Pesquisar este blog

segunda-feira, 7 de junho de 2010

FILMOTECA ESSENCIAL - BRASIL (05)


Não poderia deixar de fora de uma filmoteca brasileira essencial o único filme nacional a ganhar a Palma de Ouro em Cannes, em 1962. E o filme vale muito! O Pagador de Promessas, argumento de Dias Gomes, com roteiro e direção de Anselmo Duarte. Filmado na Bahia, especialmente em Salvador, no Centro Histórico, com a maioria das cenas em tomadas externas. Fotografia em preto e branco que valoriza o filme. Festas religiosas e do candomblé se misturam neste filme que fala de fé, obstinação, mas tem também tons políticos, como reforma agrária e comunismo, além de uma severa crítica à intolerância religiosa. No filme, igreja e poder público (leia-se polícia) estão de mãos ligadas. O enredo se desenvolve em torno de Zé do Burro (Leonardo Villar) que acompanhado de sua mulher Rosa (Glória Menezes), caminha sete léguas desde sua roça até a Igreja de Santa Bárbara, carregando uma cruz. A intenção é pagar uma promessa feita para a santa caso Nicolau, seu burro, ficasse curado. Esta promessa é feita em um terreiro de candomblé, perante Iansã, a personificação de Santa Bárbara na religião trazida da África pelos negros escravos. Quando chega na porta da igreja, no dia dedicado à santa, ele é impedido de entrar por Padre Olavo (Dionízio Azevedo) por causa das ligações com satanás (a igreja não aceitava o candomblé). Logo, Zé do Burro vira notícia. A imprensa aproveita para distorcer os fatos e transforma-o em um agitador político. A confusão está armada. Além disto, Rosa, sua mulher, se enrabicha por um cafetão conhecido como Bonitão (Geraldo Del-Rey) que, por sua vez, é sustentado por Marli (Norma Bengell), uma prostituta da região. Brigas, ciúmes, discussões, mentiras, polícia, festa, capoeira, tudo acontece no local, em frente às escadarias da igreja. A cena final é impactante. Esta cena é um soco no estômago da hipocrisia e da intolerância. O filme não envelheceu. Continua um grande filme. As interpretações de Leonardo Villar, ganhador de vários prêmios pelo papel de Zé do Burro, e de Glória Menezes, em sua estreia no cinema, com cabelos escuros, são arrebatadoras. Gosto muito da cena da briga no chão da rua entre Marli e Rosa, enquanto uma banda de música passa tocando seus instrumentos. 

2 comentários:

  1. Noel,
    Você sabaia que houve uma verdadeira dança das cadeiras entre as atrizes desse filmes?
    Maria Helena Dias ia fazer Rosa e Glória Menezes a Marli. Mas como Maria Helena teve pneumonia, Glória foi para o papel dela, e Norma Bengell entrou para fazer Marli.
    Helena Ignez também contou em entrevista que foi convidada para fazer o filme mas não quis.
    Eu também, claro, adoro o filme.
    Bjs

    ResponderExcluir
  2. Pek,

    Não sabia desta dança das cadeiras. Como sempre, você é uma enciclopédia ambulante do cinema brasileiro.

    Bjs.

    ResponderExcluir