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domingo, 14 de dezembro de 2014

FÉRIAS EM BERGEN, NORUEGA



Durante meu giro pela Escandinávia nas férias de maio de 2014, dormi duas noites na simpática cidade de Bergen, na Noruega, onde cheguei após um cruzeiro de trem e barco por parte dos fiordes noruegueses. Eu, Dora, Cláudia, Vera e Bruno tivemos muita sorte, pois Bergen é famosa por sua constante chuva. Não choveu em nenhum momento durante nossa curta estadia por lá. Desembarcamos no porto, que fica na parte central da cidade, por volta de 20:40 horas. Estávamos com muita fome, pois o almoço tinha sido um desastre na cidade de Flam. O sol ainda brilhava forte no céu, apesar do adiantado da hora. Mesmo com bolsas e mochilas, saímos a procurar um local para comer. Nas anotações de Cláudia havia alguns restaurantes. Achamos o mais cotado, mas não havia lugar disponível para jantar. Fomos para uma espécie de praça de alimentação em um prédio histórico, mas era um bar de tapas, com pouco movimento. Resolvemos ir para o hotel. Tínhamos reserva no Radisson Blu Royal Hotel (Bryggen, 5). Era perto de onde estávamos. Fomos a pé, passando pelo casario medieval do Bryggen, onde estão instalados bares, restaurantes e lojas. Paramos em frente a um destes edifícios, onde estava localizado outro restaurante da lista de Cláudia. Fui o responsável por subir as escadas para checar se tinha vaga. Fiz uma reserva para 21:30 horas. Tempo suficiente para fazer o check in no hotel, pegar as malas que lá foram deixadas pela Fjords Tours (despachamos nossas malas desde Oslo), entrar no quarto, deixar as bolsas, e voltar para a rua, com luz do dia. No horário marcado, estávamos sendo acomodados em uma mesa para cinco pessoas no Enhjorningen, o restaurante especializado em peixes e frutos do mar mais antigo de Bergen. Ele fica no segundo piso de uma edificação medieval que está torta, como a maioria dos prédios do Bryggen. A sensação é engraçada ao sentar, pois a gente sente nitidamente a inclinação do piso do restaurante. Quando as taças de vinho branco foram preenchidas, notamos o desnível do líquido dentro delas. De entrada, pedi aspargo fresco, onipresente nas mesas escandinavas nesta época do ano. Seguiu-se um filé de turbot, peixe branco local, de carne tenra e saborosa. Cansados, voltamos para o hotel para descansar, pois o dia seguinte seria pesado em termos de caminhadas.
Acordamos cedo em 28 de maio para aproveitar bem o dia. Tomamos o café da manhã juntos no Filini Bar & Restaurant, restaurante do hotel, saindo em seguida para conhecer a cidade. Primeiro passeamos com calma pelo Bryggen, conhecendo e tirando fotos dos prédios medievais. Eles se orgulham de ter o conjunto de prédios medievais mais bem preservados da Europa. São doze prédios com arquitetura parecida, todos de madeira, pintados em cores fortes. Hoje são voltados para o turismo. Na enorme calçada em frente a eles são montadas mesas dos restaurantes, onde turistas e locais aproveitavam o raro sol que fazia na cidade. Uma competição de ciclismo acontecia na cidade e o ponto final era justamente em frente ao Bryggen.
Continuamos nosso passeio, parando em uma feira montada em frente ao Bryggen, do outro lado da rua. Nela eram vendidos produtos locais, especialmente os de origem no mar, como caviar, camarões e carne de baleia. A barraca maior e mais movimentada oferecia pequenos pedaços desta carne para experimentar. E os seus empregados falavam diversas línguas, incluindo o português. Provei um pedacinho. A carne é preta e dura. Gosto forte. Não vai figurar entre as minhas preferidas. Um pouco mais à frente fica o Mercado de Peixes, para onde Vera, Bruno e Cláudia foram comprar caviar. Eu e Dora ficamos sentados em uma grande mesa de madeira que ficava atrás da feira, com vista para o porto. Assim, enquanto esperávamos os outros, curtimos o movimento da feira, que foi crescendo na medida em que o relógio chegava perto de meio dia. Muita gente aproveita o sol para sair e comer na feira. Com o grupo refeito, caminhamos em direção ao funicular que nos levou para o Monte Floyen, de onde se tem um belíssima vista de toda a cidade. Havia uma fila para comprar o bilhete (compramos ida e volta) e outra para entrar no funicular. O local estava lotado de gente, mesmo sendo uma quarta-feira. De lá, avista-se o porto, os canais que cortam a cidade, a imponente catedral e muitos prédios antigos que dominam a paisagem. Além da vista, há um parque com trilhas para caminhadas no local. Um enorme boneco do troll, um simpático ser mítico da Noruega, com pés e nariz enormes, é parada obrigatória para fotos. Fizemos uma pequena caminhada, apreciando a vista. Passamos por uma área onde o cheiro que dominava o ar era insuportável. Algo ardido no nariz, como se alguma coisa estivesse podre. Uma placa pendurada em uma árvore solucionava o mistério. O cheiro vinha daquela árvore, chamada de bruxa por lá. A frase, em inglês, indicava que alguém tinha desagradado a bruxa, motivo do cheiro ruim no ar. Seguimos andando. Era hora de descer.
Assim que chegamos na parte baixa da cidade, entramos em uma farmácia, e , depois, fizemos uma caminhada pelas ruas do entorno, sem direção definida. Parei para tirar fotos de uma exposição de esculturas em madeira que tomava conta de algumas ruas e praças da cidade. O contraste do moderno expressado nas esculturas com as construções antigas era muito interessante.
Resolvi voltar para o hotel, enquanto Bruno seguia para almoçar. Cláudia, Vera e Dora foram passear em outras bandas. No caminho, como era dia internacional do hambúrguer, resolvi comer um sanduíche para matar a fome. Fomos nos encontrar novamente às 18 horas, pois tínhamos reserva no concorrido restaurante Cornelius confirmada para 19 horas. O restaurante fica na localidade de Breidvik e chega-se lá por barco. No preço do menu degustação está incluído o transporte desde Bergen. O barco sai de um cais em frente ao nosso hotel. O percurso demora cerca de quarenta minutos. O visual é bonito.O tempo estava lindo, com o sol brilhando e refletindo nas águas por onde o barco ia. O Cornelius Restaurant fica em um deck de madeira, como se fosse um pequeno cais, com paredes de vidro que nos permite apreciar a beleza do por do sol. Eles só trabalham com menu degustação com cinco pratos. Perguntam antes se há alguma restrição alimentar. Nossa permanência no restaurante foi longa, mais de três horas. Comemos bem, bebemos os vinhos sugeridos para a harmonização com os pratos, nos divertimos muito. O tal Cornelius, que dá nome ao restaurante, percorreu todas as mesas, desfilando simpatia. Ele parece o personagem Crocodilo Dundee do famoso filme australiano. Voltamos para Bergen no mesmo barco. A diferença é que o retorno é muito mais animado, com as pessoas falando alto, rindo e andando pelo barco. Efeitos do álcool...
Chegamos ao hotel depois das 23 horas. Todos fomos dormir, pois no dia seguinte tínhamos um voo cedo para Copenhague, dando seguimento ao nosso tour pela Escandinávia.
Acordamos cedo, tomamos café, fizemos o check out e pegamos o ônibus do hotel, cujo bilhete é pago diretamente ao motorista. O trajeto dura cerca de quarenta e cinco minutos. Chegamos ao aeroporto pouco antes das 9:00 horas de 29 de maio. Fizemos o check in nos totens de autoatendimento. Nosso voo era da SAS, O SK 2865, que saiu de Bergen às 09:55 horas, durando uma hora e vinte minutos até a capital da Dinamarca, última cidade destas minhas férias.

CHACRINHA - O MUSICAL

No domingo, dia 30 de novembro de 2014, fui com Karina, Alberto e Cristiano conferir Chacrinha - O Musical, em cartaz no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro. A faixa etária do público era bem alta, indicando um certo saudosismo que o musical provoca. Adorava ver Chacrinha, especialmente quando ele era atração da Rede Bandeirantes, com menos luxo nos cenários, atrações de maior apelo popular e um desbunde das Chacretes. Minha expectativa em relação ao musical era grande, potencializada pelo fato de ser a estreia do cineasta Andrucha Waddington na direção de um musical, pois gosto muito dos filmes que ele dirigiu.
Cenários e figurinos são muito bons, sinal que a indústria do entretenimento realmente consolidou os musicais como atrações rentáveis no Brasil e está investindo.
A peça dura em torno de três horas, dividida em dois atos.
O primeiro ato é mais onírico, mostrando a formação do apresentador Chacrinha, um dos grandes comunicadores da televisão brasileira. Mistura presente e passado, com apresentações relâmpagos de cenas do programa televiso, com atores interpretando cantores, cantoras e bandas que eram figurinhas fáceis nos palcos da Buzina do Chacrinha e da Discoteca do Chacrinha. Como eram muitos estes cantores, a qualidade de interpretação de alguns deixa a desejar. Algumas destas aparições são ótimas, como as de Adriana, Ney Matogrosso e Titãs, enquanto outras beiram o pastiche, como as de Rosana e Fábio Júnior. Mas a força deste primeiro ato é realmente a construção física e psicológica do famoso comunicador, mostrando a saída de Abelardo Barbosa do interior de Pernambuco para a cidade grande, culminando com sua chegada ao Rio de Janeiro e apresentando seu primeiro programa da Rede Globo. Nesta fase, Chacrinha é interpretado de forma competente e carismática pelo ator Leo Bahia. O fim deste ato mostra, de forma simples, mas cheia de brilhos, em todos os sentidos, a passagem de Abelardo Barbosa para o apresentador Chacrinha, quando Bahia cede o papel para Stepan Nercessian. Hora do intervalo. Roda, roda e avisa, um minuto de comercial...
O segundo ato, na sua maior parte, é uma réplica das tardes de sábado, quando ia ao ar o programa do Chacrinha. Durante o intervalo, algumas pessoas do público presente são escolhidas para compor a plateia do programa televiso, o que os faz ver o restante do musical em arquibancadas montadas no palco. Nesta parte, o musical fica chato e repetitivo, embora Nercessian segure muito bem o papel, com tiradas a la Chacrinha perfeitas. Tem até o famoso bordão "quem quer bacalhau?", quando réplicas em espuma são jogadas para o público do teatro.
Neste segundo ato, muito rapidamente, as Chacretes são apresentadas, mas nada como era nos programas televisivos. Para piorar, a ausência de Gretchen no musical, que era uma das presenças mais constantes do programa, foi "compensada" com a intérprete de Rita Cadillac, talvez a mais famosa das Chacretes, cantando os sucessos da Rainha do Bumbum. Posso até estar enganado, mas não me recordo de Cadillac cantar as músicas de Gretchen durante os programas. Lembro-me dela se lançar cantora na década de oitenta cantando uma música que lembrava os sucessos de Gretchen, mas isto não é retratado no musical, mesmo porque a história enfocada é a do Chacrinha. Faltaram, no entanto, questões ligadas à relação do apresentador com suas assistentes de palco. A aparição das Chacretes ficou muito superficial.
O final volta a ser onírico, com Leo Bahia e Stepan Nercessian juntos no palco, quando passado e presente se fundem na mente confusa do apresentador.
O musical é bom tecnicamente, as canções escolhidas refletem a história do apresentador, mas faltou uma dose de emoção. Deixei o teatro com a sensação de que vi uma história contada mecanicamente.
Poderia ter sido melhor.

artes cênicas

ÓPERA DO MALANDRO

Estive no Rio de Janeiro no último final de semana de novembro, quando aproveitei para conferir alguns espetáculos. Entre eles, a nova montagem de Ópera do Malandro, de Chico Buarque, que ficou em cartaz no Theatro NET Rio de 08 de agosto a 30 de novembro de 2014. Fui na sessão da sexta-feira, 28 de novembro, 21 horas. Tinha comprado o ingresso pela internet, pois tinha lido que estava muito concorrido. E realmente estava, pois o teatro ficou totalmente lotado. Fui com Karina, Alberto e Cristiano. Não conhecia o teatro, embora antigo. Ficamos em local que nos permitiu ótima visualização do palco.
Ópera do Malandro sempre esteve no meu imaginário, em minhas memórias afetivas. Quando da primeira montagem, no final dos anos setenta, eu tinha treze anos e a censura da época não permitia a entrada para menores de dezoito anos., portanto, não consegui ver. Lembro-me bem quando ouvi o LP duplo com as músicas da montagem, lançado na mesma época do musical. Fui passar uns dias na casa de meu padrinho. Ele tinha acabado de comprar o vinil. Eu não me cansava de colocar aquele vinil na vitrola. Logo decorei todas as músicas. Alguns anos depois, meu tio me deu justamente aquele vinil. Foi uma alegria infinita. Hoje não tenho mais nenhum toca discos, mas o LP ainda existe. Está na casa de Ricardo, intacto, perfeito.
Voltemos ao musical.
A primeira montagem ficou marcada pela qualidade do elenco e pela músicas, que criaram vida própria, descolada da peça, com interpretações memoráveis de Gal Costa, Elba Ramalho, Moreira da Silva, entre outros. Ruy Guerra transpôs a história de Chico, que é baseada nas óperas A Ópera do Mendigo e A Ópera dos Três Vinténs, para o cinema em meados dos anos oitenta. É esta referência visual que tenho, além de montagens amadoras feitas por escolas de artes cênicas. Houve uma outra montagem bem cotada no início deste século, que tinha Lucinha Lins como uma das intérpretes, mas não consegui ver.
A ler que esta nova montagem era dirigida por João Falcão, fiquei curioso, pois ele é um diretor que foge do óbvio. Ao ler sobre o elenco, vi que realmente ele se distanciou das montagens anteriores ao escalar apenas atores para todos os papéis masculinos e femininos. Apenas uma atriz integra o elenco, interpretando João Alegre, uma espécie de narrador e costurador da história, com figurino que nos remete aos musicais da Broadway. E outra questão que me deixou curioso foi a escalação do sambista Moyseis Marques para viver o protagonista Max Overseas, já que ele não é ator.
O musical tem muitos personagens. Com apenas quatorze atores em cena, Falcão colocou alguns deles vivendo mais de um papel. Assim, os capangas de Max Overseas são interpretados pelos mesmos atores que fazem as moças do bordel de Duran. Pode haver uma dificuldade de identificação por parte do público, mas os atores conseguiram encontrar um ponto definido para cada papel, com gestual, timbre de voz (especialmente quando cantam), e postura no palco ora masculino, ora feminino.
Quanto à história, Falcão não se utilizou de nenhuma licença poética. Ambientou-a na mesma Lapa do original, assim como na mesma época, anos 40. A história é contada em dois atos, sendo o primeiro mais longo e com um desenvolvimento melhor da história. A segunda parte me pareceu corrida, com um final abrupto, como se tudo tivesse que ser resolvido de uma vez só.
O elenco é o ponto alto do espetáculo. A qualidade técnica e vocal de todos é muito boa, diferente do que acontece em alguns musicais em cartaz nos últimos anos, como Cazuza, onde o elenco de apoio é muito inferior vocalmente do que o protagonista. Destaco o sambista Moyseis Marques, habitué nos bares da Lapa, que além de ótima interpretação musical, se revelou um bom ator. O ator que faz Duran, Ricca Barros, também é destaque, assim como Adrén Alves, que interpreta Vitória, esposa de Duran e mãe de Teresinha de Jesus (Fábio Enriquez). O público escolhe rapidamente seu favorito. Na primeira aparição de Eduardo Landim como Geni, a empatia com a plateia é tanta que quando ele interpreta Geni e O Zepelim (no vinil cantada por Chico Buarque), a ovação é inevitável, assim como na apresentação dos atores ao final do espetáculo.
Após três horas de espetáculo, saí satisfeito, mesmo com a ressalva que o final foi apressado.

artes cênicas

sábado, 13 de dezembro de 2014

UM PASSEIO PELOS FIORDES NORUEGUESES



Passear pelos fiordes da Noruega sempre foi um dos meus objetivos de viagem. Tive esta oportunidade em maio de 2014, quando passei férias na Escandinávia, juntamente com as amigas Vera, Cláudia e Dora. Compramos o tour ainda no Brasil, diretamente com a empresa Fjords Tours, compra esta feita pela internet. Recebemos os vouchers por e-mail com a observação que deveríamos trocá-los pelos bilhetes nos guichês da companhia na estação de trens de Oslo, capital da Noruega. Aproveitamos que estávamos passeando pelas ruas da cidade no domingo, dia 25 de maio, para fazer esta troca. Cláudia foi a responsável pela compra, motivo pelo qual ela tinha que comparecer ao guichê. Ficamos esperando-a no saguão da estação, aproveitando o wi-fi gratuito. Optamos pelo tour Oslo-Bergen, cidade que estava em nosso roteiro de viagem. Bruno estava conosco. Nossa partida estava marcada para 08:05 horas da terça-feira, dia 27/05/2014.
Duas horas antes, já estávamos todos de pé, de banho tomado, no saguão do Radisson Blu Scandinavia Hotel (Holbergs gate 30), pois buscariam nossas malas às 06:30 horas ali mesmo no hotel. Para fazer o tour pelos fiordes noruegueses, saindo de Oslo de trem, fazendo uma baldeação para outro trem e, em seguida, uma baldeação para um barco, achamos complicado carregar as malas. A mesma empresa na qual compramos o pacote para o tour oferece o transporte de bagagem de Oslo para Bergen, nossa próxima parada. Não tivemos dúvidas em contratar este serviço. Assim, pegaram nossas malas no hotel em Oslo às 06:30 horas. Nós voltaríamos a vê-las em Bergen, assim que chegamos do tour pelos fiordes, por volta de 20 horas do mesmo dia.
Depois de despachar a bagagem, tomamos café, fizemos o check out, pegamos dois táxis e fomos para a estação central, de onde nosso trem partiu às 08:05 horas da manhã. Em ponto!
A primeira etapa da viagem foi em um trem da The Bergen Railway, trajeto Oslo-Myrdal, que durou quatro horas e trinta e quatro minutos. Não havia lugar marcado. Ficamos todos juntos, observando a bela paisagem do interior norueguês. O trem subiu uma serra. Na subida, um painel indicava a altitude em que estávamos, enquanto a paisagem se alterava rapidamente. Dos verdejantes campos para um cenário branco, dominado pela neve, emoldurado por um céu límpido, azul de doer os olhos. Em ambos os lados do trem se tem uma bela vista. Para passar o tempo, além de muitas fotos, os turistas iam e vinham do vagão restaurante. Às 12:39 horas, o trem chegava na estação de Myrdal. No meio do nada. De ambos os lados, montanhas nevadas e uma meia dúzia de casinhas de madeira. Nenhum sinal de cidade. Era hora da baldeação. Descemos. A maioria dos turistas carregava ou arrastava suas pesadas malas. Ficamos muito felizes com nossa decisão de despachar as malas diretamente para Bergen. Só tínhamos mochilas e bolsas. A espera foi relativamente rápida, cerca de quarenta e cinco minutos, para pegar outro trem, desta vez da The Flam Railway. Fazia frio, apesar do sol dominar o céu. Perto de 13:20 horas, o nosso trem chegou. Era um trem antigo, com vagões de madeira e cadeiras duras. Entramos em um dos últimos vagões. Novamente sem lugar marcado. Estava vazio, apesar de ter muita gente na estação. Um funcionário da empresa passou no vagão dizendo, em inglês, que estávamos no local errado. Os últimos vagões seriam ocupados por turistas chineses que entrariam na próxima parada. Os nossos vagões eram os da frente, que já estavam lotados. Cada um procurou um lugar para sentar. Ninguém conseguiu ficar junto. O trem partiu às 13:27 horas. O segundo trajeto foi de Myrdal para Flam, com duração de uma hora. É uma longa descida até a beira de um fiorde. Na descida, paisagens verdejantes, vacas pastando, cenário de filme romântico, pontes sobre precipícios, árvores floridas, cascatas caindo do alto das montanhas, rios límpidos serpenteando ao longo da ferrovia, e o fiorde, lindo, um pedaço de terra avançando na água, formando braços navegáveis. Além da estação na qual os chineses entraram, o trem parou em um local para fotos, pois a estrada ficava ao lado de uma caudalosa cachoeira. As pessoas saltavam do trem, paravam para fotos e voltavam rapidamente, pois a água respingava muito, molhando todo mundo. Também saí, tirei uma foto. Quando voltava, ouvi uma música alta que vinha de algum lugar do alto da cachoeira. Olhei para cima. Uma mulher com vestido esvoaçante fazia uma performance, como se fosse um ser místico saindo de uma fábula ou de um filme da saga O Senhor dos Anéis. Voltei para o trem. Seguimos montanha abaixo. Respeitadas as devidas proporções, estre trajeto me lembrou a descida de litorina na Serra de Paranaguá, no Paraná. Chegamos em Flam, uma cidade minúscula, encravada entre as montanhas e um fiorde, às 14:25 horas. Navios de cruzeiro, iates e pequenos barcos estavam atracados no porto local, que é ligado à estação de trens. O trem ficou vazio. Todo mundo desceu em Flam. Aproveitamos que tínhamos cerca de uma hora para almoçar em um restaurante do hotel que fica em frente ao porto. Self-service muito ruim. Vera e Bruno preferiram apenas lanchar. Assim que terminamos, fomos para a fila para embarcar em nosso barco, um express boat. É um barco baixo, com dois andares, todo revestido em vidro, o que permite ter uma ótima visão das paisagens durante o passeio, apesar da sujeira que estava o vidro. Às 15:15 horas embarcamos e o barco saiu no horário previsto, às 15:30 horas. Mais gente arrastando malas. Fiquei na parte de baixo, subindo de vez em quando para tirar algumas fotos. O tempo estava lindo, mas o frio, acrescido do vento provocado pelo movimento do barco, não me animava a ficar muito tempo na parte aberta do barco no segundo piso. Este foi o último trajeto, de Flam para Bergen. Também foi o mais longo, com cinco horas e dez minutos de duração. Foi um passeio por fiordes. No início, estava empolgado e achando tudo lindo, mas com uma hora, as paisagens começam a se tornar repetidas, o que tornou esta parte da viagem chata e lenta. Há algumas paradas no caminho, pois alguns turistas reservam hotéis nas pequenas cidades aos pés destes fiordes para fazer caminhadas até o alto das falésias, de onde se tem vistas fantásticas. Como tive a oportunidade de apreciar tais vistas quando estava no segundo trajeto do trem, dei-me por satisfeito. Chegamos em Bergen às 20:40 horas, com o sol ainda forte. A cidade é pequena, linda e aconchegante, especialmente sua parte antiga, com o conjunto de edificações medievais mais antigas do mundo.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

CONFRARIA VINUS VIVUS - 93ª REUNIÃO

E 2014 chega ao fim com mais uma reunião sensacional da Confraria Vinus Vivus que aconteceu na noite de 03 de dezembro de 2014, mais uma vez na casa de Vera. Foi a reunião de número 93, quando nenhum dos confrades, como era de se esperar, faltou. Noite memorável com a degustação de vinhos top. Para comemorar, antes do início da degustação, brindamos com champagne Laurent-Perrier Brut, com 12% de álcool.


Em seguida, vieram os grandes vinhos tintos. Ei-los:
Vinho 1 – Grands-Echezeaux Grand Cru


Safra: 2009.
Álcool: 13,5%.
Casta: 100% pinot noir.
Produtor: Domaine Mongeard-Mugneret.
Região: Vosne-Romanée, Côte-D’Or, França.
Cor: granada, com toques atijolados, brilhante.
Aromas: pimenta, violeta, frutas vermelhas, floral, alcaçuz, calda de açúcar.
Boca: acidez alta, o que provoca muita salivação, ferro, sangue, terroso, deixa um amargor no retrogosto.
Estágio: 18 meses em barricas de carvalho novas e usadas.
Importador: Ravin.
Valor: R$ 1.710,00.
Observação: vinhedos de 40 a 60 anos de idade. Foi o preferido da noite por Abílio, Leo L., Keller e Marcos.

Vinho 2 – La Conseillante


Safra: 1990.
Álcool: 13%.
Casta: 80% merlot, 20% cabernet franc.
Produtor: Château La Conseillante. Héritiers L. Nicolas.
Região: Pomerol, Bordeaux, França.
Cor: granada.
Aromas: estábulo, herbáceo, tabaco, defumado, redução de balsâmico, fumaça, couro, anis, cassis, calda adocicada, menta, cogumelos, fumo.
Boca: elegante, taninos e acidez presentes, bem equilibrados, uva passa.
Estágio: 18 meses em barricas de carvalho, sendo 70 a 80% delas de primeiro uso.
Importador: Castel Studio Brasil.
Valor: R$ 3.000,00.

Vinho 3 – Sassicaia


Safra: 1990.
Álcool: 12,5%.
Casta: 85% cabernet sauvignon, 15% cabernet franc.
Produtor: Tenuta San Guido.
Região: Bolgheri, Toscana, Itália.
Cor: rubi claro.
Aromas: trufas, jatobá, alcaçuz, tabaco, couro, madeira, cassis, cogumelos.
Boca: acidez alta, picante na ponta da língua, compota de frutas, retrogosto longo, taninos sedosos, sutis, potente, azedo, charuto, tabaco.
Estágio: 20 meses de barrica.
Importador: Art Du Vin.
Valor: R$ 1.630,00.

Vinho 4 – Chateau Lafite Rothschild


Safra: 1990.
Álcool: 12,5%.
Casta: 71% cabernet sauvignon, 25% merlot, 3% cabernet franc, 1% petit verdot.
Produtor: Château Lafite Rothschild.
Região: Pauillac, Girônde, Bordeaux, França.
Cor: rubi, com reflexos granada.
Aromas: estábulo, couro, cogumelos, terroso, cedro, serragem, folhas secas.
Boca: couro, acidez presente, taninos elegantes.
Estágio: 14 meses em barricas de carvalho.
Importador: Castel Studio Brasil.
Valor: R$ 5.000,00.
Observação: vinhedos com mais de 40 anos de idade, sendo que uma parcela deles tem 115 anos. Foi o campeão da noite, sendo o preferido por Vera, Jarbas, Fernanda, Bruno, Leo S. e Cláudia.

Vinho 5 – Grands-Echezeaux Grand Cru


Safra: 2011.
Álcool: 13,5%.
Casta: 100% pinot noir.
Produtor: Domaine Mongeard-Mugneret.
Região: Vosne-Romanée, Côte-D’Or, França.
Cor: rubi claro.
Aromas: frutado, frutas frescas, framboesa, compota de frutas.
Boca: azedo, acidez alta, muita salivação, taninos verdes, amargor (devido à jovialidade).
Estágio: 18 meses em barricas de carvalho novas e usadas.
Importador: Ravin.
Valor: R$ 1.710,00.

Após esta excelente degustação, a anfitriã nos brindou com uma ceia maravilhosa. Para limpar as papilas gustativas, foi servido um sorbet de limão siciliano. O jantar iniciou-se com um tartare de salmão em leito de berinjela cozida. A seguir, surubim defumado com molho de endro, acompanhado por batatas bolinha coradas e risoto de grãos. Finalizamos com um brownie de chocolate negro recheado com chocolate branco cremoso, escoltado por sorvete de cupuaçu.




Esta ceia foi harmonizada com o espumante Alma Bella Vista Franciacorta, elaborado com as castas pinot nero, chardonnay e pinot bianco na região da Lombardia, Itália (R$ 220,00 na Art du Vin), e com o champagne Billecart-Salmon Brut Rosé, com 12% de álcool, produzido com as castas pinot noir, chardonnay e pinot meunier (R$ 473,00 na Art du Vin).
Café Nespresso fechou a 93ª reunião da Confraria Vinus Vivus. Em 2015 tem mais!

vinho

gastronomia

sábado, 29 de novembro de 2014

DESBUNDE

Na quinta-feira, dia 27 de novembro, em noite chuvosa, na companhia de Karina e Allan, fui ao Teatro Dulcina onde está em cartaz até o próximo sábado, dia 06 de dezembro, o espetáculo Desbunde. Comprei os ingressos por R$10,00 cada um na hora do almoço no caixa do Balaio Café. Uma animada aglomeração se formava na porta do teatro aguardando a liberação da entrada. Uma fila involuntária tomou forma e, de repente, nos vimos inseridos nesta fila. Um ator, caracterizado como uma drag queen, surgiu de dentro do teatro para dar o clima do que seria o musical que veríamos a seguir. Bem humorada, com tiradas certeiras, ele/ela mexia com todo mundo. O teatro não ficou lotado, mas recebeu um bom público. Feitos os devidos anúncios, ainda pela drag queen em figurino dominado pelos paetês, as luzes se apagam e surge em cena o ator Tulio Guimarães interpretando Claudia Valeria, sem assentos, pois ela gostava de quebrar regras, especialmente as gramaticais. Esta frase já resumia o enredo da peça. Desbunde é uma ode à liberdade de expressão, à alegria, à ousadia. Desbunde é um desbunde, na melhor concepcão da palavra, muito em voga nos anos setenta. E é justamente a estética, o comportamento e a contracultura da década de setenta que serviram de inspiração para Sérgio Maggio, roteirista da peça, nos brindar com um espetáculo delicioso.
Cinco atores em cena, o já citado Tulio Guimarães, e ainda Roustang Carrilho (Saquarema Satanás), Kael Studart (Petit du Buá), Guilherme Monteiro (Savana Sargentelli) e Túlio Starling (Marquesa), transgridem a ordem, quebram tudo e inceideiam o palco do Teatro Dulcina. O grupo Dzi Croquettes e suas loucuras nos palcos brasileiros e mundiais na década de setenta, em plena ditadura militar no Brasil, servem de combustível para a história contada em Desbunde. Tal história vem em narrativa não linear, com ótimas performances individuais, tocando em temas sensíveis, como a repressão dos tempos em que os militares mandavam no nosso país (tema oportuno, por sinal, tendo em vista as recentes manifestações pedindo intervenção militar pós vitória de Dilma nas eleições de outubro); como o preconceito contra gays, especialmente pós AIDS; ou como relações familiares conturbadas. Desbunde inspira-se, ainda, na era hippie, com a liberdade sexual, o uso de drogas e de roupas coloridas, de uma época de festa, de alegria, de amor, de solidariedade entre amigos.
Para além das performances individuais, que já destaquei acima, o espetáculo cresce, e muito, com as performances coletivas, especialmente nas coreografias sensuais preparadas por Livia Bennet.
A escolha do repertório é outro ponto de destaque, com predominância de músicas brasileiras, de forte apelo junto ao público, como a divertida canção Vingativa, de Rita Lee, que é apresentada pelo grupo logo no início, ou Conga La Conga, sucesso eterno de Gretchen, no auge de sua carreira.
Juliana Drummond e Abaetê Queiroz, os responsáveis pela direção, deixaram Desbunde leve, gostoso, pra cima, mesmo quando os temas mais sensíveis são explorados, e esta sensação de leveza envolve o público de tal maneira que quando a gente percebe, todos nós estamos no universo decadente da boate Desbunde, onde se passa a trama. E esta energia flui de tal maneira que a participação em uma espécie de flash mob no palco torna-se algo natural, com ações e reações do público impensáveis em outros espaços culturais. A entrega é natural. A catarse é inevitável.
Por fim, a escolha do Teatro Dulcina foi acertadíssima. Um espaço icônico para as artes cênicas de Brasília que hoje tem uma áurea decadente, mas que é sempre reverenciado por várias gerações do teatro brasiliense, especialmente em momento delicado para o meio cultural da cidade, com fechamentos de espaços e calotes das verbas do FAC.
Desbunde é ousado, é deboche, é provocativo, é alegre, é pulsante, é vida, é vigor, é teatro feito com paixão.
Saí do teatro com vontade de dançar, de continuar no universo de Desbunde.
Quero voltar e ver de novo. Quero vivenciar esta alegria novamente.

E retornei uma semana depois. Novamente saí com vontade de voltar.

JOGOS VORAZES

Antes de ir ao cinema para ver a terceira parte da saga Jogos Vorazes, baseada nos livros de Suzanne Collins, resolvi rever o primeiro filme e conferir, pela primeira vez, o segundo filme. Ambos estão disponíveis para quem assina Netflix, que é o meu caso. De uma única sentada, vi estes dois filmes. Somados, eles tem perto de cinco horas de duração. Depois que os vi, regado a Fanta Laranja e pipoca feita no microondas, estava preparado e atualizado para assistir no cinema a terceira parte, o que fiz na noite de quarta-feira, quando fui ao Cinemark Iguatemi com Bibs.
Desta forma, vi em um espaço de três dias, os seguintes filmes:
1) Jogos Vorazes (The Hunger Games), produção de 2012 dirigida por Gary Ross.
2) Jogos Vorazes: Em Chamas (The Hunger Games - Catching Fire), produção de 2013 dirigida por Francis Lawrence.
3) Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1 (The Hunger Games: Mockingjay - Part 1), produção de 2014 dirigida por Francis Lawrence.
Não há como negar que os filmes foram feitos para um público mais jovem, mas os produtores foram espertos ao colocar em papéis coadjuvantes atores com carreira consolidada em Hollywood, como Donald Sutherland (Presidente Snow), Wood Harrelson (Haymitch Abernathy), Julianne Moore (Presidente Alma Coin), Philip Seymour Hoffman (Plutarch Heavensbee), em sua última aparição nas telonas, Stanley Tucci (Caesar Flickerman), Elizabeth Banks (Effie Trinket), ou um cantor consagrado do mundo pop e famoso por ser pegador, Lenny Kravitz, dando vida ao estilista Cinna. Desta forma, o filme tem muita ação, como os jovens gostam, consistência de interpretação e sustentação de um texto com forte conotação política, como os adultos preferem. Alia-se a tudo isto a presença contagiante de Jennifer Lawrence, vivendo a heroína Katniss Everdeen, que tem transitado muito bem entre gêneros pipoca e filmes mais profundos. E ainda tem os jovens galãs Josh Hutcherson (Peeta Mellark) e Liam Hemsworth (Gale Hawthorne), que disputam o coração de Katniss.
Várias referências a filmes de sucesso estão presentes nestes três filmes. A roupa dos pacificadores e o jeito robótico de agir lembram os stormtroopers de Guerra nas Estrelas, assim como o design das naves espaciais. A estética dos rebeldes, incluindo cenário e figurinos, lembra muito o clássico Metrópolis, de Fritz Lang. Perucas e figurino dos habitantes da Capital nos remete a Priscilla, A Rainha do Deserto. E até 1900, de Bernardo Bertolucci, é reverenciado em cena do terceiro filme, quando os trabalhadores de um dos distritos marcham de forma conjunta para enfrentar os pacificadores. Cena esta que Bertolucci chupou de um quadro exposto na Pinacoteca Bera, em Milão.
O cerne da trama é a eterna luta de oprimidos e opreessores, com uma heroína que aceita o papel de liderança, comandando a luta dos distritos contra a Capital. Enquanto os dois primeiros filmes focam nos jogos anuais onde cada distrito é representado por dois tributos, ou seja, um casal em um certame que só termina quando 23 dos 24 destes tributos são mortos, o terceiro nos introduz na guerra que os distritos travarão com a Capital, tendo como líder a vencedora dos jogos no primeiro filme, Katniss Everdeen.
Este terceiro filme é muito mais sombrio e, embora saibamos que a guerra começou, a ação é bem menor dos que nos dois primeiros filmes.
Foi bom ver os três filmes um em seguida ao outro, pois a noção do conjunto e dos motivos de cada passo dado pelos protagonistas e antagonistas fica bem mais clara. Dá para ver os filmes de forma isolada, mas alguns pontos podem ficar obscuros. Dos três, prefiro o segundo, com mais ação. Que venha logo a quarta etapa da saga, que chegará aos cinemas em 2015.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

UM JANTAR COM HITCHCOCK

Fui conferir o mais novo espetáculo concebido por Alexandre Ribondi que está em cartaz no Teatro Goldoni: Um Jantar com Hitchcock. Era noite de estreia. Sala cheia. Comprei o ingresso meia hora antes do horário previsto para ter início a peça, pelo qual paguei R$ 30,00 (inteira). Fiquei na primeila fila. Quando entrei na sala, todos os onze atores já estavam em cena, com maquiagem forte, todas de forma bem macabra, o que me fez lembrar de filmes como Os Fantasmas se Divertem ou A Noiva Cadáver. Pensei que fosse um set de um filme policial ou mesmo um tabuleiro do jogo Detetive, onde peças como candelabro, livros e chapéus se faziam presentes. 
O texto é inspirado em fato real que inspirou uma peça que inspirou o famoso filme Festim Diabólico, de Alfred Hitchcock. Desta vez, não conhecia, ou não me lembro de ter visto os atores e atizes em outras peças encenadas em Brasília. 
Dois amigos cometem um crime que consideraram perfeito. Para afastar qualquer suspeita, convidam o professor de filosofia que ministrava aulas na escola que frequentavam para um jantar, assim como as Graças, três irmãs que namoravam o filho deste professor. Para apimentar um pouco mais a história, estas mesmas Graças tinham namorado anteriormente um dos amigos que ofereciam o jantar. Um dos assassinos acaba por não conseguir se controlar e suas atitudes e nervosismo geram desconfiança nos convidados, bem como na empregada da casa. E a verdade é revelada ao final.
Ribondi assina texto e direção. Para uma história tipicamente policial e com um final conhecido para quem já viu o filme, ele trouxe elementos diferentes para a cena. Duas atrizes fazem a mesma empregada, mas não há revezamento no palco. Elas dialogam entre si, como se mente e corpo vivessem separados, mas sempre juntos. As Graças são interpretadas por três atrizes que agem juntas, possuem gestuais e figurinos parecidos, com falas complementares. Era como um coro do teatro grego, ou a tríade divina. Três entidades, uma só unidade. Um dos assassinos também é interpretado por dois atores que tem pesonalidades distintas, mostrando que o personagem tinha duplo caráter. Um ator fazia o papel de narrador, mas também interagia com as personagens. Uma das cenas que mais incomodam a quem está assistindo a peça é protagonizada pelo narrador. De muletas, ele dá uma volta ao redor do baú no centro do palco, apenas falando "blá-blá-blá, blá-blá-blá ". Confesso que fiquei agoniado com a cena.
Além destes elementos que fogem à mesmice do gênero policial, Ribondi introduz no texto uma discussão que pautou as redes sociais por ocasião das eleições de outubro, a existência de uma classe de seres humanos superiores. Ele chamou esta classe de o homem superior. E por ser assim, ele pode fazer o que quiser com os que considera inferior, inclusive matar por diversão, como a dupla fez com o jovem que é assassinado. Ou seja, este ser superior pode até matar um inferior que nada lhe acontecerá. Em um momento, uma das Graças se vira para o público e condena os que se acham superiores aos pobres, aos menos afortunados, aos trabalhadores mais simples, aos nordestinos. Uma nítida reprovação de Ribondi ao que ele viu e leu nas redes sociais.
Outro ponto interessante na encenação é o caráter sensual que está presente no texto e na interpetação dos personagens. As insinuações de um romance homossexual entre os dois amigos que cometeram o crime acontecem em vários momentos, assim como fica uma dúvida no ar se o professor também tem interesses carnais para com o aluno mais racional.
Ao final, uma plateia entusiasmada aplaudiu os atores, mesmo depois que eles saíram de cena, fazendo com que retornassem ao palco para agradecer ao público a recepção calorosa.
Gostei do que vi.

sábado, 22 de novembro de 2014

CONFRARIA VINUS VIVUS - 92ª REUNIÃO

Na noite de 20 de novembro de 2014 aconteceu, na casa de Vera, a 92ª reunião da Confraria Vinus Vivus, quando estive ausente. No meu lugar esteve Liz. A confraria degustou vinhos de primeira linha de Argentina e Chile. Vera fez as anotações, que se seguem:

Vinho 1 – Don Maximiano Founder’s Reserva


Safra: 2011.
Álcool: 14%.
Casta: 82% cabernet sauvignon, 6% cabernet franc, 6% petit verdot e 6% shiraz.
Produtor: Errazuriz.
Região: Valle Aconcagua, Chile.
Cor: rubi fechado.
Aromas: pimenta, cogumelo, chocolate, lácteo, doçura de compota, groselha.
Boca: amora, pimenta, taninos presentes, sem agredir.
Estágio: 18 meses em barricas de carvalho francês novas.
Valor: R$ 450,00.

Vinho 2 – Achaval Ferrer Finca Bella Vista


Safra: 2010.
Álcool: 14%.
Casta: 100% malbec.
Produtor: Achaval Ferrer.
Região: Mendoza, Argentina.
Cor: rubi.
Aromas: groselha, herbáceo, pimenta do reino, grama cortada, tomilho.
Boca: seca a boca, mentolado.
Estágio: 15 meses em barricas de carvalho.
Valor: R$ 480,00.
Observação: a vinícola foi eleita a melhor em 2009. Vinhedos com mais de 100 anos. São três parreiras por garrafa. 97 pontos no Guia Descochados (a maior pontuação para um malbec). Vinho preferido na noite por Cláudia.
  
Vinho 3 – Nicolás Catena Zapata


Safra: 2009.
Álcool: 14%.
Casta: 65% cabernet sauvignon, 35% malbec.
Produtor: Catena Zapata.
Região: Mendoza, Argentina.
Cor: rubi fechado.
Aromas: estábulo (evolui rapidamente), cassis, herbáceo, salsa.
Boca: amargor equilibrado, chocolate amargo, cacau, acidez e taninos presentes, mas equilibrados.
Estágio: 26 meses de barricas de carvalho.
Valor: R$ 476,00.
Observação: Foi o campeão da noite, sendo o preferido por Liz, Abílio, Keller, Vera, Bruno, Fernanda, Léo L., Jarbas e Marcos.

Vinho 4 – Carmin de Peumo


Safra: 2009.
Álcool: 14,5%.
Casta: 90% carmenère, 10% diversas castas.
Produtor: Viña Concha Y Toro.
Região: Valle do Cachapoal, Chile.
Cor: rubi.
Aromas: café, feno, sal, maresia, iodo, capim cortado, vegetal.
Boca: vegetal, seriguela, amargo, charco.
Estágio: 14 meses em barricas de carvalho.
Valor: R$ 730,00.
Observação: eleito o melhor carmenère do mundo.

Após a degustação, foi servido o jantar, acompanhado do vinho sul-africano Ken Forrester Old Vine Reserve, safra 2013, produzido com a casta chenin blanc na região de Stellenbosch. Ao final, vinho do Porto Noval Tawny 20 Anos, produzido pela vinícola Quinta do Noval.




vinho

gastronomia

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

VE (NE) NUS

Convidei Karina, Cristiano e Alberto para ir comigo ver a peça Ve (ne) nus, em cartaz no Pavilhão I do CCBB de Brasília. Espetáculo da companhia brasiliense Teatro dos Ventos - Confraria Artística, cuja dramaturgia e direção coube a Fernando Martins. No elenco, além do próprio Fernando Martins, estão Luiz Felipe Ferreira e Luciana Loureiro. Ingressos esgotados para a sessão das 19 horas de domingo, dia 09 de novembro de 2014.
Cheguei mais cedo para pegar os ingressos e vi a trupe passar no vão do CCBB já paramentados para a peça. Duas crianças que brincavam por ali pararam o que estavam fazendo, ficaram mirando aquelas pessoas estranhas maquiadas e vestidas de preto, perguntando, ao final, ao pai se aquele grupo era formado por extraterrestres. Claro que sorri.
Como o espetáculo é no pavilhão de vidro ao final do estacionamento do centro cultural, um espaço multimeios, a configuração para o teatro contou com a instalação de uma arquibancada ampla. Claro que não tem o mesmo conforto de uma cadeira com encosto, mas a peça é curta, com cerca de uma hora de duração, o que não chega a incomodar ficar sentado nas pranchas de madeira da arquibancada.
No palco, além dos três atores, havia uma banda executando a trilha sonora ao vivo, postada do lado esquerdo, além de mais seis atores vestidos de negro. Tais pessoas faziam parte do coro, em uma alusão ao teatro grego, já que o tema tem ligação direta com a mitologia grega.
Os efeitos cênicos são muito bons, incluindo iluminação e sonoplastia. O figurino seguiu o cenário seco, nu, bem escuro. A ideia era passar um clima tenso, meio de terror, contando uma versão bem diferente da Vênus glamourizada que estamos acostumados a ler e a ver em obras de arte. Vênus aqui, ou Ve (ne) nus, é má e exerce esta maldade enlouquecendo seus pretendentes e levando-os à morte. Nesta versão, Vênus é mais do que a deusa do amor e da fertilidade. Ela flerta descaradamente com a morte.
Quanto ao texto, confesso que não gostei. Recheado de metáforas e para quem não lê o folheto da peça que é entregue quando ainda estamos na fila para entrar, fica um pouco confuso perceber estas metáforas verbais e visuais.
Acho louvável um trabalho de pesquisa e de concepção teatral como o grupo fez, incluindo vários elementos cênicos que distanciam a encenação do teatro praticado na Grécia antiga, embora mantendo um coro interessante que faz parte do todo. No entanto, tais elementos cênicos - trilha sonora ao vivo, sonoplastia, iluminação, figurino, projeção de vídeo, utilização de maquete para marcar o dia e a noite, narrativas ao vivo em um microfone colocado no lado direito do palco, estética de filmes de terror (lembrei-me de Hitchcock e seu sensacional Os Pássaros por mais de uma vez) e de ação (não sei porque, mas me veio à mente os filmes da saga Jogos Vorazes) - suplantaram, e muito, o texto e a encenação. Em alguns momentos, ficou incompreensível o que os atores ou o coro falavam, pois havia muita informação sonora e visual ocorrendo ao mesmo tempo.
Ao final, a plateia estava visivelmente dividida. Alguns aplaudiam entusiasticamente de pé, enquanto outros permaneceram sentados praticando as palmas protocolares.
Fiquei neste último grupo.
Ao sair, vi as crianças que chamaram o pessoal da trupe teatral de extraterrestres. Meu sorriso desta vez foi mais longo.

domingo, 9 de novembro de 2014

POEIRA

Depois de uma semana pesada, com reuniões, viagens, deslocamentos longos de avião e coordenação de grupos de discussão, retornei a Brasília com fome de teatro. Escolhi ver Poeira, espetáculo que voltou para à grade de programação do Espaço Cena. Como o teatro é pequeno, liguei umas duas horas antes do início da peça e reservei meu ingresso, que custou R$ 30,00 (inteira). Sessão de sábado, dia 08 de novembro de 2014, 21 horas. Cheguei faltando quarenta minutos para o horário previsto para ter início Poeira. Uma pequena mesa fazia a vez de bilheteria. Identifiquei-me, paguei e peguei meu ingresso. Um fotógrafo perguntou se eu poderia posar para uma foto em frente ao banner da peça com o programa na mão. Fiz com prazer a pose. Sentei-em em uma das simpáticas mesas colocadas no corredor do bloco. Como não há lanchonete ou café no local, uma pessoa vendia alguns quitutes para os que chegavam ao teatro e aguardavam a liberação da entrada.
Com aviso discreto para deixarem os respectivos celulares em modo silencioso, liberaram a entrada pouco depois das 21 horas. Digo discreto, porque alguns não devem ter ouvido, pois celulares soaram no recinto por mais de uma vez (e não era o celular que tocava em cena!).
No pequeno palco, as três atrizes de Poeira desfiavam histórias resgatadas do passado enquanto o público se acomodava nas cadeiras dispostas em forma de arquibancada. Fiquei na última fileira, em bancos sem encosto, com ótima visão para a cena, mas muito quente, pois o ar condicionado não chegava até lá.
Poeira foi idealizado por Tatiana Carvalhedo, cuja dramaturgia partiu de poemas muito pessoais de Cristina Carvalhedo. A direção coube a Jonathan Andrade. No palco três psicólogas - Cristina Carvalhedo, Lydia Rebouças e Nayla Reis - que aceitaram o desafio de atuar neste espetáculo. A mão de Jonathan é visível, não só no aspecto visual, pois o cenário e o figurino são de sua autoria, mas também no modo de atuação destas não atrizes. Emoção e catarse.
Memórias de um passado que não volta, de um marido que faleceu, de aventuras quando a juventude era explosiva, de uma rebeldia gostosa, feliz. Memórias alegres e tristes. Memórias que emocionam qualquer pessoa. Memórias que poderiam pertencer a qualquer um dos presentes.
A utilização de barulho de avião para a passagem do tempo foi um recurso que gostei muito, assim como a espontaneidade das atrizes ao dialogar com a plateia, como se estivessem em seus consultórios. No entanto, em papéis invertidos. O público era o psicólogo que observava e ouvia o que as reais psicólogas tinham a dizer.
Compartilhar a dor em cena foi um modo de extirpar fantasmas, de mudar, de continuar a vida, bela como ela deve ser.
Um cena belíssima, carregada de elementos emotivos, é aquela em que Nayla Reis está sentada em uma cadeira, nua, molhada, chorando de saudade do marido que não mais estava presente. As amigas ajudando-a a se vestir e o seu choro convulsivo são tocantes.
Poeira fala da morte, enaltecendo a vida.
Vida longa para Poeira.