Pesquisar este blog

segunda-feira, 6 de julho de 2020

VIRA CASACA?


Que eu me lembre, nunca meus pais impuseram aos filhos que eles torcessem para um time de futebol específico. Minha mãe torce para o América-MG, mas nem sabe quando ele joga, em que série está ou seus jogadores. Virou torcedora por causa de seu pai, meu avô. Já meu pai é torcedor do Cruzeiro e sempre assiste aos jogos de seu time pela televisão.
Não recordo de muita coisa da minha infância, apenas lances muito determinados, como é o caso que relatarei aqui.
Era final de tarde de domingo, com festinha em comemoração ao meu aniversário de 6 anos, completados dois dias antes. Era 02/11/1969. Festinha simples, só um bolo, brigadeiro e guaraná Alterosa (que lembrança boa me traz este guaraná). De convidados, meu padrinho, sua esposa e seus dois filhos; meus avós maternos e paternos, minha tia materna mais nova e a vizinha de frente, uma senhora casada com um coronel do Exército, que sempre ia nestas festinhas da rua muito maquiada, perfumada e com cabelo cheio de laquê.
Não me vem à cabeça se ganhei algum presente, mas lembro bem da conversa de minha tia com meu pai sobre o Cruzeiro, até então meu time, embora com seis anos recém completos e sem televisão, não tinha a menor ideia de jogadores, de jogos e temas correlatos. Só sabia que o Cruzeiro tinha sido campeão mineiro de 1969. Meu irmão do meio, que tinha 4 anos naquele dia, torcia, também não se sabe porque, para o Atlético-MG. Meus dois primos também eram atleticanos, mas eram muito novinhos, 4 e 3 anos. E meu irmão mais novo nem sabia o que era futebol, pois era um bebê de dez meses. Ele viria a ser cruzeirense, por influência de meu pai e de sua madrinha, a tia que menciono pouco acima.
Nós morávamos em um barracão, nos fundos da casa de meus avós paternos. A mesa com o bolo estava na sala e nós, as crianças, ficamos no quintal, que a gente chamava de terreiro, brincando com uma bola murcha.
Era um tal de chuta bola no outro, chuta bola na parede, chuta bola no tambor de ferro, onde meu pai guardava água, não se sabe por que. O melhor era o chute no tambor por causa do barulho que fazia. Minha tia chegou no quintal eufórica, gritando gol do Cruzeiro a cada bola chutada e eu, muito feliz, pois era um grito de alegria devido ao meu time. Meu irmão, a cada grito de gol do Cruzeiro, fazia uma cara triste, pois ninguém gritava gol do Galo!
Tomado por uma decisão de impacto, que lembro-me bem até hoje, passados 50 anos, fui até meu irmão, fazendo uma proposta um tanto quanto surreal. Ele estava sentadinho encostado na parede, olhando para meus primos que nem força nas pernas tinham para chutar a bola. Parecia que queria se alegrar com os "gols" do Cruzeiro. De supetão, propus a ele: "vamos trocar de time? A partir de agora, eu sou Atlético e você Cruzeiro".
De um salto, ele chegou até a bola, chutou forte no tambor e gritou gol do Cruzeiro! Todos ficaram surpresos.
Eu então, como aniversariante da vez, comuniquei aos adultos que tinha acabado de trocar de time com meu irmão. A partir daquele dia, eu torceria para o Clube Atlético Mineiro. E assim foi.
Hoje, este meu irmão não nutre nenhuma paixão por futebol, e diz não torcer para time algum. Mãe segue americana, pai e irmão mais novo cruzeirenses.
Eu sigo atleticano.
Pode-se classificar minha atitude, na inocência de meus 6 anos, como vira casaca?
Com a palavra os especialistas!

Nenhum comentário:

Postar um comentário