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terça-feira, 23 de dezembro de 2014

FOOD ON FOOT EM HANÓI, VIETNÃ

Nós cinco estávamos a postos no hall do hotel às 18 horas do dia 21 de dezembro de 2014 para o encontro com a guia que nos conduziria no tour gastronômico a pé pelo centro da cidade. O tour se chama Food on Foot e foi contratado pela internet, com guia exclusivo para nosso grupo falando em inglês. A guia chegou no horário. Ela se chamava Ha (pronuncia-se rá). Perguntou o nome de cada um de nós e explicou como seria o passeio, cuja duração prevista era de três horas. Resolvemos pagar o passeio ainda no hall do hotel. Cada um pagou U$ 40. A princípio, pararíamos em cinco locais para experimentar os pratos tradicionais mais populares em Hanói. A temperatura era de 18º C, mas pelos casacos que os locais usavam, parecia bem menos. Vesti apenas um cardigan e foi o suficiente. Saímos para a esquerda do hotel, andando poucos metros na rua Hang Gai até pegarmos a primeira a esquerda, seguindo a rua Hang Trong. Na esquina, já vimos como os vietnamitas gostam de comer nas ruas. Em espaços mínimos, eles se sentam em banquinhos de plástico bem baixos, se amontoando em grupos sorridentes. Nas mãos, pequenas cumbucas e os sempre presentes hachis, aqueles pauzinhos que os orientais usam para comer. As esquinas são as mais disputadas, pois nelas tem menos motocicletas estacionadas. No restante da calçada também há gente comendo nestes banquinhos que são super baixos, mas disputando espaço com as centenas e centenas de motos paradas. A maioria das pessoas prefere andar nas ruas, tornando a disputado no trânsito mais peculiar ainda. Muitas lojas estavam abertas, vendendo roupas, calçados, artesanato, bolsas, abrigando também pequenas quitandas, spas, karaokê, galerias de arte, salões de beleza. Muitos pequenos hoteis ocupam estes prédios no centro da cidade. Ali, todos os proprietários podem ter um comércio em sua casa. Desta forma, eles constroem pequenos prédios de dois, três ou quatro andares, um colado no outro, onde o térreo abriga um comércio, na maioria dos casos, familiar, enquanto a família ocupa os andares superiores. Como o imposto é pago conforme a largura do prédio, estas edificações são estreitas e fundas. A guia, durante o nosso percurso, fez questão de parar em frente ao prédio mais estreito da cidade, com quatro andares. No térreo, uma mistura de galeria de arte com artigos de artesanato. Foi difícil imaginar como viviam as pessoas em espaço tão apertado. Outro lugar que vimos durante o passeio foi a maior igreja católica que existe na cidade, construção realizada pelos franceses quando dominavam o país, na época em que o Vietnã ainda era um pedaço da Indochina. A arquitetura da igreja é visivelmente copiada de igrejas antigas de Paris. O movimento em torno da igreja era grande, com muitos vendedores ambulantes nos oferecendo comida, especialmente um salgado frito feito com banana. Muita gente se aglomerava na entrada da igreja. Segundo a guia, 13% da população do país é católica. Por ser início de noite de domingo, nas vésperas do Natal, o movimento na igreja era justificado pela celebração de uma missa.
Durante o tour a pé, atravessamos muitas ruas e becos no melhor estilo local, sempre escoltado pela guia. O segredo é levantar a cabeça, ser confiante, mirar o outro lado da rua e com um olho no destino e outro nos veículos, avançar passo a passo, sem correr, pois do contrário, o risco de ser atropelado é enorme. Vimos coisas curiosas, como uma formatura oficial ocorrendo em palco montado na frente de um teatro; uma senhora conduzindo uma turma de crianças uniformizadas que seguiam gritando palavras de ordem; mais de uma apresentação musical, entre elas, uma que acontecia em frente a um templo budista dedicado ao Cavalo Branco, com músicos sentados no chão tocando instrumentos musicais bem diferentes; e uma outra em que dois saxofonistas solavam suas canções vestidos de Papai Noel; e uma apresentação cênica em palco montado em uma esquina que me lembrou elementos da ópera de Pequim, especialmente o gestual, a trilha sonora, a maquiagem e o figurino. Era o mais concorrido, com muitos turistas e locais aglomerados em torno dela com celulares e máquinas digitais regristrando tudo. A principal atração nos finais de semana no centro da cidade é a feira noturna que ocupa a extensão de quatro ruas (Hang Gay Dxuan, Hang Duong, Hang Ngang e Hang Dao). Andamos uns duzentos metros nesta feira. Estava abarrotada de gente. Barracas ocupam o centro da rua, cujo trânsito é interrompido nas noites de sábado e domingo, vendendo tudo quanto é quinquilharia. Predomínio de artigos falsificados, com todas as "grifes" mundiais se fazendo presentes. Os cartões de papel, que ao abrir formam interessantes e belos desenhos em uma espécie de 3D, nos chamaram a atenção. Nas ruas transversais, o movimento era grande, pois há muitos pequenos comércios nas calçadas vendendo comida. Mas o principal desta noite foi nosso tour gastronômico, que descrevo a seguir. A guia Ha foi além do contratado, pois paramos em sete locais, ao invés de cinco, e fizemos o passeio todo em quatro horas, uma a mais do que o previsto. Vamos à curiosa experiência:
1. A primeira parada foi em uma carrocinha de sanduíche chamada Bom Pop. Já chutei o balde de cara, abstraindo de qualquer repulsa ao fato de comer na rua. Sentamo-nos como os locais, nos banquinhos baixos, enquanto nosso sanduíche era preparado. Para quem não está acostumado, a posição que se fica é desconfortável. Parecia que estávamos de cócoras. Ha pediu dois sanduíches para nós cinco, pois a jornada seria longa. Segundo a guia, foram os franceses que introduziram o pão na vida dos vietnamitas. E a baguete em que é servido o sanduíche comprova a herança francesa. O pão estava delicioso, crocante. Antes de servir, o pão é levemente prensado em uma chapa. O sanduíche vem dentro de um saco de papel, que serve de apoio para não sujar as mãos. O recheio é único: uma mistura bem equilibrada de patê de porco, presunto e carne de porco assada, cortada em finas tiras, alface, coentro e molho de pimenta. Ha disse que a pimenta era fraca. Para quem não está acostumado, a pimenta ardia muito. Dividimos três garrafas de 600 ml de Coca Cola. Saboroso, apesar do coentro, que não aprecio muito.
2. A segunda parada foi a que mais assustou a gente. Paramos em um local lotado de turistas ocidentais, todos amontoados nos banquinhos nas calçadas. Fomos levados para dentro do estabelecimento familiar chamado Quán Göc Da. Passamos por uma enfadonha senhora que amassava uns bolinhos, devidamente calçada com luvas cirúrgicas, e os colocava para fritar em uma panela ao lado dela. A bagunça de coisas espalhadas pelo chão e paredes era grande. A sujeira também chamou nossa atenção. Sentamos em mesa de plástico baixa. Aqui a especialidade são as frituras. Logo chegou à mesa vasilhas com as tais frituras. Rolinho de primavera feito com massa de arroz recheada com carne de porco - para comer, hachis que ficavam disponíveis na mesa. Como ninguém de nós ousava pegá-los, a guia passou água e enxugou com guardanapo cinco pares para o grupo. Tivemos que usar. O rolinho é levemente frito, tem um tempero ótimo e mergulhado na cumbuca com um caldo branco feito de vinagre de arroz, molho de peixe e pedaços de mamão papaia verde ficou melhor ainda. O melhor do local e talvez da noite. Bolinho frito slagado - conhecido como donut salgado, em nada lembra os parentes americanos. São servidos fritos, recheados com uma mistura de carne de porco com cogumelos. A massa não tem nenhum tempero e é feita com arroz, dando uma consistência grudenta e muito oleosa na boca. Como todas as frituras aqui servidas, a guia nos aconselhou experimentar o salgado mergulhando-o no tal caldo. Ficou melhor, mas continuei sem gostar. Salsicha de porco empanada com farinha de arroz e gergelim, servida fria. Saborosa, mas sem nada de especial. Pastel de carne de porco - chamado pela guia de pillow cake, tem massa e recheio muito parecidos com o pastel brasileiro. Veio cortado em pedaços. A massa não esfarela muito. Bom, nada além disto. Bolinho frito doce - tem a mesma massa de arroz grudenta e oleosa do salgado, mas o recheio é um purê doce feito com feijão verde cozido, tem uma cor amarelada. É melhor do que a opção salgada. Mesmo sendo doce, Ha aconselhou experimentar mergulhar este bolinho no caldo. Ficou bom. Para acompanhar as frituras, bebemos a cerveja local chamada Bia Hà Nôi. Vieram duas garrafas à mesa e cinco copos com muito gelo! Os vietnamitas gostam de tomar cerveja assim, especialmente as mulheres. Ninguém quis passar por esta experiência. Preferimos sem gelo, pois as garrafas já estavam geladas. Até eu bebi um copo. Gosto menos amargo. Foi um bom acompanhamento para as frituras.
3. Em um beco escuro e estreito, paramos em uma frutaria. As frutas eram muito bonitas, com cores fortes. Os ovos eram sujos. Parece que eles não os lavam antes de vender, pois vimos várias quitandas com ovos expostos da mesma forma. A guia comprou dois tipos de fruta. Uma porção de uma redonda, de casca marrom esverdeada, que lembra a pitomba, e uma porção de rambutã, fruta parecida com a lichia, mas cuja casca é cheia de filamentos parecendo espinhos. Experimentamos estas frutas na próxima parada.
4. Uma pequena lanchonete chamada Bang Gia foi nossa quarta parada, onde era a hora de experimentar um dos mais populares pratos locais, um pho bo, ou seja, uma sopa de noodles, coentro e pedaços de carne de porco que é previamente marinada por oito horas. Para quem é sensível com práticas nada convencionais de higiene, não comeria neste local, pois a carne de porco marinada tem um aspecto horrível, ficando exposta em uma vitrine ao lado de onde um homem prepara a sopa para os comensais. A guia pediu duas cumbucas, divindindo-as em cumbucas menores para nós cinco. Come-se com hachis reutilizáveis, levando a cumbuca à boca para beber o caldo. Dividimos a mesa com uma senhora local. Fiquei observando-a comer o noodle, constatando que eles são muito rápidos no manejo dos pauzinhos. Ha descascou as frutas para nós experimentarmos. Ambas lembram o gosto da lichia, sendo que a parecida com a pitomba tinha um gosto meio passado. Ninguém gostou da sopa. Eu gostei do noodle, feito com arroz, apresentado em formato que lembrava um talharim, só que bem branco. Achei o gosto da carne ruim.
5. Chegou a vez de entrarmos em um pequeno restaurante de dois andares que estava cheio de turistas ocidentais. Como tinha uma placa do Trip Advisor no caixa, conclui que este era o motivo do movimento de estrangeiros no Countryside Restaurant. Três pratos foram servidos em nossa mesa, localizada em uma saleta no segundo piso, ao fundo do prédio, sala sem janelas. Para acompanhá-los, mais cerveja local, a mesma que experimentamos na segunda parada e Coca Cola. Também serviram uma espécie de aguardente, por eles conhecida como vinho de arroz. Eles a chamam de happy water. A bebida, após finalizada, é curtida em um coco maduro, motivo pelo qual é servida diretamente deste coco. O sabor lembra o de uma batida de coco, sem o creme de leite. O primeiro prato servido foi uma salada fria de cenoura, pepino e manga verde, todos cortados em juliene, enriquecida com anéis de lula, corpo da lula e camarões. Come-se em uma cumbuca, utilizando o hashi. Antes de levar à boca, a guia nos aconselhou mergulhar o conteúdo em um molho de peixe, feito com vinagre de arroz. Gostei da manga verde. Em seguida, foi servida uma pan cake recheada com uma mistura de carne de porco, camarão e legumes. Parecia um pastel gigante, devidamente fatiado. A massa é frita, feita com arroz. Para comer, Ha nos ensinou a enrolar um pedaço deste pan cake em um papel de arroz disponível na mesa. No mesmo rolinho, ela colocou ainda pedaços de alface, hortelã, menta, amendoim, pepino e cenoura. Fez o rolinho, amassou bem com as mãos e me entregou. Mergulhei-o no tal caldo antes de comer. Muito bom. Por fim, foi servido uma frigideira com um peixe previamente grelhado, depois frito com cebolas. Acompanha o prato uma fritada de legumes. Tudo é enrolado em papel de arroz antes de comer. Mais uma vez mergulhei o rolinho no molho de peixe. O papel de arroz é muito seco, sendo essencial que ele seja mergulhado no tal molho para melhor apreciar o sabor da comida. Terminada esta etapa, todos já estavam com cara de satisfeitos, mas ainda faltava mais uma parada. A guia nos falou sobre um típico e famoso café local, servido com ovos. Decidimos experimentar também. Agora faltavam dois locais no nosso roteiro a pé pelo centro da cidade.
6. Depois de passear pela feira noturna, o que foi providencial, pois ajudou a preparar nosso estômago para mais comida, chegamos a uma esquina, onde sentamos na calçada, já íntimos dos banquinhos de plástico baixos. Era um restaurante especializado em frutos do mar chamado Har San. Na rua, um braseiro assava alguns frutos do mar. Um curioso ventilador ajudava as brasas a se manterem acesas. Foi ali que um de nossos pratos foi preparado. Mais cerveja, mais Coca Cola. Falei para a guia pedir menos comida. Ha ordenou dois pratos. O primeiro deles foram lulas bebês servidas inteiras e fritas. Eram temperadas com alho. Gostosas. Só comi uma, pois realmente não aguentava mais comida. Ainda tive que comer um camarão que compunha o segundo prato, pois Ha foi muito gentil em descascá-lo para mim. O camarão tinha sido assado no braseiro da rua. Não tinha tempero, o que potencializou seu sabor adocicado.
7. Chegamos ao ponto final de nosso tour gastronômico, o Cafe Giang. Confesso que se estivesse andando sem rumo pela rua, jamais entraria neste café, pois ele fica no fundo de um prédio cujo acesso se dá por um estreito e longo corredor. Nada chamativo. Dentro estava lotado, tanto de turistas quanto de locais. O chão próximo às mesas baixinhas estava repleto de cascas de sementes de girassol. Eles tomam o café acompanhados das sementes. Pedimos apenas o café. Na verdade, duas pessoas pediram chocolate quente e três foram no café. Estava neste último grupo. Como todo mundo vai ali para tomar o tal café, ele chega rapidamente à mesa. Servido em uma xícara quadrada de porcelana. No lugar do pires, uma cumbuca, onde a xícara fica em banho maria, preservando a temperatura da bebida, que não é muito quente. Uma colherzinha vem junto. Ha nos ensinou a tomar o café. Primeiro pegamos com a colher um pouco do creme de ovos que vem por cima do café. Pareceu-me uma gemada. É feito com gema e leite condensado. Depois de experimentar o doce creme, mexemos bem o restante que ficou na xícara, misturando o creme com o café. Ficou delicioso. Fechamos com chave de ouro esta primeira noite no Vietnã.
Na porta do café, a guia nos explicou como chegar ao hotel e se despediu da gente. Resolvemos lhe dar uma gorjeta de 200.000 dongs, cerca de U$ 10. Ficamos sozinhos para atavessar as ruas. Enfrentamos bem o desafio. Caminhamos seis quadras até o hotel. No caminho, Silvana disse que em um dia já tinha deixado de lado várias recomendações de sua médica em relação à higiene dos alimentos e bebidas. Rimos muito.
Cansados, fomos para nossos respectivos quartos. Já passavam das 22:30 horas. O tour tinha durado quatro horas, uma a mais do que o previsto. Experiência super válida. Jamais conheceria os locais que fomos se não fosse em um tour como este. Para quem planeja visitar Hanói, recomendo viver esta experiência.

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