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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

BIUTIFUL

Depois de ver dois filmes infantis, mudei radicalmente de gênero, escolhendo um dos candidatos ao Oscar 2011 de melhor filme estrangeiro, em cartaz no Embracine CasaPark (R$8,00 meia entrada). Trata-se de Biutiful (Biutiful), co-produção México e Espanha de 2010, dirigida por Alejandro González Iñárritu. No início do filme, ainda nos créditos, fiz uma comparação com o delicioso filme de Woody Allen Vicky Cristina Barcelona, por dois motivos. Ambos tem o ator espanhol Javier Bardem no elenco e são rodados em Barcelona. As semelhanças acabam por aí. Enquanto no primeiro predomina o glamour e a beleza de Barcelona, além de Javier Bardem fazer um bon vivant, cheio de charme e sedutor. Já em Biutiful, Javier Bardem é Uxbal, um homem que vive no submundo de Barcelona, retratada como uma cidade feia, suja e cinzenta. Neste submundo, onde prostituição, drogas, bebidas são frequentes, Uxbal tem seu ganha pão na exploração de imigrantes ilegais africanos e chineses, incluindo corrupção da polícia. Ele recebe um diagnóstico que tem câncer avançado na próstata, já com evolução para ossos e fígado, com chances de viver, se fizer os tratamentos químicos, no máximo dois meses. Com a notícia, ele repensa sua vida, especialmente a relação com os dois filhos, com a mulher, com seu irmão e com os africanos e chineses. Além disto, ele tem o poder da mediunidade, conseguindo contato com os mortos logo que há a desencarnação da alma. Desta vez, Iñárritu optou por fazer uma história linear, sem ter o mosaico de enredos que seus filmes anteriores (vide Amores Brutos, 21 Gramas e Babel). Mas para não negar a sua característica, em uma única história, há diversas informações: imigração ilegal, corrupção policial, relacionamento familiar, especulação imobiliária (um cemitério é destruído para dar lugar a um edifício), relacionamento homossexual, doença terminal, mediunidade. Esta profusão de temas poderia atrapalhar a história, pois nenhum deles tem um aprofundamento adequado (esta é uma constante nas críticas que li sobre o filme), mas achei que o enredo funcionou bem. O central é o drama de consciência por que passa Uxbal ao saber que tem pouco tempo de vida. Bardem, como sempre, está sensacional. A Barcelona mostrada nem de perto é a que conhecemos com seus famosos pontos turísticos. No filme, é sempre feia, suja, degradada. Quando alguns pontos turísticos são mostrados, a perspectiva é sempre à distância, meio sombreado (o caso do Montjuic e da Catedral da Sagrada Família), como se os personagens retratados vivessem à margem da euforia turística que toma conta da cidade. Ao ver o filme, entendemos o porque do título estar escrito de forma errada. De qualquer forma, podemos concluir que há beleza na tristeza, mesmo que de forma tão sofrida. O filme é forte, um soco inglês em nossa cara. Um dos melhores filmes que já vi.

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