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segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O REBU

Quando a Rede Globo anunciou uma releitura da novela O Rebu, escrita por Bráulio Pedroso, lançada em 1974, minha curiosidade foi aguçada. Tinha 11 anos quando a novela estreou. Meus pais não deixavam os filhos assistirem televisão após o Jornal Nacional. Tínhamos que ir deitar. Sempre custei para dormir. Assim, ficava na cama pensando em mil coisas, criando um zilhão de histórias. De vez em quando, deitava em sentido contrário na cama, o que me possibilitava ver, mesmo que de soslaio, o que se passava na TV. Era uma televisão preto e branco, bem pequena. Meu pai ficava até tarde assistindo a programação noturna, mas colocava o volume muito baixo, quase inaudível. Mesmo assim, eu conseguia captar alguma coisa e ficava tentando prestar atenção até o sono chegar. Lembro-me bem da cena inicial da novela O Rebu, com uma festa em uma mansão e um corpo aparecendo boiando na piscina. Esta imagem ficou muito tempo na minha memória, até porque eu era nadador na época, sendo a piscina uma extensão da minha casa. Mas não me lembro de mais nada, nem quem era o morto, ou o que tinha acontecido. Passados quarenta anos, eis que a Globo apresenta uma versão reduzida de O Rebu. Resolvi assistir o primeiro capítulo. Gostei do ritmo, da trilha sonora, do luxo e sofisticação da mansão onde se desenvolveu a trama. Quem me conhece sabe que quase nunca assisto televisão. Fico meses sem ligar o aparelho. Seria difícil seguir a trama dia a dia, mas graças à internet, hoje é possível assistir onde e quando quisermos vários programas da grade televisa. Consultei o site Gshow e confirmei que os capítulos de O Rebu seriam disponibilizados tão logo exibidos na TV aberta, mesmo para quem não é assinante do site, que é o meu caso. Nesta condição, os capítulos são divididos em várias cenas, algumas com cinco minutos de duração, outras com menos de um minuto, e com algumas inserções de propaganda entre elas. Mas para quem quer acompanhar, é apenas um trabalho a mais ficar clicando para rodar cada cena na tela de seu computador ou de seu tablet. Vi os trinta e cinco capítulos seguintes ao primeiro desta forma. Tinha dia que via três de uma vez, pois não tinha tido tempo de conferí-los antes. Não deixei de fazer nada do que planejado para seguir a novela.
A trama se passa em 24 horas, entre o início da noite de sábado, quando os convidados vão chegando para a festa na Mansão Mahler, até a noite de domingo, quando os mistérios são resolvidos. Muito flash back é utilizado para esclarecer fatos do enredo. A edição dos capítulos iniciais é frenética, especialmente quando focada na festa, com forte utilização das redes sociais pelos personagens, o que garantia uma ligação direta com o site interativo que a Globo montou para as pessoas tentarem descobrir quem era o assassino.
Para quem viu a primeira versão, muita coisa mudou. Enquanto na versão de 1974 o dono da mansão Mahler era vivido por Ziembinski e tinha um protegido, interpretado por Buza Ferraz, nesta releitura, Patrícia Pillar dá vida à poderosa Ângela Mahler, tendo como protegida Duda, vivida por Sophie Charlotte. Outra coisa que muda é que já no primeiro capítulo o público sabe quem morreu, no caso Bruno, vivido por Daniel de Oliveira, enquanto na versão anterior, a identidade do morto só foi revelada muito lá na frente na história, e era uma mulher. Temas atuais, como exploração de petróleo em mar profundo, delação premiada, corrupção, aparecem nesta nova leitura de O Rebu.
A novela acabou na sexta-feira, dia 12 de setembro, mas consegui ver os oito últimos capítulos somente neste domingo, 14 de setembro.
Como disse, gostei do início dinâmico, mas o frenesi dos capítulos iniciais deram lugar a uma parte arrastada, algo típico em novelas, com muito lero lero para desenvolver o enredo, deixando as resoluções de todas as tramas para os quatro capítulos finais, o que prejudicou parte delas.
O elenco feminino é muito bom, com excelentes interpretações de Patrícia Pillar, Sophie Charlotte, Cássia Kiss Magro, Dira Paes, Mariana Lima, Vera Holtz e Camila Morgado. Estas duas últimas estão fantásticas como mãe e filha, duas socialites fogosas. Já o elenco masculino tem diferenças gritantes de interpretação, mas os escalados para personagens-chaves, caso de Tony Ramos e Daniel de Oliveira, estão muito bem. O mesmo não posso dizer de Marcos Palmeira, como Delegado Pedroso, fazendo sempre o papel dele mesmo. Jesuíta Barbosa, o ladrão Alain, é uma boa surpresa.
Como qualquer novela, as tramas paralelas dão sustentação para que a novela se desenvolva. E como sempre, algumas tramas são muito chatas, como é o caso do atormentado jornalista Oswaldo Pamplona, vivido por Júlio Andrade.
Enfim, apesar do meio arrastado, gostei de acompanhar a novela O Rebu. Embora não explícito, era perceptível o clima de homossexualidade que rolava entre Ângela Mahler e sua protegida Duda em alguns momentos. E terminar como começou foi sensacional: uma morte no primeiro capítulo e outra no último, envolvendo personagens centrais da trama.

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