O roteiro é baseado em peça de Aldri Anunciação que foi aos palcos em 2011.
A história se passa em um futuro incerto no Brasil, quando os negros são chamados de melaninados acentuados. Um governo autoritário edita uma medida provisória, de número 1888 (uma referência ao ano em foi assinada a Lei Áurea no país), que determina a todos os cidadãos de origem africana que se desloquem para a África. O governo garante a passagem de ida. Isabel é a chefe do departamento que cadastra e envia tais cidadãos para fora do país. André, um repórter fotográfico que mantém um blog, é um dos que questiona as ordens do governo. Capitu, médica casada com Antônio, ao perceber que a polícia a retiraria à força de um atendimento a um homem ferido na perna para ser enviada para a África, consegue escapar, salvando uma mãe preta com uma filha albina dos policiais, é resgatada por Ivan e abrigada em uma espécie de quilombo, chamado de afrobunker por seus integrantes. Antônio e André ficam isolados dentro do apartamento deles, tendo a vizinha Dona Izildinha, racista de primeira hora, como ajudante de Isabel para fazerem os dois saírem do apartamento. Antônio não sabe onde está Capitu, mas não sai de seu apartamento. Após muita confusão e perseguições, Capitu e Antônio se reencontram, sendo presos por Isabel. Mas o que parecia um final trágico...
A premissa é ótima, o elenco majoritariamente negro é uma raridade no cinema brasileiro, a discussão do racismo estrutural é super atual, mas o todo não funcionou como deveria. Ainda assim, gostei do filme. Merecidas homenagens a Marielle Franco, Ruth de Souza, Zezé Motta, Mestre Moa, entre outros, que aprecem em fotografias, objetos e grafites no filme.
A fotografia em tons amarelados e imagens desfocadas ao fundo foram interessantes artifícios para representar uma época futura sem necessidade de efeitos especiais, nem de uso de objetos futuristas.
Como destaque, cito as ótimas performances de Seu Jorge, Adriana Esteves, Taís Araújo e Renata Sorrah. Continuo não gostando do ator Alfred Enoch. A química entre ele e Taís Araújo não funcionou, os dois não me convenceram como um casal apaixonado. Achei a atuação deste ator inglês filho de brasileira muito forçada, não pelo português, que soa quase sem sotaque, mas pela performance em si. Ele não me convenceu em nenhum momento da projeção, diferente de Seu Jorge, que interpreta o primo André, debochado, bonachão, que entra facilmente em pânico em situações difíceis.
O trabalho de Lázaro Ramos na direção é bom e pode evoluir muito. A cena final, na qual ele aparece, transpira muita emoção.
Disponível nos cinemas.
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