Julho vai chegando ao final. Mês triste para mim. Parece que a melancolia tomou todo o espaço à minha volta, invadiu meu corpo, dominou e domina meus pensamentos. Sei que tudo passa, que ali mais adiante vou até rir de certos momentos que ora vivencio, mas é duro resistir, é duro atravessar esta fase. Creio até que ela seja necessária, pois é das adversidades que nascem lindas oportunidades de recomeço.
Mas repito que não é nada fácil atravessar este momento, ainda mais potencializado com esta situação pandêmica que assola o mundo. O emocional está tão comprometido que o corpo físico sente. Assim, explodem erupções na pele, caspa no couro cabeludo, uma inflamação na articulação do maxilar, provocando uma "boca torta", uma tendinite no pulso esquerdo, pela qual acabei entrando em licença médica das atividades laborais pelo menos até o final deste mês.
Mas porque o emocional está tão ruim? Além de todo o estresse causado pela necessidade de distanciamento social, houve, como já escrevi aqui, um esgarçamento na minha relação conjugal. Sei ouvir muito, sempre fiz isto. Ouvir te permite entronizar as coisas, digeri-las, processá-las, mas não estava fazendo isso com meu marido. Ouvia muito, mas não processava. Uma hora isso tinha que explodir.
De fato, explodiu na noite de sexta-feira, 24/07. Minhas reações foram diversas, as dele também. Eu tremi, eu fiquei bambo, eu fiquei sereno, a ponto de raciocinar e dividir as coisas materiais da casa, eu chorei, eu explodi, socando por três vezes a parede. Na hora, a mão direita inchou, mas, por sorte, e com a providencial ajuda de meu marido com gelo, não quebrou nenhum osso e nem ficou nada roxo na pele.
Fomos dormir dilacerados.
Sábado ele foi trabalhar logo cedo, enquanto eu fiquei sem rumo, sem saber o que fazer. Até que ele me enviou uma mensagem dizendo que não estava bem, e eu disse que o amava muito e queria abraçá-lo. Ele voltou para casa, abraçamo-nos, choramos, conversamos novamente. Ele precisava ficar sozinho para pensar, para se encontrar. O mesmo precisava eu.
O final de semana foi horrível. Ele em um hotel, eu em casa, mas trocamos mensagens perguntando como estávamos.
A noite de sábado vivi uma espécie de torpor. O corpo não obedecia à mente. Logo adormeci, dormindo profundamente até quase 10 horas do domingo.
Saímos domingo antes do almoço, conversamos um pouco mais, mas logo ficamos sozinhos novamente. Durante a tarde, consegui ler notícias. Mas a parte da noite é que foi muito rara, esquisita mesmo. Deitei cedo, antes de 22 horas. Tudo escuro. Não tomei nenhum tipo de remédio. Fiquei naquele estado que a gente não sabe se já está dormindo ou se ainda segue acordado. Ouvi a porta da sala se abrindo. Até pensei que era meu marido retornando para casa, mas, em seguida, ouvi a porta se fechando e reinando o silêncio. Já vivenciei esta situação diversas vezes na minha vida, por isso nem me levantei. Porém, foi a vez de ouvir a gaveta onde ficam os talheres na cozinha se abrir, e um cair de um destes talheres no chão. Dei um salto, fui até a cozinha e juro que vi um vulto correr para o área de serviço, onde não achei nada, nem ninguém. Também não tinha nenhum talher no chão. Voltei para a cama. Por volta de 4 horas da madrugada, tive uma sensação de que era observado por dois vultos dentro do meu quarto. Acendi a luz e nada vi. Não dormi mais até que os primeiros raios de sol clareassem a segunda-feira. Voltei, finalmente, a dormir.
Meu marido retornou segunda-feira para casa.
Apesar de tudo, sei que um sentimento forte segue existindo entre nós dois. Por isso, a necessidade de um recomeço. Não digo zerar o tempo e começar tudo de novo. Nada disso. É ver que linda história construímos em pouco mais do que cinco anos, processar os erros e acertos e seguir adiante, juntos, mas em busca de paz e harmonia.
Mas os dias são intermináveis, a cabeça pensa mil coisas. Preciso ocupar o tempo. Ontem, fui fazer compras no supermercado, higienizei todos os itens comprados, guardei tudo, fiz um bolo e resolvi fazer uma salada de quinoa. Vi um vídeo no YouTube, assimilei o passo a passo e fiz a salada, que até foi elogiada pelo marido quando jantamos mais tarde. Detalhe: não sei cozinhar e nunca tive vontade de aprender.
Mas tudo passa. Tudo isso passará.
Sigo amando, como nunca, meu companheiro, com quem resolvi me casar em março de 2018.
A certeza de que dias melhores virão.