sobre o cineasta francês, adquirindo conhecimentos, não só do professor, mas também da galera que participa do clube, com intervenções, ao final da exposição de Alisson, muito enriquecedoras. Com tal bagagem, além de centenas de filmes assistidos neste intervalo entre o primeiro contato com o filme e este último, minhas impressões foram outras.

O filme é uma ode de amor, não só pelo próprio roteiro, com a fuga de Ferdinand, casado com uma burguesa fútil, com Marianne, uma mulher decidida, com bagagem cultural, mas também um amor às artes.

A obra cinematográfica de Godard é repleta de citações e isto não é diferente em Pierrot le fou. Citações explícitas, verbais, como no diálogo de Ferdinand com a esposa, quando ele afirma que deu folga para a empregada da casa três vezes naquela semana para ela ir ao cinema ver Johnny Guitar, de Nicholas Ray, ou quando ele lê diversos trechos de livros, que é o caso da cena inicial, na qual Ferdinand está em uma banheira lendo, em voz alta, trechos sobre o pintor espanhol Diego Velázquez para um menininha, que não presta atenção, mirando o infinito.

Também há citações visuais, com diversas reproduções de pinturas na parede dos quartos, a exemplo de Renoir, Modigliani, Chagall e Picasso.

Ao participar da análise do filme no Clube de Análise Fílmica, tomei conhecimento de que a maior citação de todas é a do poeta francês Arthur Rinbaud. Citações verbais, citações visuais (desde a formação do título no início do filme), características do próprio personagem Ferdinand, até um poema declamado em off na cena final.

Outro ponto a destacar é o uso das cores para ajudar a transmitir os momentos/sentimentos vividos por Ferdinand. Ainda casado, ele vai a uma festa de ricos. Na medida em que seu tédio vai aumentando, as cenas ficam monocromáticas, passando pelo vermelho, o azul, chegando ao verde pálido, cena em que ele trava um diálogo com o diretor norte-americano Samuel Fuller (neste diálogo, Fuller define o cinema como "emoção") e sai da festa.

Nesta mesma festa, o diretor mostra a diferença de Ferdinand para a maioria dos presentes. Enquanto ele buscava sempre cultura, os homens presentes discutiam qual carro era melhor: Alfa Romeo X Oldsmobile, e as mulheres debatiam sobre desodorantes e laquês. A futilidade X o conhecimento. 

Quando ele estava vivendo com Marianne em uma casa no litoral, a fotografia é vibrante, é solar.

Ainda coube no filme inserções/críticas contra a violência das guerras, pois ainda havia marcas da Guerra da Argélia nos franceses, e estava em curso a Guerra do Vietnã na época em que o filme foi feito.

Desta vez não achei chato, muito antes pelo contrário, pois fiquei entretido, observei vários aspectos que tinham passado despercebido quando o vi pela primeira vez. Gostei muito.

Vi, em 25/11/2021, no Telecine Play.

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

O CASO COLLINI (DER FALL COLLINI)


O Caso Collini
(Der Fall Collini), 2019, 123 minutos.

Filme alemão dirigido por Marco Kreuzpaintner, estrelado por Elyas M'Barek (Caspar Leinen), Alexandra Maria Lara (Johanna Meyer), Manfred Zapatka (Hans Meyer) e Franco Nero (Fabrizio Collini).

Caspar Leinen, jovem defensor público, assume seu primeiro caso: defender Fabrizio Collini acusado de um assassinato, sem saber, inicialmente, que o morto era Hans Meyer, um senhor que praticamente o criou juntamente com seus dois netos. Ele tem um caso amoroso com Johanna, neta de Meyer. Ao saber que estaria defendendo o assassino de Meyer, ele tem conflitos internos entre defendê-lo, um desafio e tanto para se dar bem em sua carreira jurídica, e abandonar o caso porque tem um sentimento carinhoso por aquele que lhe ajudou a ter estudos. A coisa se complica porque Collini se recusa a falar qualquer palavra no tribunal. Não fala nem mesmo com Caspar, seu defensor público. Mas ao estudar o passado de Collini, Casper identifica que não se trata de um simples assassinato, pois na época da II Grande Guerra, Meyer cometeu crimes de guerra em uma cidade italiana. Muitas reviravoltas, com final surpreendente.

O diretor de fotografia optou por uma paleta de cores com tons amarelados, dando um visual de desgaste ao filme, situação que demonstra o que os personagens no tribunal vão sentindo ao longo do julgamento, que é interrompido várias vezes pela juíza que o preside.

Atuações convincentes de todo o elenco, com destaque para Franco Nero, que confere a Collini um ar de poucos amigos, de amargurado com o passado e atormentado por seu único objetivo de viver.

Vi, em 24/11/2021, na Netflix.

NO RITMO DO CORAÇÃO (CODA)

No Ritmo do Coração (CODA), 2021, 111 minutos.

Filme dirigido por Siân Heder, que também assina o roteiro, adaptado do filme francês La Famille Bélier ( Victoria Bedos, 2014).

Estrelado pelos atores surdos Marlee Matlin (Jackie Rossi), Troy Kotsur (Frank Rossi), Daniel Durant (Leo Rossi), além da atriz protagonista, que não é surda, Emilia Jones (Ruby Rossi).

Ruby é a única da família Rossi que não é surda, o que a faz intérprete da família em diversas situações. Ela ajuda o pai e o irmão em um basco pesqueiro e, mais tarde, também vai auxiliá-los na criação de uma cooperativa de pescadores. Ruby tem paixão pela música, entra no coral da escola, se destaca, recebe aulas particulares de seu professor de música e se inscreve para uma audição cujo objetivo é entrar em prestigiosa faculdade de música de Boston. Ela vai vivenciar conflitos com a família, especialmente com sua mãe, em relação a esta aspiração musical.

O roteiro é muito previsível, sem nenhuma surpresa ou reviravolta. O tema é sensível, agrada grande parcela dos expectadores, tanto é que sua nota é alta nos sites de avaliação de cinema e está presente em várias listas de possíveis indicações para os prêmios do cinema norte-americano de 2021/2022.

O roteiro é redondinho, mas sem algo que saia da zona de conforto.

Há cenas bem marcantes, especialmente quando na apresentação do coral da escola, em que Ruby canta no palco, seus pais estão na plateia, mas como não ouvem nada, conversa utilizando linguagem de sinais sobre o que irão comer.

Em um certo momento, a diretora tira totalmente o som do filme para que nós, os expectadores, tenhamos uma noção do que é ser surdo, especialmente em uma sala de espetáculo musical. Mexe com o sentimento de quem está assistindo, como uma ligeira quebra da quarta parede. O expectador entra no clima dos personagens surdos, deixando de ser um mero expectador. Sacada interessante da diretora.

No mais, filme leve e sem maiores pretensões.

Fiquei curioso com o título original - CODA. É uma sigla para crianças filhas de adultos surdos (children of deaf adults). O título brasileiro tem uma relação grande com a protagonista e suas aspirações.

Esteve em cartaz nos cinemas de Belo Horizonte, mas já não está mais. Vi, em 24/11/2021, no Stremio.

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

NOITE PASSADA EM SOHO (LAST NIGHT IN SOHO)

Noite Passada em Soho (Last Night in Soho), 2021, 116 minutos.

Dirigido por Edgar Wright e estrelado por Thomasin McKenzie (Eloise), Anya Taylor-Joy (Sandie) Mat Smith (Jack), Diana Ring (Ms. Collins), Terence Stamp (homem idoso) e Rita Tushingham (avó de Eloise).

Garota do interior, Eloise é criada pela avó materna, pois não conheceu o pai e sua mãe se matou quando ela tinha 7 anos. Ela é fascinada com os anos 1960, adora moda, é aprovada para fazer curso de moda em uma faculdade de Londres, para onde se muda. Inicialmente foi dividir um quarto na moradia estudantil, mas não se deu bem com as colegas. Mudou-se para um quarto na parte de cima de um casarão antigo de Londres, tendo como senhoria uma senhora idosa, que dita as regras para a mocinha: nada de cigarros e homens depois das 20 horas no quarto. Ao dormir, ela se transporta para os anos 1960, ficando entusiasmada com o que vê, quando conhece Sandie. O que era no início fascinação e inspiração para suas aulas, suas "viagens" à década de 60 torna-se um suplício, um verdadeiro horror.

O filme tem paleta de cores fortes, com tons de vermelho determinando o momento de cada cena nos anos 60, e tons mais neutros/pastéis nos dias atuais quando vemos a sala de aula.

O diretor parece gostar dos anos 60, pois a trilha sonora é fantástica, o figurino e penteados estão perfeitos, com muito cigarro e charuto em cena.

O que mais me chamou a atenção é o uso constante do suspense psicológico, deixando-nos em dúvida se as idas ao passado são sonhos de Eloise ou é um início de uma esquizofrenia, doença que sua mãe tinha.

Wright homenageia filmes da década de 1960, como O Bebê de Rosemary (1968), quando usa o suspense psicológico implícito; A Bela da Tarde (1967), com várias mãos e braços masculinos pegando Eloise em seu quarto; A Noite dos Mortos Vivos (1968), quando aparecem para Eloise dezenas de homens com os rostos desfigurados.

Elementos característicos de Alfred Hitchcock, especialmente os de filmes de sua fase inglesa, também estão presentes. Mas as reviravoltas nestas apropriações de filmes clássicos é constante, pois há também uso de elementos dos filmes slasher (serial killer, faca como instrumento de assassinato, mulheres bonitas, o medo de dormir e sonhar - A Hora do Pesadelo) ou daqueles que exploravam os corpos femininos.

Para seguir nas homenagens, estão no elenco três atores idosos que fizeram sucesso em filmes ingleses e europeus nos anos 60: Terence Stamp, Diana Ring (a quem o filme é dedicado, pois veio a falecer em 2020 quando o filme estava em fase de finalização) e Rita Tushingham.

E, como todo bom suspense, uma reviravolta na parte final do filme existe e é sensacional.

Gostei muito da performance de todo o elenco, com destaque para Thomasin McKenzie e Anya Taylor-Joy.

Filme com potencial para figurar em várias indicações para os prêmios do cinema norte-americano de 2021/2022.

Vi, em 23/11/2021, no Stremio.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

TICK, TICK... BOOM!

tick, tick…Boom!, 2021, 115 minutos.

Filme dirigido por Lin-Manuel Miranda e estrelado por Andrew Garfield.

O ano de 2021 está profícuo em matéria de musicais, a maioria figurando nas pré-listas de indicados para os prêmios mais famosos do cinema norte-americano. Tick, tick…Boom! é um desses musicais.

É um musical sobre a concepção de um musical autobiográfico feito por Jonathan Larson (interpretado de forma magistral por Andrew Garfield).

Larson concebeu Rent, o grande sucesso da Broadway que ficou mais de uma década em cartaz e gerou um filme.

Interessante ver um astro dos musicais atuais - Lin-Manuel Miranda - prestando um tributo a um ícone dos musicais.

A trama se passa no início dos anos 1990, e muitos amigos de Larson estavam morrendo de Aids. Seguindo os conselhos de Stephen Sondheim para escrever sobre o que conhece, Larson traz para seu musical Rent o drama dos amigos soropositivos, embora o musical Rent seja citado apenas no finalzinho do filme.

Garfield é muito versátil, exprimindo bem os momentos de euforia, de tristeza, de ansiedade, de alegria do personagem.

Vi, em 21/11/2021, na Netflix. 

GOVERNANÇA (GOVERNANCE - IL PREZZO DEL POTERE)

Governança (Governance - il prezzo del potere), 2021, 89 minutos.

Filme dirigido por Michael Zampino e estrelado por Massimo Popolizio.

A trama trata de jogo sujo de empresa e governo em uma licitação de construção de postos de gasolina em uma nova estrada federal na Itália.

O poder do dinheiro, do capitalismo sem pudores, do ganhar a qualquer custo.

Embora seja um tema atual e que desperta interesse, o filme é lento, chato de acompanhar, apesar das excelentes atuações do elenco. Mas retrata a vida como ela é.

Filme integra o catálogo do 16º Festival do Cinema Italiano.

Vi, em 21/11/2021, de forma on-line e gratuita, na plataforma do Belas Artes À La Carte.

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

A MORTE DO DEMÔNIO (EVIL DEAD) - 2013

A Morte do Demônio (Evil Dead), 2013, 91 minutos.

Baseado no roteiro de Sam Raimi para filme de mesmo nome lançado em 1981 que teria mais duas sequências, todas estreladas pelo canastrão Bruce Campbell.

Nesta versão de 2013, dirigida por Fede Alvarez, cinco jovens se isolam em uma casa no meio do mato, propriedade da família de 2 deles, com o objetivo de ajudar Mia a se livrar das drogas. São dois casais de namorados e Mia nesta cabana de madeira. Na casa, houve, no passado, um ritual para mandar o demônio de volta às trevas. O livro maldito é encontrado por um dos jovens, que acaba invocando o tal demônio. Aí começa uma verdadeira carnificina.

Ao contrário de 1981, agora uma mulher é protagonista, Mia, e a famosa cena do personagem de Bruce Campbell cortando sua própria mão com uma serra elétrica agora é homenageada em 2 momentos desta versão de 2013, ambas protagonizadas por personagens femininos.

Bons efeitos especiais e interpretações de filme B, como “exige” este tipo de produção.

Outros filmes homenageados: O Massacre da Serra Elétrica, Hellraiser e, obviamente, Helloween.

Vi, em 20/11/2021, na Star+ .

SHANG-CHI E A LENDA DOS DEZ ANÉIS (SHANG-CHI AND THE LEGEND OF THE TEN RINGS)


Shang-Chi e A Lenda dos Dez Anéis
(Shang-Chi and The Legend of The Ten Rings), 2021, 132 minutos.

Filme dirigido por Destin Daniel Cretton. Estrelado por Simu Liu (Shaun/Shang), Awkwarfina (Katy), Tony Leung (Xu Wenwu), Michelle Yeoh (Ying Nan) e um irreconhecível Ben Kingsley (Trevor).

Herói asiático do universo Marvel que eu nada conhecia. Lutas super bem coreografadas, quase um balé, cor em abundância, interpretações convincentes.

Foi legal ver Michelle Yeoh em luta coreografada que remeteu ao filme O Tigre e o Dragão, de 1993, dirigido por Ang Lee, que ela protagonizou. Por falar nesse filme, as lutas são bem parecidas.

Também percebi uma “chupada” de cenas de Jurassic Park, quando os carros andam em uma savana repleta de animais exóticos.

Por fim, tenho uma certa atração por Tony Leung, desde os filmes de Wong Kar-Wai, e adorei vê-lo super bem com seus 59 anos de idade.

Vi, em 20/11/2021, na Disney+.