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terça-feira, 7 de outubro de 2014

AMORES SURDOS

O grupo teatral Espanca!, sediado em Belo Horizonte, completa dez anos de atividades com uma mostra no Centro Cultural Banco do Brasil de BH. A primeira vez que os vi foi no Galpão Cine Horto, também na capital mineira, com a deliciosa peça Por Elise. Depois disto, os vi em todas as ocasiões em que estiveram em Brasília, inclusive revendo Por Elise. Durante minha rápida passagem por Belo Horizonte, ao consultar a programação cultural da cidade, vi que estava em cartaz no Teatro 2 do CCBB BH Espanca! 10 Anos - Mostra 2014. Não tinha dúvidas. Comprei quatro ingressos, o máximo que poderia comprar, todos meia entradas, pois eu e meus convidados somos clientes do Banco do Brasil. Cada entrada custou R$ 5,00, acrescidos de R$ 2,00 por ingresso pelo fato de eu tê-las comprado pela internet. A peça era Amores Surdos, sessão das 20 horas de uma segunda-feira, dia 06 de outubro de 2014. Convidei Rogério, Emi e Kitty. Emi não pode aceitar o convite porque tinha aula de gastronomia na mesma noite.
Precisava trocar os ingressos na bilheteria até quarenta minutos antes do início do espetáculo. Aproveitei que ainda estava de férias, cheguei no centro cultural mais cedo, troquei os ingressos e sentei-me no Café com Letras Liberdade, localizado no térreo do espaço cultural, esperando Kitty e Rogério chegarem. Faltando meia hora para começar a peça, fomos para o segundo andar do prédio, onde já se formava uma fila na porta do Teatro 2, já que não havia lugar marcado. Em frente à bilheteria havia uma fila de espera para ingressos não trocados, pois estavam esgotados. Um rapaz entrou no hall do teatro perguntando se alguém tinha algum ingresso para vender. Só então me lembrei do ingresso do Emi. Dei a entrada para ele que ficou com cara de quem não estava acreditando que eu não queria vender a entrada excedente. Entramos perto de 20 horas no teatro. Naquela altura, eu tinha me lembrado de que já vira a peça Amores Surdos, especialmente da água barrenta que escorre no palco e a presença de um hipopótamo. Teatro lotado. Após os anúncios de praxe, as luzes se concentram no palco para ter início Amores Surdos, peça que estreou em 2006, no Paraná. O texto é de Grace Passô, enquanto a direção é assinada por Rita Clemente. Cinco atores integram o elenco: Assis Benevuto, Grace Passô, Gustavo Bomes, Marcelo Castro e Mariana Maioline.
Como diz um dos atores, logo em sua fala inicial, Amores Surdos é uma história normal, pois todas as histórias já tinham sido contadas ao longo dos tempos. A peça trata do cotidiano de uma família, onde a convivência diária cria uma forma peculiar e bem íntima de todos se relacionarem. O pai ausente é citado a todo momento, inclusive sendo chamado para tarefas banais em conjunto, como tomar um chá, por exemplo. A mãe é superprotetora e autoritária, exercendo um poder incrível nos filhos, inclusive em Júnior, o filho que mora fora do país e liga sempre para a família. Além de Júnior, há um filho com problemas respiratórios, outro que tem dificuldades de sair de casa, um terceiro que é sonâmbulo e a única filha que se tranca em um mundo próprio, quase nunca tirando o fone de ouvido das orelhas. O texto é forte, com diálogos recheados de metáforas, o que nos faz refletir muito sobre nossas relações, não só familiares, mas também com todos os que conhecemos. Uma frase da mãe, vivida por Grace Passô, ecoa até hoje em meus pensamentos. Ela diz mais ou menos assim: tem coisas que foram feitas para a gente viver com elas. Pura realidade!
Algumas cenas são incômodas, como a do filho com dificuldades de sair de casa que tem que deixar o lar, pois era o seu primeiro dia. Não se sabe de que, mas deduzi que era para trabalhar. Mas ele só consegue passar da porta de vidro e fica nela encostado, desesperado, querendo retornar para a segurança de seu lar. A água barrenta que escoa grande parte do espetáculo pelo palco, deixando os atores sujos, me deu uma aflição crescente. Os personagens eram tão cegos com sua vidinha rotineira, que não percebiam que algo estranho e inusual acontecia dentro da própria casa. De tão incômodas, algumas destas cenas acabaram por provocar risos nervosos na plateia.
O sapateado no momento do chá é uma estratégia interessante de mostrar como a vida deles era rotineira, sendo obrigatória a participação de todos. Por falar em sapateado, o rito de passagem da infância para a adolescência/fase adulta é bem representado justamente quando o personagem Pequeno, o que tem problemas respiratórios, calça seus sapatos para solar uma dança marcada, sem vontade, mas carregada de resignação. Já era o final do espetáculo.
Palmas entusiasmadas e longas ao final da peça.
Gostei muito de rever Amores Surdos.

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