Desde que li sobre a peça Música Para Ninar Dinossauros na Folha de São Paulo, fiquei com curiosidade para conhecê-la. A oportunidade surgiu neste domingo, quando fui ao Teatro da Caixa para assistí-la. O ingresso custou R$ 20,00. Não estava cheio. Texto de Mário Bortolotto, que também dirige e interpreta. Em cena, seis atores masculinos interpretando três amigos em duas fases distintas da vida, além de seis atrizes fazendo seis prostitutas, sendo três na juventude dos amigos e três na época atual, quando eles estão perto de completar cinquenta anos. O texto é ácido, retratando uma geração, por sinal, a minha geração. Fiquei espantado em ver que a minha geração é, de certa forma, o que se vê no palco. Bortolotto define bem esta geração. É aquela que chegou atrasada. Ela está prensada entre duas gerações distintas: aqueles que viveram a juventude na ditadura militar, em movimentos sociais aguerridos, e a geração dos cara pintadas, responsáveis pelas grandes manifestações de rua contra o então Presidente Collor. Esta geração que nasceu na década de sessenta era criança ou adolescente na efervescência da ditadura e todos os movimentos contra ela e, na década de noventa, já não era tão jovem para pintar o rosto e sair às ruas. O enredo é um vai e vem na vida de três amigos, entre os dias atuais e duas décadas atrás, com uma juventude plena de sexo, drogas e rock'n roll. E o sexo, as drogas e o rock continuam na vida deles, não na mesma intensidade de antes. O que permanece na vida dos três, além de uma amizade sólida, é o convívio com prostitutas. Algumas frases ditas pelos personagens masculinos são cheias de preconceitos, de machismo. As mulheres são as vítimas preferenciais, mas também sobra para o casamento e filhos. A diferença de interpretação é grande. Os três amigos em idade atual, vividos por Bortolotto, Lourenço Mutarelli e Paulo de Tharso são melhores que o trio que faz os mesmos personagens mais jovens. No elenco feminino, as diferenças são ainda maiores. Algumas estão à vontade no papel de putas, mas outras estão visivelmente desconfortáveis. A peça tem uma hora e meia de duração e perde muito no seu terço final, quando os diálogos rumam em direção mais filosófica. O texto é bom, mas a peça não se segura nos seus noventa minutos. O público fica dividido. As palmas foram protocolares e muita gente não se levantou para aplaudir o elenco (coisa rara de acontecer em Brasília). Quando terminou, fiquei com uma questão na cabeça, pois claramente há um retrato de minha geração, mas não vivi e nem convivi com o mundo de desbunde na minha juventude como é mostrado em cena e não sou uma pessoa sem perspectiva, pessimista, como os três o são nos dias atuais. Será que a maioria dos homens perto de cinquenta anos são assim? De qualquer forma, valeu ter conhecido este texto de Bortolotto. Quanto à música para ninar dinossauros, fica óbvio que são os standards do rock mundial. Ótimo a deixa sobre o rock dos anos oitenta, quando eles malham Legião Urbana (algo visto quase como um sacrilégio em Brasília). Desnecessária a citação, mesmo que sem citar o nome, de Glauco, o cartunista morto recentemente e que entrou para o Santo Daime.
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