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sábado, 30 de julho de 2011

DIREITOS HUMANOS IMAGENS DO BRASIL


Ainda na Caixa Cultural conferi a exposição "Direitos Humanos Imagens do Brasil". Esta mostra foi aberta em 21 de julho e permanece em cartaz na Galeria Acervo até o dia 11 de setembro. Em 60 imagens, a curadoria nos mostra a história e a luta pelos direitos humanos no nosso país. Para cada imagem, há um pequeno texto explicativo, nos situando do que acontecia na época. É claro que os textos são superficiais, não aprofundam o tema, mas dão um toque para nossa curiosidade agir, fazendo pesquisas na internet, por exemplo. Há um caminho a ser seguido, obedecendo uma ordem cronológica. Para seguir esta ordem, basta se orientar por setas amarelas pregadas no chão. Os períodos da história do Brasil são divididos em anos, apresentando Brasil Colônia (1500-1822), Brasil Império (1822-1889), República Oligárquica (1889-1930), Revolução de 30 e Governo Vargas (1930-1945), A Volta da Democracia (1945-1964), Golpe e Afirmação da Ditadura (1964-1976), A Luta pela Democracia (1976-1985), Fim da Ditadura, Avanços e Recuos (1985-1997), e A História Não Acaba... (1997-2010). Nestes períodos, relembrei de muita coisa que estudei em livros escolares, o que vi em filmes e o que vivenciei. Foi um interessante passeio pela história brasileira sob o ângulo dos Direitos Humanos. Evoluímos muito, mas como bem lembra o último capítulo exposto, a história não acabou. Ainda há muito pelo que lutar e conquistar.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

VLAVIANOS


Aproveitando que estava na Caixa Cultural para conferir a individual de Tatiana Blass, aproveitei para ver as outras exposições nas demais galerias do espaço. Na Galeria Principal, a mostra "Espaço Arte Arço - A Escultura de Vlavianos" do grego Nicolas Vlavianos, com obras feitas em aço, além de esboços, desenhos, documentos, fotografias e pinturas. A mostra contém peças de vários períodos do artista, com esculturas e desenhos, alguns deles esboços para a escultura final.
Nas Galerias Piccola I e II, uma exposição montada especialmente para o pequeno espaço destas duas galerias. A mostra se chama "O Espaço Aberto". São quatro artistas ocupando as salas, dois em cada uma: Eliane Prolik, Cleverson L. Sálvaro, Deborah Bruel e Joana Corona. Rapidamente percorri as quatro obras, ficando com uma questão na cabeça: as obras foram feitas para existirem fisicamente enquanto durar a exposição, ou seja, de 05 de julho a 14 de agosto de 2011. Um contraponto para as esculturas de Vlavianos, expostas na Galeria Principal, especialmente quando para se alcançar as galerias menores, temos que passar pela maior, já que há obras do artista grego que datam da década de cinquenta. Uma discussão interessante se trava neste contraponto: a efemeridade de uma obra de arte nos dias atuais.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

TATIANA BLASS

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Quando estive na Bienal de São Paulo, ao final de 2010, uma artista brasileira me chamou a atenção: Tatiana Blass, com sua obra "Metade da fala no chão_piano surdo", produção de 2010, formada por um piano de cauda e cera. A cera tomava os teclados, a parte interna do instrumento e o chão embaixo do piano e do banquinho do pianista. Fiquei curioso em relação a outras obras da artista. Qual foi minha surpresa quando recebi um e-mail com a programação da Caixa Cultural de Brasília no mês de junho e vi que uma exposição desta artista figurava como destaque. Esta individual de Tatiana Blass entrou em cartaz na Galeria Vitrine (2º piso) no dia 21 de junho e permanece em exibição até o próximo dia 31 de julho. Tive a oportunidade de conferir as obras expostas no final de semana passado. Obras em cera fazem parte da mostra, inclusive a que ilustra a capa de seu catálogo. Todas são interessantes e tratam de vida/morte de maneira inusitada. A obra "Quanto menos dorme, quanto menos sono há", de 2010, se olhada de longe, temos a impressão que o cachorro, em tamanho natural, é real e que está morto. De perto, vemos que se trata de um cão feito com parafina. São poucas as obras expostas, mas conseguimos ter uma noção geral do trabalho da artista. Há duas obras com parafina, algumas pinturas, uma vídeo-instalação, cujo filme dura em torno de quatro minutos. Para ouvir, basta colocar o fone de ouvido pendurado ao lado da televisão. O texto que a atriz declama no vídeo trata de ilusão/realidade, enquanto um mágico faz exercícios com uma bola ao seu lado. É um diálogo apropriado com as demais obras expostas. Embora tenha conhecido a artista com uma obra em parafina, nesta sua individual na Caixa Cultural de Brasília a mais impactante para mim foi a denominada "Cerco", um belo faisão taxidermado em pleno voo é preso por uma lâmina de latão. A plástica da instalação é linda e a mensagem de liberdade/prisão veio instantaneamente em minha mente. A imagem da obra ficou em minha cabeça. Bela exposição.


"O Cerco", 2009 - Tatiana Blass

terça-feira, 26 de julho de 2011

ANO DA HOLANDA NO BRASIL


Até dezembro, vários eventos ocorrerem no país para celebrar o Ano da Holanda no Brasil. São eventos esportivos, empresariais, gastronômicos, culturais (música, artes cênicas, artes plásticas, cinema, fotografia) bem diversificados. A concentração destes eventos acontece no Rio de Janeiro ou em São Paulo, mas é bem ficar atento na programação, disponível no site da mostra, pois há previsão de eventos em várias cidades brasileiras, tanto capital, quanto interior. Muitos eventos já consagrados no calendário nacional aproveitam a deixa para homenagear a Holanda, como é o caso da tradicional festa das flores que acontece na primavera na cidade de Holambra, interior de São Paulo, inspirada em terras holandesas. Em Brasília, fui ver a exposição que integra tal celebração, a World Press Photo 11, em cartaz desde o dia 08 de julho, no anexo do Museu Nacional da República, uma construção circular com dois pisos, idealizado no projeto de Niemeyer para abrigar um restaurante (ainda não cumpriu esta função oficialmente), que tem as paredes em vidro escuro e uma grande rampa de acesso. A mostra de fotografia fica ali exposta até o dia 30 de julho, com entrada gratuita. É a principal mostra de fotografia do mundo, estando em em 54ª edição cuja sede da curadoria fica em Amsterdã, Holanda. Um júri especialmente formado pela curadoria, este ano sob a responsabilidade de Erik de Kruijif, escolhe entre milhares de fotos enviadas por profissionais do jornalismo espalhados por todo o mundo, as grandes vencedoras. Os prêmios são divididos em categorias, além de menção honrosa proposta pelo júri. Tais categorias são: Esportes, Pessoas e Notícias, Notícias em Geral, Notícias em Destaque, Retratos, Assuntos Atuais, Arte e Entretenimento, Vida Cotidiana e Natureza. A fotografia campeã na categoria Retratos foi a escolhida para ilustrar o cartaz da versão 2011, que, pela primeira vez, é mostrada em Brasília. De autoria da fotógrafa sul-africana Jodi Bieber, esta fotografia mostra uma afegã que teve o nariz e a orelhas decepados pelo marido depois que fugiu de casa devido aos maus tratos que vinha sofrendo. Hoje, a jovem fotografada, a afegã Bibi Aisha, está sob tratamento médico para reconstituição do rosto, depois de ter fugido e sido acolhida por uma ONG que cuida de mulheres que sofrem abusos físicos desta natureza. O retrato consegue transmitir tanto o horror do mau trato quanto a simplicidade e a beleza desta mulher, deixando de lado qualquer repulsão à imagem apresentada. Acertadíssima a escolha do cartaz, embora creio ter sido difícil esta tarefa pelo nível técnico das fotos ganhadoras. Um cartaz logo na entrada da mostra informa ao público que há fotografias que podem chocar, motivo pelo qual é desaconselhável a entrada de menores de 14 anos. Realmente há imagens chocantes, como as de corpos decapitados na guerra entre grupos rivais que lidam com o narco-tráfico na fronteira de México e Estados Unidos, de enchentes no Paquistão, do terremoto no Haiti, da destruição provocada pela erupção de um vulcão na Ilha de Java, da morte de um bombeiro em meio a petróleo derramado no mar, de uma doente terminal de AIDS na África, de cadeia superlotada em Serra Leoa, além de uma série de fotos de um tiroteio na Avenida Brasil, Rio de Janeiro, em março de 2010, que recebeu menção honrosa do júri para o brasileiro Alexandre Vieira na categoria Notícias em Destaque. Apesar desta lista enorme de imagens chocantes, há um número maior de bonitas imagens, onde beleza e lirismo convivem na fotografia, mesmo sendo elas de cunho jornalístico (aqui não vai nenhum desmerecimento por esta facção da fotografia, mas até então não vinculava o fotojornalismo com arte). Ficam nesta "categoria" belas fotos da natureza (uma ave voando em direção ao fotógrafo é de tirar o chapéu), de esportes (embora agressiva em uma primeira olhada, revela-se bela a foto de uma tourada na Espanha, onde o touro atinge o toureiro, com um dos chifres perfurando a parte de baixo do seu queixo, sua língua e saindo por sua boca - na informação desta fotografia, sabemos que o toureiro foi hospitalizado, se recuperou e voltou às arenas, exercendo seu ofício), fotos de indianos em cidade do interior deslumbrados com a exibição de algum filme, além de muitas outras. Afinal são 177 fotos, de 55 fotógrafos oriundos de 23 países diferentes. Todas as fotos tem um texto explicativo, em português e em inglês. Para ver tudo com calma, lendo cada foto, é necessário, no mínimo, uma hora de visita. Para quem interessar, está à venda um catálogo da mostra por R$ 50,00 no local. Cópia do cartaz é fornecida gratuitamente. Vale a pena visitar a mostra.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

BAGATELAS


Meados do século XX, inverno, interior dos Estados Unidos, uma fazenda, seis personagens, um assassinato. Este é o mote do novo espetáculo do Grupo Cena, em cartaz até o próximo dia 07 de agosto, com sessões de quinta a domingo, no pequeno e aconchegante teatro do Espaço Cena. Fui no último sábado, quando houve três black outs na 205 norte, onde fica o teatro. Por causa da falta de energia, houve um pequeno atraso para a nossa entrada. Mesmo na escuridão, o público não arredou pé do lugar. O texto é de Susan Glaspell, tradução de Danilo Lobo e direção de Guilherme Reis. Reis teve como assistentes Dimer Monteiro e Chico Sant'Anna. Hugo Rodas, juntamente com o grupo, assina a cenografia, figurinos e objetos de cena. O cenário é simples, minimalista, mas o suficiente para deixar a plateia imaginar que estamos vendo uma cozinha de fazenda. O ingresso custou R$ 20,00. O espetáculo tem a duração de 45 minutos. A história é simples: uma investigação de um assassinato do fazendeiro, cuja suspeita recai sobre sua mulher, interpretada por Adriana Lodi. No momento da investigação, ela está na cadeia. Assim, Reis criou uma cena em flashback, mantendo-a no palco nos primeiros momentos da encenação, em uma montagem interessante de luzes. Durante a investigação, estão na casa o promotor (João Antônio), o delegado (William Ferreira), o fazendeiro vizinho (Sérgio Fidalgo), a mulher do delegado (Carmem Moretzsohn) e a mulher do vizinho (Bidô Galvão). O texto, escrito por uma mulher, é feito para mulheres e isto fica claro na encenação. Os personagens masculinos são apenas coadjuvantes, para mostrar o pensamento masculino sobre o papel da mulher na sociedade da época em que foi escrito, em contraponto à atitude feminina, muito bem mostrada pelas três atrizes. As mulheres dominam a encenação. Sem desmerecer os atores, a peça é toda das atrizes. Bidô Galvão me fez sentir o mesmo frio que sua personagem sentia, Adriana Lodi passou toda a amargura enclausurada na solidão vivida pela dona da fazenda, e Carmem Moretzsohn transmitiu a fragilidade feminina diante de fatos contundentes, sem deixar de ser forte e solidária. Quem matou o fazendeiro pouco importa na história, mesmo porque as evidências ficam claras desde o início. O que importa no texto é passar o sentimento feminino, este olhar cuidadoso e peculiar, mostrar a força do sexo frágil (pode ser batida esta frase, mas temos que pensar que o texto é da primeira metade do século passado). Trabalho de atrizes sensacional. Com este espetáculo, o Grupo Cena vai se consolidando em Brasília com montagens inéditas, intimistas, que tocam o público. Tive a oportunidade de ver as cinco montagens que o grupo já encenou na cidade - Dinossauros, Fronteiras, Varsóvia, Heróis e Bagatelas - e sempre saio com a sensação de querer ver mais. Quando anunciam uma nova peça, ou mesmo uma volta aos palcos de alguma das já exibidas, me programo rapidamente para estar presente. É teatro do bom, com certeza. Por falar em volta, aguardo um retorno da bela e triste peça Varsóvia.

sábado, 23 de julho de 2011

SOY LOCO POR TI AMERICA - PAULINHO MOSKA, FRANCISCA VALENZUELA E ANA CAÑAS

Mais um final de semana cultural. Bem agitado, por sinal, com muitas opções em Brasília. Com ingresso comprado com antecedência (R$ 7,50, meia entrada, correntista Banco do Brasil), a noite de sexta-feira foi reservada para conferir o último show do projeto Soy Loco Por Tí America, coordenado por Paulinho Moska e que ocupou o Teatro I do CCBB durante as noites frias de julho em Brasília, sempre de sexta-feira a domingo. O show estava marcado para ter início às 21 horas. Cheguei cedo, motivo pelo qual resolvi comer algo rápido no movimentado Bistrô Bom Demais. Havia apenas uma mesa desocupada. Tratei logo de me sentar. Pedi um sanduíche recheado de frango grelhado, shimeji e queijo no pão ciabatta, acompanhado de Coca Cola Zero. Enquanto esperava, lia os jornais do dia. Na mesa ao lado, quase todas as atrações da noite: os músicos da banda de Moska, ele próprio e a convidada latino-americana do final de semana, Francisca Valenzuela. Uma enorme fila de espera se formava para tentar comprar os ingressos dos convidados desistentes. O sanduíche estava saboroso. Com tempo de sobra, pedi um cheesecake ao estilo de New York. Não foi uma boa pedida. A calda estava por demais ácida. Pedi um café para fechar o lanche. Paguei a conta, peguei a Nota Legal e fui para a porta do teatro, que ainda não estava aberta. Neste tempo, chegou a outra convidada da noite, a cantora paulistana Ana Cañas, cercada de assessoras. Meu assento era bem localizado, na primeira fila, centralizado. O show teve atraso de dez minutos para começar. Como nos dois shows anteriores que vi deste projeto, Paulinho Moska entrou entoando versos das mesmas canções, fez um discurso muito semelhante, dizendo que a noite seria uma espécie de beijo de língua, com muita saliva, entre o Brasil e a América, cantou trechos de duas canções, Elegia, de Péricles Cavalcanti e Augusto de Campos, sob poema de John Donne, e Três Caravelas, música do disco Tropicália ou Panis et Circenses, versão de João de Barro para Las Tres Carabelas (Algueiro Junior e Moreau). Terminada as duas canções, ele chamou ao palco a chilena Francisca Valenzuela com quem dividiu um belo rock chamado Dulce. Francisca vestia um modelo de menina sapeca, com saia curta, pernas à mostra, sapatilhas e uma camisa masculina amarela, com cintura marcada por um cinto dourado. A cantora chilena logo se entrosou com a plateia, cantando as primeiras músicas apenas ao piano. Uma escolha diferente para uma cantora com pegada pop-rock. Em uma destas músicas, ela batia os pés no chão, em ritmo bem marcado, enquanto tocava o piano, mas logo fez sinal para nós batermos palmas, dizendo que faltava uma bateria para acompanhá-la. Ótima interação cantora-público. Quando ela chamou Ana Cañas ao palco, foi um delírio. Ao final da apresentação das duas, parecia que já se conheciam há anos, mesmo tendo as famosas colas em pedestais, pois ficou claro que tinham acabado de conhecer o repertório uma da outra. Foi uma mistura de música do disco Hein?, mais recente trabalho de Cañas e das novas composições de Valenzuela. Um dos grandes momentos do show foi quando dividiram o microfone para cantar o bolero No Quiero Tus Besos, escrito por Ana Cañas e a mexicana Natalia Lafourcade, música com a qual Cañas disse estar homenageando o projeto que reuniu cantores brasileiros e sul-americanos nos palcos dos CCBB de Brasília e de São Paulo. Para o bis, reservaram uma bonita interpretação de Lágrimas de Diamantes, homenageando, desta forma, o anfitrião do projeto, Paulinho Moska, autor desta linda composição. Para mim, foi o melhor show que assisti do projeto quando analisamos a sinergia entre os cantores. Individualmente, gostei muito da apresentação da banda colombiana Los Aterciopelados, no primeiro final de semana deste projeto. Na saída, um amontoado de gente ao redor de uma minúscula mesa tentava comprar um cd de Valenzuela. Rapidamente a versão mais simples se esgotou. Quando consegui chegar à mesa, havia poucas unidades da versão dupla, com cd e dvd, por R$ 40,00, do primeiro trabalho da cantora, Muérdete La Lengua. Comprei um exemplar, que tratei de ouvir assim que cheguei ao carro. Antes de ir embora, passei perto do display onde ficam os folders dos eventos do CCBB. Em cima do balcão da bilheteria, já fechada, pelo lado de fora, disponível para quem quisesse pegar, alguns envelopes vermelhos me chamaram a atenção. Peguei um. Ao abrir, vi que era um convite, válido para duas pessoas, para a vernissage da mostra "Anticorpos - Fernando & Humberto Campana 1989-2009" na segunda-feira, 20 horas, dia 25 de julho. Levei o envelope comigo, mesmo sabendo que não poderei estar presente. Ric irá. Espero que ele consiga pegar um catálogo da mostra para mim.


Francisca Valenzuela e Ana Cañas - Show do projeto Soy Loco Por Tí America


Ana Cañas - Show do projeto Soy Loco Por Tí America


Francisca Valenzuela - Show do projeto Soy Loco Por Tí America


Paulinho Moska - Show do projeto Soy Loco Por Tí America


Francisca Valenzuela e Ana Cañas - Show do projeto Soy Loco Por Tí America


Francisca Valenzuela - Show do projeto Soy Loco Por Tí America


Despedida do show de Francisca Valenzuela e Ana Cañas - Projeto Soy Loco Por Tí America

sexta-feira, 22 de julho de 2011

SOBRE TODAS AS FORÇAS - CIDADE NEGRA - DISCOTECA ESSENCIAL (10)


1994. Este era o ano. Tinha acabado de comprar um som novo, modelo mais avançado da época (ainda funciona e está na casa de meus pais em Belo Horizonte). Compacto e potente, ótimo para ouvir música no quarto, por exemplo. Junto com o som, comprei o cd Sobre Todas As Forças, lançamento de 1994,  selo Epic/Sony Music, do grupo carioca de reggae Cidade Negra, o primeiro com o vocalista Tony Garrido (nos dois primeiros trabalhos gravados do grupo o vocalista era Ras Bernardo). Confesso que comprei pelo grude radiofônico Onde Você Mora? (Marisa Monte & Nando Reis), pois não era muito fã de reggae. O cd me surpreendeu. De pegada pop, todo o conjunto é bom, alto astral. Embora mais pop, o reggae não foi deixado de lado. A música que mais confirma a origem musical do grupo é Querem Meu Sangue (The Harder They Come), versão brasileira para um sucesso de Jimmy Cliff. É um disco enxuto, apenas com dez faixas. O grupo passou, a partir deste terceiro disco, a gravar composições de outros músicos, como a gostosa Luta de Classes (Chico Amaral & Samuel Rosa), e a já citada Onde Você Mora?. Sete canções são de autoria de um ou mais integrantes da banda. Destaco a dançante Doutor (Bino Farias, Lazão, Da Gama & Tony Garrido) e Pensamento (Bino Farias, Lazão, Ras Bernardo & Da Gama). Era o cd que mais tocava no meu som. Na verdade, ele não era retirado nunca do cd player. Para mim, o grupo nunca mais gravou nenhum disco tão gostoso de se ouvir, do início ao fim. É um disco que figura, com certeza, em minha discoteca essencial.

Cidade Negra - Sobre Todas As Forças - 1994

quinta-feira, 21 de julho de 2011

terça-feira, 19 de julho de 2011

FINAL DE SEMANA NO RIO DE JANEIRO - DOMINGO - ALTA GASTRONOMIA NO ALMOÇO E MUSICAL À NOITE

Acordei no domingo com gritos na rua, pouco antes de 8:30 horas, ou seja, ainda de madrugada para mim. Eram gritos de incentivo, afinal os primeiros atletas da Maratona Internacional do Rio de Janeiro passavam, ou melhor, corriam, em frente ao hotel onde estava hospedado. Voltei a dormir, só levantando para tomar café da manhã, quase no final do horário. O tempo estava nublado, mas bem abafado. Não tive ânimo para sair. Voltei para o quarto e fiquei a ler jornais e revistas que tinha levado comigo na bagagem. Só saímos para almoçar.
Pegamos um táxi em direção ao Leblon, pois escolhemos um restaurante de culinária portuguesa, o premiadíssimo Antiquarius (Rua Aristides Espínola, 19, Leblon). Pela corrida de táxi, rapidíssima, por sinal, pagamos R$ 13,00. O céu já estava bem azul, com muita gente andando na pista ao longo das praia de Ipanema e Leblon que é interditada ao tráfego de carros aos domingos. Havia uma brisa agradável. Não perdemos tempo, pois sei que o carioca almoça tarde e que o Antiquarius é muito requisitado nos finais de semana. Fomos muito bem recebidos. Mesa para dois. Era a primeira vez que ia neste restaurante. Já tinha ido à  unidade de São Paulo por mais de uma vez, porém ainda não tinha tido uma oportunidade para conhecer a bela casa carioca. Cheio de salões pequenos, ficamos em uma mesa localizada em uma sala onde apenas cinco mesas ocupavam o espaço. Decoração clássica, com quadros antigos, objetos de decoração, todos lembrando, obviamente, um antiquário. Logo que sentamos, o couvert chegou à mesa. E que couvert! Antes de começar a comer, escolhi um bom vinho português para celebrar o momento, pois, afinal, não é todo dia que estamos em um dos seis restaurantes brasileiros com a cotação máxima de estrelas (três) do conceituado e tradicional Guia Quatro Rodas. O vinho tinto escolhido foi o Casa Cadaval Trincadeira 2008 Vinhas Velhas, produzido na região DOC do Tejo (R$ 169,00 na carta). Tenho um Barca Velha 1999 em minha adega. Fiquei curioso para ver se a carta de vinhos do restaurante tinha este vinho. Tem, pelo preço de R$ 2.979,00 a garrafa. E olha que ele nem está ainda no ponto para se beber, pois as revistas especializadas indicam que este vinho estará perfeito após vinte anos de guarda, no mínimo. O vinho Casa Cadaval Trincadeira é maravilhoso! O couvert vai chegando aos poucos. É tanta coisa que quase se dispensa o almoço em si. Inicialmente, colocaram uma cesta com torradas bem finas, queijo branco fresco, patê de fígado e manteiga. Em seguida, uma mini lasanha fria de berinjela, pasta de tomate seco e alcaparras (tão boa que pedi outro pedaço). Também vieram à mesa oferecer pães diversos, todos quentinhos. Um prato com mini-croquetes de carne e outro com mini-bolinhos de bacalhau foram devorados rapidamente por mim e por Ric. Uma taça com caldo de cozido também fez parte do couvert. Estava em temperatura adequada para se beber sem queimar a boca. Aroma e sabor surpreendentes. E, por fim, um prato com queijo da Serra da Estrela derretido. Iguaria maravilhosa, que adoro. Com tanta coisa no couvert, não quisemos nenhuma entrada. Fomos direto ao prato principal. Enquanto Ric escolheu o Bacalhau a Lagareira, eu já entrei no restaurante com a ideia de comer um Arroz de Pato. Esta foi minha escolha. Enquanto bebíamos, conversávamos, navegávamos na internet em nossos iPhones (wi-fi liberado mediante senha) e deliciávamos com o couvert, nem vimos o tempo passar. O restaurante estava lotado a esta altura, já com gente em fila de espera. Os pratos chegaram fumegando à mesa. O bacalhau de Ric já veio montado no prato, enquanto meu arroz de pato veio em uma caçarola de cobre. Quando o garçom abriu a panela, o aroma penetrou fundo em minhas narinas, alertando-me do que viria pela frente: um prato cremoso, com o pato quase derretendo na boca. Já sabia da fama deste prato, mas não sabia que era tão bom. Fiquei arrependido de não conseguir comer tudo, pois exagerei no couvert. Não teve como escolher sobremesa, embora o prato que o garçom trouxe à mesa com uma mostra da variedade do dia enchesse minha boca de água. Ric, inacreditavelmente, escolheu a única opção que não tem origem portuguesa, um creme brulé. Queria pastel de belém, mas não vi este famoso doce português nas opções mostradas pelo garçom. Nem ousei perguntar se tinha, pois já seria gula. Quando Ric terminou seu doce, pedimos café expresso. Meus olhos brilharam ao ver que o café era acompanhado por um pastel de belém. Deixei a gula me dominar. Comi o pastel de belém sem sentimento de culpa. Pensei cá comigo: "exagero hoje e como alface e afins durante uma semana". Saímos do restaurante depois das 16 horas e ainda havia gente na fila de espera. A conta ficou em R$ 512,00.


Restaurante Antiquarius


Vinho português Casa Cadaval Trinadeira 2008 Vinhas Velhas - Restaurante Antiquarius


Bacalhau a Lagareira - Restaurante Antiquarius


Arroz de Pato - Restaurante Antiquarius

Fiz uma proposta de voltar a pé para o hotel. Ric aceitou. Depois lembrei que estávamos bem distantes, o que me fez mudar de ideia e pegar o primeiro ônibus que passava. Pagamos R$ 4,80 cada um pela passagem, descendo na Praça General Osório, em Ipanema, indo o restante a pé até o hotel. No caminho, bares lotados para o jogo das quartas de finais da Copa América entre Brasil e Paraguai. Não tivemos muito tempo para descansar. Naveguei um pouco na internet, tomei um banho, coloquei uma roupa mais quente e saímos de novo. Resolvemos ir de ônibus até o Shopping Leblon, onde está localizado o Teatro Oi Casa Grande, local no qual está em cartaz o musical Um Violinista no Telhado, espetáculo recomendado por amigos e que tinha comprado ingresso pela internet, ao custo de R$ 96,00 cada para a última fila da plateia. Andar de ônibus no Rio de Janeiro entre os bairros de Copacabana, Ipanema e Leblon é muito fácil. Há uma infinidade de opções. Pegamos o primeiro que passou na Avenida Rainha Elizabeth, a duas quadras de nosso hotel. Pelo rápido trecho, pagamos R$ 2,50 cada um. Chegamos no teatro às 18:00 horas. Tínhamos, portanto, uma hora de antecedência para o início do musical. Resolvi dar uma passada na Livraria da Travessa que fica no segundo piso do shopping. Ric ficou sentado do lado de fora da livraria, enquanto eu comprava revistas mensais de turismos e música. No caixa, vi o cd de Manu Santos (Nossa Alegria), lembrando-me de que havia lido uma resenha bem favorável ao disco. Como gosto de novidades, acabei comprando um (e não me arrependi, pois o cd é o que mais tenho ouvido desde então). Há uma entrada interna para o teatro para quem está no shopping. Não tinha fila. Uma atenciosa recepcionista verificou nossos ingressos (impressos em casa), fez a leitura do código de barras e nos indicou o elevador, onde um elegante ascensorista nos conduziu até o andar onde fica a entrada para a plateia. As portas ainda não estavam abertas. No apertado hall, uma pequena multidão de idosos aguardava. Ficamos impressionados com a quantidade de idosos, muitos com dificuldades de locomoção, que se aprontavam para ver um espetáculo. Isto, sim, é força de vontade. Isto sim é viver! Um estímulo e tanto para mim.


Teatro Oi Casa Grande


Pano de cena do musical Um Violinista no Telhado - Teatro Oi Casa Grande

Previsto para começar às 19 horas, houve um pequeno atraso de dez minutos. O espetáculo tem três horas de duração, com um pequeno intervalo de quinze minutos (quando todos saem às pressas para ir ao banheiro). Um Violinista no Telhado (Fiddler on The Roof), é um musical escrito por Jerry Bock, Sheldon Harnick, Joseph Stein e Jerome Robbins, tendo feito enorme sucesso na Broadway na década de 60, quando ficou em cartaz por sete anos, sendo ainda vertido para as telas de cinema em 1971. A versão brasileira é de Cláudio Botelho e a direção de Charles Moeller, dupla onipresente nos musicais brasileiros. Estrelada por José Mayer (Tevye), Soraya Ravenle (Golda) e mais 39 atores/cantores/bailarinos, sem contar os eventuais substitutos, o musical é ambientando em uma vila judia encravada no interior da Rússia em período pré-revolução. Nesta vila, o que importa são as tradições milenares do povo judeu. Uma pequena revolução acontece no lugarejo, tendo como eixo a família de Tevye e Golda, um casal pobre, que vive do leite que ordenham de suas vacas, para o sustento deles e de suas cinco filhas. As três filhas mais velhas são os fios condutores da revolução na tradição judia: uma se recusa a casar com o escolhido para ela, preferindo aquele por quem seu coração manda; outra se une a um homem que chega à vila, vindo da capital, com ideias novas (não fica claro, mas é um dos líderes da revolução que derrubou o czar russo) e a outra se casa com um russo não judeu, e ainda integrante da força policial da cidade. Apesar deste fundo político, o musical é leve, uma comédia deliciosa de se ver. Não é cansativo de forma alguma. Momentos mais dramáticos e de leveza são bem dosados, sempre ligados com números coreografados sensacionais. Os efeitos especiais utilizados também são um dos pontos a destacar da montagem brasileira (a cena do sonho de Tevye é lírica, assombrosa, divertida e comovente ao mesmo tempo). Soraya Ravenle dá um show de interpretação, tanto nos textos quanto ao interpretar as canções. José Mayer para mim foi uma agradável surpresa. Não o acho um ator versátil. Aos meus olhos, ele sempre faz o mesmo papel, o de eterno galã de novelas, mas no musical, ele mostra um lado cômico que não conhecia, canta, dança, nos emociona. Belo trabalho de ator. Desfez minha imagem de eterno galã (mesmo porque com a enorme barba grisalha, além de um pesado figurino, ele está bem longe de ser galã nesta montagem). A música instrumental que pontua cada momento do espetáculo é também digna de nota, pois não é chata e nem sonolenta. Também gostei de ver e conhecer algumas das tradicionais danças e rituais dos judeus, especialmente o casamento. O número de dança russa (aquela em que os bailarinos dançam agachados jogando as pernas para o alto) também foi legal de se ver. Ao final, valeu a pena ver este musical.



Quando saímos do teatro, eram 22 horas. Resolvemos comer uma pizza. Fomos caminhando até a Avenida Epitácio Pessoa, em frente ao Jardim de Alah, onde há alguns restaurantes. Escolhemos o que tinha pizza no cardápio, o Artigiano Ristorante (Avenida Epitácio Pessoa, 204, Jardim de Alah, Ipanema). Ficamos em uma mesa logo na entrada, na varanda, aproveitando a brisa fria que soprava na noite carioca. Aceitamos o couvert, que não tinha nada de excepcional (pães, grissini, foccacia, patê de fígado, manteiga e pasta de tomate seco, ricota e pimentão vermelho). Como nossa opção era pizza e no cardápio só havia um preço, perguntamos ao garçom o tamanho dela. Ele explicou sem explicar muito. Ficamos sem entender. Pedimos uma com dois recheios: margherita (o favorito de Ric) e abobrinha, flor de abobrinha e camarões. A pizza veio muito rápido. O tamanho era individual, do tamanho de um prato, além da massa ser bem fina. Assim, tivemos que pedir outra, mas mudamos os recheios: metade presunto de Parma, mussarela e parmesão com a outra metade de mussarela, manjericão com berinjela e abobrinha grelhadas (ambas cortadas em rodelas). A primeira pizza devoramos rapidamente, pois estávamos com fome. Não há como errar no recheio da pizza margherita e a de abobrinha com camarões estava digna, mas a flor de abobrinha não tinha sabor. Já na segunda pizza, as rodelas da berinjela e da abobrinha foram cortadas grosseiramente, não ficando grelhadas no ponto, pareciam ainda cruas, enquanto o parmesão no recheio da metade que tinha o presunto de Parma estava com sal além do ponto. Não comi tudo. Pedi um café. Perguntei se eles tinham descafeinado. O garçom me respondeu que não, que a única opção era o expresso. Desisti de qualquer argumentação (não é a primeira vez que ouço esta pérola), bebendo a "única" opção da casa em café. Quando chegamos, já tínhamos lido no cardápio que a casa não aceitava cartões de débito e/ou crédito como forma de pagamento. Pagamos a conta em dinheiro, ou seja, R$ 122,00 (foram R$ 22,00 em moedas). Este tipo de postura em alguns restaurantes no Brasil, especialmente em uma cidade tão turística como o Rio de Janeiro, me espanta um pouco. É muita sovinice dos proprietários. Se tivesse gostado da pizza, talvez não voltaria pelo fato de não aceitarem cartões. Mas como nem a comida me agradou, a chance de voltar ali é perto de zero. Saímos do Artigiano pouco depois de 23 horas. Na porta do restaurante, um ônibus parou porque o sinal estava fechado. Pedi para abrir a porta. O motorista nos atendeu. Pagamos R$ 2,50 a passagem individual. O ônibus era um freezer, pois a temperatura do ar condicionado estava muito baixa. Descemos na primeira parada após a Praça General Osório, na esquina da Rua Bulhões de Carvalho. Estávamos bem próximos do hotel. Lá chegando, arrumei a mala e deitei para dormir, mas fiquei rolando na cama, de um lado para o outro até três horas da madrugada (pelo menos esta é a última hora que lembro de ter visto no rádio relógio ao lado da cama). Culpei o café que bebi no final da noite pela falta de sono. Às 6:00 horas o relógio despertou. Era hora de levantar, acabar de arrumar as coisas, tomar café da manhã, fazer check out no hotel, pegar um táxi até o Aeroporto de Santos Dumont (R$ 25,00 a corrida), fazer check in na TAM, aguardar a hora de embarque para voltar a Brasília na manhã de segunda-feira. Já em Brasília, onde chegamos um pouco antes do meio-dia, pegamos Getúlio na casa de nossos amigos e fomos para casa, onde tomei um banho para acordar, almocei e fui trabalhar. A segunda-feira custou a passar. A noite custou a chegar. O sono dominava meu corpo o dia inteiro. Noite de segunda para terça-feira muito bem dormida, apesar da dor de garganta que se instalou em mim. Febre e faringite me impediram de ir ao trabalho nesta terça-feira. Tempo de ficar em casa, me recuperando.

domingo, 17 de julho de 2011

FINAL DE SEMANA NO RIO DE JANEIRO - SÁBADO - PUNK, ITÁLIA, CYRANO E SUÍÇA

O sábado amanheceu lindo no Rio de Janeiro. Céu azul, sol brilhante, brisa suave. Como bom amante da sombra, não fui me expor ao sol. Após um ótimo café da manhã no hotel, um banho relaxante para um dia cheio de programações. Como estou com o dedo do pé machucado, tive que colocar meia com sandália, fazendo com que usasse calça comprida para passar o dia. Saímos quase no fim da manhã do hotel. Nosso destino era o Centro da cidade, mais precisamente o Centro Cultural Banco do Brasil. Andamos seis quarteirões até a entrada da estação do metrô General Osório/Ipanema que fica no final da Rua Bulhões de Carvalho.


Desta vez, achei melhor comprar um cartão pré-pago, pois ele é recarregável e tem validade de cinco anos. Coloquei a carga mínima exigida para a primeira compra, ou seja, R$ 10,00. O preço unitário da viagem de metrô é R$ 3,10. Basta colocar o cartão próximo ao sensor de leitura na catraca para ela ser liberada. Não esperamos muito na estação. Logo um trem chegou. Fomos sentados até a Estação Uruguaiana, ponto mais próximo do CCBB RJ. Achei o Centro menos sujo do que a última vez que lá estive, mas nem pensem que estava limpo. Precisa de uma forte conscientização da população que lá frequenta para não jogar lixo no chão, especialmente dos bares e quiosques que servem comidas rápidas, além de muita cerveja. Caminhada de cinco a dez minutos, passando pela imponente Igreja Nossa Senhora da Candelária, infelizmente pichada em alguns pontos, alguns deles em locais inimagináveis.


Igreja Nossa Senhora da Candelária

Ao redor do CCBB o burburinho era grande. Paramos para algumas fotos da igreja e da Casa França-Brasil, situada atrás do centro cultural. Nos dois espaços culturais, bem como no Centro Cultural dos Correios, ao lado da Casa França-Brasil, ocorre, até o dia 24 de julho, o 19º Festival Internacional de Animação do Brasil, o famoso Anima Mundi. Este era o motivo do burburinho, com muitas oficinas acontecendo nos três espaços para crianças, jovens e adultos. Nunca tinha entrado na Casa França-Brasil. Aproveitamos a oportunidade. Um prédio bonito, em estilo neoclássico, foi inaugurado em 1820. De lá pra cá, teve várias funções, passando a exercer a função de espaço artístico a partir de 1990. É um espaço para exposições que estava todo ocupado com o festival de animação. No local, há uma bela sala de leitura e um pequeno café-bistrô.


Casa França-Brasil


Sala de leitura - Casa França-Brasil

Fomos para o CCBB, nosso destino, onde ainda estava montada a obra Oneness, de Mariko Mori, no centro do piso térreo, já exposta em Brasília. Filas grandes para as oficinas gratuitas, para o café, para comprar entradas para os vários filmes programados no festival. Muita gente enchia a unidade da Livraria da Travessa no piso térreo. Nosso objetivo era ver a exposição do 2º andar, mas antes verifiquei o que estava em cartaz nos dois teatros do centro cultural. O Bosque, que já vi em Brasília, e Cyrano de Bergerac. Como havia uma fila só para o teatro, resolvi tentar a sorte. E a sorte estava do meu lado, pois ainda havia ingressos para a segunda peça a R$ 5,00 (meia entrada). Compramos nossos ingressos para a sessão de 20 horas deste sábado intenso.
Subimos para o segundo andar, onde guardei minha mochila em escaninho próprio, antes de começar a percorrer todo o espaço expositivo para conferir "I Am A Cliché - Ecos da Estética Punk", com entrada franca e em cartaz até 02 de outubro. A mostra tem curadoria da francesa Emma Lavigne que tomou emprestado o título da música da banda punk X-Ray Spex para nomear a exposição, recheada de fotos da década de setenta, quando o movimento punk efervesceu e influenciou moda, comportamento, música, arte, fotografia. E são justamente as fotografias que dominam a mostra. Obras de Robert Mapplethorpe (somente as fotos de sua fiel amiga Patti Smith); de Andy Warhol, incluindo a famosa capa do disco para o The Velvet Underground & Nico, apenas uma serigrafia de uma banana; uma bela série de fotos do atormentado David Wojnaowicz que incluiu o rosto de Rimbaud em seu corpo em vários locais do submundo novaiorquino. Ainda há fotos de Bruce Conner, Dennis Morris, Destroy All Monsters, Peter Lujar, Jamie Reid, Linder, Stephen Shore, Ronald Nameth e David Lamelas. Todos mostraram com suas fotografias que viveram intensamente o pouco tempo de vida que a maioria deles teve. Não poderia faltar uma sessão de fotos de shows e de capas para discos da banda que explodiu o movimento para além da Inglaterra, o Sex Pistols. Ainda há uma sessão dedicada às capas de vinil, frente e verso, feitas por estes artistas para os músicos do movimento punk. Em cada sala, uma curta seleção musical de sucessos destas bandas. Diferente do que muitos pensam, nem só de música gritada e estridente era feito o repertório destes músicos. Um exemplo disto era tocado em uma das salas que eu visitava, uma balada triste da banda de New York, Anthony & The Johnsons. No hall dos elevadores, um casal de lésbicas se beijava apaixonadamente. Viva a diversidade!


I Am A Cliché - Ecos da Estética Punk - CCBB RJ

Depois de quarenta minutos vendo e lendo tudo sobre a exposição, fomos embora. Perto de 14 horas, decidimos pegar o metrô de volta para Ipanema. Era hora de almoçar. Antes, paramos duas vezes na Avenida Presidente Vargas. Uma para ver os avisos e pequenos cartazes que estavam afixados dentro dos orelhões da calçada. Todos eram anúncios de travestis e garotos de programa, com preços e telefones, oferecendo seus serviços sexuais. Nada mais punk!


Interior de orelhão no Centro do Rio de Janeiro - Avenida Presidente Vargas

A outra parada foi em uma unidade do Rei do Mate da Rua Uruguaiana, quase na esquina da Avenida Presidente Vargas, onde bebi um bom chá gelado, enquanto Ric preferiu um café expresso. Com o cartão pré-pago do metrô, fomos direto para a catraca eletrônica. Também não esperamos muito na plataforma. Descemos no ponto final do metrô na Zona Sul, na Praça General Osório, em Ipanema. Ali mesmo, de frente para a praça, escolhemos o restaurante italiano Terzetto (Rua Jangadeiros, 28, Ipanema).
Eram 14:45 horas quando entramos. Fomos bem recebidos, diferente da noite anterior no Cavist. O maitre nos ofereceu uma mesa para dois na lateral esquerda de quem entra. Curiosamente, era a quarta vez que ia a este restaurante e em todas elas me ofereceram a mesma mesa. Disse isto para o maitre que, gentilmente, disse que havia outra mesa disponível no salão mais ao fundo, atrás do bar e em frente à cozinha aparente. Foi lá que sentamos, apesar de Ric achar ruim, pois havia um casal em mesa ao lado. Ele não percebeu que o casal já tomava café, sinal de que estavam terminando o almoço. O restaurante oferece quatro menus completos, todos a R$ 138,00 cada, além de um cardápio normal. Perguntei se os menus eram fechados em si ou se poderia pedir a entrada de um, a massa de outro e a carne de outro. O garçom disse que poderia escolher como melhor me conviesse. Assim fiquei com o menu, sem nem ver o cardápio. Ric ficou em dúvida, mas, ao final, também escolheu o menu fechado. Nada de vinho, Fiquei apenas na água com gás, enquanto Ric bebeu cerveja. O menu consiste em antipasto, primo, secondo, terzo e sobremesa. O antipasto é único nas 4 opções: pães caseiros com azeite extra virgem, berinjela cortada em fina fatia em conserva e manteiga, além de foccacias. Tudo muito bom, especialmente a berinjela. Comi pouco, tendo em vista o que ainda viria pela frente. Logo chegou o primo piatto, uma salada de verduras orgânicas com queijo de cabra, nozes e vinagrete de mel. Nada se sobressaía nesta aparente simples salada. O conjunto era harmonioso, suave no paladar, mesmo com toda a personalidade que um queijo de cabra possui. Os pratos viam em sequência, sem muita espera, em quantidade suficiente, nada de exageros ou minimalismos. O secondo piatto que escolhi foi ravióli de figos ao molho de três queijos: gorgonzola, gruyère e ementhal. Novamente nenhum dos queijos se sobressaiu no molho. Não sou um grande apreciador de gorgonzola, mas confesso que nem senti seu sabor. O melhor era o recheio de figos da massa. Veio, então, o terzo piatto, no caso um peito de pato grelhado ao ponto ao molho de amoras e pimenta verde em grãos, acompanhado de polpa de batata assada. De todos os pratos, foi o único que não apreciei muito, embora o molho de amoras estivesse divino. Da próxima vez, escolho uma carne da especialidade italiana. Chegada a hora de escolher a sobremesa, o garçom nos disse que além das quatro opções, poderíamos escolher outras que constavam do cardápio, como o famoso tiramissú, escolhido por Ric. Fiquei com uma das 4 opções. Uma sobremesa que nada tinha de italiano: harumaki de ovos moles (rolinho crocante recheado de ovos portugueses, acompanhado com sorvete de canela). Como se nota pela descrição, uma interessante integração das culinárias japonesa e portuguesa em um restaurante italiano, demonstrando a faceta contemporânea do Terzetto. A sobremesa é ótima, sendo o sorvete de canela totalmente dispensável. O rolinho é crocante, enquanto o recheio de ovos mole é macio, envolvente no paladar. Finalizamos esta orgia gastronômica com um belo café expresso. A conta ficou em R$ 352,00 para duas pessoas.


Antipasti - Terzetto


Primo piatto - Terzetto


Secondo piatto - Terzetto


Terzo piatto - Terzetto


Sobremesa - Terzetto

Saímos do Terzetto depois de 16 horas. Caminhamos a pé até o hotel para um breve descanso, novo banho, roupa mais quentinha e saímos mais uma vez. Novamente de metrô, onde aproveitei para recarregar o cartão pré-pago com mais R$ 10,00. Descemos na Estação Uruguaiana, pois nosso destino era novamente o CCBB, desta vez para ver a peça para a qual tínhamos comprado ingresso na visita vespertina. O caminho da estação até o CCBB estava muito mais sujo do que de manhã.
Com dez minutos de atraso, começou, no Teatro I, a peça Cyrano de Bergerac, texto conhecido do francês Edmond Rostand, de 1897, já vertido para as telas de cinema algumas vezes, além de várias encenações no teatro. Já havia visto alguns filmes, sendo o estrelado por Gérard Depardieu o meu preferido, mas em teatro seria a primeira vez que veria. A história gira em torno de um quadrado amoroso entre Roxane, a donzela cobiçada pelo conde De Guiche, pelo jovem e belo cadete Christian e pelo narigudo, poeta, filósofo, boa praça, sem papas na língua Cyrano de Bergerac, primo da donzela. Em duas horas de encenação, as trapalhadas e confusões desta turma tomam conta do palco. A tradução ficou a cargo de Marcos Daud, enquanto a direção é de João Fonseca. Elenco numeroso encabeçado por Bruce Gomlevsky. O problema de um elenco numeroso é a grande possibilidade de disparidades gritantes na interpretação, fato que ocorre com sobra nesta montagem. Bruce Gomlevsky, por ter o maior número de falas, é o grande nome da peça. Desempenho muito bom. Compôs um Cyrano especialmente cínico, se desfazendo do depressivo Renato Russo que encarnou alguns anos em peça que o vi anteriormente. Mas o que ele tem de ótimo ator, outros do elenco tem desempenho pífio no palco. A atriz Júlia Carrera, que interpreta Roxane, embora não prejudique, não me pareceu à vontade no papel de uma donzela altamente cortejada. Sérgio Guizé convence como o bobalhão e belo cadete apaixonado por Roxane, mas nas cenas de maior apelo dramático, não se sai bem. Gláucio Gomes, como Ragueneau, está bem, bonachão, como seu personagem exige. Os demais são mais apoio do que tudo, mas quando exigidos individualmente, parecem tímidos, com medo do público, que quase lotou o teatro. Um destaque negativo na peça é o ator Ivan Vellame usar aparelho nos dentes. Um horror para uma peça de época, com figurinos de época. No final do Século XIX, quando a peça foi escrita e ambientada, até onde sei, ninguém usava aparelho nos dentes. Esta licença poética não cabe na encenação proposta por João Fonseca. Achei que a peça poderia render mais, pois Bruce é um excelente ator, mas não pode segurar um elenco de mais quatorze atores sozinho.


Saímos rápido do CCBB em direção ao metrô. Centro deserto, dominado pelos catadores de lixo reciclável e de pedintes dormindo nas calçadas. Pegamos o metrô na mesma Estação Uruguaiana em direção à Zona Sul, mas descemos algumas paradas depois, na Estação Glória. Caminhamos na Rua da Lapa até a Rua Cândido Mendes, em meio a uma multidão que ia e vinha, apesar da hora, pois o local é cheio de bares populares.
Estávamos indo jantar na tradicional Casa da Suíça, um restaurante instalado no Consulado da Suíça (Rua Cândido Mendes, 157, Glória). Subimos um lance de escadas para alcançar o restaurante, onde uma afônica atendente nos conduziu até uma mesa adornada com um vaso de orquídea falsa que foi retirado antes de nos sentarmos. O ambiente é escuro e em cada mesa há um abajur com luz amarela. Decoração com vasos de plantas de plástico, paredes em madeira escura, o que confere um ar pesado ao ambiente. Nas paredes, vários pratos da Boa Lembrança indicando que o restaurante fazia parte da confraria que dá um prato de cerâmica como recordação para quem escolhe o prato definido com o título de Prato da Boa Lembrança. Ric nem quis ver o cardápio, escolhendo logo a opção do mimo, pois ele faz coleção e os prega na parede da cozinha lá de casa. A versão 2011 do prato é o filé à borgonha. Aceitamos o couvert, com pães, pastas, manteigas, conserva de berinjela, legumes crus cortados à julienne. Quis apenas Coca Cola Zero, enquanto Ric prestigiou o vinho brasileiro, escolhendo um Casa Valduga Premium Cabernet Sauvignon 2007. Os garçons parecem acompanhar a história da casa, pois a esmagadora maioria tem idade avançada, como o restaurante, inaugurado na década de 60, considerando que eles começaram com idade de vinte e poucos anos, a maior parte já atingiu, com louvor, os sessenta anos. Muitos deles usavam uma manto vermelho com a famosa cruz branca, símbolo da Suíça e presente na bandeira daquele país. Escolhi uma especialidade da culinária suíça, em sua porção germânica: Zwiebelrostbraten mit Rosti, ou seja, assado de frigideira de filé mignon com cebolas glaceadas com cerveja preta, com molho escuro e espesso feito da redução da mistura da cebola com a cerveja. Para acompanhar, a famosa batata suíça, a rosti. O prato chegou bem quente à mesa, com sabor delicioso. Gostei muito de minha escolha. Ric também aprovou seu prato, dizendo que foi uma das melhores refeições que já tinha feito em viagens à Cidade Maravilhosa. Para finalizar, pedi um apfelstudel como sobremesa, com a qual dividi com Ric. Mas não gostei. Tinha muito chantilly, iguaria que não gosto, embora não fosse industrializado, mas feito na casa. Restaurante que deve ser conhecido por quem visita o Rio de Janeiro. Sem café, pagamos a conta, que totalizou R$ 231,44. Pedimos um táxi ao garçom. Ele disse que era só descer e solicitar ao manobrista na portaria. Antes de chegarmos à porta de saída, paramos para algumas fotos. O manobrista nos atendeu de imediato. Pegamos um táxi que trazia uma senhora idosa, aparentando uns oitenta anos que, segundo o motorista, ela frequenta há mais de trinta anos a Casa da Suíça, sempre aos sábados, sempre por volta de meia-noite. Um falante Ric foi conversando com o motorista até o hotel sobre as operações da polícia carioca nos morros e favelas da cidade. A corrida foi rápida, pois não pegamos trânsito e nem fomos parados nas blitz da Lei Seca que ocorrem com frequência na noite da cidade, segundo o motorista do táxi. Pagamos R$ 25,00. Hora de atualizar o blog e dormir. Final de um ótimo sábado.


Zwiebelrostbraten mit Rosti - Casa da Suíça


Entrada do restaurante Casa da Suíça - Glória - Rio de Janeiro