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domingo, 3 de julho de 2011

CINE-CONCERTOS - NANOOK, O ESQUIMÓ

Programa sensacional oferecido pelo CCBB de forma gratuita no período de 28 de junho a 03 de julho, com projeção ao ar livre de filmes mudos com execução ao vivo de trilha sonora especialmente composta para as películas pelo coletivo ARFI (Association a la Recherche d'un Folklore Imaginaire), grupo francês formado pelos conjuntos de músicos Le Workshop de Lyon e Baron Samedi. Ao cair da tarde, já início da noite, com o frio característico desta época em Brasília, as pessoas iam chegando de mansinho, tomando seus lugares nas cadeiras brancas ou colocando cangas na grama para se deleitar com a programação de forma mais confortável. Programação para agradar a crianças e adultos. Consegui ir em apenas uma das apresentações, na quinta-feira, dia 30 de junho, justamente na projeção de um filme que tinha uma enorme curiosidade em ver desde que comecei a me interessar por cinema. Sendo um consumidor voraz de listas, esta curiosidade aumentou mais ainda quando comprei uma das primeiras edições do livro 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer, organizado por Steven Jay Schneider. Ainda não havia a edição em português quando comprei a tradução para o espanhol em Buenos Aires. No livro, consta o documentário Nanouk, O Esquimó (Nanook of The North ou Nanouk, L'Esquimau), dirigido por Robert J. Flaherty, como um destes filmes imperdíveis. Produção americana de 1922, considerado o primeiro documentário da história do cinema. Um clássico que, mesmo decorridos quase noventa anos de seu lançamento, é de uma riqueza ímpar. De forma alguma ficou datado. Em um ano, o cineasta acompanhou a vida e os costumes de Nanook, sua família e amigos, esquimós que viviam em um ambiente gelado, sem vegetação e comida disponível. Em pouco mais de setenta minutos de exibição, vemos ele caçar, construir um iglu, comercializar peles de animais, caçar focas e morsas, comer carne destes animais de forma crua, a vida em família, o papel da mulher, os filhos e a relação com os eternos companheiros do homem, os cães. Assistir a este belo filme com um trio de instrumentistas executando uma trilha sonora preparada exclusivamente para a película é mais estimulante ainda. Embora postados em palco montado embaixo da enorme tela de projeção, os músicos não ofuscam o filme. Muito antes pelo contrário, eles conseguem um trabalho maravilhoso sem desviar a atenção de nosso olhar para as telas. Nem mesmo um problema técnico que ocorreu com mais de meia hora de projeção atrapalhou a experiência. As legendas em português das vinhetas que explicavam o filme desapareceram, fazendo com que várias crianças ficassem reclamando com seus pais que não conseguiam entender o que estava escrito em inglês. A projeção parou, mas o Baron Samedi fez uma improvisação sensacional, mostrando a sua faceta jazz. Uma autêntica jam session. Quando conseguiram resolver o problema, os músicos voltaram ao papel de, embora visíveis, invisíveis, para possibilitar ao público, numerosamente presente, conhecer um maravilhoso trabalho cinematográfico. Ao final, aplausos calorosos de pé, tanto para o filme, quanto para os músicos. Aplausos também para a produção do Cine-Concertos, que há anos agita a Europa e só agora aterrissa no Brasil. Como o coletivo ARFI tem vinte filmes em seu repertório e a programação do projeto trouxe apenas cinco deles, espero que outras edições do Cine-Concertos aconteça em Brasília nos próximos anos. De preferência no inverno.

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