Desde 2003 o CCBB de Brasília mostra um recorte do Festival Internacional de Teatro de Londrina (FILO), com um mês de boas peças internacionais, denominado Mostra Internacional de Teatro - MIT. Neste mês de junho, estiveram no palco do CCBB companhias teatrais de Portugal, França, Itália e Espanha, com ingressos a R$ 7,50 a meia entrada para cada espetáculo. Obviamente que as sessões lotaram todos os dias. Desta vez, não pude comparecer a tudo. Vi apenas ao último espetáculo, da espanhola Cia Marta Carrasco. E que espetáculo! A diretora, coreógrafa e intérprete Carrasco é um sucesso na Europa, angariando vários prêmios em festivais no velho mundo. Aqui, ela trouxe Dies Irae; En El Réquiem de Mozart, um misto de teatro, música e dança. São treze pessoas no palco encenando o Dia do Juízo Final, onde todos estão sendo julgados, tendo como fundo a famosa composição de Mozart. Falado em espanhol, mas de fácil compreensão, pois o gestual e a performance corporal são mais importantes e nos falam muito mais do que o pouco texto falado em cerca de oitenta minutos de peça. Visceral, raivoso, contemporâneo, embora ambientado em um passado distante. Como se trata do Juízo Final, a igreja é presença constante. As críticas dirigidas a ela e ao mudo atual são evidentes. A peça fala de opressão da religião, de rancor, de poder, de conchavos e toca em feridas e/ou tabus para os religiosos, especialmente os cristãos: pedofilia, aborto, homossexualismo, submissão ao poder do dinheiro. Ao final, a constatação de que ninguém resistirá ao Dia da Ira. Há nove mulheres e quatro homens em cena, que demonstram um vigor físico excepcional. O ator gordo que é caracterizado como um bufão, sem camisas, dá um show de caras e bocas. Ele se parece com a replicante interpretada por Darryl Hannah no filme Blade Runner misturado com o Coringa interpretado por Jack Nicholson em Batman, de Tim Burton. Ele dança e se move de forma que a barriga volumosa balance num balé todo especial. Já perto do fim, depois de um colóquio com Deus, uma candidata à canonização enfim vira santa e é enrolada toda em plástico de pvc. A atriz fica imóvel, somente com as narinas de fora, presa no espaldar de uma cadeira, transformada em seu trono, durante uns quinze minutos, enquanto uma fiel adorada dança, semi-nua, ao seu redor. Cena impactante que me deixou aflito pela imobilidade da atriz. Ao final, muitos aplausos para este belo espetáculo. Iniciativas como esta propiciam um intercâmbio sensacional para os que lidam com o teatro em Brasília. Prova disto é que vários nomes da cena teatral brasiliense estavam presentes. E o MIT amplia suas fronteiras, chegando depois de Brasília e Rio de Janeiro, a São Paulo. Vida longa ao MIT!
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