Os Primeiros Soldados, 2021, 107 minutos.
Dando prosseguimento à maratona de cinema em casa, conferi mais um filme da 25ª Mostra Tiradentes. Aprecio muito o trabalho da atriz Renata Carvalho. Lendo as sinopses dos filmes disponíveis no dia 28/01/2022, vi que ela estava no filme Os Primeiros Soldados. Foi minha escolha imediata.
O filme tem roteiro e direção de Rodrigo de Oliveira, rodado inteiramente no Espírito Santo, com locações em Vitória, Guarapari e Domingos Martins. No elenco estão Renata Carvalho (Rose), Johnny Massaro (Suzano), Clara Choveaux (irmã de Suzano) e Vitor Camilo (Humberto).
Para mim, foi um resgate, em filme, da história recente brasileira em relação ao início da AIDS no país, quando ninguém tinha muita informação sobre tratamento, transmissão, vivência, gerando uma série de preconceitos para com os primeiros infectados, especialmente gays, prostituas e usuários de drogas injetáveis. Pelo que me lembre, não houve filmes que trataram destas angústias tão diretamente como em Os Primeiros Soldados, em especial sobre seus primórdios em solo brasileiro.
A história se passa no espaço temporal entre o dia 31/12/1982 e o dia 01/01/1984. Rose é uma travesti, cantora em boates gays, mas que também se prostitui na noite capixaba. Humberto é um cinegrafista que faz um vídeo sobre Rose, acompanhando-a em sua performance na noite de Réveillon 1982/1983, é tímido e tem seu primeiro relacionamento homossexual justamente na virada de 1982/1983. Suzano vive na França, mas está de passagem no Brasil visitando a irmã e seu sobrinho Muriel, que o tem como ídolo. Os três descobrem que estão infectados e, com receio da reação da sociedade, se refugiam em um sítio, onde vão vivenciar todos os aspectos da doença, recebendo, por via postal, medicamentos quinzenalmente do namorado de Suzano que vive na França, e tendo esperanças sobre o futuro deles e das novas gerações que virão. Tudo devidamente documentado em vídeo por Humberto.
Há cenas muito impactantes, especialmente nos quarenta minutos finais do filme, quando os atores Renata Carvalho, Johnny Massaro e Vitor Camilo dão um show de interpretação. O discurso de Rose olhando nos nossos olhos é um soco no estômago. Necessário.
Há uma cena na boate Genet, em 1983, onde uma galera feliz dança ao som da música Linda Juventude (14 Bis), enquanto Suzano deixa cair no chão, propositalmente, várias fotos de seu corpo com o sarcoma de kaposi. Uma interessante ligação entre a alegria do momento daquela juventude dourada com o que a esperava num futuro não muito distante.
É um filme potente, que fala sobre amizade, solidariedade, medo, angústia, preconceito e, sobretudo, de esperança, explicitada em sua última cena.
Vi, em 28/01/2022, na plataforma on-line da 25ª Mostra Tiradentes.
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