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segunda-feira, 10 de novembro de 2014

VE (NE) NUS

Convidei Karina, Cristiano e Alberto para ir comigo ver a peça Ve (ne) nus, em cartaz no Pavilhão I do CCBB de Brasília. Espetáculo da companhia brasiliense Teatro dos Ventos - Confraria Artística, cuja dramaturgia e direção coube a Fernando Martins. No elenco, além do próprio Fernando Martins, estão Luiz Felipe Ferreira e Luciana Loureiro. Ingressos esgotados para a sessão das 19 horas de domingo, dia 09 de novembro de 2014.
Cheguei mais cedo para pegar os ingressos e vi a trupe passar no vão do CCBB já paramentados para a peça. Duas crianças que brincavam por ali pararam o que estavam fazendo, ficaram mirando aquelas pessoas estranhas maquiadas e vestidas de preto, perguntando, ao final, ao pai se aquele grupo era formado por extraterrestres. Claro que sorri.
Como o espetáculo é no pavilhão de vidro ao final do estacionamento do centro cultural, um espaço multimeios, a configuração para o teatro contou com a instalação de uma arquibancada ampla. Claro que não tem o mesmo conforto de uma cadeira com encosto, mas a peça é curta, com cerca de uma hora de duração, o que não chega a incomodar ficar sentado nas pranchas de madeira da arquibancada.
No palco, além dos três atores, havia uma banda executando a trilha sonora ao vivo, postada do lado esquerdo, além de mais seis atores vestidos de negro. Tais pessoas faziam parte do coro, em uma alusão ao teatro grego, já que o tema tem ligação direta com a mitologia grega.
Os efeitos cênicos são muito bons, incluindo iluminação e sonoplastia. O figurino seguiu o cenário seco, nu, bem escuro. A ideia era passar um clima tenso, meio de terror, contando uma versão bem diferente da Vênus glamourizada que estamos acostumados a ler e a ver em obras de arte. Vênus aqui, ou Ve (ne) nus, é má e exerce esta maldade enlouquecendo seus pretendentes e levando-os à morte. Nesta versão, Vênus é mais do que a deusa do amor e da fertilidade. Ela flerta descaradamente com a morte.
Quanto ao texto, confesso que não gostei. Recheado de metáforas e para quem não lê o folheto da peça que é entregue quando ainda estamos na fila para entrar, fica um pouco confuso perceber estas metáforas verbais e visuais.
Acho louvável um trabalho de pesquisa e de concepção teatral como o grupo fez, incluindo vários elementos cênicos que distanciam a encenação do teatro praticado na Grécia antiga, embora mantendo um coro interessante que faz parte do todo. No entanto, tais elementos cênicos - trilha sonora ao vivo, sonoplastia, iluminação, figurino, projeção de vídeo, utilização de maquete para marcar o dia e a noite, narrativas ao vivo em um microfone colocado no lado direito do palco, estética de filmes de terror (lembrei-me de Hitchcock e seu sensacional Os Pássaros por mais de uma vez) e de ação (não sei porque, mas me veio à mente os filmes da saga Jogos Vorazes) - suplantaram, e muito, o texto e a encenação. Em alguns momentos, ficou incompreensível o que os atores ou o coro falavam, pois havia muita informação sonora e visual ocorrendo ao mesmo tempo.
Ao final, a plateia estava visivelmente dividida. Alguns aplaudiam entusiasticamente de pé, enquanto outros permaneceram sentados praticando as palmas protocolares.
Fiquei neste último grupo.
Ao sair, vi as crianças que chamaram o pessoal da trupe teatral de extraterrestres. Meu sorriso desta vez foi mais longo.

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