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terça-feira, 31 de maio de 2022

MORANGOS SILVESTRES (SMULLTRONSTALLET)

Morangos Silvestres (Smultronstallet) é uma produção sueca, em preto e branco, de 1957, dirigida por Ingmar Bergman.

No elenco, o também diretor Victor Sjostrom no papel de Izak, um médico idoso que revê sua vida enquanto viaja em seu carro para outra cidade na qual receberá uma importante condecoração na Universidade de Lund. Também está a bela Bibi Andersson, atriz constante nos filmes de Bergman, fazendo o duplo papel (Sara/Hitchhiker). No presente, ela é a jovem a quem Izak dá carona e, no passado, a jovem que o médico cortejava.

Sonhos e pensamentos indicam que o médico famoso, com cinquenta anos de profissão, teme a morte que se aproxima.

Neste turbilhão de pensamentos, ele repensa seus atos e se aproxima da nora Marianne (Ingrid Thulin), de sua fiel empregada Agda (Jullan Kindahl), também idosa, e de seu filho Evald Borg (Gunnar Bjornstrand).

Um contraste entre o vigor da juventude, tanto no físico quanto nas atitudes e debates, e a velhice, com ênfase à sabedoria, o reconhecimento pelo trabalho e porque não, a rabugice característica dos mais velhos.

Lindo filme sobre a velhice.

Revendo-o mais uma vez, desta feita para uma aula do Ciclo Bergman do Clube de Análise Fílmica (Cinema com Teoria), me transportei para os anos 80, em uma agitada sessão do Cine Clube do Diretório Acadêmico da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, onde me formei em Ciências Econômicas.

Logo após a exibição do filme, em uma cópia sofrível em VHS, o debate foi caloroso, reproduzindo, no auditório da escola, a discussão sobre religião que os jovens travam em uma das cenas do filme.

Filme obrigatório para todos aqueles que amam o cinema.

MORTE NO NILO (DEATH ON THE NILE)


Morte no Nilo
(Death on the Nile), 2022, 127 minutos.

Lembro-me bem quando fui ver Morte Sobre o Nilo (Death on the Nile), versão cinematográfica dirigida por John Guillermin para o livro de Agatha Christie, no saudoso Cine Jaques, em Belo Horizonte. Era final da década de 1970. As sessões estavam sempre cheias para um cinema que comportava quase 1.000 pessoas por vez. Enquanto eu estava na fila para entrar, na calçada, as portas da saída se abriram e um bando de idiotas passou comentando em voz alta quem era o assassino. Eu não liguei muito porque desde sempre não me importei com spoilers, além de conhecer a história pois tinha lido o livro alguns meses antes. Mas foi um balde de água fria para muitos que estavam na fila. Saí muito satisfeito com o que vi após mais de duas horas de projeção. Nunca mais tive a oportunidade de revê-lo.

Pulamos para 2022. Uma nova versão da história de um assassinato em um cruzeiro sobre o Rio Nilo foi lançada nos cinemas. Desta vez dirigida e estrelada por Kenneth Branagh, que interpreta o famoso detetive Hercule Poirot. Esperei chegar no streaming para conferir.

Branagh contou com um elenco numeroso, com muitas carinhas conhecidas como Tom Bateman, Annette Bening, Michael Rouse, Letitia Wright, Armie Hammer e Gal Gadot.

Cores vibrantes dão o tom em todo o filme, com ótima reconstituição de época e belo figurino. Mas o ritmo não convence. O filme, em muitas tomadas, parece monótono, com elenco pouco inspirado e uma direção muito ortodoxa.

Mas o que mais incomoda no filme é o uso de efeitos especiais horrorosos, bem toscos mesmo. É visível o CGI mal utilizado. A cena que mais comprova este fato é quando Hercule Poirrot está sentado em uma cadeira de frente para uma das pirâmides do Cairo. Não é convincente que realmente ele esteja naquele lugar.

Uma pena que uma história tão boa tenha sido mal aproveitada nesta nova versão.

Continuo preferindo a versão de 1978.

OS OPOSTOS SEMPRE SE ATRAEM (LOIN DU PÉRIPH)

Os Opostos Sempre Se Atraem (Loin du Périph), 2022, 119 minutos.

Mais uma vez, o diretor Louis Leterrier e o ator Omar Sy trabalham juntos. Depois de dirigir alguns episódios da ótima série Lupin, Leterrier está atrás das câmeras desta comédia policial francesa disponível na Netflix.

É uma história batida, com dois policiais de estilos diferentes e que há muito não se encontravam, terem que trabalhar juntos para investigar um assassinato em uma pequena cidade francesa.

Clichês atrás de clichês, previsibilidade, piadas ruins. O que salva é a sempre iluminada presença de Omar Sy, interpretando o policial Ousmane Diakhité e algumas cenas divertidas entre ele e Laurent Lafitte, integrante de La Comédie-Française, que no filme é o policial François Monge.

É um filme típico de Sessão da Tarde, para ver, descansar a cabeça, rir um pouco e depois esquecer.

sábado, 28 de maio de 2022

PÂNICO (2022) (SCREAM, 2022)

Pânico (Scream), 2022, 114 minutos. Primeiro filme da franquia sem Wes Craven na direção, que ficou a cargo não de uma, mas de duas pessoas: Matt Bettinelli-Olphin e Tyler Gillett.

Os diretores conseguiram manter a essência da saga, trazendo mais uma vez as personagens Sidney Prescott, Gale Weathers e Dewey Riley, os três interpretados pelos mesmos atores desde o início da franquia: Neve Campbell, Courteney Cox e David Arquette. Os acontecimentos continuam na mesma cidade dos filmes anteriores e, outra vez, alguém assume a máscara de Ghostface para aterrorizar os jovens do local.

Para dar um frescor, pensando mais na continuidade da franquia, introduziram a personagem Sam Carpenter (Melissa Barrera), que tem uma ligação com um importante personagem do primeiro filme. Sam Carpenter é a nova Sidney Prescott.

No mais, o filme continua fazendo chacota de seu próprio roteiro e dos filmes de terror, com muitas citações nos diálogos dos jovens, além de uma cena-homenagem a Psicose, com o chuveiro ligado na banheira.

De novidade, só mesmo a nova mocinha, o adeus de um personagem central da saga, e a identidade do Ghostface.

Tem homenagem a Wes Craven, o gênio por trás dos filmes slasher de sucesso como A Noite do Pesadelo e Pânico. Um personagem jovem se chama Wes, e a câmera foca o nome de uma das ruas da cidade: Elm Street.

Por ser quase mais do mesmo, o filme é previsível e dá para sacar quem é o assassino.

Não inova, mas também não fez feio.

quarta-feira, 25 de maio de 2022

TUDO EM TODO LUGAR AO MESMO TEMPO (EVERYTHING EVERYWHERE ALL AT ONCE)

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo
(Everything Everywhere All At Once), 2022, 139 minutos. Roteiro e direção de Daniel Kwan e Daniel Scheinert. No elenco, Michelle Yeoh (Evelyn), Stephanie Hsu (Joy), Ke Huy Quan (Waymond), James Hong (Gong Gong), Jamie Lee Curtis (Deirdre) e Tallie Medel (Becky).

O hype em torno desse filme tem sido enorme, com muitas postagens nas redes sociais sobre ele. Não quis ver trailer, críticas, análises, nem mesmo ler a sua sinopse. Fui conferir sem saber nada sobre Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. Ao final da projeção, estava impactado. É um filmaço.

Quem me conhece sabe que custo a dar nota 10 para um filme. Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo foi o oitavo filme que mereceu um 10 para mim dentre os quase 3 mil filmes que já vi ao longo de minha existência.

O filme é perfeito em todos os aspectos. Roteiro original, embora com a sensação de que já tinha visto um monte de coisas que estavam nele. Também pudera, pois os roteiristas-diretores misturaram vários gêneros em um mesmo filme. Tem aventura, tem kung fu, tem ficção científica, tem comédia, tem drama, tem suspense, tem sangue, tem porrada, tem melodrama, tem tudo. E essa mistura funciona muito bem. Tudo se conecta.

O elenco está fantástico, com destaque para Michelle Yeoh, que deve figurar nas listas de candidatas a melhor atriz nas premiações referentes aos filmes de 2022. Jamie Lee Curtis é uma coadjuvante de luxo, que funciona muito bem para aumentar o brilho de Yeoh nas cenas em que as duas estão juntas.

Figurino, maquiagem, cabelo, design de produção, trilha sonora, tudo se conecta formando um todo uniforme. Até os exageros no figurino de Joy tem uma razão de ser dentro do roteiro e não incomodam.

O roteiro ainda brinca com o tema recorrente neste ano nos filmes de grande bilheteria: o multiverso. A história se passa em vários universos paralelos, onde Evelyn assume diversas identidades, tais como uma chef de cozinha, uma cantora ou uma dona de lavanderia.

Também destaco a inserção da inclusão e da diversidade na história. Há imigrantes chineses que são pequenos empresários nos Estados Unidos, há personagens LGBTQIA+, há idosos, há empoderamento feminino, toca na questão da importância de se manter tradições culturais de um povo (há uma festa do ano novo chinês).

Os diretores mostram que entendem muito de cinema e que são cinéfilos apaixonados, pois identifiquei várias referências a filmes de sucesso, como Amor à Flor da Pele, de Kar-Wai, Kill Bill, de Tarantino, filmes atuais da Marvel, Ratatouille, de Brad Bird e Jan Pinkava, filmes B de kung fu rodados em Hong Kong, 2001 Uma Odisseia no Espaço, de Kubrick, Desejo Proibido (filme com três histórias sobre casais lésbicos), filmes B de terror, comédia pastelão, Halloween, de John Carpenter (só de ter Jamie Lee Curtis já é uma referência a esse clássico do terror), entre outros.

E o final me lembrou bastante o final de outro filme nota 10 em minha avaliação, Veludo Azul, de David Lynch, com um final feliz que pode ser interpretado como uma ironia dos diretores.

É um filme para ver e rever muitas vezes, pois há muitas camadas e nuances a serem descobertas.

terça-feira, 10 de maio de 2022

ALÉM DA MARGEM (OUTER RANGE)

As séries da Amazon Prime têm ficado cada vez melhores, com tramas bem construídas e elenco muito bom. Recentemente vi os oito episódios de Além da Margem (Outer Range). Fiquei cada vez mais empolgado na medida em que via os capítulos.

O roteiro vai deixando mistérios e questões sem respostas a cada episódio, que têm duração média de 58 minutos, o que me deixava ansioso para ver mais um.

Estrelado por Josh Brolin, que interpreta o fazendeiro Royal Abbott, cuja família tem uma rixa com os Tillerson, também fazendeiros e vizinhos de cerca. É um faroeste moderno, com quadriciclos e caminhonetes quatro por quatro no lugar de cavalos (mas estes também estão presentes na família Abbott), e com indígena integrado na comunidade, sendo uma policial indígena lésbica, que está disputando a eleição para ser a xerife do condado. A briga das duas famílias tem como ponto central o pasto oeste dos Abbott, onde está o grande mistério da série, um buraco redondo no meio da pastagem. Para apimentar o mistério, Autumm, uma mochileira, chega na fazenda dos Abbott, pedindo para acampar. Ela vai se envolver com toda a família, sempre com ares de quem tem um grande segredo para revelar. E ainda tem o desaparecimento da mãe de Amy, neta de Royal e Cecilia (Lili Taylor).

O escritor Brian Watkins mistura elementos do faroeste com suspense, aventura, mistério e ficção científica. Com direito a várias mortes no decorrer dos oito episódios.

Alguns dos mistérios são desvendados pelo espectador no último capítulo, mas muitos fios ainda ficaram soltos, dando margem para especulações e teorias de todos os tipos, aguardando uma segunda temporada.

Ao terminar, fiquei com aquele gosto de quero mais na boca quando a gente se delicia com alguma iguaria deliciosa.

Tem uma pegada de Lost, outra de Dark, e até mesmo de séries mais antigas, como Bonanza e Túnel do Tempo.

Minha nota: 08.

domingo, 1 de maio de 2022

O SÉTIMO SELO (DET SJUNDEINSEGLET)

Comecei a me interessar por filmes fora dos padrões hollywoodianos quando vi Ingmar Bergman em uma mostra no cine clube da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais, em 1983, onde eu estudava. Muitos conhecidos meus dizem que os filmes de Bergman são arrastados, lentos e chatos. Não é a minha opinião. Concordo que alguns não são fáceis de encarar, mas gosto da maioria dos que vi até hoje.
Por muitos anos, foi difícil escolher qual dos filmes da extensa filmografia do diretor sueco eu colocava em meu Top 3. Minha ordem de preferência, até então, era Morangos Silvestres, O Sétimo Selo e Persona. Justamente estes filmes são tema, além de Gritos e Sussurros, do Ciclo Bergman do Clube de Análise Fílmica, do qual faço parte desde novembro de 2021.
Revi O Sétimo Selo para a aula do dia 28/04/2022. Assim que terminei de ver, fiquei surpreso com minha reação de não ter gostado tanto quanto das outras vezes que o vi. Desta última, me incomodou muito as cenas de comédia pastelão inseridas em um drama tão profundo, com uma pegada literalmente apocalíptica, já que o livro Apocalipse da Bíblia é constantemente citado e/ou encenado. Tirando a comédia citada, o filme ainda impressiona. Cenas fortes de fanatismo religioso aliado com imolações para poder entrar no Reino dos Céus, a espera da morte, não só por questões naturais de qualquer ser vivo, mas também pela Peste Negra que assolava a Idade Média na época em que a trama se desenvolve.
Max Von Sydow dá um show como o cavaleiro que desafia a Morte para um jogo de xadrez. Mesmo sabendo seu final, ele vai enrolando, conseguindo mais tempo de vida, para voltar para sua casa, onde apenas sua mulher o esperava. Bengt Ekerot está super bem caracterizado como a Morte: sombrio, sorrateiro, paciente e amedrontador.
Fotografia em preto e branco belíssima com o uso intenso do claro/escuro, com referências nítidas ao expressionismo alemão.
A maior parte das cenas é filmada em ambientes externos, sempre mostrando a vastidão da natureza, seja o mar, a floresta ou as terras onde o cavaleiro passa. Estes elementos da natureza, embora finitos, dão a impressão de serem infinitos, de que nunca acabam, em contraste frequente com a espera da morte que vivem os personagens. A vida passa, mas aquelas paisagens ficam. Pode até serem alteradas, mas permanecerão em contraponto à finitude do homem.
Um filme necessário para quem gosta de estudar cinema.
No meu ranking, ele perdeu o posto para Persona, mas segue no Top 3 de Bergman.
Disponível gratuitamente no YouTube.