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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A HISTÓRIA DE PAPUSZA

Acompanhar festivais internacionais de cinema é sempre bom, pois tenho a possibilidade de ver filmes que não entrariam normalmente no circuito exibidor de Brasília. Aproveitei o III Festival Internacional de Cinema de Brasília, mais conhecido por sua sigla em inglês, BIFF, para conferir alguns poucos filmes. Como não podia ir a um número grande, concentrei-me na programação da Mostra Competitiva que ocorreu no Cine Brasília. O primeiro dos filmes que vi foi o polonês A História de Papusza (Papusza), dirigido por Joana Kos-Krauze e Krzysztof Krauze. A produção é de 2013.
O filme foi rodado em preto e branco, tendo uma bela fotografia. O roteiro nos mostra a vida de Papusza, interpretada por Jowita Miondilikowska, desde seu nascimento até a velhice. Ela era cigana e foi a primeira mulher da sua comunidade a virar poetisa. Como ela nasceu em 1910, logo imaginei o sufoco e o preconceito que ela enfrentaria ao longo de sua vida, o que se concretizou na telona.
Ainda jovem, teve contato com um escritor que resolveu morar com os ciganos por dois anos fazendo pesquisa para um futuro livro. Ele descobre o talento de Papusza por declamar poemas que ela fazia e a incentiva a continuar fazendo seus poemas, mesmo depois que ele vai embora. Ela se apaixona pelo escritor, mas seu pai lhe arranja um casamento com um homem mais velho. O fato de ela saber ler desde jovem, pois aprendera por vontade própria com uma senhora, e seus poemas serem publicados no jornal provocaram a ira da comunidade cigana, que lhe taxou de agourenta. A partir daí, ela enlouquece e se recusa terminantemente a afirmar que era a autora dos versos publicados. 
Uma das melhores reflexões do filme é o conflito entre a tradição do povo cigano e os hábitos daqueles que tinham moradia fixa em um determinado local. Hoje se fala muito em respeitar as tradições e culturas dos povos tradicionais. Isto me levou a pensar como isto é difícil, quando estamos imersos nos valores de uma sociedade consumista e competitiva como a nossa. De toda sorte, ao ver determinadas características da comunidade cigana retratada na telona, especialmente o fato de não deixarem as crianças irem na escola, das mulheres estarem sujeitas a casamentos arranjados, e de praticarem furtos, fiquei a pensar até que ponto deve-se respeitar a tradição e até que ponto deve-se introduzir valores diferentes nesta mesma tradição, contrapondo-os com a prática, tida como normal entre eles.
A película ganhou o prêmio de melhor direção no III BIFF.
Gostei muito, não só pela história, mas também por possibilitar estes pensamentos. Ao final, um debate ocorreu no cinema com o ator do filme que faz o marido de Papusza.

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