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quinta-feira, 9 de junho de 2022

VIVER A VIDA (VIVRE SA VIE: FILME EN DOUZE TABLEAUX)

Viver a Vida (Vivre Sa Vie: Film en Douze Tableaux), 1962, 80 minutos, direção de Jean-Luc Godard.

Rodado em preto e branco, o filme é narrado em doze quadros. Como em outros filmes dirigidos por Godard, a câmera é uma observadora que acompanha Nana (Anna Karina) se embrenhando no mundo da prostituição. O filme assume, em muitas cenas, um tom documental, de observação.

O roteiro não tem intenção de explicar muito sobre Nana. Logo de cara, em uma tomada sensacional, quando ela e o homem com quem conversa em um balcão de bar são mostrados de costas, mas dá para ver o rosto de Nana no espelho ao fundo, sabemos que o homem é seu marido de quem está separada, que deixou o filho com ele e que precisa de dinheiro. Mas não nos mostra os motivos. São fatos que interessam ao espectador para compreender a decisão de Nana em se prostituir.

Nana é fria, não esboça sentimentos, salvo raras exceções, a saber, no cinema quando chora vendo A Paixão de Joana D'Arc, filme mudo de 1928 dirigido por Carl Theodor Dreyer, e quando dança alegremente Swing! Swing! Swing!, música de Michel Legrand, em um bar, em volta de mesas de sinuca, com a câmera girando 360º. Interessante notar que Anna Karina voltaria a dançar em um bar em uma cena icônica do filme Band À Part, também dirigido por Godard, lançado dois anos depois de Vivre Sa Vie.

Mesmo como prostituta, Nana não aparece nua em nenhum momento e também não vemos cenas de sexo entre ela e seus clientes (apenas há uma insinuação em uma passagem breve no quarto do hotel onde ela trabalhava como prostituta).

Godard faz várias citações durante o filme, como de costume. A começar pelos intertítulos que antecedem cada um dos 12 quadros, que nos remetem aos filmes mudos, que usavam deste expediente para mudar de cena. Também ele silencia, por duas vezes, diálogos, colocando legenda para sabermos o que estão conversando, outra referência aos filmes mudos, que também eram em preto e branco. Coloca uma cena impactante de A Paixão de Joana D'Arc de mais dois minutos, tentando fazer um paralelo entre o sofrimento de Joana D'Arc, magistralmente interpretada por Renée Jeanne Falconetti, e o sofrimento de Nana, que chora no mesmo instante em que a heroína também chora sabendo que morrerá na fogueira. Godard também cita Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas, mostra um personagem lendo Obras Completas, de Edgar Allan Poe, e tem um ótimo diálogo entre Nana e um senhor na mesa do bar (Brice Parain), no qual são citados Platão e filósofos alemães, e ainda filosofam sobre o verdadeiro amor.

A trilha sonora, composta por Michel Legrand, é um caso à parte. Em algumas cenas, a música instrumental pontua o que está se passando com a personagem principal, mas é interrompida de forma abrupta, como se não conseguisse explicar o sentimento de Nana.

O título original - Vivre Sa Vie - pode ter duas conotações, pois pode ser lido como viva sua vida ou como viver como prostituta, já que, assim como no português, na época em que foi rodado o filme, prostituta também era chamada de mulher da vida.

Por fim, Viver a Vida tem um final trágico, marca de vários filmes de Godard. Esta lição de moral ao final é o que me incomoda, mas, mesmo assim, é um ótimo filme e deve ser visto e revisto por quem realmente ama o cinema.

quarta-feira, 8 de junho de 2022

KING'S MAN: A ORIGEM (THE KING'S MAN)

King's Man: A Origem
(The King's Man), 2021, 131 minutos, direção de Matthew Vaughn.

O terceiro filme da franquia volta aos primórdios para mostrar como se iniciou a sociedade secreta inglesa criada durante a Primeira Guerra Mundial para atuar contra o mal.

O tom de comédia dos dois filmes anteriores, ambos também dirigidos por Vaughn, se perde nesta prequela, o que torna este novo filme mais monótono, com certas passagens bem chatas, a exemplo da tentativa de Orlando Oxford, interpretado por Ralph Fiennes, proteger seu filho Conrad dos perigos do mundo, evitando a todo o custo que ele vá para a guerra, o que, obviamente não dá certo. Já vimos isso em inúmeras películas, dos mais variados gêneros. Clichê elevada a enésima potência.

O filme também perde a oportunidade de inovar, mesmo sendo ambientando no início do Século XX, deixando de lado fatos hoje considerados conservadores, como, por exemplo, a elite inglesa ser a grande salvadora do mundo, sempre praticando o bem e combatendo o mal. A elite sempre no comando, utilizando o trabalho dos serviçais mais diversos para conseguir suas informações sigilosas.

Também há uma grande concentração do roteiro nos dois personagens principais, o que é uma pena, pois o talento de Djimon Hounsou fica visivelmente mal aproveitado.

Muito boa é a cena de luta entre Oxford e Rasputin, com uso adequado dos efeitos especiais utilizando CGI. Surreal, mas bem executada e com uma conotação sexual bem interessante.

Também destaco o figurino e a ambientação bem detalhada da época em se se desenvolve a história.

Mas enquanto diversão, ainda funciona bem, embora eu prefira os dois anteriores. 

MISSÃO IMPOSSÍVEL - A FRANQUIA (MISSION: IMPOSSIBLE)


Missão Impossível
(Mission: Impossible), 1996, 110 minutos, dirigido por Brian De Palma. Minha nota: 8.
Missão Impossível II (Mission: Impossible II), 2000, 123 minutos, dirigido por John Woo. Minha nota: 7.
Missão Impossível III (Mission: Impossible III), 2006, 126 minutos, dirigido por J.J. Abrams. Minha nota: 6.
Missão Impossível: Protocolo Fantasma (Mission Impossible - Ghost Protocol), 2011, 133 minutos, dirigido por Brad Bird. Minha nota: 8.
Missão Impossível: Nação Secreta (Mission Impossible - Rogue Nation), 2015, 131 minutos, dirigido por Christopher McQuarrie. Minha nota: 7.
Missão Impossível: Efeito Fallout (Mission Impossible - Fallout), 2018, 147 minutos, dirigido por Christopher McQuarrie. Minha nota: 7.

Resolvi ver/rever a franquia Missão Impossível, estrelada por Tom Cruise, baseada em famoso seriado de televisão da década de 1960. Os dois últimos eu ainda não tinha visto. Vi os seis filmes na ordem cronológica de lançamento durante o mês de maio de 2022.

Após o sucesso do primeiro filme, que tinha menos de 2 horas, os filmes seguintes tiveram alguns minutos acrescentados em sua duração, chegando a ter quase duas horas e meia o último deles. 

Basicamente, temos uma equipe do MI6, serviço secreto americano, mais secreto que CIA e FBI juntos, comandada por Ethan Hunt (Tom Cruise), que precisa impedir algum criminoso ou organização criminosa para salvar o mundo. Sempre com locações em mais de um país, as cenas de ação sempre são destaques nos seis filmes. Claro que cada diretor deixa sua marca, como a direção fina e delicada de Brian De Palma, priorizando os detalhes das operações de Hunt, passando pelas inúmeras explosões e cenas de lutas marciais, marcas sempre presentes nos filmes dirigidos por John Woo, passando pela preguiça na direção de J.J. Abrams, até chegar a um equilíbrio entre ação, elegância e detalhes conseguido por Christopher McQuarrie, que será o diretor dos próximos dois filmes da franquia.

Puro entretenimento, com boa atuação de Cruise, com participações de várias estrelas do cinema nestes seis filmes, tais como Vanessa Redgrave, Angela Basset, Thandiwe Newton, John Voight, Emmanuelle Béart, Philip Seymour Hoffman, Laurence Fishburne, Jeremy Renner, Léa Seydoux, Rebecca Ferguson, Alec Baldwin, Henry Cavill, Michelle Monaghan, Sean Harris, Simon Pegg e Ving Rhames.

Diverte e anuvia o pensamento.

terça-feira, 31 de maio de 2022

MORANGOS SILVESTRES (SMULLTRONSTALLET)

Morangos Silvestres (Smultronstallet) é uma produção sueca, em preto e branco, de 1957, dirigida por Ingmar Bergman.

No elenco, o também diretor Victor Sjostrom no papel de Izak, um médico idoso que revê sua vida enquanto viaja em seu carro para outra cidade na qual receberá uma importante condecoração na Universidade de Lund. Também está a bela Bibi Andersson, atriz constante nos filmes de Bergman, fazendo o duplo papel (Sara/Hitchhiker). No presente, ela é a jovem a quem Izak dá carona e, no passado, a jovem que o médico cortejava.

Sonhos e pensamentos indicam que o médico famoso, com cinquenta anos de profissão, teme a morte que se aproxima.

Neste turbilhão de pensamentos, ele repensa seus atos e se aproxima da nora Marianne (Ingrid Thulin), de sua fiel empregada Agda (Jullan Kindahl), também idosa, e de seu filho Evald Borg (Gunnar Bjornstrand).

Um contraste entre o vigor da juventude, tanto no físico quanto nas atitudes e debates, e a velhice, com ênfase à sabedoria, o reconhecimento pelo trabalho e porque não, a rabugice característica dos mais velhos.

Lindo filme sobre a velhice.

Revendo-o mais uma vez, desta feita para uma aula do Ciclo Bergman do Clube de Análise Fílmica (Cinema com Teoria), me transportei para os anos 80, em uma agitada sessão do Cine Clube do Diretório Acadêmico da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, onde me formei em Ciências Econômicas.

Logo após a exibição do filme, em uma cópia sofrível em VHS, o debate foi caloroso, reproduzindo, no auditório da escola, a discussão sobre religião que os jovens travam em uma das cenas do filme.

Filme obrigatório para todos aqueles que amam o cinema.

MORTE NO NILO (DEATH ON THE NILE)


Morte no Nilo
(Death on the Nile), 2022, 127 minutos.

Lembro-me bem quando fui ver Morte Sobre o Nilo (Death on the Nile), versão cinematográfica dirigida por John Guillermin para o livro de Agatha Christie, no saudoso Cine Jaques, em Belo Horizonte. Era final da década de 1970. As sessões estavam sempre cheias para um cinema que comportava quase 1.000 pessoas por vez. Enquanto eu estava na fila para entrar, na calçada, as portas da saída se abriram e um bando de idiotas passou comentando em voz alta quem era o assassino. Eu não liguei muito porque desde sempre não me importei com spoilers, além de conhecer a história pois tinha lido o livro alguns meses antes. Mas foi um balde de água fria para muitos que estavam na fila. Saí muito satisfeito com o que vi após mais de duas horas de projeção. Nunca mais tive a oportunidade de revê-lo.

Pulamos para 2022. Uma nova versão da história de um assassinato em um cruzeiro sobre o Rio Nilo foi lançada nos cinemas. Desta vez dirigida e estrelada por Kenneth Branagh, que interpreta o famoso detetive Hercule Poirot. Esperei chegar no streaming para conferir.

Branagh contou com um elenco numeroso, com muitas carinhas conhecidas como Tom Bateman, Annette Bening, Michael Rouse, Letitia Wright, Armie Hammer e Gal Gadot.

Cores vibrantes dão o tom em todo o filme, com ótima reconstituição de época e belo figurino. Mas o ritmo não convence. O filme, em muitas tomadas, parece monótono, com elenco pouco inspirado e uma direção muito ortodoxa.

Mas o que mais incomoda no filme é o uso de efeitos especiais horrorosos, bem toscos mesmo. É visível o CGI mal utilizado. A cena que mais comprova este fato é quando Hercule Poirrot está sentado em uma cadeira de frente para uma das pirâmides do Cairo. Não é convincente que realmente ele esteja naquele lugar.

Uma pena que uma história tão boa tenha sido mal aproveitada nesta nova versão.

Continuo preferindo a versão de 1978.

OS OPOSTOS SEMPRE SE ATRAEM (LOIN DU PÉRIPH)

Os Opostos Sempre Se Atraem (Loin du Périph), 2022, 119 minutos.

Mais uma vez, o diretor Louis Leterrier e o ator Omar Sy trabalham juntos. Depois de dirigir alguns episódios da ótima série Lupin, Leterrier está atrás das câmeras desta comédia policial francesa disponível na Netflix.

É uma história batida, com dois policiais de estilos diferentes e que há muito não se encontravam, terem que trabalhar juntos para investigar um assassinato em uma pequena cidade francesa.

Clichês atrás de clichês, previsibilidade, piadas ruins. O que salva é a sempre iluminada presença de Omar Sy, interpretando o policial Ousmane Diakhité e algumas cenas divertidas entre ele e Laurent Lafitte, integrante de La Comédie-Française, que no filme é o policial François Monge.

É um filme típico de Sessão da Tarde, para ver, descansar a cabeça, rir um pouco e depois esquecer.

sábado, 28 de maio de 2022

PÂNICO (2022) (SCREAM, 2022)

Pânico (Scream), 2022, 114 minutos. Primeiro filme da franquia sem Wes Craven na direção, que ficou a cargo não de uma, mas de duas pessoas: Matt Bettinelli-Olphin e Tyler Gillett.

Os diretores conseguiram manter a essência da saga, trazendo mais uma vez as personagens Sidney Prescott, Gale Weathers e Dewey Riley, os três interpretados pelos mesmos atores desde o início da franquia: Neve Campbell, Courteney Cox e David Arquette. Os acontecimentos continuam na mesma cidade dos filmes anteriores e, outra vez, alguém assume a máscara de Ghostface para aterrorizar os jovens do local.

Para dar um frescor, pensando mais na continuidade da franquia, introduziram a personagem Sam Carpenter (Melissa Barrera), que tem uma ligação com um importante personagem do primeiro filme. Sam Carpenter é a nova Sidney Prescott.

No mais, o filme continua fazendo chacota de seu próprio roteiro e dos filmes de terror, com muitas citações nos diálogos dos jovens, além de uma cena-homenagem a Psicose, com o chuveiro ligado na banheira.

De novidade, só mesmo a nova mocinha, o adeus de um personagem central da saga, e a identidade do Ghostface.

Tem homenagem a Wes Craven, o gênio por trás dos filmes slasher de sucesso como A Noite do Pesadelo e Pânico. Um personagem jovem se chama Wes, e a câmera foca o nome de uma das ruas da cidade: Elm Street.

Por ser quase mais do mesmo, o filme é previsível e dá para sacar quem é o assassino.

Não inova, mas também não fez feio.

quarta-feira, 25 de maio de 2022

TUDO EM TODO LUGAR AO MESMO TEMPO (EVERYTHING EVERYWHERE ALL AT ONCE)

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo
(Everything Everywhere All At Once), 2022, 139 minutos. Roteiro e direção de Daniel Kwan e Daniel Scheinert. No elenco, Michelle Yeoh (Evelyn), Stephanie Hsu (Joy), Ke Huy Quan (Waymond), James Hong (Gong Gong), Jamie Lee Curtis (Deirdre) e Tallie Medel (Becky).

O hype em torno desse filme tem sido enorme, com muitas postagens nas redes sociais sobre ele. Não quis ver trailer, críticas, análises, nem mesmo ler a sua sinopse. Fui conferir sem saber nada sobre Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. Ao final da projeção, estava impactado. É um filmaço.

Quem me conhece sabe que custo a dar nota 10 para um filme. Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo foi o oitavo filme que mereceu um 10 para mim dentre os quase 3 mil filmes que já vi ao longo de minha existência.

O filme é perfeito em todos os aspectos. Roteiro original, embora com a sensação de que já tinha visto um monte de coisas que estavam nele. Também pudera, pois os roteiristas-diretores misturaram vários gêneros em um mesmo filme. Tem aventura, tem kung fu, tem ficção científica, tem comédia, tem drama, tem suspense, tem sangue, tem porrada, tem melodrama, tem tudo. E essa mistura funciona muito bem. Tudo se conecta.

O elenco está fantástico, com destaque para Michelle Yeoh, que deve figurar nas listas de candidatas a melhor atriz nas premiações referentes aos filmes de 2022. Jamie Lee Curtis é uma coadjuvante de luxo, que funciona muito bem para aumentar o brilho de Yeoh nas cenas em que as duas estão juntas.

Figurino, maquiagem, cabelo, design de produção, trilha sonora, tudo se conecta formando um todo uniforme. Até os exageros no figurino de Joy tem uma razão de ser dentro do roteiro e não incomodam.

O roteiro ainda brinca com o tema recorrente neste ano nos filmes de grande bilheteria: o multiverso. A história se passa em vários universos paralelos, onde Evelyn assume diversas identidades, tais como uma chef de cozinha, uma cantora ou uma dona de lavanderia.

Também destaco a inserção da inclusão e da diversidade na história. Há imigrantes chineses que são pequenos empresários nos Estados Unidos, há personagens LGBTQIA+, há idosos, há empoderamento feminino, toca na questão da importância de se manter tradições culturais de um povo (há uma festa do ano novo chinês).

Os diretores mostram que entendem muito de cinema e que são cinéfilos apaixonados, pois identifiquei várias referências a filmes de sucesso, como Amor à Flor da Pele, de Kar-Wai, Kill Bill, de Tarantino, filmes atuais da Marvel, Ratatouille, de Brad Bird e Jan Pinkava, filmes B de kung fu rodados em Hong Kong, 2001 Uma Odisseia no Espaço, de Kubrick, Desejo Proibido (filme com três histórias sobre casais lésbicos), filmes B de terror, comédia pastelão, Halloween, de John Carpenter (só de ter Jamie Lee Curtis já é uma referência a esse clássico do terror), entre outros.

E o final me lembrou bastante o final de outro filme nota 10 em minha avaliação, Veludo Azul, de David Lynch, com um final feliz que pode ser interpretado como uma ironia dos diretores.

É um filme para ver e rever muitas vezes, pois há muitas camadas e nuances a serem descobertas.

terça-feira, 10 de maio de 2022

ALÉM DA MARGEM (OUTER RANGE)

As séries da Amazon Prime têm ficado cada vez melhores, com tramas bem construídas e elenco muito bom. Recentemente vi os oito episódios de Além da Margem (Outer Range). Fiquei cada vez mais empolgado na medida em que via os capítulos.

O roteiro vai deixando mistérios e questões sem respostas a cada episódio, que têm duração média de 58 minutos, o que me deixava ansioso para ver mais um.

Estrelado por Josh Brolin, que interpreta o fazendeiro Royal Abbott, cuja família tem uma rixa com os Tillerson, também fazendeiros e vizinhos de cerca. É um faroeste moderno, com quadriciclos e caminhonetes quatro por quatro no lugar de cavalos (mas estes também estão presentes na família Abbott), e com indígena integrado na comunidade, sendo uma policial indígena lésbica, que está disputando a eleição para ser a xerife do condado. A briga das duas famílias tem como ponto central o pasto oeste dos Abbott, onde está o grande mistério da série, um buraco redondo no meio da pastagem. Para apimentar o mistério, Autumm, uma mochileira, chega na fazenda dos Abbott, pedindo para acampar. Ela vai se envolver com toda a família, sempre com ares de quem tem um grande segredo para revelar. E ainda tem o desaparecimento da mãe de Amy, neta de Royal e Cecilia (Lili Taylor).

O escritor Brian Watkins mistura elementos do faroeste com suspense, aventura, mistério e ficção científica. Com direito a várias mortes no decorrer dos oito episódios.

Alguns dos mistérios são desvendados pelo espectador no último capítulo, mas muitos fios ainda ficaram soltos, dando margem para especulações e teorias de todos os tipos, aguardando uma segunda temporada.

Ao terminar, fiquei com aquele gosto de quero mais na boca quando a gente se delicia com alguma iguaria deliciosa.

Tem uma pegada de Lost, outra de Dark, e até mesmo de séries mais antigas, como Bonanza e Túnel do Tempo.

Minha nota: 08.

domingo, 1 de maio de 2022

O SÉTIMO SELO (DET SJUNDEINSEGLET)

Comecei a me interessar por filmes fora dos padrões hollywoodianos quando vi Ingmar Bergman em uma mostra no cine clube da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais, em 1983, onde eu estudava. Muitos conhecidos meus dizem que os filmes de Bergman são arrastados, lentos e chatos. Não é a minha opinião. Concordo que alguns não são fáceis de encarar, mas gosto da maioria dos que vi até hoje.
Por muitos anos, foi difícil escolher qual dos filmes da extensa filmografia do diretor sueco eu colocava em meu Top 3. Minha ordem de preferência, até então, era Morangos Silvestres, O Sétimo Selo e Persona. Justamente estes filmes são tema, além de Gritos e Sussurros, do Ciclo Bergman do Clube de Análise Fílmica, do qual faço parte desde novembro de 2021.
Revi O Sétimo Selo para a aula do dia 28/04/2022. Assim que terminei de ver, fiquei surpreso com minha reação de não ter gostado tanto quanto das outras vezes que o vi. Desta última, me incomodou muito as cenas de comédia pastelão inseridas em um drama tão profundo, com uma pegada literalmente apocalíptica, já que o livro Apocalipse da Bíblia é constantemente citado e/ou encenado. Tirando a comédia citada, o filme ainda impressiona. Cenas fortes de fanatismo religioso aliado com imolações para poder entrar no Reino dos Céus, a espera da morte, não só por questões naturais de qualquer ser vivo, mas também pela Peste Negra que assolava a Idade Média na época em que a trama se desenvolve.
Max Von Sydow dá um show como o cavaleiro que desafia a Morte para um jogo de xadrez. Mesmo sabendo seu final, ele vai enrolando, conseguindo mais tempo de vida, para voltar para sua casa, onde apenas sua mulher o esperava. Bengt Ekerot está super bem caracterizado como a Morte: sombrio, sorrateiro, paciente e amedrontador.
Fotografia em preto e branco belíssima com o uso intenso do claro/escuro, com referências nítidas ao expressionismo alemão.
A maior parte das cenas é filmada em ambientes externos, sempre mostrando a vastidão da natureza, seja o mar, a floresta ou as terras onde o cavaleiro passa. Estes elementos da natureza, embora finitos, dão a impressão de serem infinitos, de que nunca acabam, em contraste frequente com a espera da morte que vivem os personagens. A vida passa, mas aquelas paisagens ficam. Pode até serem alteradas, mas permanecerão em contraponto à finitude do homem.
Um filme necessário para quem gosta de estudar cinema.
No meu ranking, ele perdeu o posto para Persona, mas segue no Top 3 de Bergman.
Disponível gratuitamente no YouTube.

domingo, 24 de abril de 2022

LAÇOS DE AFETO (iL FILO INVISIBLE)

Laços de Afeto (Il Filo Invisible), 2022, 109 minutos. Direção de Marco Simon Puccioni, com Filippo Timi (Paolo), Francesco Scianna (Simone) e Francesco Gheghi (Leone).

Filme italiano com temática LGBTQIA+ que foge das tramas recentes para o cinema/streaming do mesmo gênero ao mostrar um casal gay, Paolo e Simone, às vésperas de completar 20 anos juntos, tendo um filho nascido de uma inseminação artificial com barriga de aluguel oferecida por uma amiga de Paolo. Leone, o filho adolescente, tem que fazer um trabalho de escola mostrando o quotidiano, usando como base o que a juventude publica em redes sociais. Na escola, ele conhece Giulia, uma garota francesa recém morando em Roma, se apaixonando imediatamente. Sua ideia, juntamente com Jacopo, seu melhor amigo, é contar a história feliz de sua família no vídeo a ser apresentado como trabalho de escola. Acontece que as coisas não são como parecem ser e haverá uma série de reviravoltas até a conclusão da história, com direito a teste de DNA, traição, segredos revelados, festas, drogas, natureza e consolidação de amizades. Ao final, mostra que todo casal, hetero ou homo, vive as mesmas situações dentro de um relacionamento.

Filme despretensioso, com roteiro interessante, justamente por não cair nos clichês mais comuns dos filmes LGBTQIA+, sendo uma comédia romântica bonitinha, não passando disso. É para relaxar, curtir sem pensar muito.

Disponível na Netflix.

GRITOS E SUSSURROS (VISKNINGAR OCH ROP)

Gritos e Sussurros (Viskningar Och Rop), 1972, 91 minutos. Direção de Ingmar Bergman.

Três mulheres, Karin (Ingrid Thulin) e Maria (Liv Ullmann), que são irmãs, e Anna (Kari Sylwan), a empregada, esperando a morte de uma quarta mulher, Agnes (Harriet Andersson), irmã de Karina e Maria. Todas dentro de um casarão onde a cor vermelha é quase onipresente. O barulho dos ponteiros do relógio marca a passagem lenta do tempo, Não há música. Apenas as mulheres mergulhadas em seus sentimentos. Breves aparições de personagens masculinos: o marido de Karin, o marido de Maria, o médico da família.

As irmãs não têm uma boa relação, são ressentidas, têm traumas individuais. Karin odeia o toque físico de outra pessoa, é fria, calculista, racional, vive em uma redoma de mentiras. Maria é paixão, é desejo, é sexo, é histérica, é emoção. Anna é maternal, é amor, é sororidade, é compaixão. Agnes é a moribunda que sofre com as dores de sua doença terminal. Todas sofrem à sua maneira.

Bergman disse que o vermelho usado no interior da casa é a cor que simboliza o interior do ser humano, a cor de sua alma. Mas também é a cor física de órgãos vitais do homem, como o coração e o pulmão, além de ser a coloração do sangue, o que garante a vida pulsando nas veias. Também é a cor da paixão, do mistério, do sexo, da vida. Até o fade out é vermelho neste filme, diferente da cor preta usada na esmagadora maioria dos filmes existentes.

Quando Karin e Maria resolvem, por um momento, fazerem as pazes, iniciando um prazeroso diálogo, Bergman opta por colocar uma música instrumental, abafando as vozes das personagens, como se quisesse dizer para os espectadores respeitarem a intimidade das irmãs. Genial.

O diretor sueco sempre gostou de colocar em seus filmes aspectos referentes à arte. Neste, temos a decoração primorosa com objetos do Século XVIII, o uso esporádico da música instrumental, mas o grande destaque são as referências a grandes obras de artistas consagrados, como a escultura Pietà, de Michelangelo, em uma cena belíssima na qual Anna coloca Agnes em seus braços. Uma cena que leva a uma reflexão sobre a dualidade do amor das duas: amor materno e amor carnal.

Um dos raros momentos de felicidade se dá na cena final, com as irmãs vestidas de branco, no bosque que circunda o casarão, sentadas em um balanço. A câmera dá um close em Agnes, cuja expressão é um misto de alegria e tristeza. A felicidade deve ser aproveitada em qualquer momento, mesmo que este momento seja curtíssimo.

Filme com muitas camadas que dá margem a uma infinidade de análises e interpretações.

Bergmam é um gênio.

BATMAN (THE BATMAN)

Batman (The Batman), 2022, 176 minutos.

Direção de Matt Reeves. No elenco estão Robert Pattinson (Bruce Wayne / Batman), Zoë Kravitz (Selina Kyle / Mulher Gato), Jeffrey Wrigth (Comissário James Gordon), Colin Farrell (Pinguim), Paul Dano (Charada), John Turturro (Falcone), Andy Serkis (Alfred), entre outros.

Sou fã desde criança de Batman. Sempre foi meu herói preferido. Adam West, o eterno Batman do seriado dos anos 1960, é meu favorito, mas Christian Bale na trilogia de Christopher Nolan arrasou na composição do personagem. Assim como muitos, fiquei com um pé atrás quando anunciaram Robert Pattinson como o novo Batman. Minha implicância com ele já tinha sido superada desde que vi O Farol, mas não o via como o vingador encapuzado. Minha resistência foi-se embora ainda nos primeiros minutos de projeção do novo filme. Pattinson está sensacional do papel, entregando uma performance espetacular. Há cenas em que ele transmite o sentimento de Batman somente com o mexer dos olhos. Já entrou, para mim, na galeria dos Batmans inesquecíveis.

Este novo Batman não segue nenhum dos filmes anteriores. Matt Reeves focou em um Batman ainda iniciante, mais para detetive do que para um herói. Um Batman odiado pelos policiais que o veem como um vigilante mascarado que age na contramão das técnicas da polícia. Batman ainda é violento, quebra na porrada os bandidos, praticando a justiça com as próprias mãos. Os laços com a polícia ainda são somente com Gordon, que ainda nem comissário era.

Muitas referências visuais ao cinema estão nas quase três horas de duração do filme. O lado detetive do Batman nos remete imediatamente aos filmes noir, enquanto a chuva constante em Gotham e o uso de cores como se fossem neon nos faz lembrar de Blade Runner. Uma das cenas mais evidentes em relação às referências é o batmóvel andando em chamas como em Chistine, O Carro Assassino.

Pinguim ainda não é o vilão conforme conhecemos, mais uma espécie de assistente de Carmine Falcone, o todo poderoso da máfia que comanda o crime organizado em Gotham. O Charada é o grande vilão da trama, inteligente, sabendo colocar o Batman em dúvidas. Há uma meteórica aparição do Coringa na cadeia, quando ele conhece o Charada. E ainda tem a Mulher Gato como par romântico do Batman, mais no papel de uma anti-heroína do que de uma vilã. Ela até ajuda o Batman, assim como o Pinguim o faz.

A opção pelo uso de cores sombrias faz deste Batman o mais escuro de todos, mas tal escolha é muito bem aplicada, pois demonstra o humor do herói que está em formação, cheio de dúvidas, traumas e angústias. O mesmo pode-se dizer da maquiagem, com grandes olheiras em Bruce Wayne. Ainda no quesito maquiagem, Colin Farrell está irreconhecível como Pinguim

Em síntese, Batman é um ótimo filme com uma sólida história. 

sexta-feira, 22 de abril de 2022

MEDIDA PROVISÓRIA

Medida Provisória, 2020, 103 minutos. Direção de Lázaro Ramos, tendo no elenco Alfred Enoch (Antônio), Seu Jorge (André), Taís Araújo (Capitu), Aldri Anunciação (Ivan), Adriana Esteves (Isabel), Mariana Xavier (Sarah), Renata Sorrah (Dona Izildinha), Emicida (Berto), entre outros.

O roteiro é baseado em peça de Aldri Anunciação que foi aos palcos em 2011.

A história se passa em um futuro incerto no Brasil, quando os negros são chamados de melaninados acentuados. Um governo autoritário edita uma medida provisória, de número 1888 (uma referência ao ano em foi assinada a Lei Áurea no país), que determina a todos os cidadãos de origem africana que se desloquem para a África. O governo garante a passagem de ida. Isabel é a chefe do departamento que cadastra e envia tais cidadãos para fora do país. André, um repórter fotográfico que mantém um blog, é um dos que questiona as ordens do governo. Capitu, médica casada com Antônio, ao perceber que a polícia a retiraria à força de um atendimento a um homem ferido na perna para ser enviada para a África, consegue escapar, salvando uma mãe preta com uma filha albina dos policiais, é resgatada por Ivan e abrigada em uma espécie de quilombo, chamado de afrobunker por seus integrantes. Antônio e André ficam isolados dentro do apartamento deles, tendo a vizinha Dona Izildinha, racista de primeira hora, como ajudante de Isabel para fazerem os dois saírem do apartamento. Antônio não sabe onde está Capitu, mas não sai de seu apartamento. Após muita confusão e perseguições, Capitu e Antônio se reencontram, sendo presos por Isabel. Mas o que parecia um final trágico...

A premissa é ótima, o elenco majoritariamente negro é uma raridade no cinema brasileiro, a discussão do racismo estrutural é super atual, mas o todo não funcionou como deveria. Ainda assim, gostei do filme. Merecidas homenagens a Marielle Franco, Ruth de Souza, Zezé Motta, Mestre Moa, entre outros, que aprecem em fotografias, objetos e grafites no filme.

A fotografia em tons amarelados e imagens desfocadas ao fundo foram interessantes artifícios para representar uma época futura sem necessidade de efeitos especiais, nem de uso de objetos futuristas.

Como destaque, cito as ótimas performances de Seu Jorge, Adriana Esteves, Taís Araújo e Renata Sorrah. Continuo não gostando do ator Alfred Enoch. A química entre ele e Taís Araújo não funcionou, os dois não me convenceram como um casal apaixonado. Achei a atuação deste ator inglês filho de brasileira muito forçada, não pelo português, que soa quase sem sotaque, mas pela performance em si. Ele não me convenceu em nenhum momento da projeção, diferente de Seu Jorge, que interpreta o primo André, debochado, bonachão, que entra facilmente em pânico em situações difíceis.

O trabalho de Lázaro Ramos na direção é bom e pode evoluir muito. A cena final, na qual ele aparece, transpira muita emoção.

Disponível nos cinemas.

SHOW: PORTAS - MARISA MONTE


Sempre que tive oportunidade, fui a um show de Marisa Monte. Assim que foi anunciada a sua nova turnê, chamada Portas, fiquei atento para os locais e datas das apresentações. Quando abriram as vendas, pelo site Eventim, não gostei do local escolhido para Belo Horizonte, pois seria no Mineirão, no dia 16/04/2022, sábado, às 21:00 horas. Prefiro um local mais confortável. Olhei São Paulo e Brasília, mas ambas eram também em locais tão desconfortáveis quanto: Espaço das Américas e Estádio Mané Garrincha, respectivamente. Fui ver as opções do Mineirão. O mapa do local, que eles chamam de Anfiteatro do Mineirão, indicava quatro tipos de ingressos: cadeira numerada, pista, espaço lounge e cadeira superior. Para mim, sempre que colocam "pista" significa que a pessoa verá o show em pé. Cadeira superior era muito longe do palco. Cadeira numerada era muito caro. Resolvi pensar, só voltando ao site no dia 29/12/2021, quando constatei que grande parte das cadeiras numeradas da parte frontal ao palco já estava vendida. Ainda havia lugares nas duas últimas fileiras. De impulso, comprei duas entradas (R$ 600,00 cada uma, valor de inteira) na fila L, assentos 37 e 39. A taxa de administração era R$ 90,00 por ingresso. O total ficou em R$ 1.380,00, que dividi em quatro vezes, o máximo permitido. Era meu presente de Natal atrasado.

Com os ingressos garantidos, conferi as músicas que Marisa Monte cantaria no show, fazendo uma playlist no Spotify para ouvir até o dia do show. Gosto de saber as canções, se não de cor, pelo menos alguma parte delas. Gastón já gosta de surpresa na hora dos shows. O setlist era longo: 32 músicas, incluindo canções de seu novo álbum, Portas, e vários sucessos da carreira.

Fomos de carro para o Mineirão, pois sabemos que é fácil e prático deixar no estacionamento coberto do estádio, cujo preço é único, R$ 30,00, por todo o período estacionado. Nossos amigos Murilo e Ruan compraram os ingressos na semana anterior ao show para o setor "pista". Eles foram mais cedo e nos enviaram mensagem, dizendo que "pista" na verdade era o setor da geral do Mineirão, ou seja, veriam o show sentadinhos. Como chegaram cedo, puderam eleger um bom local para se acomodarem. Chegamos nas imediações do Mineirão às 20:10 horas e enfrentamos uma fila de carros para entrar no estacionamento. Sempre há aqueles engraçadinhos que tentam furar a fila. Um deles parou ao nosso lado pedindo para entrar. Gastón fez um gesto negativo. O cara arrancou cantando pneu, foi mais à frente, quase bateu o carro e conseguiu furar a fila. Ficamos observando que os motoristas que faziam isso dirigiam carros de luxo. A elite é um horror. Voltemos ao show. Estacionamos meia hora depois de entrar na fila, mas sem estresse. Na entrada, pagamos os R$ 30,00, o que facilita na hora de ir embora. O acesso se dava por dentro do próprio estacionamento. Estava bem organizado, sem filas. Pediam para colocar a máscara (nós já estávamos com elas) e mostrar o ingresso. Nada de mostrar o comprovante de vacinação contra a covid 19. Subimos as escadas, saindo na esplanada do Mineirão. Uma pessoa indicava onde era a entrada para as cadeiras numeradas: Porta B. Nessa porta, leram o código de nossos ingressos e nos colocaram uma pulseira, alertando que não podíamos retirá-la. Depois da entrada, mais uma pessoa indicando para onde ir. Descemos um lance de escada, chegando ao corredor de acesso ao setor para o qual compramos ingressos. Havia um bar, alguns caixas móveis, uma pequena fila para comprar bebidas. Aproveitei para ir ao banheiro. O acesso se dava por um setor das cadeiras da geral, para onde não houve venda de ingressos. Eu não sabia o que seria o tal anfiteatro do Mineirão. Na verdade, o palco é montado no gramado, na altura do gol que fica para o lado sul da cidade, virado para a geral/arquibancada. As cadeiras, todas no mesmo nível, foram montadas ainda no gramado, na parte detrás do gol, mas por cima de um tablado para não estragar a grama. A tal "pista" era, como meus amigos disseram, o setor das cadeiras da geral, enquanto a cadeira superior ficava na arquibancada. Já tinha um público enorme e chegava mais e mais gente.

O palco poderia ser um pouco mais alto, pois como estava, as pessoas de estatura mais baixa teriam problemas de visão quando sentados nas cadeiras. Outro problema era para quem pagou caro para ficar em cadeiras numeradas que não tinham uma visão integral do palco. A lua iluminava o Mineirão de uma forma espetacular. Gastón levantou para comprar cerveja. Voltou com um copo descartável com a bebida e uma ficha para quando eu quisesse tomar um refrigerante. Preços bem salgados. Um refrigerante custava R$ 10,00 e a cerveja, R$ 15,00. Deu 21:00 horas. Nada do show começar. O público aproveitava o atraso e comprava bebidas. Era engraçado ver gente levando para seu lugar balde com gelo, taças de acrílico e garrafa de vinho. Quase 21:30 horas, um aviso no telão indicava que o show começaria em 2 minutos. Tempo para todos se acomodarem. As luzes se apagaram. Às 21:30 horas os músicos entraram no palco. Todos vestidos de preto. Maria Monte apareceu em um vestido com capa brilhante e uma linda tiara, também brilhante, no fundo do palco, em uma plataforma, cantando Pelo Tempo Que Durar. Muitos apupos, aplausos, gritos. Ali começava um show bem concebido, milimetricamente organizado. Marisa Monte sempre gostou de seguir um roteiro certinho, sem improvisações, com muita qualidade. O que não estava bem no início do show era o volume do seu microfone. Dependendo de como virava a cabeça, sua voz ficava mais baixa. Isso foi resolvido ao longo do espetáculo. Não sei se foi coincidência ou não, mas melhorou depois que ela aproximou a boca do microfone e cantou bem forte, quase gritando.


Para cada música havia uma projeção no palco, algumas delas com ótima ilusão de ótica. Teve uma projeção que simulava o palco como se estivesse dentro de uma caixa de papelão. Lúdico.

Marisa Monte desfilou sucessos recentes e antigos, incluindo os da fase Tribalistas. Cantou Portas, Maria de Verdade, Vilarejo, Infinito Particular, Praia Vermelha, Beija Eu, Ainda Lembro, Depois, Na Estrada, Seo Zé, Velha Infância, Lenda das Sereias, O Que Me Importa, Vento Sardo, entre outras. Também trocou de figurino umas cinco vezes.

Apresentou os integrantes da banda em momentos distintos. Só feras. Entre eles, Dadi, Pretinho da Serrinha, Davi Moraes, Chico Brown e Pupilo.

Como eu já esperava, já tinha mais da metade do show quando gritos de fora bozo ecoaram no estádio. Ela, usando de uma fina diplomacia, sabendo o público que tem, disse que ele nem deveria ter entrado, emendando que ela era Portela e que Pretinho da Serrinha era Império Serrano, mas eles não polarizavam. Podia parecer posição tucana, aquela sempre encima do muro, mas passou o recado de qual lado da polarização ela estava, pois deu um viva à democracia, um viva ao meio ambiente e um viva à natureza. Só não entendeu quem não quis entender.

Também agradeceu a presença de todos, enfatizando a alegria de estar no palco novamente depois de dois anos críticos por causa da pandemia. Enfatizou a importância da ciência e da vacina.

Logo na segunda música, várias pessoas baixinhas tinham deixado seus lugares sentados para se posicionar atrás da última fila de cadeiras, ficando em pé durante todo o show.

Com sede, por volta da metade do show, levantei para buscar meu refrigerante. Havia um bar montado no lado esquerdo do palco. Não perdi nenhum momento do espetáculo. Voltei para meu lugar com um copo descartável com guaraná.

Marisa Monte terminou o show com a música Magamalabares, do disco Barulhinho Bom. O público já estava todo de pé dançando. Voltou para o bis, como era esperado, cantando mais quatro músicas. A ótima versão para Comida, sucesso dos Titãs gravado por ela em seu primeiro álbum, Pra Melhorar, do novo álbum Portas, Já Sei Namorar, primeiro hit dos Tribalistas, terminando como tem feito em seus shows cantando, à capela, Bem Que Se Quis, deixando o público terminar a canção enquanto se despede do palco.

Ao todo foram 32 músicas, na ordem exata do setlist que eu havia consultado quando comprei os ingressos. Prova que a cantora realmente gosta de organização em seus shows, seguindo corretamente o roteiro do espetáculo.

Gostei do show e aprendi que em shows no Anfiteatro do Mineirão, o melhor é comprar "pista", chegar cedo e se acomodar em uma das cadeiras da geral. Não quero de novo pagar caro para sentar em cadeiras do tipo daquelas usadas em seminários e congressos realizados em hotéis, com todas as fileiras no mesmo nível, dificultando a visão do palco. De qualquer forma, continuo preferindo teatros com poltronas confortáveis para este tipo de show apresentado por Marisa Monte.

Combinei com meus amigos de nos encontrarmos no estacionamento do Mineirão para dar carona a eles, mas entenderam mal, saindo do estádio. Recombinamos, pegando os dois em frente ao Centro Esportivo Universitário, em frente ao Mineirão. De lá, fomos para o Chopp da Fábrica da Avenida do Contorno, em Santa Efigênia, terminando a noite com um belo prato de mexidão com ovo frito.