Sexta-feira, início da noite, mais uma peça para conferir no festival Cena Contemporânea. Desta vez, eu, Karina, Fabiola e Helida G. nos encontramos no CCBB, pois o espetáculo estava programado para 19:30 horas no seu Teatro II. No caminho entre o carro e a fila, deixei minha blusa de frio cair. Não demorei nem dez minutos para eu notar a sua falta. Voltei e nada encontrei. Ainda fui até a bilheteria na esperança de alguém ter achado a blusa e lá deixado, mas a busca foi infrutífera. Voltando à peça, assistimos Ensaio Geral, do grupo brasiliense Agrupação Teatral Amacaca (A.T.A.). Direção de Hugo Rodas. Ainda na fila, já ouvíamos os atores cantando, o que garantia um clima de ensaio. O público ia entrando, se acomodando, enquanto os atores-cantores continuavam a música, como se estivessem em uma roda de boteco. Alguns bebiam vinho e soltavam a voz. Entre eles estava o diretor Hugo Rodas. Assim que todos os lugares foram ocupados, as luzes se apagaram, Rodas deixou o palco, ficando em cena três músicos, posicionados à esquerda do cenário, e sete atores, todos eles com instrumentos musicais. O espetáculo dura cerca de uma hora e durante este tempo, um desfile de textos de Caio Fernando Abreu, Carlos Drummond de Andrade, Hilda Hilst, entre outros, são apresentados em pequenas esquetes pelo grupo. Sempre em clima de ensaio para um musical. Cenário e figurino, de autoria do diretor em conjunto com o grupo, são destaques e fazem parte da trama, assim como a utilização de instrumentos cênicos com ótimos efeitos visuais. As esquetes nos remetem ao teatro de Shakespeare, às máscaras do teatro grego, às marionetes, à época medieval, às musas inspiradoras dos artistas do renascimento, a Nelson Rodrigues, mostrando que o grupo bebeu em diversas fontes. Colocar todas estas referências no mesmo espaço rendeu bem, ao contrário do que muita gente pensaria. A expressão corporal, uma característica forte do diretor Hugo Rodas, domina todas as cenas. Duas esquetes mereceram o meu destaque: o ator Tulio Starling declamando a poesia A Língua Lambe, de Carlos Drummond de Andrade, quando o faz de maneira extremamente lasciva, provocando a plateia; e a performance sensual/sexual de Camila Guerra para o texto Dona História, de Hilda Hilst, citada textual e visualmente em cena, já que Márcia Duarte segurava uma máscara da escritora durante a esquete. Ao final, um emocionado Rodas entra em cena para agradecer ao público e homenagear Carol Scartezini, cujo retrato estava na porta do teatro, integrante do grupo que morreu atropelada quando ia de bicicleta para as manifestações de junho em Brasília. Belo espetáculo.
artes cênicas
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