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sábado, 19 de fevereiro de 2011

QUANDO O CANTO É REZA


Noite de quinta-feira. Estava exausto, após dois dias coordenando uma reunião, oito horas por dia, a maioria do tempo em pé. Longe de casa, com trânsito lento, fiquei ouvindo o cd Quando O Canto É Reza, último trabalho de estúdio de Roberta Sá, que para este disco, se uniu ao Trio Madeira Brasil. Delicioso de se ouvir, o cd só possui gravações de canções do baiano Roque Ferreira. No caminho para casa, consegui relaxar a mente, embora o corpo pedia uma cama, um urgente descanso. Porém, a mente venceu o corpo, pois tinha ingresso (R$ 20,00 a inteira) para assistir ao show baseado justamente neste cd que escutava no carro. O preço popular do ingresso é devido ao Projeto MPB Petrobrás, que trouxe nos últimos dois anos algumas atrações da música brasileira ao palco do principal teatro de Brasília, a Sala Villa Lobos do Teatro Nacional Cláudio Santoro (que precisa urgentemente de uma repaginada e de uma ampla reforma). O projeto tem uma característica importante: um artista local abre o show da atração da noite. Nesta quinta-feira, com o teatro totalmente lotado, a abertura ficou por conta de Henrique Neto, filho de Reco do Bandolim, presidente do sempre aclamado Clube do Choro de Brasília. Henrique mostrou que filho de peixe, peixinho é. Excelente violinista, fez um show curto, mas memorável. Não se intimidou com as proporções do teatro, tocando lindamente seu violão, reverenciando músicos de primeira grandeza, como Ernesto Nazaré, Baden Powell, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, entre outros. Foi bastante aplaudido ao final de sua apresentação. Como sempre acontece em espetáculos onde há mais de uma atração, houve uma demora na montagem do palco para o show principal, mas o tempo de espera acabou sendo maior do que o programado, pois houve problemas com um dos retornos dos músicos do Trio Madeira Brasil. O anúncio do show de Roberta Sá & Trio Madeira Brasil se deu às 22 horas. Foi lindo. O repertório do show foi todo de canções de Roque Ferreira, basicamente as músicas do cd, como as ótimas Zambiapungo (esta Roque Ferreira fez em parceria com um dos integrantes do Madeira Brasil, Zé Paulo Becker), Tô Fora, Orixá de Frente, Cocada, Xirê e A Mão do Amor. Achei o show mais vibrante do que o disco. Os percussionistas Zero e Paulino Dias, também presentes no disco, impuseram um ritmo mais pulsante no palco. As músicas cresceram executadas ao vivo. Roberta Sá, como sempre, foi uma simpatia, dançando, cantando e seduzindo a plateia. Os três integrantes do Madeira Brasil, discretos, elegantes, mas de uma competência ímpar. A sinergia entre músicos e cantora foi total. Os flashs de câmeras fotográficas e de celulares não paravam de pipocar na plateia. Havia momentos em que Roberta Sá parecia fazer poses para as fotos. Embora as músicas de Roque Ferreira, em sua maioria são um convite para sacolejar o corpo, com sambas bem marcados como os feitos na Bahia, o público ficou contemplando o belo espetáculo que assistíamos. Roberta Sá usava um belo vestido longo, de um bege bem claro, com aplicações douradas em forma de flores. Nas duas mãos, aneis grandes também em motivos florais. Como em muitas das músicas o sincretismo religioso baiano está presente, imaginei que Roberta Sá, com aquele figurino, queria fazer uma oferenda à Iemanjá. Na verdade, ela fez uma oferenda de alegrias para todos que compareceram à Sala Villa Lobos na noite de quinta-feira. O show durou, com o bis, 75 minutos. Quando fui embora, até o corpo estava relaxado. Dormi um sono tranquilo. Belo show, que merece ser visto e revisto.


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