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sábado, 13 de junho de 2015

CONFRARIA VINUS VIVUS - 98ª REUNIÃO

A Confraria Vinus Vivus se reuniu na noite de 25 de maio de 2015, quando seus integrantes foram recebidos na casa de Fernanda e Jarbas. Foi a 98ª vez que se encontraram para degustar vinhos. O tema da reunião foi vinhos tintos produzidos na Austrália. Eis os vinhos degustados na noite:

Vinho 1 – Mentor


Safra: 2006.
Álcool: 14,5%.
Casta: 100% cabernet sauvignon.
Produtor: Peter Lehmann.
Região: Barossa Valley, Austrália.
Cor: rubi bem escuro, com a unha em evolução.
Aromas: frutas, carvalho, ameixa, cassis, mentol, eucalipto, menta, hortelã, tamarindo, chocolate amargo, coco, compota de frutas, café.
Boca: pede comida (100% gastronômico), trava no final da boca, não preenche a boca toda, ficando somente nos cantos, pesado, mas não é encorpado, taninos presentes, pouca acidez, não é equilibrado, tem pouca estrutura.
Estágio: 18 meses em barricas de carvalho francês.
Importador: Decanter.
Valor: R$ 409,90.
Observação: vinhedos próprios com alguns deles tendo mais de 50 anos de idade.

Vinho 2 – Dead Ringer


Safra: 2010.
Álcool: 14,5%.
Casta: 100% cabernet sauvignon.
Produtor: Wirra Wirra.
Região: McLaren Valley, Asutrália.
Cor: rubi fechado.
Aromas: mertiolate, mamão, band-aid, amora, doce de banana.
Boca: acidez presente, quente, não é encorpado, taninos presentes, mas enjoativo, azedinho, amargor no final de boca.
Estágio: sem informações.
Importador: Mistral.
Valor: R$ 383,00.
Observação: conhecido como o Château Angelus da Austrália. O preferido da noite de Keller e Leo L.

Vinho 3 – Bad Impersonator


Safra: 2005.
Álcool: 15,2%.
Casta: 100% shiraz.
Produtor: Two Hands.
Região: Barossa Valley, Austrália.
Cor: rubi, com o halo em evolução.
Aromas: estábulo, especiarias, pimenta, melaço, azeitona verde.
Boca: pimenta, melaço, quente, menta, volumoso, denso, untuoso, amanteigado.
Estágio: 14 meses em barricas de carvalho, sendo 22% delas de primeiro uso.
Importador: Mistral.
Valor: R$ 514,54.
Observação: o campeão da noite, sendo o preferido por Leo S., Vera, Cláudia, Jarbas, Fernanda, Bruno e Marcos.

Vinho 4 – Eight Songs


Safra: 2005.
Álcool: 14,5%.
Casta: 100% shiraz.
Produtor: Peter Lehmann.
Região: Barossa Valley, Austrália.
Cor: rubi, rubi.
Aromas: estábulo, maresia, água de mercado de peixe, mertiolate, querosene, fluido de isqueiro, cera em pasta.
Boca: doce, tem um certo amargor, mas agradável, marrom glacê, enjoativo.
Estágio: sem informações.
Importador: Decanter.
Valor: R$ 409,90.
Observação: o preferido da noite de Abílio.

Após a degustação, o casal anfitrião nos brindou com um jantar, que teve como entrada um creme de funghi com azeite trufado, seguindo-se um stinco de cordeiro com polenta, e finalizando com bolo de rolo ladeado por um sorvete de queijo minas.


O jantar foi harmonizado o vinho Dinastia Vivanco Reserva, safras 2005 e 2007, um tinto feito com 100% tempranillo, produzido na região de Rioja, Espanha (R$ 147,00 na Art Du Vin). Também foi servido o vinho de sobremesa alemão Loosen, com 7,5% de álcool, safra 2013, casta riesling (R$ 230,00 na Art Du Vin).


vinho

gastronomia

terça-feira, 9 de junho de 2015

ERES MI NÚMERO



Para Gastón

Domingo, 26 de abril de 2015. Assim que ele chegou ao seu quarto do Hotel Pestana, em Buenos Aires, pegou seu celular para se conectar à rede sem fios do local e acessar seus aplicativos. Havia 119 mensagens no whatsapp, a maioria delas de três grupos que participava. Ignorou-as e abriu o aplicativo de encontros para ursos, como são chamados os gays corpulentos e peludos em uma definição bem rasteira. Sua ideia era que o aplicativo o localizasse na capital argentina, deixando seu perfil à mostra para os portenhos. Saiu em seguida para jantar com Beto, seu colega de trabalho, que viajava com ele para participar de um evento do Mercosul contra o trabalho infantil.
Ao voltar para o hotel, já no início da madrugada, acessou novamente o aplicativo para checar se recebera mensagens. Havia pelo menos uma dúzia. Viu uma por uma e ninguém lhe interessou. Deitou e logo adormeceu.
Segunda-feira, 27 de abril de 2015. O evento acontecia no próprio hotel onde ele estava hospedado. Tomou café da manhã, se encontrou com os demais colegas de trabalho, cumprimentou os conhecidos de Argentina, Paraguai e Uruguai, colocou um paletó, seguindo para o centro de eventos do local. Aproveitou o atraso no início das atividades para checar novamente o aplicativo. Novas mensagens. Um perfil lhe interessou. Era Oscar. Respondeu e logo trocaram whatsapp. Combinaram de se encontrar às 19 horas do dia seguinte, terça-feira, dia 28 de abril. O local escolhido foi um café perto do hotel. Ele seguia os conselhos de uma amiga. O primeiro encontro em tempos de redes sociais e conhecimentos virtuais sempre deve ser em um café. Isto porque um café pode ser curto ou longo, dependendo da química que rola entre as duas pessoas. Em um restaurante, se não rolar química, a saia justa é maior, pois um almoço ou um jantar demoram mais do que um café. O restante do dia foi dedicado ao evento e a noite foi a um jantar oficial.
Terça-feira, 28 de abril de 2015. Após tomar o café da manhã com os colegas de trabalho, verificou suas mensagens no whatsapp. Não havia nenhuma de Oscar. Enviou um “olá”, mas não teve resposta. Acessou o aplicativo para ver se Oscar estava on line. Não estava, mas uma mensagem lhe chamou a atenção. Era um simples “hola!”, mas as fotos do perfil disseram-lhe algo mais. Respondeu com outro “hola!”. Para sua surpresa, foi respondido imediatamente. Sua vontade de conhecer aquele argentino era tão grande que nem pensou duas vezes em lhe fornecer seu whatsapp. Trocaram várias mensagens ao longo da manhã. Combinaram de se encontrar no início da noite. Havia Oscar! Resolveu enviar uma mensagem, cancelando o encontro, dando uma desculpa qualquer ligada ao evento, que, de todo, não era mentira, pois as coisas não caminhavam muito bem naquele dia, com atrasos na programação.
Ainda por mensagem, o argentino lhe perguntou onde queria ir. Usou a estratégia de devolver a pergunta sem responder. O argentino sugeriu um café. Conexão total. Proposta aceita. Endereço fornecido e horário marcado: 20 horas. A tarde passou lenta. A sensação era que o atraso na programação se perpetuaria para sempre. A ansiedade era grande. Ele não tinha tal sensação há muito. Estava separado há quase dois anos, após uma relação de mais de quinze anos. Neste tempo pós-separação, estava solto na pista, aproveitando a vida. E este encontro fazia parte desta etapa de vida, mas algo lhe dizia que seria diferente. Pensava em sexo.
O evento, programado para terminar às 17 horas, se prolongou até 19:10 horas. Assim que terminou, subiu feito um raio para seu quarto, tomou um banho, vestiu a roupa que estava mais à mão e seguiu para o encontro. O argentino tinha lhe ensinado como chegar ao local de táxi. Eram aproximadamente 1,5 quilômetros desde o hotel. Não tinha trocado dinheiro. Estava sem pesos para pagar o táxi ou mesmo ir de ônibus. Resolveu ir a pé, apesar de suas fortes dores na região lombar da coluna. Viu o mapa no seu celular, consultando o melhor caminho. Saiu do hotel às 19:35 horas.
No trajeto, sua ansiedade crescia, assim como suas dores. Diminuiu o ritmo para suportá-las. Na pressa de sair, esquecera de tomar um analgésico. Seguia pela Calle Paraguay em direção ao bairro Recoleta. Nem prestava atenção nos arredores, nas pessoas, nos prédios, coisa que sempre faz quando está caminhando, mesmo em ritmo acelerado. Seu coração bombeava mais forte na medida em que se aproximava da rua na qual teria que virar à direita. Checava os nomes das ruas no mapa de seu celular, pois algumas delas não tinham placas indicativas. Quando chegou a hora de virar à direita, um frio percorreu sua espinha. Caminhou um quarteirão, atravessou uma rua. O local marcado era na próxima esquina. Viu uma lanchonete, mas não viu ninguém. Consultou o endereço de novo. Era um pouco mais à frente. Não era um café, mas sim a entrada de um edifício residencial. Um gigante estava na porta, consultando o celular. Era o argentino. Ficou paralisado. Muito mais interessante do que nas fotos. Outro calafrio lhe percorreu o corpo. Aproximou-se e se apresentou. Como todos os argentinos, o gigante se abaixou como se fosse lhe dar um beijo no rosto. Ele, como todos os brasileiros, logo lhe estendeu a mão. Um gesto que poderia se analisado como frio e distante. Mas para ele não o era. Era apenas uma formalidade entre duas pessoas que estavam acabando de se conhecer.
O argentino lhe apertou a mão. Seus olhos se cruzaram. Olhares fixos, olhares profundos. O brasileiro viu além dos olhos. Achou que viu a alma do argentino. Foram segundos, mas pareceu-lhes uma eternidade. O silêncio foi quebrado com um convite para subir. O café seria no apartamento do argentino. Ele aceitou sem pensar. O toque de pele e o olhar do argentino lhe abateram ali, no porta do prédio. O apartamento ficava no segundo piso. Subiram de elevador. Ficaram frente a frente, conversando sobre trivialidades. Ele tinha o pensamento longe. Por um momento o filme de seus 51 anos de vida passou como um trem bala em sua cabeça. O elevador deu um solavanco quando parou no segundo andar. Ele voltou à realidade. Um pequeno corredor separava o elevador da entrada do apartamento. O argentino abriu a porta e lhe convidou para entrar. O brasileiro misturava ansiedade e nervosismo. Pediu um copo de água. Bebeu dois goles e começou a falar. Falava pelos cotovelos. O argentino estava sentado à sua frente. Ouvia tudo com muita atenção e aproveitava as pausas de respiração do brasileiro para também falar. Falaram de tudo um pouco. Da separação que ambos vivenciaram, do trabalho, da vida que levavam, de cachorros, de suas atividades de trabalho. A voz grave falando espanhol fascinou o brasileiro, que fixava seu olhar nas mãos do argentino. Queria segurar aquelas mãos e nunca mais largar. Seus corpos se aproximavam cada vez mais, mas não se tocavam. Até que uma mão segurou a outra. Um calor invadiu o espaço. Um cheiro bom vinha do argentino. O brasileiro estava dominado em quase todos os cinco sentidos: olfato, audição, toque, visão. Faltava o paladar. Queria beijar aquela boca que estava a poucos centímetros da sua. Segurou firme nas mãos portenhas, se aproximou e tascou um beijo. Era o que faltava para lhe conquistar de vez. Levantaram-se e se beijaram longamente. Um beijo efusivo, mágico. Olharam-se, um sorriso tomou ambos os lábios. Seguiu-se um forte e aconchegante abraço. O brasileiro quis morar naquele abraço argentino. Naquele momento, percebeu que uma magia acontecia ali. Algo que há muito não vivenciava. Olhou o relógio. Era hora de ir embora. Os dois tinham compromissos. Agendaram para se ver no dia seguinte. Um jantar a ser preparado pelo argentino. O que o brasileiro buscava no início de tudo não se consumou. Não houve sexo naquela noite. Ao despedir-se do argentino, já na rua, teve uma certeza. Queria aquele homem em sua vida. Tinha esquecido das dores nas costas. E, ainda sem dinheiro, voltou, leve e sorridente, para o hotel. Quando lá chegou, um aviso sonoro no celular indicava o recebimento de uma mensagem. Era o argentino lhe convidando para jantar. Compromisso cancelado. Em vinte minutos estavam juntos novamente, conversando em uma pizzaria. Já no início da madrugada, o argentino pagou a conta, pois o brasileiro continuava sem dinheiro, e caminharam juntos até o Hotel Pestana. Despediram-se com um forte abraço.

O brasileiro pegou seu celular e enviou uma mensagem para o argentino: ERES MI NÚMERO!