Continuando a maratona de atrações do festival Cena Contemporânea, fui conferir, juntamente com as amigas Maíra, Cris, Hélida G. e Karina, mais um espetáculo da programação. Desta vez no Teatro I do CCBB, onde estava em cartaz na sexta-feira, dia 23 de agosto, Fogo Fátuo, da Companhia Teatral Arnesto Nos Convidou, grupo de São Paulo. Ingressos comprados antecipadamente ao preço unitário de R$ 10,00. Teatro quase lotado. A dramaturgia é do premiado Samir Yazbek, que também atua nesta peça, quando divide o palco com Hélio Cícero, ator tarimbado e figura frequente nos palcos brasileiros. Direção de Antônio Januzelli. Yazbek interpreta um escritor em crise, sem inspiração, que marca um encontro com o diabo em um teatro quando tentará fazer um acordo com ele para voltar a escrever. Cícero é o demo em pessoa, em caracterização irônica e visivelmente inspirada no mítico personagem Zé do Caixão, de José Mojica Marins, só que com a vestimenta inteiramente branca. Embora dure apenas 50 minutos, identifiquei claramente duas partes na história, sendo a primeira bem mais instigante, provocativa, quando há uma reflexão sobre o papel do teatro na formação das pessoas e a perda de público, enquanto a segunda parte concentra a discussão no acordo entre o diabo e o escritor. Obviamente há citações dos grandes autores da literatura mundial que já escreveram sobre o diabo e seu habitat, como Dante e Goethe. Mas o que chama a atenção nesta discussão é a conclusão do diabo de que não há mais espaço para ele no mundo em que vivemos, onde o individualismo e o vício em redes sociais são a tônica dominante. Esta conclusão pode ser levada para o campo da cultura, quando o consumo instantâneo de massa sufoca a literatura, a música, as artes cênicas, as artes visuais e as artes plásticas. Yasbek é, por essência, um escritor, o que fica evidente quando ele atua, pois senti um pouco de desconforto em algumas de suas falas em cena, enquanto Cícero é um craque na arte de interpretar e mostra isto durante todo o espetáculo, estando bem à vontade como o diabo, mas também quando improvisa um pequeno balé com as mãos com um inseto que bruxuleava embaixo da luz. A cena era mais dramática, uma prévia do final da conversa com o escritor, mas virou uma breve comédia, arrancando risos da plateia, para, em seguida, voltar à seriedade e, a la Zé do Caixão, se envolver em sua capa e sair de cena. Não é a melhor peça que vi neste festival, mas achei interessante, ressaltando que preferi a primeira metade do texto.
artes cênicas
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