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sábado, 31 de agosto de 2013

DUAS MULHERES EM PRETO E BRANCO

O Cena Contemporânea termina no domingo, 01º de setembro, mas meu último espetáculo foi na noite de sábado, 31 de agosto. Teatro da Caixa Cultural, sessão das 20:30 horas, com as amigas Fabiola, Karina e Hélida G. O local tinha muitas cadeiras vazias, especialmente nas fileiras mais à frente, sinal de que os convidados não retiraram seus ingressos, cujo valor foi o de sempre, ou seja, R$ 10,00 cada um. No palco, as atrizes Paula de Renor e Sandra Possani encenaram o texto de Ronaldo Correia de Brito, Duas Mulheres em Preto e Branco. Direção de Moacir Chaves. A peça gira em torno de duas amigas inseparáveis desde a época da faculdade, que se veem em uma situação de disputa pelo mesmo homem, o marido de uma delas. Música, cenário e forma narrativa remetem aos filmes policiais, de suspense, mas a interpretação deixa a desejar. O texto parece sair forjado da boca das atrizes, sem passar verdade. Há muitas citações, especialmente de escritores, poetas, filmes e livros que os militantes de esquerda nas décadas de sessenta e setenta adoravam. Colocar estas referências na história das duas mulheres, Sandra e Letícia, me soou datado demais, sem muito atrativo para os mais jovens. O mote não é resgatar um período da história que marcou algumas gerações de brasileiros, motivo pelo qual a citação constante destes ícones e ídolos da contra cultura podem gerar um certo desconforto na plateia, o que foi fato pelos comentários que ouvi na saída do teatro. Filmes de Fellini e a música de Nino Rota, seu principal criador de trilhas sonoras, são constantemente citados. Voltando para a história das duas amigas, a forma de narrá-la, alternando diálogos diretos e narrativas de fatos acontecidos, também não me agradou muito. O que gostei foi da movimentação constante das atrizes no palco, do belo cenário que nos indica que a vida delas estava desestruturada, e da dança entre as duas, um forte indicativo de como será o final. Minhas amigas Hélida G. e Fabiola ficaram sonolentas durante os setenta minutos da peça, aproveitando para dormir. Ninguém de nós gostou do que viu.

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ENSAIO GERAL

Sexta-feira, início da noite, mais uma peça para conferir no festival Cena Contemporânea. Desta vez, eu, Karina, Fabiola e Helida G. nos encontramos no CCBB, pois o espetáculo estava programado para 19:30 horas no seu Teatro II. No caminho entre o carro e a fila, deixei minha blusa de frio cair. Não demorei nem dez minutos para eu notar a sua falta. Voltei e nada encontrei. Ainda fui até a bilheteria na esperança de alguém ter achado a blusa e lá deixado, mas a busca foi infrutífera. Voltando à peça, assistimos Ensaio Geral, do grupo brasiliense Agrupação Teatral Amacaca (A.T.A.). Direção de Hugo Rodas. Ainda na fila, já ouvíamos os atores cantando, o que garantia um clima de ensaio. O público ia entrando, se acomodando, enquanto os atores-cantores continuavam a música, como se estivessem em uma roda de boteco. Alguns bebiam vinho e soltavam a voz. Entre eles estava o diretor Hugo Rodas. Assim que todos os lugares foram ocupados, as luzes se apagaram, Rodas deixou o palco, ficando em cena três músicos, posicionados à esquerda do cenário, e sete atores, todos eles com instrumentos musicais. O espetáculo dura cerca de uma hora e durante este tempo, um desfile de textos de Caio Fernando Abreu, Carlos Drummond de Andrade, Hilda Hilst, entre outros, são apresentados em pequenas esquetes pelo grupo. Sempre em clima de ensaio para um musical. Cenário e figurino, de autoria do diretor em conjunto com o grupo, são destaques e fazem parte da trama, assim como a utilização de instrumentos cênicos com ótimos efeitos visuais. As esquetes nos remetem ao teatro de Shakespeare, às máscaras do teatro grego, às marionetes, à época medieval, às musas inspiradoras dos artistas do renascimento, a Nelson Rodrigues, mostrando que o grupo bebeu em diversas fontes. Colocar todas estas referências no mesmo espaço rendeu bem, ao contrário do que muita gente pensaria. A expressão corporal, uma característica forte do diretor Hugo Rodas, domina todas as cenas. Duas esquetes mereceram o meu destaque: o ator Tulio Starling declamando a poesia A Língua Lambe, de Carlos Drummond de Andrade, quando o faz de maneira extremamente lasciva, provocando a plateia; e a performance sensual/sexual de Camila Guerra para o texto Dona História, de Hilda Hilst, citada textual e visualmente em cena, já que Márcia Duarte segurava uma máscara da escritora durante a esquete. Ao final, um emocionado Rodas entra em cena para agradecer ao público e homenagear Carol Scartezini, cujo retrato estava na porta do teatro, integrante do grupo que morreu atropelada quando ia de bicicleta para as manifestações de junho em Brasília. Belo espetáculo.

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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

MURGA MADRE

Fui para o Teatro da Caixa Cultural com as amigas e colegas de trabalho Kitty, Karina, Diana e Hélida G. para ver mais um espetáculo da programação da edição 2013 do Cena Contemporânea. Desta vez era uma peça uruguaia, com dez anos de sucesso ininterrupto por aquelas paragens. Sessão das 20:30 horas, ingressos, como os demais, comprados ao preço unitário de R$ 10,00, em data anterior ao início do festival. O teatro recebeu um bom público, mas não lotou. Em cena, dois atores, Pablo Routin e Edú Lombardo, interpretam dois bufões, ou algo similar, saídos de uma autêntica Comedia Dell'Arte, ou do Carnaval de Veneza, mas sem as máscaras, que são substituídas por pesada maquiagem branca. Fui sem saber o que era murga, uma figura típica do carnaval uruguaio, que também nada conheço. Logo no início, percebi que não gostaria, pois elementos de clown estão presentes e, confesso, tenho preguiça deste tipo de personagem. O texto é todo falado em espanhol, com legendas em português que passavam em local acima do palco. É um musical que se inspira nos tipos do carnaval uruguaio e muitos destes tipos acabam por não ter uma tradução em português. Assim, além de murga, cuplé foi outra palavra muito falada e que fiquei sem saber o que era. Depois, já em casa, consultei o santo Google e descobri que ambos são estilos musicais. Os números musicais são muito mais interessantes do que a parte falada do texto. Com poucos objetos em cena, apenas duas cadeiras e duas mesas, nada atraía minha atenção para o palco. Com quinze minutos de espetáculo, já tinha gente se levantando e saindo do teatro, enquanto eu já tinha consultado o relógio por duas vezes. Ainda repetiria este gesto por mais umas dez vezes antes de encerrar a peça, que tem duração de pouco menos que uma hora. Outras pessoas não aguentaram e também se retiraram do local. Fomos ficando, mas Kitty e Hélida G. não deixaram por menos e acabaram por tirar uma boa soneca. Uma criança ria muitos de uma cena que resvalava na comédia pastelão, com os atores dando tapas na cara um do outro e agradecendo. A criança ria e o público ria da sua risada gostosa. Quando os atores saíram de cena e uma projeção no fundo do palco os mostra sentados na lua, o público começou a bater palma. Aproveitamos para levantar e sair, mesmo com as luzes ainda apagadas, pois ainda rolava um filminho na tela. Achei muito ruim, mas não posso considerar esta peça como a pior do festival porque eu desconheço as figuras e ritmos do carnaval uruguaio. Acredito que se conhecesse um pouco, entenderia o texto e poderia gostar da peça. Desolé.

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LA FEMME QUI TUA LES POISSONS (A MULHER QUE MATOU OS PEIXES)

E segue o Cena Contemporânea. Quarta-feira, dia 28 de agosto, fui com Carol, Arnóbio, Kitty, Cris, Hélida G., Karina, Diana e Fabiola conferir o espetáculo programado para 21 horas na Sala Martins Penna do Teatro Nacional Cláudio Santoro. Compramos os ingressos com antecedência, pagando R$ 10,00 cada um. Teatro completamente lotado para assistir Emmanuelle Lafon e Vladimir Kudryavtsev no espetáculo La Femme Qui Tua Les Poissons (A Mulher Que Matou Os Peixes), texto da sempre ótima Clarice Lispector. Direção e adaptação de Bruno Bayen. São 80 minutos de duração. Texto falado 95% em francês, com legendas em português. O controlador das legendas pregava uma peça, de vez em quando, na plateia, acelerando ou retardando a sincronia da fala, muitas vezes em ritmo alucinado, da atriz com as frases em português. Entendi quase tudo do que ela falava, o que me permitiu somente recorrer às legendas vez ou outra. Texto magnífico, que mescla trechos da obra de Lispector, mostrando o quão frágil é o ser humano. Um simples esquecimento leva à morte os peixes vermelhos de seu filho, desencadeando na mulher uma profunda reflexão sobre as suas atitudes cotidianas e sua relação com o mudo ao seu redor. A performance de Emmanuelle Lafon é sensacional. Ela ocupa todos os espaços do palco, como uma gigante na arte de interpretar. A atriz mostrou insatisfação apenas com a fisionomia, ou mesmo aumentado a voz, sem deixar o texto de lado, quando um telefone celular ecoou no teatro. Algumas palavras em português, como saudade (de difícil tradução) e coitadinho, foram mantidas no texto em francês interpretado por Lafon. O ator pouca participação tem na peça, sendo quase que mais um item do cenário primoroso de Renata S. Bueno, que também assina o figurino. Uma parte do texto dita em forma de declamação não possui legendas, pois o momento é muito lírico e é preciso não desviar a atenção da atriz. Assim, a solução foi colocar alguém declamando o mesmo texto em português, imediatamente após cada frase dita por Lafon. Para quem entende francês, logo se percebeu que a tradução não correspondia ao que a atriz dizia. Para piorar, ao final, ficou nítido que quem lia trocou a ordem dos papeis, pois a fala da atriz inicial foi traduzida enquanto ela declamava a parte final do seu texto. Um erro horroroso, que fez o público que entende francês rir em uma situação delicada e singela. Mas isto não prejudicou o todo. Ainda bem. Palmas entusiasmadas ao final, com um emocionado diretor em cena agradecendo ao Brasil por ter proporcionado a ele e ao mundo a excelente escritora Clarice Lispector. Gostei muito.

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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

PATTERN & VARIABLE - BALANCE & IMBALANCE

Na terça, nada de peça teatral, mas sim dois números de dança moderna do grupo sul-coreano Bereishit Dance Company. A coreografia é de Park Soon-ho. Programa do Teatro Plínio Marcos, no complexo cultural da Funarte, que recebeu um bom público. Estava acompanhado de Karina, Diana, Hélida G. e Kitty. A primeira coreografia foi Pattern & Variable conta com três homens e duas mulheres dançando no palco. Sem ler a pequena sinopse que entregaram ainda na fila de espera, coisa que só fiz após o final de tudo, percebi que tinha elementos de lutas marciais nos passos dos bailarinos. Depois, li que tudo se passava nos bastidores de uma competição de judô. Ao saber, tudo faz muito sentido. Os passos são bem marcados, como na ginástica artística. Até elementos da capoeira são visivelmente identificados durante os vinte minutos de duração da dança. No centro do palco, um tatame não deixa dúvidas sobre as artes marciais. Um breve intervalo de dez minutos e começa a segunda apresentação, com três músicos sentados na lateral esquerda do palco, tendo três tambores diferentes à frente. Começava a coreografia Balance & Imbalance, sem tatame, com outro tipo de iluminação, cuja sinergia com a música é perfeita. Alguns bailarinos da primeira apresentação voltam a dançar este número, que tem ligações mais fortes com a cultura asiática, seja na formação de símbolos com os próprios corpos dos dançarinos, seja no figurino dos músicos ou o rufar dos tambores. Pela sintonia entre música, dança e performance, gostei mais da segunda parte. Belo espetáculo. Só mesmo em um festival plural como o Cena Contemporânea para trazer atrações de boa qualidade de países tão distantes para Brasília.

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À DERIVA

Depois de conferir cinco peças da programação do Cena Contemporânea 2013, tirei o domingo para descansar. Mas na segunda-feira, 26 de agosto, reiniciei a minha maratona, indo com Diana e Kitty assistir ao único espetáculo do festival em cartaz naquela noite: À Deriva, novo trabalho do grupo Teatro do Instante, daqui de Brasília. Chegamos ao CCBB, onde uma tenda foi montada nos jardins justamente para a estreia deste espetáculo, por volta de 19:30 horas, ou seja, meia hora antes do previsto para o início da peça. Com ingressos adquiridos com antecedência, pelo qual pagamos R$ 10,00 cada um, ficamos sentados em pequenas poltronas brancas colocadas perto da entrada da tenda. Ao entrarmos, fomos alertados para não tirar as cadeiras do lugar, pois os atores circulavam por trás delas. O espaço acomodava poucas pessoas e ficou lotado. Os atores já estavam sentados nas mesmas cadeiras disponíveis para a plateia. Tais assentos estavam dispostos em forma de um quadrado, com todas as ações acontecendo no meio da tenda, em seus quatros cantos e por trás das cadeiras, muitas delas de forma simultânea. Assim, muita gente acabava escolhendo que cena ver, pois é impossível prestar atenção em tudo ao mesmo tempo. Mas isto não impede o perfeito entendimento do texto. Em cena, dois atores e cinco atrizes dão vida a personagens que estão repletos de memórias. Memórias do passado, memórias do presente, memórias do futuro, memórias que nunca existiram, memórias de um mundo particular, memórias coletivas, memórias individuais, ou simplesmente, memórias. O mundo frenético em que vivemos é sintetizado na personagem de Alice Stefânia, de longe, a melhor performance do espetáculo. Mas todos os outros atores em cena tem momentos marcantes nos 60 minutos de duração de À Deriva. A dramaturgia é de Jonathan Andrade, o que, para mim, sempre é sinal de qualidade. Direção de Giselle Rodrigues. Gostei tanto que vou assistir de novo, já que eles anunciaram que voltarão a encenar no mesmo local nos dias 05, 06 e 07 de setembro.

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A PRIMEIRA VISTA

Sábado, dia 24 de agosto, sessão das 21 horas na Sala Martins Penna do Teatro Nacional Cláudio Santoro. Ingresso comprado antecipadamente por R$ 10,00. Teatro lotado. Na minha companhia, as amigas e companheiras de trabalho Karina, Fabiola, Maíra e Hélida G. No palco, as atrizes Drica Moraes e Mariana Lima encenam A Primeira Vista. Direção de Enrique Diaz para o texto do canadense Daniel Macivor. Para quem viu em 2010 a peça In On It, do mesmo autor, podemos dizer que A Primeira Vista é uma versão feminina para aquele texto. Logicamente não se trata de uma encenação da mesma história. Os textos mantém um diálogo, uma conexão, pois tratam das idas e vindas de um casal gay. No caso de A Primeira Vista, duas mulheres se encontram em um acampamento (uma atividade tipicamente canadense) e a partir deste encontro, há um ir e vir no tempo, quando a relação das personagens, que não tem nomes definidos, é contada. O cenário é difuso, sem que o público possa identificar direito onde elas estão. Em um local incerto e em tempo também desconhecido, elas contam a história de suas vidas, especialmente quando seus momentos se entrelaçavam. A química das duas atrizes está perfeita no palco. Mesmo sabendo previamente que Drica Moraes fora indicada para o Prêmio Shell 2013 como melhor atriz justamente por sua performance nesta peça, não consigo dizer quem é a melhor em cena. O texto traz algumas características comuns às outras duas peças que assisti do mesmo autor; a já citada In On It e Cine_Monstro, vista recentemente no mesmo festival Cena Contemporânea de que faz parte A Primeira Vista. Assim, a ironia, o humor negro, encontros e desencontros, espontaneidade e morte estão presentes. As situações vividas pelas personagens rendem boas risadas ao longo dos cerca de 80 minutos de duração do espetáculo. Ao final, conseguimos entender perfeitamente o cenário difuso por onde passa toda a história. Muito bom.

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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

FOGO FÁTUO

Continuando a maratona de atrações do festival Cena Contemporânea, fui conferir, juntamente com as amigas Maíra, CrisHélida G. e Karina, mais um espetáculo da programação. Desta vez no Teatro I do CCBB, onde estava em cartaz na sexta-feira, dia 23 de agosto, Fogo Fátuo, da Companhia Teatral Arnesto Nos Convidou, grupo de São Paulo. Ingressos comprados antecipadamente ao preço unitário de R$ 10,00. Teatro quase lotado. A dramaturgia é do premiado Samir Yazbek, que também atua nesta peça, quando divide o palco com Hélio Cícero, ator tarimbado e figura frequente nos palcos brasileiros. Direção de Antônio Januzelli. Yazbek interpreta um escritor em crise, sem inspiração, que marca um encontro com o diabo em um teatro quando tentará fazer um acordo com ele para voltar a escrever. Cícero é o demo em pessoa, em caracterização irônica e visivelmente inspirada no mítico personagem Zé do Caixão, de José Mojica Marins, só que com a vestimenta inteiramente branca. Embora dure apenas 50 minutos, identifiquei claramente duas partes na história, sendo a primeira bem mais instigante, provocativa, quando há uma reflexão sobre o papel do teatro na formação das pessoas e a perda de público, enquanto a segunda parte concentra a discussão no acordo entre o diabo e o escritor. Obviamente há citações dos grandes autores da literatura mundial que já escreveram sobre o diabo e seu habitat, como Dante e Goethe. Mas o que chama a atenção nesta discussão é a conclusão do diabo de que não há mais espaço para ele no mundo em que vivemos, onde o individualismo e o vício em redes sociais são a tônica dominante. Esta conclusão pode ser levada para o campo da cultura, quando o consumo instantâneo de massa sufoca a literatura, a música, as artes cênicas, as artes visuais e as artes plásticas. Yasbek é, por essência, um escritor, o que fica evidente quando ele atua, pois senti um pouco de desconforto em algumas de suas falas em cena, enquanto Cícero é um craque na arte de interpretar e mostra isto durante todo o espetáculo, estando bem à vontade como o diabo, mas também quando improvisa um pequeno balé com as mãos com um inseto que bruxuleava embaixo da luz. A cena era mais dramática, uma prévia do final da conversa com o escritor, mas virou uma breve comédia, arrancando risos da plateia, para, em seguida, voltar à seriedade e, a la Zé do Caixão, se envolver em sua capa e sair de cena. Não é a melhor peça que vi neste festival, mas achei interessante, ressaltando que preferi a primeira metade do texto.

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terça-feira, 27 de agosto de 2013

A FORÇA DA TERRA

Quando apareceu estampada a palavra FIM projetada no telão localizado no fundo do palco, tive a sensação de que um grande suspiro de alívio tomou conta da plateia na Sala Martins Penna do Teatro Nacional Cláudio Santoro. Aplausos meramente protocolares ecoaram no local e, fato raro de se ver em Brasília, ninguém ficou de pé ou deu gritos entusiastas. Isto aconteceu na sessão do dia 22 de agosto de 2013, ao  final do espetáculo A Força da Terra, texto e concepção do Grupo Sonhus Teatro Ritual, de Goiás, em parceria com Hugo Rodas. A peça integrou a programação do festival Cena Contemporânea, edição 2013. Sou um fã de Rodas, mas, pela primeira vez, não gostei do seu trabalho. Quatro atores no palco interagem com imagens projetadas no telão. No início, são imagens dos próprios atores, com intervenções verbais que não acrescentam nada, como uma das atrizes observar que estava bem mais magra no filme. Depois, uma malha furada é suspensa, tornando a projeção "suja", cheia de "ruídos" visuais, dificultando ver com exatidão partes do filme Vidas Secas, dirigido por Nelson Pereira dos Santos, de onde o espetáculo livremente se baseia. Enquanto o filme passava, algumas cenas do filme eram repetidas pelos quatro atores no palco. Os efeitos visuais são interessantes e criativos, mas não ajudam na compreensão da mensagem que se quer passar. Confesso que ver a terra sendo varrida por uma escova na frente do ator que caminhava sem rumo prendeu mais minha atenção do que a história em si. A performance do ator que faz a cachorra Baleia, estrela do filme de Santos, é ótima, mas, ao mesmo tempo, deprimente. Ficou um misto de gostar/não gostar que não consigo explicar. Para piorar, na terceira parte do espetáculo, já sem a malha furada em frente da tela, imagens dos recentes protestos que tomaram as ruas do Brasil em junho são mostradas, enquanto os quatro atores vestem roupas de gala, representando uma elite que está alheia aos acontecimentos, simulando brindes com taças de champanhe, como um escárnio ao restante da massa que protestava. Posso não ter entendido, mas não consegui identificar uma ligação com Vidas Secas. Foram intermináveis 60 minutos de duração. Definitivamente é minha candidata a pior peça desta edição do festival. E só não será a pior do ano porque Jukebox - Uma Ficção Científica Musical consegue ser bem pior.

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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

CINE_MONSTRO


Tive meia hora entre o término da peça Antes da Chuva e o início de Cine_Monstro, o segundo espetáculo teatral da minha maratona na programação do Cena Contemporânea 2013. Ingresso comprado antecipadamente, como todos os demais, por R$ 10,00. Hélida G e Karina fizeram o mesmo, mas Fabíola tinha optado em não comprar entrada para Cine_Monstro. Saiu tão empolgada de Antes da Chuva que enfrentou a fila de desistência, conseguindo um ingresso para se juntar a nós. Teatro I do CCBB bem cheio, com pouquíssimas cadeiras vazias. No palco, o ótimo ator Enrique Diaz em um monólogo com cerca de 75 minutos de duração, no qual interpreta 13 papéis. Além de interpretar, ele também assina a direção, a iluminação e a tradução, esta última em parceria com Bárbara Duvivier, do texto do canadense Daniel Macivor, mesmo autor do espetáculo In On It, que assisti em São Paulo em 2010. Enrique Diaz prende a atenção da plateia desde o primeiro minuto da peça, que traz um jogo interessante de idas e vindas, com atos e fatos aparentemente sem conexão, mas que tem uma ligação, esclarecida ao final do espetáculo. A opção por utilizar recursos de projeção e alterações no som, com ecos reverberando a última palavra dita por Diaz, fazem a peça se aproximar do cinema, especialmente dos filmes de terror, mote principal do texto. Não há como não se lembrar de mestres do suspense da telona, como Alfred Hitchcock, ou nos filmes de Tarantino. O tom é de humor negro, com ironia aos borbotões. O texto é carregado de acidez, com cenas com requintes de crueldade. Só mesmo vendo a peça para compreender o que aqui escrevo, pois se falar qualquer coisa sobre o texto, corro o risco de influenciar as pessoas que me leem a interpretar a história sob a minha visão. E com certeza, como demonstraram algumas pessoas ao final da peça, cabe mais de uma leitura a partir da encenação, dependendo do grau de atenção que cada um dispensa ao texto. Diaz narra as histórias de uma forma que tudo nos parece banal, e se compararmos com a realidade estampada diariamente na mídia, a violência é realmente uma coisa banal (desde que não aconteça no mundinho ao nosso redor). Timing perfeito de Diaz em cena, com pitadas de comédia e terror nas doses exatas. Para mim, a peça é forte candidata a ser a minha preferida nesta edição do festival.

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ANTES DA CHUVA

Com onze ingressos comprados para a edição de 2013 do Cena Contemporânea, festival de artes cênicas que está em cartaz em vários espaços de Brasília no período de 20 de agosto a 01 de setembro. O primeiro espetáculo que conferi foi Antes da Chuva, da Cia. Cortejo, trupe com um núcleo na cidade de Três Rios, interior do Rio de Janeiro, e outro núcleo em Juiz de Fora, Minas Gerais. Fui com as amigas Fabíola, Karina e Hélida G. Ingresso a R$ 10,00. Teatro II do CCBB, sessão das 19:30 horas. A sala recebeu um bom público, mas não ficou com lotação completa, sobrando algumas cadeiras na última fila. Quando entramos, os dois atores, Bruna Portella e Luan Vieira, já estavam em cena. Nas cadeiras havia um envelope fechado, como se postado no Correio, com alguns cartões postais com fotografias da peça. O envelope também faz referência aos personagens principais e, embora não interativo, tem relação com uma importante parte da peça. A história se passa em uma pequena cidade às margens de um rio, eixo de ligação com o mundo "civilizado" na concepção da personagem feminina, Aninha de Dona Valcy. Passa diante de nossos olhos a relação de um casal, ele, Aramis, alguns anos mais novo do que ela, Aninha, desde quando se conheceram, à época ele tinha doze anos e por ela se apaixonou, namoraram, se distanciaram e novamente se encontraram. É uma história de amor que bebe um pouco na fonte do realismo fantástico, da vida na floresta e no mundo da literatura. O título, Antes da Chuva, depois que vi a peça, me remeteu imediatamente à Belém e à Floresta Amazônica, onde a chuva é um referencial para marcar encontros. O texto, de autoria de Rodrigo Portella, que também é o responsável pela direção e pela iluminação do espetáculo, é muito bom, mas o que se destaca mesmo é a interpretação dos atores, excelentes na caracterização dos personagens que interpretam. Bruna Portella dá um show na composição de suas personagens, especialmente quando interpreta as secundárias, como a dona da casa de prostituição e da avó de Aninha. Suas caras, bocas e gestos para estas personagens coadjuvantes se contrapõem à interpretação mais natural que empresta a Aninha, a personagem principal. Confesso que não tinha nenhuma referência sobre a companhia ou sobre o texto antes de entrar no teatro e saí inteiramente satisfeito com a peça. Gostei muito. Comecei com o pé direito a maratona de peças teatrais integrantes da programação do Cena Contemporânea.


terça-feira, 13 de agosto de 2013

CONFRARIA VINUS VIVUS - 79ª REUNIÃO

No dia 12 de agosto de 2013, a Confraria Vinus Vivus se reuniu pela 79ª vez para degustar vinhos tintos da Espanha. Desta feita, foram os próprios confrades os responsáveis pela compra dos vinhos. Cada dupla levou um vinho cuja garrafa custava entre R$ 350,00 e R$ 450,00. Os vinhos do jantar couberam a uma dupla de confrades. Não houve ausências. Foram quatro vinhos, cujas características estão descritas na sequência.

Vinho 1 – Remírez de Ganuza Gran Reserva


Safra: 2004.
Álcool: 14%.
Casta: 90% tempranillo e 10% graciano.
Produtor: Bodegas Fernando Remírez de Ganuza.
Região: Rioja, Espanha (DOCA).
Cor: rubi, rubi.
Aromas: couro, frutas vermelhas, ameixa preta, defumado, violeta, baunilha.
Boca: boa acidez, amargor ao final, taninos redondos, aceto balsâmico, bem alcoólico, calor na boca, secura, encorpado, elegante.
Estágio: 28 meses em barricas.
Importador: Mistral.
Valor: R$ 465,00.
Dupla que levou o vinho: Leo Soares e Vera.
Observação: escolhido como o melhor da noite por Leo Ladeira e Vera. Um dos pouquíssimos vinhos a receber 100 pontos de Robert Parker. Produz poucas garrafas por safra, sendo considerado um vinho de boutique.

Vinho 2 – Dalmau Reserva


Safra: 2007.
Álcool: 14,5%.
Casta: 92% tempranillo, 4% garnacha e 4% cabernet sauvignon.
Produtor: Marques de Murrieta.
Região: Rioja, Espanha (DOCA).
Cor: rubi intenso.
Aromas: violeta, compota de frutas vermelhas, groselha, amora negra, couro, coco doce, café.
Boca: chocolate amargo, acidez presente, mais pesado do que o vinho 1, encorpado, doce, groselha, carnudo, taninos bem presentes.
Estágio: 18 meses em barricas de carvalho francês novas.
Importador: World Wine.
Valor: R$ 480,00.
Dupla que levou o vinho: Keller e Marcos.
Observação: escolhido como o melhor da noite por Marcos, André e Keller. Recebeu 96 pontos de Robert Parker. Foram produzidas 19.291 garrafas e 239 magnuns da safra em questão.

Vinho 3 – Mas Doix


Safra: 2010.
Álcool: 14,5%.
Casta: 55% cariñena e 45% garnacha.
Produtor: Costers de Vinyes Velles.
Região: Priorato, Espanha.
Cor: rubi, com tons violáceos.
Aromas: sumo tangerina, kinkan, violeta, aniz, mofo, caramelo, esparadrapo, mertiolate.
Boca: bem ácido, doce, sutil, delicado, tem menos taninos que os vinhos 1 e 2.
Estágio: 16 meses em barricas de carvalho francês novas.
Importador: Wine.com.
Valor: R$ 297,50.
Dupla que levou o vinho: Abílio e Leo Ladeira.
Observação: vinhas com 80 a 105 anos. Cada parreira dá apenas 400 gramas de uva. Da safra degustada, foram produzidas apenas 6.000 garrafas.

Vinho 4 – San Vicente


Safra: 2002.
Álcool: 14%.
Casta: 100% tempranillo.
Produtor: San Vicente.
Região: Rioja, Espanha (DOCA).
Cor: rubi, com toques granada na unha.
Aromas: curral, grama cortada, couro curtido.
Boca: doce, melado, taninos elegantes.
Estágio: sem informação.
Importador: Henrt Wine Group.
Valor: R$ 500,00.
Dupla que levou o vinho: Cláudia e Fernanda.
Observação: o campeão da noite, sendo escolhido como o melhor por Abílio, Bruno, Fernanda, Cláudia e Leo Soares. Rende menos de um quilo por videira.


mini abóboras assadas em melaço de cana


batatas cozidas com bacon


farofa de cuscuz


leitão assado


tiramisù

Após a degustação, a anfitriã, como de costume, ofereceu o jantar: leitão assado, acompanhado de batatas cozidas com bacon, farofa de cuscuz e mini abóboras assadas em melaço de cana. Durante o jantar, foram servidos dois vinhos, um tinto e um branco, possibilitando verificar qual o que mais harmonizava com o leitão. O tinto foi o francês Dominique Laurent 2010, 13% de teor alcoólico, 100% pinot noir, produzido na região da Borgonha, importado pela World Wine (R$ 161,00). O vinho branco foi o sul africano Ken Forrester Reserve 2010, 14,5% de álcool, 100% chenin blanc, produzido na região de Stellenbosch (R$ 90,00). A maioria dos presentes achou a harmonização com o pinot noir mais apropriada. Ao final, um ótimo tiramisù foi servido como sobremesa, além do tradicional café Nespresso para encerrar mais uma bela noite da Vinus Vivus.




vinho
gastronomia


sexta-feira, 2 de agosto de 2013

JUKEBOX - UMA FICÇÃO CIENTÍFICA MUSICAL

Terminou no último dia 25 de agosto de 2013 a temporada brasiliense do espetáculo Jukebox - Uma Ficção Musical. Estreou dia 1º de agosto no Pavilhão de Vidro do Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília. Fui com duas amigas, Karina e Fabíola, exatamente no dia da estreia na capital do Brasil, uma quinta-feira de noite agradável. Logo que entramos, recebemos um folheto com a lista de músicas das quais o público escolhe a sua preferida, entregando sua preferência a alguém da produção do espetáculo. O palco estava montado no centro do pavilhão, com cadeiras, puffs e banquetas espalhados em três lados do espaço (o quarto lado era reservado para a mesa de som e para o camarim). Segundo soube na bilheteria, a capacidade máxima por espetáculo era de 100 pessoas, mas não tinha lugar para todo mundo se sentar. Talvez por isso, um cartaz na bilheteria e na porta do pavilhão informava que as cadeiras azuis eram destinadas, preferencialmente, aos idosos, gestantes e pessoas com deficiência. De qualquer lugar que se sentasse, não se tinha uma visão 100% do palco, já que algumas paredes/telões de led impediam a visão do que acontecia do seu outro lado. O cardápio musical contava com vinte músicas (ou conjunto de músicas). As primeiras dez escolhidas pelo público fariam a sequência da encenação da noite, o que permitiria que cada noite o espetáculo fosse construído de forma diferente. As luzes se apagaram logo e ficou impossível ler o folheto, fator essencial para entender o que iria rolar no palco. No set list musical, músicas conhecidas, sucessos do universo pop, como clássicos de Madonna, Bjork, BeatlesMarisa Monte, Roberto Carlos, Gaby AmarantosDavid Bowie, entre outros, conviviam com músicas inéditas, compostas exclusivamente para o espetáculo. Aliás, a música Space Oddity, de Bowie, é a grande inspiração para esta ficção científica teatral em forma de musical. Flávio Graff é o responsável pelo figurino, pelas letras das músicas inéditas, pelo roteiro e pela direção, cabendo a direção musical a Felipe Storino. No palco, além dos dois, integravam o elenco as atrizes Adriana Seiffert, Dedina Bernardelli e Julia Deccache Sem ler nada antes, fica impossível entender a encenação. Movimentos aparentemente sem nexo e interpretações esquisitas imperam durante todo o espetáculo. Olhei para os lados e notei que muitas pessoas não prestavam atenção em nada, preferindo navegar na internet utilizando seus smartphones. Poucas, para não dizer apenas uma mulher, se arriscaram em levantar e tentar ver o que acontecia do outro lado do palco. Provavelmente apenas mais uma infinidade de movimentos sem significado palpável. Na execução da décima música, já cantando Lindo Balão Azul, sucesso da Turma do Balão Mágico nos anos oitenta, os atores ensaiaram uma chamado do público para ficar de pé e dançar, mas não foram correspondidos. O povo queria era que aquele espetáculo chegasse ao fim o mais rápido possível. Assim que a palavra FIM surgiu nos telões de led, respirei aliviado. Olhei para o lado e vi que todo mundo tinha na face a mesma cara de paisagem. Expressões de incompreensão ou insatisfação (diria que esta predominava) eram a tônica nos rostos de quem deixava o Pavilhão de Vidro. Como diria Emi, um amigo meu, achei o espetáculo um horror, um horror, um horror.

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