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quinta-feira, 9 de junho de 2022

VIVER A VIDA (VIVRE SA VIE: FILME EN DOUZE TABLEAUX)

Viver a Vida (Vivre Sa Vie: Film en Douze Tableaux), 1962, 80 minutos, direção de Jean-Luc Godard.

Rodado em preto e branco, o filme é narrado em doze quadros. Como em outros filmes dirigidos por Godard, a câmera é uma observadora que acompanha Nana (Anna Karina) se embrenhando no mundo da prostituição. O filme assume, em muitas cenas, um tom documental, de observação.

O roteiro não tem intenção de explicar muito sobre Nana. Logo de cara, em uma tomada sensacional, quando ela e o homem com quem conversa em um balcão de bar são mostrados de costas, mas dá para ver o rosto de Nana no espelho ao fundo, sabemos que o homem é seu marido de quem está separada, que deixou o filho com ele e que precisa de dinheiro. Mas não nos mostra os motivos. São fatos que interessam ao espectador para compreender a decisão de Nana em se prostituir.

Nana é fria, não esboça sentimentos, salvo raras exceções, a saber, no cinema quando chora vendo A Paixão de Joana D'Arc, filme mudo de 1928 dirigido por Carl Theodor Dreyer, e quando dança alegremente Swing! Swing! Swing!, música de Michel Legrand, em um bar, em volta de mesas de sinuca, com a câmera girando 360º. Interessante notar que Anna Karina voltaria a dançar em um bar em uma cena icônica do filme Band À Part, também dirigido por Godard, lançado dois anos depois de Vivre Sa Vie.

Mesmo como prostituta, Nana não aparece nua em nenhum momento e também não vemos cenas de sexo entre ela e seus clientes (apenas há uma insinuação em uma passagem breve no quarto do hotel onde ela trabalhava como prostituta).

Godard faz várias citações durante o filme, como de costume. A começar pelos intertítulos que antecedem cada um dos 12 quadros, que nos remetem aos filmes mudos, que usavam deste expediente para mudar de cena. Também ele silencia, por duas vezes, diálogos, colocando legenda para sabermos o que estão conversando, outra referência aos filmes mudos, que também eram em preto e branco. Coloca uma cena impactante de A Paixão de Joana D'Arc de mais dois minutos, tentando fazer um paralelo entre o sofrimento de Joana D'Arc, magistralmente interpretada por Renée Jeanne Falconetti, e o sofrimento de Nana, que chora no mesmo instante em que a heroína também chora sabendo que morrerá na fogueira. Godard também cita Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas, mostra um personagem lendo Obras Completas, de Edgar Allan Poe, e tem um ótimo diálogo entre Nana e um senhor na mesa do bar (Brice Parain), no qual são citados Platão e filósofos alemães, e ainda filosofam sobre o verdadeiro amor.

A trilha sonora, composta por Michel Legrand, é um caso à parte. Em algumas cenas, a música instrumental pontua o que está se passando com a personagem principal, mas é interrompida de forma abrupta, como se não conseguisse explicar o sentimento de Nana.

O título original - Vivre Sa Vie - pode ter duas conotações, pois pode ser lido como viva sua vida ou como viver como prostituta, já que, assim como no português, na época em que foi rodado o filme, prostituta também era chamada de mulher da vida.

Por fim, Viver a Vida tem um final trágico, marca de vários filmes de Godard. Esta lição de moral ao final é o que me incomoda, mas, mesmo assim, é um ótimo filme e deve ser visto e revisto por quem realmente ama o cinema.

quarta-feira, 8 de junho de 2022

KING'S MAN: A ORIGEM (THE KING'S MAN)

King's Man: A Origem
(The King's Man), 2021, 131 minutos, direção de Matthew Vaughn.

O terceiro filme da franquia volta aos primórdios para mostrar como se iniciou a sociedade secreta inglesa criada durante a Primeira Guerra Mundial para atuar contra o mal.

O tom de comédia dos dois filmes anteriores, ambos também dirigidos por Vaughn, se perde nesta prequela, o que torna este novo filme mais monótono, com certas passagens bem chatas, a exemplo da tentativa de Orlando Oxford, interpretado por Ralph Fiennes, proteger seu filho Conrad dos perigos do mundo, evitando a todo o custo que ele vá para a guerra, o que, obviamente não dá certo. Já vimos isso em inúmeras películas, dos mais variados gêneros. Clichê elevada a enésima potência.

O filme também perde a oportunidade de inovar, mesmo sendo ambientando no início do Século XX, deixando de lado fatos hoje considerados conservadores, como, por exemplo, a elite inglesa ser a grande salvadora do mundo, sempre praticando o bem e combatendo o mal. A elite sempre no comando, utilizando o trabalho dos serviçais mais diversos para conseguir suas informações sigilosas.

Também há uma grande concentração do roteiro nos dois personagens principais, o que é uma pena, pois o talento de Djimon Hounsou fica visivelmente mal aproveitado.

Muito boa é a cena de luta entre Oxford e Rasputin, com uso adequado dos efeitos especiais utilizando CGI. Surreal, mas bem executada e com uma conotação sexual bem interessante.

Também destaco o figurino e a ambientação bem detalhada da época em se se desenvolve a história.

Mas enquanto diversão, ainda funciona bem, embora eu prefira os dois anteriores. 

MISSÃO IMPOSSÍVEL - A FRANQUIA (MISSION: IMPOSSIBLE)


Missão Impossível
(Mission: Impossible), 1996, 110 minutos, dirigido por Brian De Palma. Minha nota: 8.
Missão Impossível II (Mission: Impossible II), 2000, 123 minutos, dirigido por John Woo. Minha nota: 7.
Missão Impossível III (Mission: Impossible III), 2006, 126 minutos, dirigido por J.J. Abrams. Minha nota: 6.
Missão Impossível: Protocolo Fantasma (Mission Impossible - Ghost Protocol), 2011, 133 minutos, dirigido por Brad Bird. Minha nota: 8.
Missão Impossível: Nação Secreta (Mission Impossible - Rogue Nation), 2015, 131 minutos, dirigido por Christopher McQuarrie. Minha nota: 7.
Missão Impossível: Efeito Fallout (Mission Impossible - Fallout), 2018, 147 minutos, dirigido por Christopher McQuarrie. Minha nota: 7.

Resolvi ver/rever a franquia Missão Impossível, estrelada por Tom Cruise, baseada em famoso seriado de televisão da década de 1960. Os dois últimos eu ainda não tinha visto. Vi os seis filmes na ordem cronológica de lançamento durante o mês de maio de 2022.

Após o sucesso do primeiro filme, que tinha menos de 2 horas, os filmes seguintes tiveram alguns minutos acrescentados em sua duração, chegando a ter quase duas horas e meia o último deles. 

Basicamente, temos uma equipe do MI6, serviço secreto americano, mais secreto que CIA e FBI juntos, comandada por Ethan Hunt (Tom Cruise), que precisa impedir algum criminoso ou organização criminosa para salvar o mundo. Sempre com locações em mais de um país, as cenas de ação sempre são destaques nos seis filmes. Claro que cada diretor deixa sua marca, como a direção fina e delicada de Brian De Palma, priorizando os detalhes das operações de Hunt, passando pelas inúmeras explosões e cenas de lutas marciais, marcas sempre presentes nos filmes dirigidos por John Woo, passando pela preguiça na direção de J.J. Abrams, até chegar a um equilíbrio entre ação, elegância e detalhes conseguido por Christopher McQuarrie, que será o diretor dos próximos dois filmes da franquia.

Puro entretenimento, com boa atuação de Cruise, com participações de várias estrelas do cinema nestes seis filmes, tais como Vanessa Redgrave, Angela Basset, Thandiwe Newton, John Voight, Emmanuelle Béart, Philip Seymour Hoffman, Laurence Fishburne, Jeremy Renner, Léa Seydoux, Rebecca Ferguson, Alec Baldwin, Henry Cavill, Michelle Monaghan, Sean Harris, Simon Pegg e Ving Rhames.

Diverte e anuvia o pensamento.