Fui conferir o mais novo espetáculo concebido por Alexandre Ribondi que está em cartaz no Teatro Goldoni: Um Jantar com Hitchcock. Era noite de estreia. Sala cheia. Comprei o ingresso meia hora antes do horário previsto para ter início a peça, pelo qual paguei R$ 30,00 (inteira). Fiquei na primeila fila. Quando entrei na sala, todos os onze atores já estavam em cena, com maquiagem forte, todas de forma bem macabra, o que me fez lembrar de filmes como Os Fantasmas se Divertem ou A Noiva Cadáver. Pensei que fosse um set de um filme policial ou mesmo um tabuleiro do jogo Detetive, onde peças como candelabro, livros e chapéus se faziam presentes.
O texto é inspirado em fato real que inspirou uma peça que inspirou o famoso filme Festim Diabólico, de Alfred Hitchcock. Desta vez, não conhecia, ou não me lembro de ter visto os atores e atizes em outras peças encenadas em Brasília.
Dois amigos cometem um crime que consideraram perfeito. Para afastar qualquer suspeita, convidam o professor de filosofia que ministrava aulas na escola que frequentavam para um jantar, assim como as Graças, três irmãs que namoravam o filho deste professor. Para apimentar um pouco mais a história, estas mesmas Graças tinham namorado anteriormente um dos amigos que ofereciam o jantar. Um dos assassinos acaba por não conseguir se controlar e suas atitudes e nervosismo geram desconfiança nos convidados, bem como na empregada da casa. E a verdade é revelada ao final.
Ribondi assina texto e direção. Para uma história tipicamente policial e com um final conhecido para quem já viu o filme, ele trouxe elementos diferentes para a cena. Duas atrizes fazem a mesma empregada, mas não há revezamento no palco. Elas dialogam entre si, como se mente e corpo vivessem separados, mas sempre juntos. As Graças são interpretadas por três atrizes que agem juntas, possuem gestuais e figurinos parecidos, com falas complementares. Era como um coro do teatro grego, ou a tríade divina. Três entidades, uma só unidade. Um dos assassinos também é interpretado por dois atores que tem pesonalidades distintas, mostrando que o personagem tinha duplo caráter. Um ator fazia o papel de narrador, mas também interagia com as personagens. Uma das cenas que mais incomodam a quem está assistindo a peça é protagonizada pelo narrador. De muletas, ele dá uma volta ao redor do baú no centro do palco, apenas falando "blá-blá-blá, blá-blá-blá ". Confesso que fiquei agoniado com a cena.
Além destes elementos que fogem à mesmice do gênero policial, Ribondi introduz no texto uma discussão que pautou as redes sociais por ocasião das eleições de outubro, a existência de uma classe de seres humanos superiores. Ele chamou esta classe de o homem superior. E por ser assim, ele pode fazer o que quiser com os que considera inferior, inclusive matar por diversão, como a dupla fez com o jovem que é assassinado. Ou seja, este ser superior pode até matar um inferior que nada lhe acontecerá. Em um momento, uma das Graças se vira para o público e condena os que se acham superiores aos pobres, aos menos afortunados, aos trabalhadores mais simples, aos nordestinos. Uma nítida reprovação de Ribondi ao que ele viu e leu nas redes sociais.
Outro ponto interessante na encenação é o caráter sensual que está presente no texto e na interpetação dos personagens. As insinuações de um romance homossexual entre os dois amigos que cometeram o crime acontecem em vários momentos, assim como fica uma dúvida no ar se o professor também tem interesses carnais para com o aluno mais racional.
Ao final, uma plateia entusiasmada aplaudiu os atores, mesmo depois que eles saíram de cena, fazendo com que retornassem ao palco para agradecer ao público a recepção calorosa.
Gostei do que vi.
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