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domingo, 24 de abril de 2022

GRITOS E SUSSURROS (VISKNINGAR OCH ROP)

Gritos e Sussurros (Viskningar Och Rop), 1972, 91 minutos. Direção de Ingmar Bergman.

Três mulheres, Karin (Ingrid Thulin) e Maria (Liv Ullmann), que são irmãs, e Anna (Kari Sylwan), a empregada, esperando a morte de uma quarta mulher, Agnes (Harriet Andersson), irmã de Karina e Maria. Todas dentro de um casarão onde a cor vermelha é quase onipresente. O barulho dos ponteiros do relógio marca a passagem lenta do tempo, Não há música. Apenas as mulheres mergulhadas em seus sentimentos. Breves aparições de personagens masculinos: o marido de Karin, o marido de Maria, o médico da família.

As irmãs não têm uma boa relação, são ressentidas, têm traumas individuais. Karin odeia o toque físico de outra pessoa, é fria, calculista, racional, vive em uma redoma de mentiras. Maria é paixão, é desejo, é sexo, é histérica, é emoção. Anna é maternal, é amor, é sororidade, é compaixão. Agnes é a moribunda que sofre com as dores de sua doença terminal. Todas sofrem à sua maneira.

Bergman disse que o vermelho usado no interior da casa é a cor que simboliza o interior do ser humano, a cor de sua alma. Mas também é a cor física de órgãos vitais do homem, como o coração e o pulmão, além de ser a coloração do sangue, o que garante a vida pulsando nas veias. Também é a cor da paixão, do mistério, do sexo, da vida. Até o fade out é vermelho neste filme, diferente da cor preta usada na esmagadora maioria dos filmes existentes.

Quando Karin e Maria resolvem, por um momento, fazerem as pazes, iniciando um prazeroso diálogo, Bergman opta por colocar uma música instrumental, abafando as vozes das personagens, como se quisesse dizer para os espectadores respeitarem a intimidade das irmãs. Genial.

O diretor sueco sempre gostou de colocar em seus filmes aspectos referentes à arte. Neste, temos a decoração primorosa com objetos do Século XVIII, o uso esporádico da música instrumental, mas o grande destaque são as referências a grandes obras de artistas consagrados, como a escultura Pietà, de Michelangelo, em uma cena belíssima na qual Anna coloca Agnes em seus braços. Uma cena que leva a uma reflexão sobre a dualidade do amor das duas: amor materno e amor carnal.

Um dos raros momentos de felicidade se dá na cena final, com as irmãs vestidas de branco, no bosque que circunda o casarão, sentadas em um balanço. A câmera dá um close em Agnes, cuja expressão é um misto de alegria e tristeza. A felicidade deve ser aproveitada em qualquer momento, mesmo que este momento seja curtíssimo.

Filme com muitas camadas que dá margem a uma infinidade de análises e interpretações.

Bergmam é um gênio.

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