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sábado, 29 de novembro de 2014

DESBUNDE

Na quinta-feira, dia 27 de novembro, em noite chuvosa, na companhia de Karina e Allan, fui ao Teatro Dulcina onde está em cartaz até o próximo sábado, dia 06 de dezembro, o espetáculo Desbunde. Comprei os ingressos por R$10,00 cada um na hora do almoço no caixa do Balaio Café. Uma animada aglomeração se formava na porta do teatro aguardando a liberação da entrada. Uma fila involuntária tomou forma e, de repente, nos vimos inseridos nesta fila. Um ator, caracterizado como uma drag queen, surgiu de dentro do teatro para dar o clima do que seria o musical que veríamos a seguir. Bem humorada, com tiradas certeiras, ele/ela mexia com todo mundo. O teatro não ficou lotado, mas recebeu um bom público. Feitos os devidos anúncios, ainda pela drag queen em figurino dominado pelos paetês, as luzes se apagam e surge em cena o ator Tulio Guimarães interpretando Claudia Valeria, sem assentos, pois ela gostava de quebrar regras, especialmente as gramaticais. Esta frase já resumia o enredo da peça. Desbunde é uma ode à liberdade de expressão, à alegria, à ousadia. Desbunde é um desbunde, na melhor concepcão da palavra, muito em voga nos anos setenta. E é justamente a estética, o comportamento e a contracultura da década de setenta que serviram de inspiração para Sérgio Maggio, roteirista da peça, nos brindar com um espetáculo delicioso.
Cinco atores em cena, o já citado Tulio Guimarães, e ainda Roustang Carrilho (Saquarema Satanás), Kael Studart (Petit du Buá), Guilherme Monteiro (Savana Sargentelli) e Túlio Starling (Marquesa), transgridem a ordem, quebram tudo e inceideiam o palco do Teatro Dulcina. O grupo Dzi Croquettes e suas loucuras nos palcos brasileiros e mundiais na década de setenta, em plena ditadura militar no Brasil, servem de combustível para a história contada em Desbunde. Tal história vem em narrativa não linear, com ótimas performances individuais, tocando em temas sensíveis, como a repressão dos tempos em que os militares mandavam no nosso país (tema oportuno, por sinal, tendo em vista as recentes manifestações pedindo intervenção militar pós vitória de Dilma nas eleições de outubro); como o preconceito contra gays, especialmente pós AIDS; ou como relações familiares conturbadas. Desbunde inspira-se, ainda, na era hippie, com a liberdade sexual, o uso de drogas e de roupas coloridas, de uma época de festa, de alegria, de amor, de solidariedade entre amigos.
Para além das performances individuais, que já destaquei acima, o espetáculo cresce, e muito, com as performances coletivas, especialmente nas coreografias sensuais preparadas por Livia Bennet.
A escolha do repertório é outro ponto de destaque, com predominância de músicas brasileiras, de forte apelo junto ao público, como a divertida canção Vingativa, de Rita Lee, que é apresentada pelo grupo logo no início, ou Conga La Conga, sucesso eterno de Gretchen, no auge de sua carreira.
Juliana Drummond e Abaetê Queiroz, os responsáveis pela direção, deixaram Desbunde leve, gostoso, pra cima, mesmo quando os temas mais sensíveis são explorados, e esta sensação de leveza envolve o público de tal maneira que quando a gente percebe, todos nós estamos no universo decadente da boate Desbunde, onde se passa a trama. E esta energia flui de tal maneira que a participação em uma espécie de flash mob no palco torna-se algo natural, com ações e reações do público impensáveis em outros espaços culturais. A entrega é natural. A catarse é inevitável.
Por fim, a escolha do Teatro Dulcina foi acertadíssima. Um espaço icônico para as artes cênicas de Brasília que hoje tem uma áurea decadente, mas que é sempre reverenciado por várias gerações do teatro brasiliense, especialmente em momento delicado para o meio cultural da cidade, com fechamentos de espaços e calotes das verbas do FAC.
Desbunde é ousado, é deboche, é provocativo, é alegre, é pulsante, é vida, é vigor, é teatro feito com paixão.
Saí do teatro com vontade de dançar, de continuar no universo de Desbunde.
Quero voltar e ver de novo. Quero vivenciar esta alegria novamente.

E retornei uma semana depois. Novamente saí com vontade de voltar.

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