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segunda-feira, 25 de julho de 2011

BAGATELAS


Meados do século XX, inverno, interior dos Estados Unidos, uma fazenda, seis personagens, um assassinato. Este é o mote do novo espetáculo do Grupo Cena, em cartaz até o próximo dia 07 de agosto, com sessões de quinta a domingo, no pequeno e aconchegante teatro do Espaço Cena. Fui no último sábado, quando houve três black outs na 205 norte, onde fica o teatro. Por causa da falta de energia, houve um pequeno atraso para a nossa entrada. Mesmo na escuridão, o público não arredou pé do lugar. O texto é de Susan Glaspell, tradução de Danilo Lobo e direção de Guilherme Reis. Reis teve como assistentes Dimer Monteiro e Chico Sant'Anna. Hugo Rodas, juntamente com o grupo, assina a cenografia, figurinos e objetos de cena. O cenário é simples, minimalista, mas o suficiente para deixar a plateia imaginar que estamos vendo uma cozinha de fazenda. O ingresso custou R$ 20,00. O espetáculo tem a duração de 45 minutos. A história é simples: uma investigação de um assassinato do fazendeiro, cuja suspeita recai sobre sua mulher, interpretada por Adriana Lodi. No momento da investigação, ela está na cadeia. Assim, Reis criou uma cena em flashback, mantendo-a no palco nos primeiros momentos da encenação, em uma montagem interessante de luzes. Durante a investigação, estão na casa o promotor (João Antônio), o delegado (William Ferreira), o fazendeiro vizinho (Sérgio Fidalgo), a mulher do delegado (Carmem Moretzsohn) e a mulher do vizinho (Bidô Galvão). O texto, escrito por uma mulher, é feito para mulheres e isto fica claro na encenação. Os personagens masculinos são apenas coadjuvantes, para mostrar o pensamento masculino sobre o papel da mulher na sociedade da época em que foi escrito, em contraponto à atitude feminina, muito bem mostrada pelas três atrizes. As mulheres dominam a encenação. Sem desmerecer os atores, a peça é toda das atrizes. Bidô Galvão me fez sentir o mesmo frio que sua personagem sentia, Adriana Lodi passou toda a amargura enclausurada na solidão vivida pela dona da fazenda, e Carmem Moretzsohn transmitiu a fragilidade feminina diante de fatos contundentes, sem deixar de ser forte e solidária. Quem matou o fazendeiro pouco importa na história, mesmo porque as evidências ficam claras desde o início. O que importa no texto é passar o sentimento feminino, este olhar cuidadoso e peculiar, mostrar a força do sexo frágil (pode ser batida esta frase, mas temos que pensar que o texto é da primeira metade do século passado). Trabalho de atrizes sensacional. Com este espetáculo, o Grupo Cena vai se consolidando em Brasília com montagens inéditas, intimistas, que tocam o público. Tive a oportunidade de ver as cinco montagens que o grupo já encenou na cidade - Dinossauros, Fronteiras, Varsóvia, Heróis e Bagatelas - e sempre saio com a sensação de querer ver mais. Quando anunciam uma nova peça, ou mesmo uma volta aos palcos de alguma das já exibidas, me programo rapidamente para estar presente. É teatro do bom, com certeza. Por falar em volta, aguardo um retorno da bela e triste peça Varsóvia.

2 comentários:

  1. Fui assistir hoje e amei! Já conhecia o texto e achei a montagem maravilhosa. Vale a pena assistir!

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  2. Lay Starlight,

    Montagem linda. Já indiquei para vários amigos.

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