Quando apareceu estampada a palavra FIM projetada no telão localizado no fundo do palco, tive a sensação de que um grande suspiro de alívio tomou conta da plateia na Sala Martins Penna do Teatro Nacional Cláudio Santoro. Aplausos meramente protocolares ecoaram no local e, fato raro de se ver em Brasília, ninguém ficou de pé ou deu gritos entusiastas. Isto aconteceu na sessão do dia 22 de agosto de 2013, ao final do espetáculo A Força da Terra, texto e concepção do Grupo Sonhus Teatro Ritual, de Goiás, em parceria com Hugo Rodas. A peça integrou a programação do festival Cena Contemporânea, edição 2013. Sou um fã de Rodas, mas, pela primeira vez, não gostei do seu trabalho. Quatro atores no palco interagem com imagens projetadas no telão. No início, são imagens dos próprios atores, com intervenções verbais que não acrescentam nada, como uma das atrizes observar que estava bem mais magra no filme. Depois, uma malha furada é suspensa, tornando a projeção "suja", cheia de "ruídos" visuais, dificultando ver com exatidão partes do filme Vidas Secas, dirigido por Nelson Pereira dos Santos, de onde o espetáculo livremente se baseia. Enquanto o filme passava, algumas cenas do filme eram repetidas pelos quatro atores no palco. Os efeitos visuais são interessantes e criativos, mas não ajudam na compreensão da mensagem que se quer passar. Confesso que ver a terra sendo varrida por uma escova na frente do ator que caminhava sem rumo prendeu mais minha atenção do que a história em si. A performance do ator que faz a cachorra Baleia, estrela do filme de Santos, é ótima, mas, ao mesmo tempo, deprimente. Ficou um misto de gostar/não gostar que não consigo explicar. Para piorar, na terceira parte do espetáculo, já sem a malha furada em frente da tela, imagens dos recentes protestos que tomaram as ruas do Brasil em junho são mostradas, enquanto os quatro atores vestem roupas de gala, representando uma elite que está alheia aos acontecimentos, simulando brindes com taças de champanhe, como um escárnio ao restante da massa que protestava. Posso não ter entendido, mas não consegui identificar uma ligação com Vidas Secas. Foram intermináveis 60 minutos de duração. Definitivamente é minha candidata a pior peça desta edição do festival. E só não será a pior do ano porque Jukebox - Uma Ficção Científica Musical consegue ser bem pior.
artes cênicas
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