Depois de ver dois filmes infantis, mudei radicalmente de gênero, escolhendo um dos candidatos ao Oscar 2011 de melhor filme estrangeiro, em cartaz no Embracine CasaPark (R$8,00 meia entrada). Trata-se de Biutiful (Biutiful), co-produção México e Espanha de 2010, dirigida por Alejandro González Iñárritu. No início do filme, ainda nos créditos, fiz uma comparação com o delicioso filme de Woody Allen Vicky Cristina Barcelona, por dois motivos. Ambos tem o ator espanhol Javier Bardem no elenco e são rodados em Barcelona. As semelhanças acabam por aí. Enquanto no primeiro predomina o glamour e a beleza de Barcelona, além de Javier Bardem fazer um bon vivant, cheio de charme e sedutor. Já em Biutiful, Javier Bardem é Uxbal, um homem que vive no submundo de Barcelona, retratada como uma cidade feia, suja e cinzenta. Neste submundo, onde prostituição, drogas, bebidas são frequentes, Uxbal tem seu ganha pão na exploração de imigrantes ilegais africanos e chineses, incluindo corrupção da polícia. Ele recebe um diagnóstico que tem câncer avançado na próstata, já com evolução para ossos e fígado, com chances de viver, se fizer os tratamentos químicos, no máximo dois meses. Com a notícia, ele repensa sua vida, especialmente a relação com os dois filhos, com a mulher, com seu irmão e com os africanos e chineses. Além disto, ele tem o poder da mediunidade, conseguindo contato com os mortos logo que há a desencarnação da alma. Desta vez, Iñárritu optou por fazer uma história linear, sem ter o mosaico de enredos que seus filmes anteriores (vide Amores Brutos, 21 Gramas e Babel). Mas para não negar a sua característica, em uma única história, há diversas informações: imigração ilegal, corrupção policial, relacionamento familiar, especulação imobiliária (um cemitério é destruído para dar lugar a um edifício), relacionamento homossexual, doença terminal, mediunidade. Esta profusão de temas poderia atrapalhar a história, pois nenhum deles tem um aprofundamento adequado (esta é uma constante nas críticas que li sobre o filme), mas achei que o enredo funcionou bem. O central é o drama de consciência por que passa Uxbal ao saber que tem pouco tempo de vida. Bardem, como sempre, está sensacional. A Barcelona mostrada nem de perto é a que conhecemos com seus famosos pontos turísticos. No filme, é sempre feia, suja, degradada. Quando alguns pontos turísticos são mostrados, a perspectiva é sempre à distância, meio sombreado (o caso do Montjuic e da Catedral da Sagrada Família), como se os personagens retratados vivessem à margem da euforia turística que toma conta da cidade. Ao ver o filme, entendemos o porque do título estar escrito de forma errada. De qualquer forma, podemos concluir que há beleza na tristeza, mesmo que de forma tão sofrida. O filme é forte, um soco inglês em nossa cara. Um dos melhores filmes que já vi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário