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quarta-feira, 29 de julho de 2020

DIAS MELHORES VIRÃO

Julho vai chegando ao final. Mês triste para mim. Parece que a melancolia tomou todo o espaço à minha volta, invadiu meu corpo, dominou e domina meus pensamentos. Sei que tudo passa, que ali mais adiante vou até rir de certos momentos que ora vivencio, mas é duro resistir, é duro atravessar esta fase. Creio até que ela seja necessária, pois é das adversidades que nascem lindas oportunidades de recomeço.
Mas repito que não é nada fácil atravessar este momento, ainda mais potencializado com esta situação pandêmica que assola o mundo. O emocional está tão comprometido que o corpo físico sente. Assim, explodem erupções na pele, caspa no couro cabeludo, uma inflamação na articulação do maxilar, provocando uma "boca torta", uma tendinite no pulso esquerdo, pela qual acabei entrando em licença médica das atividades laborais pelo menos até o final deste mês.
Mas porque o emocional está tão ruim? Além de todo o estresse causado pela necessidade de distanciamento social, houve, como já escrevi aqui, um esgarçamento na minha relação conjugal. Sei ouvir muito, sempre fiz isto. Ouvir te permite entronizar as coisas, digeri-las, processá-las, mas não estava fazendo isso com meu marido. Ouvia muito, mas não processava. Uma hora isso tinha que explodir.
De fato, explodiu na noite de sexta-feira, 24/07. Minhas reações foram diversas, as dele também. Eu tremi, eu fiquei bambo, eu fiquei sereno, a ponto de raciocinar e dividir as coisas materiais da casa, eu chorei, eu explodi, socando por três vezes a parede. Na hora, a mão direita inchou, mas, por sorte, e com a providencial ajuda de meu marido com gelo, não quebrou nenhum osso e nem ficou nada roxo na pele.
Fomos dormir dilacerados.
Sábado ele foi trabalhar logo cedo, enquanto eu fiquei sem rumo, sem saber o que fazer. Até que ele me enviou uma mensagem dizendo que não estava bem, e eu disse que o amava muito e queria abraçá-lo. Ele voltou para casa, abraçamo-nos, choramos, conversamos novamente. Ele precisava ficar sozinho para pensar, para se encontrar. O mesmo precisava eu.
O final de semana foi horrível. Ele em um hotel, eu em casa, mas trocamos mensagens perguntando como estávamos.
A noite de sábado vivi uma espécie de torpor. O corpo não obedecia à mente. Logo adormeci, dormindo profundamente até quase 10 horas do domingo.
Saímos domingo antes do almoço, conversamos um pouco mais, mas logo ficamos sozinhos novamente. Durante a tarde, consegui ler notícias. Mas a parte da noite é que foi muito rara, esquisita mesmo. Deitei cedo, antes de 22 horas. Tudo escuro. Não tomei nenhum tipo de remédio. Fiquei naquele estado que a gente não sabe se já está dormindo ou se ainda segue acordado. Ouvi a porta da sala se abrindo. Até pensei que era meu marido retornando para casa, mas, em seguida, ouvi a porta se fechando e reinando o silêncio. Já vivenciei esta situação diversas vezes na minha vida, por isso nem me levantei. Porém, foi a vez de ouvir a gaveta onde ficam os talheres na cozinha se abrir, e um cair de um destes talheres no chão. Dei um salto, fui até a cozinha e juro que vi um vulto correr para o área de serviço, onde não achei nada, nem ninguém. Também não tinha nenhum talher no chão. Voltei para a cama. Por volta de 4 horas da madrugada, tive uma sensação de que era observado por dois vultos dentro do meu quarto. Acendi a luz e nada vi. Não dormi mais até que os primeiros raios de sol clareassem a segunda-feira. Voltei, finalmente, a dormir.
Meu marido retornou segunda-feira para casa.
Apesar de tudo, sei que um sentimento forte segue existindo entre nós dois. Por isso, a necessidade de um recomeço. Não digo zerar o tempo e começar tudo de novo. Nada disso. É ver que linda história construímos em pouco mais do que cinco anos, processar os erros e acertos e seguir adiante, juntos, mas em busca de paz e harmonia.
Mas os dias são intermináveis, a cabeça pensa mil coisas. Preciso ocupar o tempo. Ontem, fui fazer compras no supermercado, higienizei todos os itens comprados, guardei tudo, fiz um bolo e resolvi fazer uma salada de quinoa. Vi um vídeo no YouTube, assimilei o passo a passo e fiz a salada, que até foi elogiada pelo marido quando jantamos mais tarde. Detalhe: não sei cozinhar e nunca tive vontade de aprender.
Mas tudo passa. Tudo isso passará.
Sigo amando, como nunca, meu companheiro, com quem resolvi me casar em março de 2018.
A certeza de que dias melhores virão.

segunda-feira, 6 de julho de 2020

VIRA CASACA?


Que eu me lembre, nunca meus pais impuseram aos filhos que eles torcessem para um time de futebol específico. Minha mãe torce para o América-MG, mas nem sabe quando ele joga, em que série está ou seus jogadores. Virou torcedora por causa de seu pai, meu avô. Já meu pai é torcedor do Cruzeiro e sempre assiste aos jogos de seu time pela televisão.
Não recordo de muita coisa da minha infância, apenas lances muito determinados, como é o caso que relatarei aqui.
Era final de tarde de domingo, com festinha em comemoração ao meu aniversário de 6 anos, completados dois dias antes. Era 02/11/1969. Festinha simples, só um bolo, brigadeiro e guaraná Alterosa (que lembrança boa me traz este guaraná). De convidados, meu padrinho, sua esposa e seus dois filhos; meus avós maternos e paternos, minha tia materna mais nova e a vizinha de frente, uma senhora casada com um coronel do Exército, que sempre ia nestas festinhas da rua muito maquiada, perfumada e com cabelo cheio de laquê.
Não me vem à cabeça se ganhei algum presente, mas lembro bem da conversa de minha tia com meu pai sobre o Cruzeiro, até então meu time, embora com seis anos recém completos e sem televisão, não tinha a menor ideia de jogadores, de jogos e temas correlatos. Só sabia que o Cruzeiro tinha sido campeão mineiro de 1969. Meu irmão do meio, que tinha 4 anos naquele dia, torcia, também não se sabe porque, para o Atlético-MG. Meus dois primos também eram atleticanos, mas eram muito novinhos, 4 e 3 anos. E meu irmão mais novo nem sabia o que era futebol, pois era um bebê de dez meses. Ele viria a ser cruzeirense, por influência de meu pai e de sua madrinha, a tia que menciono pouco acima.
Nós morávamos em um barracão, nos fundos da casa de meus avós paternos. A mesa com o bolo estava na sala e nós, as crianças, ficamos no quintal, que a gente chamava de terreiro, brincando com uma bola murcha.
Era um tal de chuta bola no outro, chuta bola na parede, chuta bola no tambor de ferro, onde meu pai guardava água, não se sabe por que. O melhor era o chute no tambor por causa do barulho que fazia. Minha tia chegou no quintal eufórica, gritando gol do Cruzeiro a cada bola chutada e eu, muito feliz, pois era um grito de alegria devido ao meu time. Meu irmão, a cada grito de gol do Cruzeiro, fazia uma cara triste, pois ninguém gritava gol do Galo!
Tomado por uma decisão de impacto, que lembro-me bem até hoje, passados 50 anos, fui até meu irmão, fazendo uma proposta um tanto quanto surreal. Ele estava sentadinho encostado na parede, olhando para meus primos que nem força nas pernas tinham para chutar a bola. Parecia que queria se alegrar com os "gols" do Cruzeiro. De supetão, propus a ele: "vamos trocar de time? A partir de agora, eu sou Atlético e você Cruzeiro".
De um salto, ele chegou até a bola, chutou forte no tambor e gritou gol do Cruzeiro! Todos ficaram surpresos.
Eu então, como aniversariante da vez, comuniquei aos adultos que tinha acabado de trocar de time com meu irmão. A partir daquele dia, eu torceria para o Clube Atlético Mineiro. E assim foi.
Hoje, este meu irmão não nutre nenhuma paixão por futebol, e diz não torcer para time algum. Mãe segue americana, pai e irmão mais novo cruzeirenses.
Eu sigo atleticano.
Pode-se classificar minha atitude, na inocência de meus 6 anos, como vira casaca?
Com a palavra os especialistas!

domingo, 5 de julho de 2020

ANGÚSTIA

Hoje, 05 de julho de 2020, completam 110 dias que a pandemia causada pelo coronavírus me deixou de quarentena. Trabalho remotamente de casa, plugado no computador o tempo inteiro, com lives, reuniões virtuais utilizando diversas plataformas, como Zoom, Skype, Webex ou Teams. A sensação é que estou trabalhando mais agora do que antes disto tudo começar. Sem falar nos famigerados grupos de WhatsApp, dos quais não sou nenhum pouco adepto, mas acabei por aceitar ficar neste período.
Ao endereço do trabalho, onde costumava ir todos os dias da semana (para quem não sabe, meu trabalho não exige esta ida diária ao endereço físico, pois o grosso de minhas atividades é na rua), fui apenas duas vezes nestes mais de cem dias.
Nos primeiros 60 dias, não saía para nada. Com receio de ficar louco, confinado, comecei a dar umas voltas de carro, ir ao supermercado de dez em dez dias, escolhendo horários de menor movimento, e sendo direto nas compras, chegando já sabendo o que iria comprar. Em casa, higienização de solado de sapato, higienização um a um de todos os produtos comprados, além das sacolas retornáveis que usei para acondicioná-los. Em seguida, um bom banho.
Nos 90 dias iniciais, dispensei a diarista, pagando como se ela estivesse trabalhando, assumindo, junto com meu marido, a limpeza da casa. Acabei por comprar alguns acessórios para ajudar nesta limpeza, como um robô aspirador de pó, por exemplo. A diarista voltou por conta própria, pois disse que não aguentava mais ficar dentro de casa.
E nos últimos 30 dias, meu pai começou a fazer hemodiálise em uma clínica próxima de onde moro. Como o acompanhante não pode ficar na clinica, por medida de prevenção à propagação do coronavírus, agreguei mais uma atividade de saída de casa, desta vez, 3 vezes na semana. Minha mãe leva meu pai à clínica e me liga, por volta de meio dia, para eu ir buscá-la. Vou e a trago para minha casa, onde ela faz uma operação de higienização, com álcool 70%, no solado do sapato e mãos, toma banho, troca de roupa. Enquanto ela assiste alguma série na TV, eu volto ao trabalho. Aguardamos até a clínica ligar para buscar meu pai, o que ocorre por volta de 16 horas. Vamos até à clínica, onde minha mãe desce para buscar meu pai. Eles entram no carro e os levo para a casa deles, onde também não desço. Chego em minha casa de volta lá pelas 18 horas, retornando ao computador e ao trabalho.
Confesso que cheguei no limite do esgotamento mental. Irritadiço demais, o que acaba afetando o casamento. A sorte é que meu marido tem um negócio, um restaurante que não parou de funcionar durante este período, mas teve que se adaptar de acordo com as regras, acertadas, diga-se de passagem, baixadas pela Prefeitura de Belo Horizonte. Assim, ele não fica o tempo todo em casa. Creio que se ficasse, haveria vários estranhamentos.
Neste último final de semana, meu marido teve uma conversa comigo bem séria. Sinto uma angústia, uma dor no peito, uma vontade de chorar enorme. Olhos marejados enquanto escrevo aqui. Ele falou coisas que o incomodam em mim, coisas que vem falando há tempos e que não vê em mim esforços de mudanças. Falou em eventual separação. Fazem pouco mais de 5 anos que nos conhecemos e moramos juntos há quase 4 anos. Em março de 2020, completamos dois anos de casados. A diferença de idade é grande. Dezoito anos nos separam de vivências. Eu, 56, ele 38. Mas isso não foi empecilho para grandes momentos, viagens interessantes, compartilhamento de mesmos gostos, como a gastronomia, por exemplo. Mas, logicamente, há diferenças. E isso é salutar, no meu pensamento.
Reconheço seu esforço, mas sobretudo, sua atitude de largar tudo, família, amigos, trabalho, país, para se mudar para o Brasil e viver esta história ao meu lado.
Como escrevi acima, a angústia é grande. Fiquei sem chão, sem ar, sem horizonte depois desta conversa. Dói pensar nesta separação, dói ter essa possibilidade como algo real. Dói, dói muito.
Durante toda a minha vida, por ser muito mais racional do que emocional, tive dificuldades em lidar com este tipo de situação. A válvula de escape sempre foi a escrita. Gosto de escrever e a angústia me dá uma espécie de energia cerebral, que me conduzia à caneta e ao papel, e hoje, ao teclado do computador.
Antes, ainda criança, escrevia bobagens como "Que linda é a primavera!", um texto que acabou indo parar no livro, bem rudimentar, que o grupo escolar, escola pública, onde eu estudava, publicou. Depois, já na adolescência, influenciado pelos muitos livros que lia, algo que assimilei de meu padrinho, escrevia crônicas, revelando para o papel meu dia a dia, meus pensamentos, minha vida. Também havia os contos, muitos deles ficções a partir de vivências. A maioria deles era triste, mas com muita energia, com muita superação. Força para seguir adiante.
Estes textos não os tenho mais, se perderam no tempo, provavelmente foram para o lixo, pois escrevia em agendas, em blocos de notas, em cadernos.
Quando vieram os computadores, os textos foram escritos diretamente na tela, sem imprimí-los. Salvava cada texto em disquetes e, obviamente, não os tenho mais. Chegaram os blogs, e foi neles que extravasava frustrações, tristezas, revoltas, e ensaiava conversas que nunca tive.
Neste blog, escrevi de tudo. Meu dia a dia, minhas viagens, meus gostos, meu apreço pela arte e pela gastronomia. Aqui estão todos os textos, únicos que estão, por enquanto, salvos de se perderem no esquecimento. Aqui, estão sempre disponíveis. Textos que diferentes dos escritos em papel ou salvo em disquetes, foram lidos e até mesmo compartilhados por centenas de pessoas. Antes escrevia para mim, sem mostrar nada para ninguém. Hoje, sigo escrevendo para mim, mas compartilho com o mundo da internet.
A vista cansada, a necessidade de usar óculos, a cobrança que sempre me fiz para escrever diariamente, suplantaram a vontade de escrever. Vontade esta que sempre esteve latente. Ensaiei a volta várias vezes, mas a inspiração não vinha.
Hoje, a vontade de escrever veio já no final do dia, depois de horas olhando para o nada, após nova conversa com meu marido. Veio como um choro, uma explosão de lágrimas que insistem em molhar meus olhos, mas não escorrem pelo rosto. Uma dor no peito, um sufoco, uma falta de ar.
Uma vontade enorme de gritar para o mundo: Gastón, eu nunca amei alguém como te amo. Você continua sendo meu número!
Enfim, a lágrima corre pelo lado esquerdo de meu rosto.