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segunda-feira, 31 de março de 2014
sexta-feira, 14 de março de 2014
UM CACHORRO
para Getúlio
Pronto. A mala estava arrumada.
Não faltava mais nada para sua viagem de férias. Tinha ligado para a
cooperativa de táxi que o atendia agendando um carro para 9 horas. Tinha uma
folga considerável para o seu voo, cujo check
in também já tinha feito pela internet. No cartão de embarque estava
escrito que ele deveria estar no portão indicado às 13:10 horas. Estava
ansioso, pois há muito não fazia uma viagem. E ainda iria para Paris, sua
cidade preferida. Ele olhou o relógio. 7 horas. Seus pés sentiram uma lambida.
Era Getúlio, seu cachorro, que pressentia que ele o deixaria por um período
longo. Pegou o cachorro no colo, acariciou sua cabeça, coçou sua barriga, o que
ele adorava. Ficou assim por alguns minutos. Em seguida, checou se tinha
colocado tudo de Getúlio em uma sacola grande. Ração especial, pois o cachorro
era alérgico, vasilhas para colocar água e comida, cama, manta, tapete
higiênico, três brinquedos, osso para mastigar, um rolo de sacos plásticos para
recolher o coco durante o seu passeio diário, coleira e os remédios para
controlar a alergia. Tudo estava lá na sacola. Getúlio o olhava com olhos
marejados, como quem sabia de algo. Uma colega de trabalho se dispusera a ficar
com o cachorro durante a sua ausência. O horário combinado para buscar Getúlio
era às 7 horas. Ela estava atrasada. Os ponteiros do relógio corriam e ela não
aparecia. Resolveu ligar. Tentou inúmeras vezes. O celular tocava até cair na
caixa de mensagens. Em todas, deixou recado. Ele não tinha o endereço da
colega. Ligou para outros colegas de trabalho, mesmo sendo sábado, mesmo sendo
tão cedo. Sem sucesso. Aqueles que atenderam não sabiam onde ela morava. O
interfone tocou. Ele correu para atender, tropeçando em Getúlio, que emitiu um
som esganiçado, enfiou o rabo entre as pernas, baixou a cabeça, disparando para
debaixo do móvel da sala, onde sempre se refugiava quando fazia alguma coisa
errada. Não era a colega de trabalho. Era o porteiro informando que o seu táxi
chegara. Estava quinze minutos adiantado. Uma grande interrogação apareceu em
sua mente e serpenteou para fora de sua cabeça, ocupando todo o espaço da
cozinha. “O que fazer com Getúlio?” Sem pensar muito, pegou sua bagagem, o
cachorro e as coisas dele, deu uma olhada geral no apartamento. Uma furtiva
lágrima escorreu do lado direito de seu olho direito. Fechou a porta e esperou
o elevador de serviço, por onde teve que descer por causa das regras do
condomínio, já que estava com o cachorro. No saguão do prédio, pediu ajudou ao
porteiro a quem abraçou apertadamente depois de tudo colocado no carro. O
taxista sabia do seu destino. Ele entrou no carro segurando Getúlio, que estava
bem alegre de estar junto ao seu dono. Lembrou-se da casa em que morara quando
adolescente, dando o endereço ao motorista. Disse que precisava deixar o
cachorro antes de ir para o aeroporto. Ele sabia que a casa estava vazia. No
percurso, travou uma conversa com o taxista sobre criar animais domésticos. O
motorista disse que morava em uma casa, era casado e tinha duas filhas
pequenas. Nunca teve animal, pois achava que dava muita despesa e que não
queria se apegar a um bichinho tão indefeso como parecia ser Getúlio. Ele
rebatia tudo que o taxista dizia, sempre enaltecendo os pontos positivos de se
ter um animal de estimação. Getúlio, que tinha completado 3 anos no dia 14 de
março, lhe proporcionava alegria, lhe fazia companhia, entendia seu estado de
humor, ficando quieto quando chegava com cara amarrada em casa e balançando o
rabinho quando chegava feliz. Era adorável. Getúlio correspondia àquelas palavras
com lambidas carinhosas em sua mão. O taxista via tudo o que acontecia de seu
espelho retrovisor. Chegaram ao endereço. A casa tinha aspecto de mal
assombrada. Precisava de uma boa reforma. Ele saiu do carro com o cachorro e
procurou a campainha. Não a encontrou. Na verdade, não havia. Há muito fora
roubada e ninguém a repôs. Bateu palmas. Sabia que não seria atendido, mas
esperou. Começou a andar de um lado para o outro na calçada, aparentando
nervosismo. Parecia um teatro, mas ele suava de verdade. Sua camisa logo ficou
molhada debaixo dos braços. O suor escorria de sua testa. Ele se virou para o
taxista e começou a chorar. O motorista não sabia o que fazer. Ele entrou no
carro novamente, com o cachorro no colo. Chorava igual a uma criança, com lágrimas
rolando em sua face, nariz fungando, choro compulsivo. O motorista tentou
acalmá-lo. Ele disse que tinha que viajar, iria deixar Getúlio com uma colega
de serviço, mas ninguém estava na casa. Não tinha como deixá-lo em um hotel de
cachorro àquela altura dos acontecimentos, pois os que ele conhecia eram muito
disputados e exigiam reserva prévia. Ele repetia a mesma pergunta: “O que vou fazer? O que vou fazer?”. O
taxista começou a se envolver com a questão. Perguntou quantos dias ele iria
ficar fora. Apenas sete dias, respondeu. Ele continuava a suar e a chorar. O
motorista perguntou se Getúlio dava trabalho. Rapidamente respondeu que o
cachorro era dócil, educado, fazia suas necessidades apenas do lado de fora do
apartamento e que na sacola tinha tudo o que ele precisava para dez dias. “Dez dias?” “O senhor não disse sete?” Ele explicou que sempre colocava comida e
remédios além da conta, para situações imprevistas. Vendo a situação de seu
passageiro, o taxista se ofereceu para ficar com Getúlio durante aqueles sete
dias. Afinal, morava em uma casa, com amplo quintal e suas filhas iriam adorar
ter a companhia de um animal por uma semana. Enxugando as lágrimas, ele
agradeceu a gentileza, escrevendo em um pedaço de papel os horários dos
remédios do cachorro e a quantidade de ração que ele deveria colocar por vez
para Getúlio comer. Ainda escreveu seu endereço e o número do seu celular. A
ideia era passar primeiro na casa do taxista, mas ao olhar o relógio, ele notou
que o tempo de folga que tinha para seu voo tinha evaporado. Eram 10:40 horas. Foram
direto para o aeroporto. Lá, ele desceu do carro, afagou Getúlio, mirou em seus
olhos dizendo que voltaria logo. Agradeceu ao motorista, pagou o triplo do que
marcava o taxímetro, pegou sua bagagem e cruzou a porta do aeroporto sem olhar
para trás. O taxista foi para sua casa deixar o cachorro e continuar seu
trabalho. Getúlio não estranhou os novos amigos, especialmente as duas meninas,
que gritaram de alegria ao vê-lo. A casa tinha um enorme quintal, onde ele se
esbaldou de tanto correr, de brincar, de descansar. A mãe das garotas reclamava
muito, pois era ela que tinha que dar os remédios para o bichinho, já que seu
marido saía cedo para trabalhar, retornando somente no início da noite. Ele
dizia que uma semana passava logo. Sete dias depois, passou o dia a esperar uma
ligação, pois também dera seu número para o dono de Getúlio. Combinaram de que
ele o buscaria no aeroporto. Não houve nenhuma ligação. Poderia ter havido um
imprevisto, mas a angústia de receber uma ligação aumentou nos três dias
seguintes. Ele tentava ligar, mas sempre a ligação caía em caixa postal.
Acabara tudo de Getúlio. Teve que comprar comida e remédios. Achou tudo caro.
Sua mulher reclamou dos gastos extras e ainda de ter que dar banho no cachorro,
pois ele não cheirava bem depois de dez dias. Ela providenciou o banho. As
meninas adoraram. Getúlio também gostava daquele banho de mangueira, no
quintal, sob o sol ardente. No décimo quinto dia, o motorista resolveu ir até o
prédio onde pegara seu passageiro. Lá chegando, se apresentou ao porteiro. O
pior que nem sabia o nome do cara. Mas ao mencionar Getúlio, o porteiro soube
de quem se tratava. “Ele não mora mais
aqui”, foi a frase que o motorista ouviu. Surpreso, ele quis saber mais,
mas o porteiro só sabia que no dia seguinte ao da viagem, a ex-mulher do dono
de Getúlio chegou com um caminhão de mudanças e levou tudo do apartamento, que
era alugado. O contrato de aluguel tinha vencido no dia da mudança. O
apartamento ainda estava vago, com anúncio em uma imobiliária. O porteiro não
sabia mais nada. Nem onde a mulher morava, nem para onde o cara tinha viajado.
Voltou arrasado para casa. Quis ajudar e foi passado para trás. O que iria
dizer à sua mulher? Resolveu não mais trabalhar naquele dia. Ficou sentado em
uma praça, vendo a cidade passar em frente aos seus olhos. No início da noite,
retornou para seu lar. Ele era o novo dono de Getúlio. Do outro lado do mundo,
em Tóquio, ele entra em um pet shop, vê um cachorro, pergunta o preço, mas não
o leva para casa. O pequeno cão tinha três anos, completados em 14 de março.
Seu olhar pedia para ser levado dali. Uma imensa saudade de Getúlio invadiu seu
coração. Pensou em ligar para o motorista, chegando a pegar o celular.
Desistiu. Não tinha volta. Sua decisão estava tomada.
terça-feira, 11 de março de 2014
CONFRARIA VINUS VIVUS - 85ª REUNIÃO
No
dia 10 de março de 2014, a Confraria
Vinus Vivus se reuniu para mais uma degustação. Escolhemos uma harmonização
com chocolates, nos moldes da que Leo Soares, Vera e Cláudia
fizeram quando em viagem pela África do Sul. Os chocolates foram comprados na
vinícola Waterford Estate, localizada em Stellenbosch, em plena região vinícola
sul-africana. Mais uma vez, André não pode estar presente, sendo
substituído por Marcus. Seguem os vinhos da noite.
Vinho 1 – Reyneke
Safra:
2010.
Álcool:
13%.
Casta:
100% chenin blanc.
Produtor:
Reyneke.
Região:
Stellenbosch,
África do Sul.
Cor: amarelo dourado.
Aromas: mineral,
defumado, damasco.
Boca: sem
manifestação dos confrades.
Estágio:
10% do vinho fermenta e estagia em barricas. O restante não estagia.
Importador:
Mistral.
Valor:
R$ 342,00.
Harmonização:
harmonizamos com o chocolate Rose
Geranium, com uma forte presença floral, o que prejudicou a combinação com o
vinho.
Vinho 2 – Muscat Sec de Kelibia
Safra:
2011.
Álcool:
12%.
Casta:
100% muscat.
Produtor:
Les Vignerons de Carthage.
Região:
Kelibia, Tunísia.
Cor: palha.
Aromas: mel, Bepantol, protetor solar, Cebion, leite de rosas, floral.
Boca: sem
manifestação dos confrades.
Estágio:
não estagia.
Importador:
Art du Vin.
Valor:
R$ 42,00.
Harmonização:
harmonizamos com o chocolate Rose
Geranium, com uma forte presença floral, o que ajudou na combinação com o
vinho, mas deixou um sabor muito adocicado na boca.
Vinho 3 – Boekenhoutskloof
Safra:
2010.
Álcool:
14,5%.
Casta:
100% syrah.
Produtor:
Boekenhoutskloof.
Região:
Franschhoek, África do Sul.
Cor: rubi.
Aromas: curral,
couro, pimenta, geleia de frutas, passificado.
Boca: picante,
ressalta a acidez na boca com o chocolate, pimenta na ponta da língua.
Estágio:
18 meses em barricas novas de carvalho francês. Clarificado com claras de ovos
e depois passa por mais 9 meses em barricas.
Importador:
Mistral.
Valor:
R$ 228,00.
Harmonização:
harmonizamos com o chocolate
Masala Chai. Todos consideraram a melhor harmonização que fizemos neste
encontro.
Observação: Foi o campeão da noite, sendo o preferido por Leo
Ladeira, Bruno, Vera, Fernanda, Cláudia, Keller, Abílio, Marcus e
Marcos.
Vinho 4 – Glen Carlou
Safra:
2007.
Álcool:
14%.
Casta:
100% cabernet blanc.
Produtor:
Hess Family – Glen Carlou Vineyards.
Região:
Paarl, África do Sul.
Cor: rubi
escuro.
Aromas: cassis,
sândalo, mofo, herbáceo, pimentão.
Boca: picante.
Estágio:
18 meses em barricas de carvalho francesas novas.
Importador:
Decanter.
Valor:
R$ 219,00.
Harmonização:
harmonizamos com o chocolate Rock
Salt. Não fez feio, mas não foi sensacional.
Observação: Na Sélections Mondiales des Vins, no Canádá,
ganhou o prêmio Or Gold em 2010. Foi o preferido da noite por Leo
Soares.
Após a degustação, foi servido o
jantar. Começamos com uma massa filo recheada com mel, queijo de cabra e nozes,
passando para um arroz de pato. Terminamos com uma panqueca de cream cheese com
calda de maçã. O jantar foi acompanhado pelo vinho tinto português Pintas
Character 2010, produzido na região do Douro, sendo elaborado com as castas:
touriga franca, tinta francisca, tinta barroca e tinta cão. Estagia por 16
meses em barricas de carvalho, custando R$ 175,00 na Art du Vin.
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