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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

HANOI - DIA 2

O trânsito de Hanoi é realmente uma loucura, independentemente do dia do ano em que se está. Na tarde de quarta-feira, dia 24/12/2014, foi uma dificuldade para atravessarmos as ruas em nosso passeio pela área conhecida como Bairro Francês. Esta região é assim conhecida por causa da arquitetura dos prédios, herança dos tempos em que a França dominava a então Indochina.
Antes de iniciciarmos este passeio a pé, paramos em um café indicado pelo guia Hoang, distante uns trezentos metros do nosso hotel, o The Little Hanoi (23 Hang Gai, Hoam Kiem), local ideal para um bom café e um lanche rápido, com garçons falando em inglês. Silvana não nos acompanhou neste passeio vespertino, preferindo ficar no hotel e descansar até a hora de sairmos para jantar. Não queríamos almoçar, pois um jantar de Natal nos aguardava para logo mais. Assim, petiscamos comidinhas locais: deep-fried crab spring rolls Hanoi old style (135.000 dongs, porção com quatro) - rolinhos de primavera recheados com carne de caranguejo, servido com o onipresente molho de peixe feito com vinagre de arroz; deep-fried shrimps with tamarind sauce (165.000 dongs, porção com seis) - camarões fritos servidos com um espesso molho de tamarindo. Acompanharam estes petiscos Coca Light (35.000 dongs a lata) e cerveja local chamada Ha Noi (49.000 dongs a garrafa pequena). Comida razoável, nada de excepcional, como já era de se esperar.
De estômagos forrados, saímos em direção ao bairro francês, conforme nos explicara Hoang. Passamos por um lago onde havia um grande movimento de locais que escolhem ali para paquerar e passear no final de tarde. Uma praça com uma estátua gigante do primeiro imperador de Hanoi nos chamou a atenção, onde paramos para tirar fotos. Seguimos em direção ao elegante e clássico hotel The Metropolitan, hoje sob a bandeira Sofitel. Em uma praça próxima a ele, uma bela fonte com motivos que lembram algumas similares francesas servia de cenário para fotos de noivos. Vimos quatro casais devidamente paramentados posando para fotos. Entre uma e outra foto das noivas, também fizemos poses na fonte, seguindo para o hotel. Ainda no caminho, muita gente jogava o badminton, esporte preferido pelos vietnamitas. Entramos no hotel The Metropolitan com a ideia de tomar um café, mas apenas fizemos um giro pelas áreas comuns, incluindo o bar Balcon que é ladeado por uma escada de ferro pintada de branco, voltando para a rua. Continuamos a caminhada, desta vez em direção a um café indicado por nosso guia. Lojas de grifes famosas estão presentes nesta região, assim como a sede da Bolsa de Valores, que tem uma estátua em pedra do touro que simboliza esta transação econômica. A Ópera de Hanoi está localizada na mesma praça da Bolsa. Só a vimos do lado de fora. Embora Hoang tenha dito que ela foi inspirada na Ópera de Paris, não vi nada parecido, a começar pela cor, que em Hanoi é pintada de amarelo, cor presente em todos os prédios públicos. Achamos o café Sweet Cherry Cafe, que fica bem próximo de uma loja da grife de bolsas, a fancesa Longchamp. O café é bem grande, cheio de ambientes espalhados em três pisos. Ficamos no segundo piso, em uma varanda que dava para a avenida. O local tinha um teto de vidro no qual uma água escorria sem parar, conferindo um efeito relaxante. A decoração era um caso a parte, lotada de plantas e flores de plástico. Pedimos apenas café. Cláudia pediu um espresso normal, Lívia e Vera resolveram repetir a experiência que tivemos na primeira noite na cidade, pedindo um café com ovos, e eu pedi um café preto servido em uma espécie de coador de metal. O café era tão forte, mas tão forte, que eu disse que ficaria uma semana sem dormir. A conta deu 250.000 dongs. Como o garçom demorava para cobrar, descemos as escadas e pagamos diretamente no caixa. Voltamos a pé para o hotel, passando por outras ruas, vendo como o povo gosta de sentar na esquinas nos banquinhos baixos para conversar e comer as comidas típicas, especialmente noodles e rolinhos de primavera.
Já perto do hotel, com o trânsito cada vez mais carregado, passamos em frente ao teatro de bonecos. Era fim de espetáculo e uma horda de turistas estava na calçada esperando suas respectivas conduções. No nosso pacote estava incluída uma ida a este show de marionetes na água naquela mesma tarde. Dispensamos para fazer este passeio a pé por uma parte de Hanoi que não estava programado para conhecermos. Acho que fizemos uma boa escolha. Quando fomos atravessar a rua, começamos a rir do que vimos. Uma guarda de trânsito sendo engolida pelas motos, que vinham de todas as direções de um cruzamento. Ela mantinha a calma, apitava e apontava seu bastão, mas o caos só aumentava. A gente teve que entrar nesta emaranhado de carros, motos, bicicletas e pedestres. Um verdadeiro salve-se quem puder. A situação ficou mais non sense quando ela deixou o seu posto e entou em uma loja para chamar o motorista que tinha estacionado o carro em local proibido, o que atrapalhava mais ainda o trânsito. Seguimos nossa caminhada até o hotel. Tempo para banho e se arrumar para nossa noite natalina.

HALONG BAY - TERCEIRO DIA

24/12/2014, quarta-feira, véspera de Natal. Ainda no barco Au Co nas águas de Halong Bay. Acordei muito cedo para participar do Tai Chi Chuan no deque superior do barco. Às 6:30 horas estava a postos. Fazia frio, o tempo estava nublado, o piso estava molhado da chuva que acabara de cair. Doze pessoas acordaram dispostas a fazer os lentos movimentos do Tai Chi. Do grupo, só Cláudia não se animou. A instrutora ligou seu notebook, colocou uma suave música, pediu a todos que se posicionassem para repetir os movimentos de corpo, bem como de respiração, que ela fazia. Nunca tinha feito nenhuma aula desta prática oriental, pois sempre achei que não suportaria os movimentos lentos. Enganei-me. Achei ótima a experiência, que foi potencializada com o cenário daquela baía incrível. Foram quarenta minutos que nem vi passar. Repeti todos os movimentos da instrutora, errando alguns obviamente, mas o resultado foi positivo. Parece que captei mais energias por causa da respiração, por causa do horário e por causa do belíssimo lugar. Ao final, os doze ficaram alinhados em uma fila indiana. Lívia foi a primeira da fila e eu vim logo em seguida. A instrutora era a última. O que tínhamos que fazer era repetir os movimentos de massagem que ela fazia em que estava a sua frente. Foi uma deliciosa e relaxante massagem coletiva em ombros e pescoço.
Saímos reenergizados direto para o café da manhã, onde fizemos a a avaliação, por escrito, de todo o passeio. Em seguida, cada um foi para sua cabine acabar de arrumar malas, pois o acerto na recepção deveria ocorrer até 9:30 horas, mesmo horário em que deveríamos colocar as malas do lado de fora da cabine. Todo o consumo do nosso grupo foi lançado em minha cabine para facilitar na hora da divisão. Nossa conta de extras, refletida em vinhos que tomamos durante as duas noites e três dias no barco, ficou em U$ 405, o que deu U$ 81 para cada um. Além da conta, cada um depositou em uma caixa uma gorjeta para a tripulação. Com tudo pronto, subimos para o terceiro piso, enrolamos na manta e ficamos sentados conversando e vendo as últimas pedras da baía. A vista de onde estávamos era muito bonita. Ao fundo, as pedras que parecem brotar da água verde e uma frota de navios de vários tamanhos navegando na mesma direção, como se fosse uma procissão em homenagem à Nossa Senhora dos Navegantes. Todos indo para o porto. Enquanto navegávamos, uma cerimônia do chá ocorria no bar para quem estava interessado. Já tinha vivido esta experiência quando estive na China, motivo pelo qual continuei a apreciar a paisagem. Chegamos ao porto às 10:30 horas, onde nosso guia Hoang já estava nos esperando. Como em qualquer cruzeiro, primeiro desembarcaram as malas, que iam sendo colocadas no pátio em frente ao navio; depois saímos todos. Identificamos as malas que logo foram levadas para dentro da van. Uma viagem de três horas até Hanoi nos aguardava. Paramos no meio do caminho em uma espécie de entreposto de artesanato. Parada providencial para ir ao banheiro e para um lanche rápido. Chegamos novamente em Hanoi por volta de 13:30 horas. Ficamos no mesmo hotel quando começamos nossa viagem, o Golden Silk Hanoi. Na recepção, nada precisamos apresentar. As chaves já estavam prontas. Recebemos um up grade. Fiquei em um quarto quase o dobro do que tinha ficado na primeira noite, desta vez de frente para a rua. Era hora de comer alguma coisa.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

HALONG BAY - SEGUNDO DIA

O dia 23 de dezembro foi todo dedicado a Halong Bay. Mesmo estando acordado desde cinco horas da manhã, continuei na cama quando começava a aula de tai chi chu an no deque do barco, perto de 6:30 horas. Vera e Lívia foram e tiraram belas fotos do nascer do sol. Conforme tínhamos combinado, cheguei ao restaurante para o café da manhã à 8 horas, pois a primeira atividade externa do dia teria início às 9 horas, horário em que estávamos prontos, com colete salva-vidas, para embarcar no tunder que nos levaria até a entrada de uma vila de pescadores flutuante. O trajeto durou uns dez minutos. No deque, uma integrante da tripulação fez uma pequena explanação sobre a região, mostrando em um mapa como seria o nosso passeio a partir daquele ponto. Barcos feitos de bambu, parecidos com canoas, estavam aguardando o nosso embarque. Cada um destes barcos comporta entre quatro e seis pessoas, além do condutor. A indicação era para ir quatro pessoas em cada barco. Pedimos para ir em um barco maior, já que éramos cinco, o que foi prontamente aceito. Fomos o segundo grupo a embarcar. Nosso barco tinha três tiras de madeira que serviam de bancos no centro, enquanto uma senhora, protegida com aqueles chapéus feitos com palha de arroz, em formato de cone, que temos em nosso imaginário quando ouvimos falar no Vietnã, ficava na parte de trás segurando dois remos. Durante todo o tour, que dura cerca de quarenta e cinco minutos pelas calmas e verdes águas da baía, nossa remadora ficou em pé. Ao lado da entrada desta vila flutuante há uma fazenda de cultivo de ostras, cujo objetivo eram as pérolas. Não chegamos a entrar na fazenda, pois ela não integra a vila.
A área é protegida pela Unesco, que a considerou Patrimônio Natural da Humanidade. Para evitar a sujeira, muitos pescadores flutuantes foram realocados em terra firme. Pelo que entendi, apenas um vilarejo flutuante ainda existe, justamente o que estávamos visitando. As condições de vida são muito simples. Não há energia elétrica, telefonia ou serviços públicos. Os pescadores vivem em pequenas casas flutuantes, todas feitas em madeira. Para energia, usam geradores. A fonte de renda vem da pescaria que praticam. Para alimentação, roupas e produtos que necessitam, compram em barcos que chegam até o local, quando aproveitam para vender o excesso da pescaria. Escolheram viver naquele local porque as pedras os protegem de ondas, pois a água é parada, os protegem dos ventos, pois as pedras impedem a entrada dos fortes ventos que vêm do oceano. Quando chegamos perto de uma pedra furada que dá acesso ao mar aberto, sentimos o vento frio que de lá vinha. O terceiro motivo é a abundância de peixes e frutos do mar no local. Como eles não praticam uma pesca predatória, existe a certeza de que vão conseguir pescar alguma coisa. Mas é a paisagem o que mais chama a atenção. A calma do lugar, o silêncio, a altura das pedras e o verde que nelas se exibe fazem do local um paraíso na terra. O lixo produzido pelos pescadores é colocado em uma casinha de madeira, localizada em terra firme, onde periodicamente o sistema de coleta de lixo do governo o recolhe. As casas dos pescadores não estão todas juntas. Ficam espalhadas entre as pequenas baías e braços de mar que se espalham pelo lugar. Para reuniões e encontros festivos, há uma casa maior, também flutuante. Vimos gente que vive em pequenos barcos, bem menores do que as casas. As crianças apenas aprendem a ler e escrever o básico e quando chegam em terra firme, têm dificuldades de se integrarem nas escolas. A rotina delas é a pescaria ao lado dos pais. Em duas casas havia cachorro. Durante o passeio, tiramos dezenas de fotos, incluindo algumas com o chapéu cônico na cabeça, pois em todos os barcos há tais chapéus disponíveis para os turistas tirarem fotos. Não é brinde. Voltamos para o local da partida, dando uma gorjeta para nossa remadora no total de 100.000 dongs (cerca de U$ 5). O que me chamou a atenção era como a mulher era forte, pois aguentou remar o barco durante quase uma hora, sem parar, sem alterar o ritmo e sem emitir uma palavra sequer. Sua pele do rosto era muito enrugada, parecendo uma velhinha, mas creio que seja por causa do sol que eles pegam diariamente. Segundo a funcionária de nosso barco, as remadoras (a maioria era mulher) utilizam o dinheiro que ganham de gorjeta para comprar livros para melhorar a educação das crianças. Embarcamos novamente no tender e retornamos para o barco.
Quando chegamos ao nosso barco, eu, Vera e Silvana pegamos uma manta para nos proteger do frio, ficando no quarto e último andar, deitados em espreguiçadeiras de palha, conversando e apreciando a paisagem. Lívia e Cláudia foram fazer massagem. Quando as duas se juntaram a nós, o tempo estava nublado, ameaçando chuva. Decidimos tomar um vinho. Escolhemos para a ocasião o tinto neozelandês Villa Maria. Assim que brindamos, sentimos alguns pingos de chuva e descemos para o andar de baixo, onde havia como se proteger. Logo anunciaram no sistema de som que o almoço seria servido. E eles são muito rígidos em relação a todos estarem a postos no restaurante no horário marcado, pois era sempre a ocasião de passar informações e de dizer como seria o programa do turno seguinte. Para a parte da tarde, havia um passeio em Viet Hai, um vilarejo que fica em terra firme, perto de uma parque nacional. Havia quatro modos de fazer o passeio: de bicicleta, cuja duração era de duas horas (ida e volta) com direito a subidas e caminhos estreitos; a pé, com duração de uma hora até o vilarejo; de moto, quando um condutor levaria cada um que escolhesse tal opção, cuja duração era de quarenta minutos; e de carro elétrico, tipo aqueles usados em campos de golf, cuja duração era de vinte minutos até o vilarejo, comportando até nove pessoas em cada carro. Os caminhos dos quatro passeios eram diferentes entre si. Para os dois últimos havia um adicional. Para a moto, U$ 5 por pessoa, enquanto para o carro elétrico, U$ 4 por pessoa. Escolhemos a última opção.
Mais uma vez foi servido um menu de cinco etapas no almoço, o melhor deles na opinião de nós cinco, que acompanhamos com uma segunda garrafa do mesmo vinho neozelandês que começamos a tomar antes. Eis os pratos do menu:
1. Banh Xeo - é uma panqueca vietnamita, com massa amarela frita feita de milho, recheada com pedaços de frango, camarão, broto de feijão e vegetais. Três papéis de arroz cortados em formato de cone acompanhavam o prato. Parte-se a panqueca em tiras, coloca-se um pedaço no papel de arroz juntamente com vegetais crus cortados em tirinhas finas, enrola-se, mergulha-se em um potinho que tinha o caldo feito com vinagre de arroz e molho de peixe e leva-se à boca. Muito bom.
2. Pumpkin cream soup with star anise infusion - sopa de abóbora moranga bem cremosa, servida quentinha, com leve sabor de gengibre. Sensacional.
3. Banana flower salad with steamed squid - uma salada com lula cozida no vapor cortada em tiras, salpicada de um tipo de trigo, e misturada com tirinhas finas de cenoura e repolho. A flor de bananeira dá o toque exótico ao prato, mas o seu sabor trava na boca. Não comi a flor inteira. Gostei da salada, que ficou melhor ainda quando regada com azeite.
4. Stewed beef shank with five spice served with seasonal vegetable and ginger rice - carne de panela, ou seja, músculo cozido servido com um molho que levou cinco especiarias, cujo sabor levemente adocicado me lembrou canela. Foi servido com uma espécie de mandiopã, só que feito com massa de arroz, por chuchu levemente cozido e por um arroz grudento, que adoro, temperado com gengibre, o que lhe conferiu uma coloração amarela. 
5. Crème brulé & steamed banana cake with coconut - um potinho com creme brûlé, que não tinha nada de excepcional, e um pedacinho de uma torta de banana quase madura, feita no vapor, regada com um molho a base de coco. Gostei mais da torta de banana.
Nem bem terminamos de almoçar e já éramos chamados para o passeio em terra. Nossso tender foi o último a sair. 18 pessoas escolheram o passeio de carrro elétrico, que já nos aguardava no deque onde desembarcamos. Durante o trajeto, nada além da vegetação local, com exceção de uma abandonada fazenda de cultivo de peixes, onde paramos para fotos, pois o reflexo da pedra na água verde rende excelentes fotografias. Ao chegar no vilarejo de Viet Hai, paramos em uma casa, onde sentamos na varanda para ter uma explicação sobe a ilha, seus moradores, que são oriundos das famílias que viviam nas vilas flutuantes, o que cultivavam, quando soubemos que alguns alimentos consumidos em nosso barco vêm daquela comunidade, além de informações sobre o macaco em extinção que só podia ser encontrado ali, mas que não o veríamos, pois são muito poucos e viviam na área protegida do parque nacional que existe no centro da ilha. Depois desta mini palestra, acompanhamos a guia pelo vilarejo. O passeio é o maior mico. Totalmente dispensável.
Quando retornamos para embarcar no tender, pagamos 350.000 dongs (U$ 20) para o motorista do carro elétrico, valor correspondente ao extra por termos escolhido esta forma de fazer o passeio. De volta ao navio, não quis saber de mais nada. Fui dar um cochilo, enquanto rolavam mais duas atividades externas: passeio de caiaque e natação. Nenhuma da duas me apeteceu. Só saí da cabine novamente por volta de 19:15 horas, quando foi servido o último jantar a bordo. Desta feita, um buffet barbecue, com serviço self-service. Comi apenas arroz frito, espetinho de porco com pimentão e camarão cozido no vapor, embora houvesse bem mais opções. Compartilhamos mais uma garrafa de champanhe Moet Chandon Rosé, cuja rolha pagamos U$ 15, e o vinho tinto australiano feito com a casta shiraz chamado DB (De Bortoli), cuja garrafa continuamos a beber no deque externo após o jantar, devidamente protegidos com uma manta.
Fui dormir às 23 horas, pois meu olho estava custando a ficar aberto de tanto sono.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

HALONG BAY - PRIMEIRO DIA

Acordei bem cedo na manhã da segunda-feira, dia 22 de dezembro de 2014, pois o guia Hoang nos pegaria no hotel às 8 horas para seguirmos nosso roteiro de viagem. Tomei o café da manhã, descendo, em seguida, para fazer o check out. Pedi para ficar com a chave magnética, pois coleciono chaves de hotel no formato de cartão. A recepcionista me disse que não poderia me dar. Perguntei o preço para ficar com a tal chave. Paguei 42.000 dongs (U$ 2) e guardei a chave. Hoang foi pontual. Saímos do hotel rumo a Halong Bay, ponto alto do turismo vietnamita, no horário. O percurso de Hanói até Halong Bay tem 170 quilômetros, mas dura cerca de quatro horas por causa do trânsito lento. No caminho, quando o engarrafamento se formava, nosso motorista foi alertado por outro que um caminho alternativo estava mais tranquilo. Hoang nos explicou que é normal os motoristas pedirem informações para outros sobre o trânsito no caminho. No trajeto, vimos muitos campos de arroz totalmente secos. Como estamos no inverno, não há água suficiente para o cultivo de arroz, motivo pelo qual os camponeses plantam cebola no local para aproveitar o terreno. Em alguns trechos, havia diques construídos pelos fazendeiros de arroz para a criação de peixes. Também vimos muitos incensos artesanais secando ao sol.
Pequenos vilarejos estão no caminho. As casas na beira da estrada têm altares dedicados a Buda na entrada. Muitos cemitérios aparecem ao longo da rodovia. Hoang explicou que os cemitérios de Hanói não mais comportam enterros. Como o budismo não aceita a cremação, aqueles que morrem são levados para as cidades onde nasceram para nela serem enterrados. Vimos dois cemitérios militares onde crianças limpavam os túmulos em lápide negra. São túmulos de soldados mortos na guerra do Vietnã cujas famílias são desconhecidas. As escolas incentivam as crianças a trabalharem como voluntários na sua limpeza, preservando a memória dos heróis de guerra. Com duas horas e meia de estrada, fizemos uma parada em um centro de artesanato construído pelo governo para pessoas com deficiência. A parada é providencial para ir ao banheiro. Ficamos meia hora por lá, pecorrendo os corredores repletos de artigos artesanais, como objetos de decoração laqueados, produtos em seda, bijuterias, pérolas, roupas, telas desenhadas em linha, em trabalho lindo e minucioso. Ninguém comprou nada, mas na parte de guloseimas, as mulheres do grupo fizeram a feira: biscoitos, doces, amendoins. Voltamos para a estrada. Durante todo o trajeto, a rede 3G funcionou perfeitamente, o que nos permitiu navegar na internet e nos comunicar com amigos pelo whatsapp. Chegamos em Halong Bay às 12:30 horas. Hoang nos deixou em frente ao nosso barco, chamado Âu Co. Quando compramos o pacote, não estávamos neste barco, mas a Odyssey Tours nos ofereceu, sem custos, um up grade para o navio mais luxuoso que opera na baía. Aceitamos imediatamente.
Hoang ficaria na cidade enquanto estaríamos navegando. Uma funcionária da companhia de cruzeiro identificou-nos, entregando um crachá com o número de nossas cabines. Ficamos todos no primeiro piso do barco. Minha cabine foi a de número 101. Em seguida, identificamos as nossas malas e entramos no lounge de espera para embarcar. Fomos recebidos com toalhinhas geladas e chá preto, enquanto líamos um papel com a declaração de que a empresa não se responsabilizaria por eventuais acidentes individuais ocorridos durante os passeios programados durante nosso cruzeiro. Nosso barco tinha quatro andares, sendo o mais alto de todos que estavam ancorados. Eles saem no mesmo horário. O embarque foi muito organizado. Uma mulher levantava uma plaquinha com o nome do barco e uma fila indiana com os passageiros a seguia para embarcar. Nosso embarque foi acompanhado por uma dupla de homens tocando tambor, enquanto dois outros balançavam bandeiras. Eles estavam usando roupas de seda bem coloridas. Eu e Vera fomos os primeiros a embarcar. Minhas malas estavam disponíveis na porta de minha cabine, que era a mais próxima da recepção. O barco tem apenas 32 cabines.
O barco zarpou às 13 horas. A primeira atividade foi no restaurante do barco, localizado no 3º piso, quando a responsável pelo cruzeiro apresentou a equipe, deu informações sobre segurança, sobre os passeios fora do barco e sobre os itens iclusos e não inclusos no pacote de três dias/duas noites do nosso cruzeiro. Em seguida, foi servido o almoço, um menu fechado, com cinco etapas:
 1. The Au Co Signature salad with dragon fruit & phan thiet scallops - prato com linda apresentação. Uma salada com pitaya cortada em cubos, pepino, cenoura, passas e cebola, em molho cremoso adocicado, além de vieiras, que estavam cozidas além do ponto. A salada, servida dento de uma metade de uma pitaya, chamada por eles de fruta do dragão, seria mais saborosa sem as vieiras.
2. Black forest mushroom soup with tempura enoki mushroom - sopa de cogumelos negros com tempura de cogumelo enoki servida em um bonito bowl. O caldo era expesso por causa do excesso de gordura. Deixei quase tudo no prato.
3. Grilled minced Ha Long fish and corn on lemon grass - com mais uma bela apresentação, prato com dois bolinhos fritos feitos com milho e peixe oriundo da própria baía Ha Long. Um talo de capim-limão partia de dentro do bolinho para fora, formando uma haste para segurá-lo sem sujar as mãos de gordura. O bolinho tinha pouco tempero, mas quando apertei o talo do capim-limão, o seu líquido deu sabor a ele.
4. Chicken roulade with onion cream sauce served with mashed sweet potatos, glazed carrots & morning glory - peito de frango empanado, recheado com queijo, servido sobre uma cama de creme de cebola, acompanhado por purê de batata doce, cenoura glaceada e um molho verde. Frango tenro, com bom tempero. O purê de batata doce estava muito gostoso. O melhor prato do menu.
5. Passion fruit panna cotta & dark chocolat tart - uma panna cotta sem graça, com calda de maracujá ácida além da conta. Não experimentei a tortinha de chocolate porque as minhas amigas disseram que a massa era muito ruim.
A apresentação dos pratos foi mais interessante do que o sabor. Brindamos com champagne Tatinger Brut. Durante o almoço, ainda tínhamos acesso à internet. Tiramos várias fotos dos pratos e da paisagem, quando as primeiras formações rochosas apareciam no nosso horizonte. Todos nós enviamos as fotos por whatsapp ou postamos nas redes sociais ,com exceção de Silvana, que dizia que preferia postar mais tarde, por causa do fuso horário. Mal ela sabia que ficaríamos sem sinal logo depois do almoço.
Às 15 horas saímos em um tender (um pequeno barco com motor) para conhecer a maior caverna da região. O que mais foi alertado pelos funcionários do barco era o número de degraus que venceríamos na caverna, cerca de setecentos, entre subidas e descidas. Falaram isto várias vezes. A maioria dos passageiros fez este passeio. Ninguém entra no tender sem um colete salva-vidas, disponibilizado pelos funcionários do barco. Também nos deram uma garrafa de água mineral para o passeio. Levamos cerca de dez minutos do barco até o pier que dá acesso ao início das escadas para a caverna. Antes de subirmos, nova preleção sobre a quantidade de degraus. Chegamos junto com outros pequenos barcos, formando uma razoável quantidade de pessoas, o que causou um congestionamento nos degraus. Levamos cerca de quarenta e cinco minutos para percorrer as três câmaras da maior caverna seca da região. A primeira câmara é pequena, sem muita beleza. Já a segunda, aumenta consideravelmente de tamanho, com iluminação natural e articificial, realçando as formas que tomavam as estalaguitites e estalaguimites. Mais à frente, a terceira câmara se revelou enorme com belas paisagens rochosas. Uma rocha no formato de tartaruga era ponto de parada. Todo mundo colocava a mão na pedra que formava a sua cabeça e alguns jogavam dinheiro no corpo dela. Não soube o que significava aquele ritual, mas, por via das dúvidas, também coloquei minha mão na pedra. A vista que se tem da baía quando saímos da caverna, bem no alto da pedra, é sensacional, motivo do aglomerado de gente que se formava no pequeno deque para tirar fotos. Fui rápido para achar um lugar, tirei algumas fotos e continuei a descer as escadas até o pier de onde embarcamos no tender rumo ao nosso barco.
Assim que chegamos de volta ao barco, fui dormir. Estava muito cansado, pois a noite anterior não tinha pregado o olho. Vera e Silvana foram fazer massagem. No restaurante rolava uma demonstração de culinária. Ninguém do nosso grupo acompanhou esta demonstração. Aproveitei as duas horas que tínhamos até o jantar para dormir e tomar um excelente banho. Por falar nisto, nunca vi um banheiro tão grande em um barco. Box enorme, água pelando. Muito bom.
Voltamos a nos reunir às 19:30 horas, horário do jantar. Mais um menu com cinco etapas:
1. Cold crystal spring rolls with local crunchy vegetables and sea food pan cake - rolinhos primavera feitos com uma massa de arroz quase transparente, recheada com vegetais crus. Para comê-los era melhor mergulhá-lhos no molho de peixe feito com vinagre de arroz servido à parte. Acompanhava o prato um insosso omelete de frutos do mar.
2. Special red rice noodle with river crab broth, tofu, rolled pork with piper leaf - sopa de noodles feito de arroz vermelho com pedaços de carne de caranguejo, carne de porco, queijo tofu e folhas de menta. Novamente achei o caldo da sopa expesso demais por causa da gordura. Não gostei da carne de porco.
3. Lemon leave steamed prawns served in a pineapple - o prato mais bonito. Dez camarões grandes cozidos no vapor espetados em um abacaxi iluminado internamente por uma vela. Para comer o camarão, utilizei a mão para descascá-lo. Uma providencial cumbuca com uma lavanda foi colocada na mesa para limpar nossas mãos ao término deste prato. O camarão estava cozido no ponto ideal, com sabor levemente adocicado.
4. Grilled sea bass with galangal sauce served with lotus rice and sautée pok choi - peixe branco grelhado servido com arroz branco recheado de pedaços da flor de lotus e acelga sautée. O peixe tinha espinhas e estava com gosto de maresia. Deixei tudo no prato, só comendo o arroz branco, daqueles bem grudados, sem nenhum tempero, que adoro e a acelga.
5. Black sticky rice with yoghurt and fruits flambe - arroz doce bem mole por causa do iogurte com o qual é feito, encimado com uma calda de frutas vemelhas, acompanhado de frutas flambadas. Gostei muito desta sobremesa, diferente de Vera, que a achou demasiadamente aguada.
Para acompanhar o jantar, abrimos um champanhe que Vera e Cláudia tinham comprado no aeroporto de Doha, um Moet Chandon Rosé. Para usar o serviço de restaurante do barco, foi cobrado U$ 15 de rolha. Ainda bebemos durante o jantar o vinho tinto francês E. Guigal.
Resolvemos ficar no deque do terceiro andar após terminarmos de jantar. Cada um se embrulhou em uma manta disponibilizada pelo barco, sentamos ao redor de uma mesa, pedimos mais um vinho tinto, o italiano Banfi Col di Sasso, cabernet sauvignon/sangiovese, e ficamos a conversar até o sono chegar. Fui para o quarto às 23 horas, enquanto Lívia e Vera se uniram a alguns poucos passageiros na pescaria que acontecia no primeiro piso, em varanda ao lado da recepção.
Deitei e dormi rapidamente.




FOOD ON FOOT EM HANÓI, VIETNÃ

Nós cinco estávamos a postos no hall do hotel às 18 horas do dia 21 de dezembro de 2014 para o encontro com a guia que nos conduziria no tour gastronômico a pé pelo centro da cidade. O tour se chama Food on Foot e foi contratado pela internet, com guia exclusivo para nosso grupo falando em inglês. A guia chegou no horário. Ela se chamava Ha (pronuncia-se rá). Perguntou o nome de cada um de nós e explicou como seria o passeio, cuja duração prevista era de três horas. Resolvemos pagar o passeio ainda no hall do hotel. Cada um pagou U$ 40. A princípio, pararíamos em cinco locais para experimentar os pratos tradicionais mais populares em Hanói. A temperatura era de 18º C, mas pelos casacos que os locais usavam, parecia bem menos. Vesti apenas um cardigan e foi o suficiente. Saímos para a esquerda do hotel, andando poucos metros na rua Hang Gai até pegarmos a primeira a esquerda, seguindo a rua Hang Trong. Na esquina, já vimos como os vietnamitas gostam de comer nas ruas. Em espaços mínimos, eles se sentam em banquinhos de plástico bem baixos, se amontoando em grupos sorridentes. Nas mãos, pequenas cumbucas e os sempre presentes hachis, aqueles pauzinhos que os orientais usam para comer. As esquinas são as mais disputadas, pois nelas tem menos motocicletas estacionadas. No restante da calçada também há gente comendo nestes banquinhos que são super baixos, mas disputando espaço com as centenas e centenas de motos paradas. A maioria das pessoas prefere andar nas ruas, tornando a disputado no trânsito mais peculiar ainda. Muitas lojas estavam abertas, vendendo roupas, calçados, artesanato, bolsas, abrigando também pequenas quitandas, spas, karaokê, galerias de arte, salões de beleza. Muitos pequenos hoteis ocupam estes prédios no centro da cidade. Ali, todos os proprietários podem ter um comércio em sua casa. Desta forma, eles constroem pequenos prédios de dois, três ou quatro andares, um colado no outro, onde o térreo abriga um comércio, na maioria dos casos, familiar, enquanto a família ocupa os andares superiores. Como o imposto é pago conforme a largura do prédio, estas edificações são estreitas e fundas. A guia, durante o nosso percurso, fez questão de parar em frente ao prédio mais estreito da cidade, com quatro andares. No térreo, uma mistura de galeria de arte com artigos de artesanato. Foi difícil imaginar como viviam as pessoas em espaço tão apertado. Outro lugar que vimos durante o passeio foi a maior igreja católica que existe na cidade, construção realizada pelos franceses quando dominavam o país, na época em que o Vietnã ainda era um pedaço da Indochina. A arquitetura da igreja é visivelmente copiada de igrejas antigas de Paris. O movimento em torno da igreja era grande, com muitos vendedores ambulantes nos oferecendo comida, especialmente um salgado frito feito com banana. Muita gente se aglomerava na entrada da igreja. Segundo a guia, 13% da população do país é católica. Por ser início de noite de domingo, nas vésperas do Natal, o movimento na igreja era justificado pela celebração de uma missa.
Durante o tour a pé, atravessamos muitas ruas e becos no melhor estilo local, sempre escoltado pela guia. O segredo é levantar a cabeça, ser confiante, mirar o outro lado da rua e com um olho no destino e outro nos veículos, avançar passo a passo, sem correr, pois do contrário, o risco de ser atropelado é enorme. Vimos coisas curiosas, como uma formatura oficial ocorrendo em palco montado na frente de um teatro; uma senhora conduzindo uma turma de crianças uniformizadas que seguiam gritando palavras de ordem; mais de uma apresentação musical, entre elas, uma que acontecia em frente a um templo budista dedicado ao Cavalo Branco, com músicos sentados no chão tocando instrumentos musicais bem diferentes; e uma outra em que dois saxofonistas solavam suas canções vestidos de Papai Noel; e uma apresentação cênica em palco montado em uma esquina que me lembrou elementos da ópera de Pequim, especialmente o gestual, a trilha sonora, a maquiagem e o figurino. Era o mais concorrido, com muitos turistas e locais aglomerados em torno dela com celulares e máquinas digitais regristrando tudo. A principal atração nos finais de semana no centro da cidade é a feira noturna que ocupa a extensão de quatro ruas (Hang Gay Dxuan, Hang Duong, Hang Ngang e Hang Dao). Andamos uns duzentos metros nesta feira. Estava abarrotada de gente. Barracas ocupam o centro da rua, cujo trânsito é interrompido nas noites de sábado e domingo, vendendo tudo quanto é quinquilharia. Predomínio de artigos falsificados, com todas as "grifes" mundiais se fazendo presentes. Os cartões de papel, que ao abrir formam interessantes e belos desenhos em uma espécie de 3D, nos chamaram a atenção. Nas ruas transversais, o movimento era grande, pois há muitos pequenos comércios nas calçadas vendendo comida. Mas o principal desta noite foi nosso tour gastronômico, que descrevo a seguir. A guia Ha foi além do contratado, pois paramos em sete locais, ao invés de cinco, e fizemos o passeio todo em quatro horas, uma a mais do que o previsto. Vamos à curiosa experiência:
1. A primeira parada foi em uma carrocinha de sanduíche chamada Bom Pop. Já chutei o balde de cara, abstraindo de qualquer repulsa ao fato de comer na rua. Sentamo-nos como os locais, nos banquinhos baixos, enquanto nosso sanduíche era preparado. Para quem não está acostumado, a posição que se fica é desconfortável. Parecia que estávamos de cócoras. Ha pediu dois sanduíches para nós cinco, pois a jornada seria longa. Segundo a guia, foram os franceses que introduziram o pão na vida dos vietnamitas. E a baguete em que é servido o sanduíche comprova a herança francesa. O pão estava delicioso, crocante. Antes de servir, o pão é levemente prensado em uma chapa. O sanduíche vem dentro de um saco de papel, que serve de apoio para não sujar as mãos. O recheio é único: uma mistura bem equilibrada de patê de porco, presunto e carne de porco assada, cortada em finas tiras, alface, coentro e molho de pimenta. Ha disse que a pimenta era fraca. Para quem não está acostumado, a pimenta ardia muito. Dividimos três garrafas de 600 ml de Coca Cola. Saboroso, apesar do coentro, que não aprecio muito.
2. A segunda parada foi a que mais assustou a gente. Paramos em um local lotado de turistas ocidentais, todos amontoados nos banquinhos nas calçadas. Fomos levados para dentro do estabelecimento familiar chamado Quán Göc Da. Passamos por uma enfadonha senhora que amassava uns bolinhos, devidamente calçada com luvas cirúrgicas, e os colocava para fritar em uma panela ao lado dela. A bagunça de coisas espalhadas pelo chão e paredes era grande. A sujeira também chamou nossa atenção. Sentamos em mesa de plástico baixa. Aqui a especialidade são as frituras. Logo chegou à mesa vasilhas com as tais frituras. Rolinho de primavera feito com massa de arroz recheada com carne de porco - para comer, hachis que ficavam disponíveis na mesa. Como ninguém de nós ousava pegá-los, a guia passou água e enxugou com guardanapo cinco pares para o grupo. Tivemos que usar. O rolinho é levemente frito, tem um tempero ótimo e mergulhado na cumbuca com um caldo branco feito de vinagre de arroz, molho de peixe e pedaços de mamão papaia verde ficou melhor ainda. O melhor do local e talvez da noite. Bolinho frito slagado - conhecido como donut salgado, em nada lembra os parentes americanos. São servidos fritos, recheados com uma mistura de carne de porco com cogumelos. A massa não tem nenhum tempero e é feita com arroz, dando uma consistência grudenta e muito oleosa na boca. Como todas as frituras aqui servidas, a guia nos aconselhou experimentar o salgado mergulhando-o no tal caldo. Ficou melhor, mas continuei sem gostar. Salsicha de porco empanada com farinha de arroz e gergelim, servida fria. Saborosa, mas sem nada de especial. Pastel de carne de porco - chamado pela guia de pillow cake, tem massa e recheio muito parecidos com o pastel brasileiro. Veio cortado em pedaços. A massa não esfarela muito. Bom, nada além disto. Bolinho frito doce - tem a mesma massa de arroz grudenta e oleosa do salgado, mas o recheio é um purê doce feito com feijão verde cozido, tem uma cor amarelada. É melhor do que a opção salgada. Mesmo sendo doce, Ha aconselhou experimentar mergulhar este bolinho no caldo. Ficou bom. Para acompanhar as frituras, bebemos a cerveja local chamada Bia Hà Nôi. Vieram duas garrafas à mesa e cinco copos com muito gelo! Os vietnamitas gostam de tomar cerveja assim, especialmente as mulheres. Ninguém quis passar por esta experiência. Preferimos sem gelo, pois as garrafas já estavam geladas. Até eu bebi um copo. Gosto menos amargo. Foi um bom acompanhamento para as frituras.
3. Em um beco escuro e estreito, paramos em uma frutaria. As frutas eram muito bonitas, com cores fortes. Os ovos eram sujos. Parece que eles não os lavam antes de vender, pois vimos várias quitandas com ovos expostos da mesma forma. A guia comprou dois tipos de fruta. Uma porção de uma redonda, de casca marrom esverdeada, que lembra a pitomba, e uma porção de rambutã, fruta parecida com a lichia, mas cuja casca é cheia de filamentos parecendo espinhos. Experimentamos estas frutas na próxima parada.
4. Uma pequena lanchonete chamada Bang Gia foi nossa quarta parada, onde era a hora de experimentar um dos mais populares pratos locais, um pho bo, ou seja, uma sopa de noodles, coentro e pedaços de carne de porco que é previamente marinada por oito horas. Para quem é sensível com práticas nada convencionais de higiene, não comeria neste local, pois a carne de porco marinada tem um aspecto horrível, ficando exposta em uma vitrine ao lado de onde um homem prepara a sopa para os comensais. A guia pediu duas cumbucas, divindindo-as em cumbucas menores para nós cinco. Come-se com hachis reutilizáveis, levando a cumbuca à boca para beber o caldo. Dividimos a mesa com uma senhora local. Fiquei observando-a comer o noodle, constatando que eles são muito rápidos no manejo dos pauzinhos. Ha descascou as frutas para nós experimentarmos. Ambas lembram o gosto da lichia, sendo que a parecida com a pitomba tinha um gosto meio passado. Ninguém gostou da sopa. Eu gostei do noodle, feito com arroz, apresentado em formato que lembrava um talharim, só que bem branco. Achei o gosto da carne ruim.
5. Chegou a vez de entrarmos em um pequeno restaurante de dois andares que estava cheio de turistas ocidentais. Como tinha uma placa do Trip Advisor no caixa, conclui que este era o motivo do movimento de estrangeiros no Countryside Restaurant. Três pratos foram servidos em nossa mesa, localizada em uma saleta no segundo piso, ao fundo do prédio, sala sem janelas. Para acompanhá-los, mais cerveja local, a mesma que experimentamos na segunda parada e Coca Cola. Também serviram uma espécie de aguardente, por eles conhecida como vinho de arroz. Eles a chamam de happy water. A bebida, após finalizada, é curtida em um coco maduro, motivo pelo qual é servida diretamente deste coco. O sabor lembra o de uma batida de coco, sem o creme de leite. O primeiro prato servido foi uma salada fria de cenoura, pepino e manga verde, todos cortados em juliene, enriquecida com anéis de lula, corpo da lula e camarões. Come-se em uma cumbuca, utilizando o hashi. Antes de levar à boca, a guia nos aconselhou mergulhar o conteúdo em um molho de peixe, feito com vinagre de arroz. Gostei da manga verde. Em seguida, foi servida uma pan cake recheada com uma mistura de carne de porco, camarão e legumes. Parecia um pastel gigante, devidamente fatiado. A massa é frita, feita com arroz. Para comer, Ha nos ensinou a enrolar um pedaço deste pan cake em um papel de arroz disponível na mesa. No mesmo rolinho, ela colocou ainda pedaços de alface, hortelã, menta, amendoim, pepino e cenoura. Fez o rolinho, amassou bem com as mãos e me entregou. Mergulhei-o no tal caldo antes de comer. Muito bom. Por fim, foi servido uma frigideira com um peixe previamente grelhado, depois frito com cebolas. Acompanha o prato uma fritada de legumes. Tudo é enrolado em papel de arroz antes de comer. Mais uma vez mergulhei o rolinho no molho de peixe. O papel de arroz é muito seco, sendo essencial que ele seja mergulhado no tal molho para melhor apreciar o sabor da comida. Terminada esta etapa, todos já estavam com cara de satisfeitos, mas ainda faltava mais uma parada. A guia nos falou sobre um típico e famoso café local, servido com ovos. Decidimos experimentar também. Agora faltavam dois locais no nosso roteiro a pé pelo centro da cidade.
6. Depois de passear pela feira noturna, o que foi providencial, pois ajudou a preparar nosso estômago para mais comida, chegamos a uma esquina, onde sentamos na calçada, já íntimos dos banquinhos de plástico baixos. Era um restaurante especializado em frutos do mar chamado Har San. Na rua, um braseiro assava alguns frutos do mar. Um curioso ventilador ajudava as brasas a se manterem acesas. Foi ali que um de nossos pratos foi preparado. Mais cerveja, mais Coca Cola. Falei para a guia pedir menos comida. Ha ordenou dois pratos. O primeiro deles foram lulas bebês servidas inteiras e fritas. Eram temperadas com alho. Gostosas. Só comi uma, pois realmente não aguentava mais comida. Ainda tive que comer um camarão que compunha o segundo prato, pois Ha foi muito gentil em descascá-lo para mim. O camarão tinha sido assado no braseiro da rua. Não tinha tempero, o que potencializou seu sabor adocicado.
7. Chegamos ao ponto final de nosso tour gastronômico, o Cafe Giang. Confesso que se estivesse andando sem rumo pela rua, jamais entraria neste café, pois ele fica no fundo de um prédio cujo acesso se dá por um estreito e longo corredor. Nada chamativo. Dentro estava lotado, tanto de turistas quanto de locais. O chão próximo às mesas baixinhas estava repleto de cascas de sementes de girassol. Eles tomam o café acompanhados das sementes. Pedimos apenas o café. Na verdade, duas pessoas pediram chocolate quente e três foram no café. Estava neste último grupo. Como todo mundo vai ali para tomar o tal café, ele chega rapidamente à mesa. Servido em uma xícara quadrada de porcelana. No lugar do pires, uma cumbuca, onde a xícara fica em banho maria, preservando a temperatura da bebida, que não é muito quente. Uma colherzinha vem junto. Ha nos ensinou a tomar o café. Primeiro pegamos com a colher um pouco do creme de ovos que vem por cima do café. Pareceu-me uma gemada. É feito com gema e leite condensado. Depois de experimentar o doce creme, mexemos bem o restante que ficou na xícara, misturando o creme com o café. Ficou delicioso. Fechamos com chave de ouro esta primeira noite no Vietnã.
Na porta do café, a guia nos explicou como chegar ao hotel e se despediu da gente. Resolvemos lhe dar uma gorjeta de 200.000 dongs, cerca de U$ 10. Ficamos sozinhos para atavessar as ruas. Enfrentamos bem o desafio. Caminhamos seis quadras até o hotel. No caminho, Silvana disse que em um dia já tinha deixado de lado várias recomendações de sua médica em relação à higiene dos alimentos e bebidas. Rimos muito.
Cansados, fomos para nossos respectivos quartos. Já passavam das 22:30 horas. O tour tinha durado quatro horas, uma a mais do que o previsto. Experiência super válida. Jamais conheceria os locais que fomos se não fosse em um tour como este. Para quem planeja visitar Hanói, recomendo viver esta experiência.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

HANOI - DIA 1

O voo da Qatar pousou no Aeroporto Internacional de Noi Bai, no Vietnã, no horário inicialmente previsto, às 14:45 horas do domingo, dia 21 de dezembro de 2014. Chegava ao fim uma longa viagem desde Brasília, de onde saímos na noite de sexta-feira, dia 19 de dezembro. O desembarque foi muito rápido. Ainda dentro do avião, foi distribuído um formulário exigido pelas autoridades sanitárias vietnamitas em relação ao ebola. Os cinco desceram com os respectivos passaportes e este formulário já nas mãos. Imediatamente ligamos os nossos celulares em busca de uma rede de wi-fi. Vício da nova era! Nada encontramos. Quando estava na área das esteiras, os celulares identificaram a rede gratuita do aeroporto, mas não conseguimos acesso.
Os formulários foram recolhidos antes da imigração, onde filas razoáveis nos aguardavam. Fui o primeiro a ser atendido, quando tive o passaporte devidamente carimbado. Fui para a esteira , na qual nossa bagagem estava disponível. Logo vi a minha mala, pois ela estava envolta naquelas plásticos verdes que fiz questão de colocar no aeroporto de Brasília, pagando pelo serviço R$ 40,00. Também vi e retirei as malas de Cláudia e de Silvana, enquanto esperava todas elas passarem pelo controle de imigração. O grupo se reuniu em frente à esteira, aguardando as malas de Vera e Lívia. Eu e Cláudia decidimos adiantar as coisas que deveríamos fazer no aeroporto. Assim, fomos os primeiros a sair. Dezenas de pessoas portavam plaquetas com os nomes dos passageiros que chegavam. Turistas, em sua maioria. Enquanto andava, as pessoas apontavam as placas para mim. Lia cada uma delas e não achava o nome de ninguém do nosso grupo. Bem atrás, uma placa estampava meu nome completo e indicava que estava acompanhado de mais quatro pessoas. O curioso desta questão é que a maior parte das tratativas com a Odyssey Tours tinha sido feita por Cláudia e por Lívia, mas refletindo o machismo que existe na Ásia, era meu nome que aparecia na plaqueta. Logo fui apelidado de o macho alfa da turma.
Nosso guia era Hoang, com um inglês muito bom para ser entendido. A primeira coisa que avistamos foi um balcão da Mobiphone,
 uma companhia telefônica. Era hora de comprar um chip local para navegar na internet. Compramos a maior velocidade disponível para usar em trinta dias. Cláudia tinha levado o roteador móvel de wi-fi, apelidado desde sempre de Raquel. O chip custou 340.000 dongs, o equivalente a U$ 17. Pagamos em dólar, recebemos o troco em dongs. A atendente se encarregou de liberar o chip, utilizando o seu próprio celular, e de instalá-lo em Raquel. Estávamos conectados.
Em seguida, fui fazer câmbio. Hoang aconselhou trocar U$ 100. Recebi 2.123.000,00. O guia logo brincou dizendo que tínhamos ficado milionários. Cláudia preferiu retirar dinheiro no caixa automático (ATM). E nada das demais saírem. Ficamos a observar o movimento no aeroporto e conversando com o guia. Outro fato curioso é o tanto de gente que vai receber parentes e amigos com flores nas mãos. A prática é tão comum que existe uma floricultura ao lado do desembarque internacional.
Quase uma hora depois de nosso pouso, as malas de todas apareceram na esteira. Vera e Lívia tiveram que ajudar a tirar as malas da esteira, pois só uma estava disponível para todos os voos internacionais que estavam chegando, já que passar pela imigração estava muito lento. Assim, houve um acúmulo de malas na esteira, faltando espaço para colocarem mais bagagem. Resolvemos, como sempre fazemos em nossas viagens, fazer uma caixinha comum para gastos ligeiros. Cada um colocou um milhão de dongs na caixinha, cerca de U$ 50 cada um. A caixinha estava milionária com cinco milhões de dongs, moeda local.
O guia nos conduziu até o carro, uma confortável e novinha van, que ele chamava de bus. O aeroporto fica cerca de 45 km de Hanói (Há Nôi, como se escreve aqui). No trajeto, vimos que os vietnamitas adoram andar de moto. E as mulheres conduzem suas motocicletas usando capacete e máscara do tipo cirúrgica, mas com uma grande variedade de cores e estampas. Hoang explicou que elas as usam por três motivos: proteger-se da poluição; não gripar durante o inverno, estação do ano em que estão aqui no Vietnã; e para não se bronzearem, motivo principal do uso de tais máscaras. As mulheres gastam muito dinheiro protegendo a pele, usam sempre mangas compridas durante o dia. Aqui, uma pele bronzeada é sinal de que são oriundas do campo e isto não é visto com bons olhos pelos que vivem nas grandes cidades. Vivendo e aprendendo.
Rodamos quase uma hora para chegar em nosso hotel. No caminho, passamos ao largo do maior mural de mosaico em cerâmica do mundo, constando do Guiness Book. Tem quatro quilômetros de extensão e foi concluído em 2010. É muito bonito, com desenhos que contam um milênio de história de Hanói. Também passamos perto de uma ponte de ferro projetada por Gustave Eiffel, o mesmo arquiteto da famosa torre localizada em Paris.
A van estacionou em frente ao Golden Silk Boutique Hotel (109-111 Hang Gai, Hoam Kiem), onde tínhamos reserva, mas parou do outro lado da rua. Neste momento, Hoang explicou como atravessar qualquer rua no Vietnã. Carros, motos, bicicletas, tuc-tucs e pedestres se misturam em uma disputa frenética por espaço nas ruas, enquanto as calçadas são ocupadas por mesas, banquinhos e centenas de motocicletas estacionadas. Ele nos alertou para não correr. É só seguir em frente, devagar e atento. A certeza deles é enorme de que os veículos conseguirão desviar a tempo. O movimento das ruas impede que andem em alta velocidade, especialmente no centro da cidade, onde estávamos localizados. Apredendemos rapidamente.
No balcão do check in, demoramos cerca de quinze minutos, pois tinham que tirar cópias de todos os passaportes. Cada quarto recebeu um voucher que dava 10% de desconto no spa do hotel. No quarto, água, café e chá de cortesia. Para o mensageiro, Cláudia, como a gestora da caixinha, deu 200.000 dongs, cerca de U$ 10, por ele levar as malas de todos nós até os quartos. Quando entrei no meu quarto, eram 17:15 horas. Tinha quarenta e cinco minutos para estar pronto no hall do hotel, pois tínhamos contratado um tour gastronômico a pé pelo centro da cidade para 18 horas. Nem tirei nada da mala, pois nossa estadia em Hanói nesta etapa seria de apenas uma noite. Mergulhei em um longo e relaxante banho.
Às 18 horas estava a postos para iniciar o tour a pé.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

PREPARATIVOS PARA A VIAGEM DE FINAL DE ANO

Juntei recesso de final de ano (devidamente com horas compensadas nos meses de novembro e dezembro), três dias restantes das férias de 2014 e os oito primeiros dias das férias de 2015, para fazer uma viagem com as amigas Cláudia e Vera, parceiras de viagens internacionais, as quais se juntaram Lívia e Silvana. A ideia era passar as festas de final de ano fora do país. Tudo isto foi antecipadamente planejado, com quase uns dez meses antes do início da viagem, quando consultamos uma agente de viagens em Guilin, na China, sobre passeios, preços, condições de pagamento, para uma viagem de três semanas visitando as cidades mais importantes em matéria de turismo no Vietnã, no Camboja e no Laos. Escolhemos esta agente, cujo apelido ocidental é Kalinda Fu, porque foi com ela que fechamos uma viagem à China em 2012, e tudo tinha dado muito certo. Assim, a escolha recaiu novamente na Odissey Tour como nossa agência de viagens, mesmo nunca termos conhecido Kalinda pessoalmente. Toda a negociação foi feita por e-mail e o pagamento pelo PayPal.
Após algumas trocas de e-mails, nos quais definimos nosso roteiro de viagem, fomos atrás da passagem aérea internacional, mais precisamente para o trecho Brasília-Hanói-Brasília. Esta passagem foi providenciada por Rafael Bonifácio, um agente de viagens no Brasil, com o qual alguns amigos já tinham contratado viagens de férias. Foi o mesmo que providenciou minha recente viagem a Orlando, em final de agosto. Ele me enviou algumas opções de voos, cotando tanto classe econômica quanto classe executiva. A nossa ideia era trocar o mínimo possível de companhia aérea com o menor número de conexões e/ou escalas. Decidimos voar com a Qatar Airways, fazendo o percursso Brasília-Guarulhos-Doha-Bancoc-Hanói-Bancoc-Doha-Guarulos-Brasília, sendo que o primeiro trecho operado pela TAM e o último pela Gol, ambos os trechos dentro do Brasil. Por se tratar de um voo de longa duração e já ter ido à Ásia por três ocasiões, tendo sentido muito desconforto durante a viagem (as três eu viajei em classe econômica), eu decidi ir de classe executiva desta vez. Tinha tempo suficiente para me planejar, inclusive no que diz respeito ao orçamento. Comprei a passagem no mês de junho, parcelando em cinco vezes no cartão de crédito.
Definidas as datas de ida e retorno, foi a vez de fechar o pacote com a Odissey Tour. Neste pacote foram incluídos todos os hoteis (categoria quatro estrelas ou similar), em quarto single no meu caso; as passagens aéreas internas no Vietnã em classe econômica, as passagens aéreas entre Vietnã e Camboja, entre  Camboja e Laos, e entre Laos e Vietnã, todas em classe econômica; os traslados aeroporto-hotel-aeroporto, incluindo os do início e do fim da viagem, bem como o transporte para/de Halong Bay; passeios nos principais pontos turísticos de cada cidade do roteiro, sempre com guia falando em inglês, em transporte privativo para nosso grupo de cinco pessoas, inclusive nos traslados; cruzeiro all inclusive de duas noites/três dias na famosa Halong Bay; e os almoços em quase todos os dias em que houvesse passeio turístico no pacote. Fiz o depósito de garantia, via PayPal, ainda em julho, fazendo o pagamento do restante no início de novembro (a agência exige o pagamento total até 30 dias antes do início da viagem).
Com tudo contratado, as minhas amigas começaram a pesquisar restaurantes para irmos jantar, especialmente nas noites de Natal e Réveillon. Muitas reservas foram feitas antecipadamente, via e-mail, sendo que o restaurante escolhido para nosso último jantar do ano exigiu pagamento antecipado por causa da intensa procura. Em novembro, foi a vez de contratar o seguro saúde e resolver a questão dos vistos. Para o Vietnã, preenchemos um formulário disponível na página da Embaixada vietnamita em Brasília, anexamos uma foto 3X4 e Lívia se encarregou de levar os cinco passaportes à embaixada para pegar o visto de múltiplas entradas válido para o período de 21 de dezembro de 2014 a 21 de janeiro de 2015, cujo valor individual ficou em R$ 200,00. O passaporte com o respectivo visto foi entregue em menos de uma semana. Para o visto de entrada no Camboja, tudo foi feito on line, incluindo o pagamento de U$ 40 por pessoa, e o envio da foto. O visto foi enviado por e-mail com a indicação de que deveríamos imprimir duas cópias e anexá-las ao passaporte. Já em relação ao visto do Laos, ele só pode ser retirado na chegada àquele país, quando deveremos preencher um formulário e pagar uma taxa de também U$ 40, sendo exigidas duas fotos tamanho 4X6.
Com tudo pronto e pago, restou-nos aguardar a data de embarque. Em novembro e dezembro, trocamos várias informações sobre os locais que visitaríamos, além de discutir o que cada um levaria em matéria de roupa, já que a previsão era que pegaríamos frio em Hanói e em Halong Bay, com alguma possibilidade de chuvas, e muito calor nas demais cidades. Outro ponto a considerar foi o peso das malas, pois fomos avisados por Kalinda que, para os voos providenciados por ela, a franquia de bagagem de porão era de vinte quilos por passageiro.
Enfim, chegou o dia. Custei a arrumalar minha mala. Cansaço do trabalho das últimas semanas, quando viajei muito, e a questão do peso da mala foram as razões desta demora. Na tarde de 19 de dezembro de 2014 estava com uma mala que seria despachada pesando cerca de 18 quilos, uma mala de mão com cinco quilos e uma mochila com também cinco quilos.
Saí de casa às 18:45 horas. Começava uma longa jornada até Hanói. Entre aeroportos e voos, seriam trinta horas de duração. Viajar de classe executiva fez toda a diferença.

QUATRO DIAS EM COPENHAGUE, DINAMARCA



Minha última parada nas férias de maio de 2014, quando rodei pela Escandinávia, foi na capital da Dinamarca, Copenhague, onde cheguei na manhã do dia 29 de maio. Após pegar as malas, fizemos câmbio ainda no aeroporto e contratamos um transfer para cinco pessoas para nos levar até nosso hotel, o Radisson Blu Royal Hotel Copenhagen (Hammerichsgade 1). Hotel bem localizado, a poucos metros do famoso Tivoli e da estação central de trens, o que facilitou nossa vida para conhecer a cidade. Para uma melhor locomoção, compramos o Copenhagencard, com validade de 72 horas, o que nos garantiu livre circulação no transporte público, além de acesso a museus e desconto em passeio de barco. Compramos um chip para o roteador móvel de wi-fi em uma loja de telefonia na estação central. Em quatro dias, conhecemos os seguintes locais:
1. Restaurante Nimb - fica no elegante hotel de mesmo nome, cuja arquitetura lembra as construções árabes. Tal hotel dá acesso ao Tivoli, o principal ponto turístico de Copenhague. Aqui comemos, pela primeira vez, o famoso sanduíche smorrebrod. Com uma fatia de pão preto por baixo e muito recheio por cima, é uma verdadeira refeição.
2. Andersen Bakery - uma confeitaria/padaria acoplada ao Hotel Nimb, onde fomos mais de uma vez, não só para tomar um café, mas também para comer doce e experimentar o onipresente cachorro quente dinamarquês. Não aprecio este tipo de sanduíche, mas os doces valem a visita.
3. Restaurante Geranium (Per Henrik Lingd Allé, 4) - reserva feita pela internet com três meses de antecedência. Restaurante top, figurando na lista dos melhores do mundo. Fomos jantar. Menu degustação com mais de duas dezenas de pratos. Ao final, visita guiada pela cozinha e pose para fotos com os empregados da casa.
4. Stroget - rua de pedestres formada por uma sucessão de ruas. Ela começa na praça da Prefeitura, pela Frederiksberggade, terminando com a rua Ostergade, na praça Kongens Nytorv. Neste caminho, que fizemos por mais de uma vez, estão desde lojas de souvenir, de artigos de design, até lojas das mais famosas grifes mundiais. Também há prédios públicos, igrejas, pracinhas, restaurantes, bares, e muita agitação. Por ser um local de grande movimento, ficar atento às bolsas é sempre importante.
5. Noma (Strandgade 93) - o restaurante número 1 do mundo segundo a lista divulgada em abril de 2014 pela revista britânica The Restaurant. Fizemos a reserva pela internet com três meses de antecedência. Postagem específica sobre a minha experiência no Noma pode ser conferida aqui.
6. Tivoli - o parque de diversões com mais de um século que fica lotado de gente o tempo inteiro, especialmente nos finais de semana. Paga-se para entrar, cuja entrada utilizamos o Copenhagencard. Para ir nos brinquedos, há venda de ingressos em algumas bilheterias espalhadas pelo parque. Compramos para nos divertir na roda gigante e na flystar. Nesta última, enfrentamos uma fila de meia hora para rodar nas alturas e apreciar a cidade por cima. Ainda no parque, vimos um show de uma banda local. O público se acomodava no gramado em frente ao palco. Acontecia, ainda, uma apresentação de uma peça tipo Commedia dell'Arte, em um outro palco. Também vimos o pagode chinês, os lagos e algumas aves espalhadas pelos jardins, como um exuberante faisão branco. Ao cair da noite, milhares de luzes enfeitam o Tivoli, deixando-o com uma bela iluminação.
7. Groften - tradicional restaurante localizado dentro do Tivoli com mais de cem tipos de recheios para os smorrebrods.
8. Pequena Sereia - a famosa estátua de sereia, símbolo da cidade. Fica afastada. Fomos duas vezes, vendo-a de duas formas diferentes. Na primeira, pegamos um metrô, andamos um pouco e chegamos por terra, junto com uma miríade de turistas asiáticos. Foi difícil chegar perto e tirar uma foto sem ninguém enquadrado, além de mim e da sereia. Na segunda vez, fomos de barco, pois fazia parte do roteiro pelos canais da cidade. Assim, vimos a estátua a partir da água. Em terra, mais uma enorme quantidade de turistas.
9. Castelo de Christiansborg - passeio longo e muito interessante. Andamos pelo movimentado jardim que circunda o palácio antes de visitarmos as exposições permanentes.
10. Marmorkirken - a imponente igreja de mármore, que só tem mármore até a metade das paredes. É mais bonita por fora.
11. Alexander Nevskij Kirke - igreja ortodoxa russa. Belos mosaicos. A entrada é difícil de ser localizada. As suas cúpulas douradas dominam a paisagem de longe.
12. Kastellet - apenas passamos por uma de suas alas, mais precisamente no jardim externo, desta construção enorme e histórica.
13. Amalienborg - são quatro palácios que margeiam uma imponente e majestosa praça. Um dos palácios serve de residência oficial da monarquia dinamarquesa, enquanto o Palácio Christian VIII abriga a exposição da coleção real de jóias e trajes. Fizemos a visita, que é rápida. Também há cerimônia de troca de guarda nesta praça. Um passeio sem rumo pelas ruas ao redor da praça foi muito legal.
14. Canais de Copenhague - fizemos um passeio de barco pelos principais canais da cidade, com um guia falando em dinamarquês, inglês e italiano. Várias construções históricas, como o prédio da Bolsa e algumas igrejas e palácios, além de prédios modernos que abrigam a Ópera, a Biblioteca Real (um prédio conhecido como Diamante Negro por causa de sua arquitetura), um teatro e um condomínio residencial estão no caminho. O barco é baixo, pois ele passa por debaixo de pontes muito antigas, com rebuscados adornos.
15. Torre Redonda - subida sem elevador, seguindo uma rampa em espiral. No caminho, há uma providencial sala de exibição de exposições temporárias, o que nos permite recuperar o fôlego. No dia em que visitamos, havia uma mostra de chapéus, muito interessante. Do alto, tem-se uma bela vista da cidade, especialmente das muitas torres que formam a paisagem de Copenhague.
16. Nyhavn - que significa novo porto. É a parte do agito da cidade. Casas cujas construções datam de séculos atrás, multicoloridas, hoje abrigam bares, restaurantes, atelieres e inferninhos. Movimentada dia e noite.
17. Christiania - bairro da cidade que ficou famoso por concentrar uma população hippie. Aqui não se pode fotografar e nem filmar nada, pois a droga é vendida a céu aberto, embora em tendas que mais parecem abrigos de guerra, com os vendedores encapuzados como ninjas. Achei totalmente dispensável esta visita. O local é feio, mal cuidado e sujo.
18. Ny Calsberg Glyptotek - museu patrocinado pela cervejaria Calsberg. Tem um ótimo acervo, com peças de antiguidades do Egito, da Grécia, de Roma, pinturas de artistas dinamarqueses. Tem uma ótima coleção de pintores franceses, especialmente os impressionistas, como Monet. Infelizmente a ala dedicada à estatuária francesa, com peças de Rodin, estava fechada para visitação no domingo que fomos a este museu.
19. Lousiana - um museu de arte moderna que fica em uma cidade próxima a Copenhague. Pegamos um trem para ir até lá. Fica em Humlebaek. Visita obrigatória para quem aprecia arte moderna. Jardins impecáveis, com uma bela vista para o lago, adornados com estátuas de consagrados artistas, a exemplo de Miró, além de um acervo de pinturas, esculturas e instalações excepcional, com obras de Andy Warhol, Bruno Giacometti, entre outros. Almoçamos no café do local.
20. Salt - foi o restaurante que escolhemos para nos despedir da cidade. Razoável.
Na manhã do dia 02 de junho de 2014 chegava ao fim nosso giro pela Escandinávia. Fomos cedo para o aeroporto, onde pegamos o voo da Air France às 06:55 horas com destino a Paris, Aeroporto Charles de Gaulle, onde chegamos às 08:55 horas. Despedi-me de Dora, Vera e Cláudia, que ficariam alguns dias na capital francesa, e me dirigi ao terminal de onde sairia meu voo de volta para Brasília, o que ocorreu às 13:30 horas.
Cheguei a tempo de comer uma pizza com amigos em Brasília.
Fim de férias excelentes.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

CÁSSIA ELLER - O MUSICAL

Ingressos disputadíssimos para ver Cássia Eller, O Musical, em cartaz no CCBB Brasília. Carol conseguiu comprar para mim. Fui sozinho, na sessão das 20 horas de uma segunda-feira, dia 15 de dezembro de 2014. O centro cultural estava bem movimentado, sinal de que acertaram em abrir à segundas, quando a maior parte dos estabelecimentos culturais da cidade fica fechado. Também sinal que a população curte sair em qualquer dia da semana, basta ter algo interessante em cartaz. Alguns amigos de Belo Horizonte já tinham visto o musical, quando ele esteve em cartaz no CCBB BH, e me recomendaram bastante. A fila para comprar ingressos de última hora estava bem grande, mas todos conseguiram entrar. O teatro ficou quase com lotação completa. Poucos lugares vazios eram vistos aqui e ali, provavelmente ingressos de cortesia que os agraciados não foram buscar.
O espetáculo tem duas horas e quinze minutos de duração, sem intervalo, cuja direção artística coube a João Fonseca e Vinícius Arneiro.
A força deste musical está no repertório, muito bem conduzido pelos atores-cantores que integram o elenco. São trinta e quatro músicas que fizeram parte do universo de Cássia Eller, desde a sua adolescência até a fatídica morte ocorrida em 29 de dezembro de 2001. Lembro-me bem que estava em um hotel em Fortaleza, onde passei a virada de ano de 2001 para 2002, quando soube da morte dela. Foi chocante para mim, pois tinha acabado de ver um show da cantora em Brasília naquele mesmo mês de dezembro. Um dos melhores, senão o melhor, show de Cássia.
Voltando ao musical, Tacy de Campos, a intérprete de Cássia Eller no palco, é muito boa, tanto como atriz, quanto como cantora. Ela estudou bem a maneira como Cássia se postava e comportava nos palcos, fazendo os mesmos gestos e firulas. No entanto, ela não tentou imitá-la na maneira de cantar. Isto foi um ponto super positivo. Ela interpretou as suas canções com estilo próprio, mesmo porque seu timbre de voz é mais grave do que o da cantora homenageada. O restante do elenco, formado por Thainá Gallo, Jandir Ferrari, Emerson Espíndola, Jana Figarella, Juliane Bodini e Eline Porto, segura bem todo o espetáculo, quando se revesam em mais de um papel, sem perder a harmonia. Ainda há uma ótima banda, formada por cinco integrantes, colocando o tempero certo em cada uma das canções. Destaco Juliane Bodini e Emerson Espíndola com excelentes interpretações para Marilu e Nando Reis, respectivamente. A direção musical coube a Lan Lan, a percussionista que integrou a banda de Cássia em seus últimos shows. Por ela ter vivido intensamente a companhia de Cássia Eller, a parte musical é realmente o ponto alto desta peça.
O texto, autoria de Patrícia Andrade, não faz feio, mas é raso, passando pelas etapas da vida de Cássia como um trem de alta velocidade. Para quem não acompanhou a vida da cantora, ficou parecendo que ela chegou em São Paulo em uma noite e no dia seguinte já estava de mudança para o Rio de Janeiro.
Quem for esperando um musical com muita produção cênica, esqueça. Não há mudança de cenário. Tudo se passa no mesmo palco, cuja decoração lembra uma gruta.
Quem busca emoção, como nos recentes musicais Cazuza e Elis, também podem esquecer. A única parte emocionante do musical é o seu final, com uma bela homenagem a Cássia, quando o elenco, com exceção de Tacy de Campos, interpreta a última canção da noite, a que eu mais gosto do repertório de Cássia: Segundo Sol.
Como já escrevi, o forte do espetáculo é a parte musical. Recente, viva, mas atemporal. Gostei do musical. Viva Cássia Eller!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

NAVALHA NA CARNE

Vi, pelo Facebook, que uma nova montagem de Navalha na Carne, de Plínio Marcos, seria levada ao palco do Teatro Goldoni pelo grupo Teatro Gasolina - Combustível em Pesquisa Cênica no final de semana de 12 a 14 de dezembro de 2014. Fui conferir no sábado, sessão das 21 horas. Comprei ingresso diretamente na bilheteria com meia hora de antecedência, quando paguei R$ 40,00 (inteira). O teatro recebeu um bom público. Enquanto as pessoas entravam e se acomodavam em suas cadeiras, a atriz Tássia Oliveira, vestida como uma trabalhadora de fábrica com proteção no rosto, daquelas usadas pelos soldadores de peças metálicas, tocava alguns acordes em uma guitarra, como se ditasse o ritmo dos que entravam, e o ator Márcio Andrade ficava em uma cadeira no palco, ouvindo uma rádio qualquer. Quando entrei, pensei que veria um show do Wando, pois a beirada do palco estava coberta com calcinhas de variados formatos e cores e muita maçã pelo chão. Quando soou o terceiro sinal, as luzes se apagaram, Tássia Oliveira se posicionou no canto direito do palco ladeada por uma parafernália de instrumentos musicais e de eletrodomésticos. Márcio Andrade interpreta Vado, o cafetão que vive às custas da prostituta Neusa Sueli, interpretada por Meny Vieira. Completa o elenco o ator Ronaldo Saad, vivendo a travesti Veludo. A história já é muito conhecida, e para o público brasiliense, ela está bem presente, já que pelo menos dois grupos encenaram parte deste texto em 2014. Caso da Cia Sutil Ato, com Autópsia; e da Dois Tempos Cia de Teatro, com Mundaréu. Isto sem falar na homenagem que uma trupe de Brasília fez em novembro para o autor maldito, em uma noite no Teatro Plínio Marcos, com a performance Bendita Noite Maldita. O texto é o mesmo, mas com enfoques e interpretações bem distintas. Pela cenografia e figurino, esta montagem que vi no Teatro Goldoni é mais cinematográfica. A começar pelas referências visuais, como a caracterização dos personagens (figurino e maquiagem), que me fez lembrar os aloprados da trilogia Mad Max, sucesso dos anos oitenta. Ou ainda na jocosa cena em que Vado e Neusa Sueli imitam a famosa cena romântica de Titanic, com Neusa Sueli de braços abertos sendo abraçada por Vado e ambos cantarolando a música chiclete de Celine Dion. O diretor Júlio Cruccioli também ousou em colocar confete como se fosse água, além de ter usado uma fechadura para representar uma porta trancada. A utilização da sonoplastia ao vivo, executada por Tássia Oliveira, faz uma alusão aos programas de rádio (ou mesmo à sonoplastia utilizada no cinema). Assim, ouvimos sons de secador de cabelo, máquina furadeira e ou liquidificador, além de estridentes pratos de bateria, pontuando algumas cenas. Recurso interessante e que funcionou bem.
A peça tem três partes distintas. Na primeira delas, acontece o encontro de Vado com Neusa Sueli, quando ela retorna para casa depois de um dia de labuta, quando ele a acusa de não deixar o seu dinheiro diário. O texto é jorrado da boca dos atores de forma cruel, bruta mesmo, além de embates físicos que chegam a causar um certo desconforto na plateia. A segunda parte, a melhor delas, tem a entrada de Saad como Veludo, acusado pelo casal de ter roubado a grana de Vado. Em um primeiro momento, causou-me estranheza a forma que Saad falava e ria, com voz grave (mesmo recurso utilizado por Andrade e Vieira na primeira parte), sem nenhuma afetação. A sua performance tem uma curva crescente, com ótimas tiradas, especialmente quando ele se utiliza de gestos mais afetados (ele faz uma cruzada de pernas bem ao estilo Sharon Stone em Instinto Selvagem), para logo se recompor, e voltar a falar grosso. Também aqui as cenas de embates físicos são bem reais, com puxões de cabelo, tapas na cara e empurrões fortes. A terceira parte volta a ser entre Vado e Neusa Sueli, e aqui a peça cai um pouco, culminando com um final nada apoteótico. Ver Neusa Sueli sentada em um banquinho, na penumbra, comendo um sanduíche frio, é triste e melancólico. O público chegou a aplaudir, já que a penumbra se transformou em escuridão, como se ali terminasse a peça. No entanto, houve mais uma curta aparição de Veludo esfaqueando Vado, mas a melancolia da cena anterior tirou todo o impacto desta cena final.
Nesta montagem, a sensualidade, sempre presente, por mais cruel que seja a encenação de Navalha na Carne, esteve completamente ausente. O diretor focou na violência do texto, expondo as características comuns da cena do submundo das drogas, da prostituição e dos marginalizados. E este mergulho no submundo é sugerido no próprio figurino dos atores, pois eles usam, em algum momento, óculos de mergulho ou de natação, o que os torna bizarros e mais ousiders ainda.
Foi uma montagem diferente que preservou a força do texto atemporal de Plínio Marcos.
Saí com a certeza que o teatro feito em Brasília está cada vez melhor.

domingo, 14 de dezembro de 2014

ANTES DO BAILE VERDE (CONTOS) - LYGIA FAGUNDES TELLES

Gosto de escrever contos e tenho publicado os que escrevi nos últimos tempos aqui neste blog. Tenho uma relação especial com os contos, por isso, aprecio muito um livro que reúne as histórias neste formato imaginadas pelos escritores. Lygia Fagundes Telles é um caso especial. Adoro tudo o que ela escreve, especialmente seus contos. Pek, meu querido amigo de Belo Horizonte, me presenteou com o livro desta escritora maravilhosa chamado Antes do Baile Verde, edição de 2009, publicado pela editora Companhia das Letras. Este livro foi originalmente publicado em 1970, mas eu ainda não o conhecia. A própria autora revisou os contos e decidiu retirar dois deles nesta nova edição, agora com dezoito histórias. Aproveitei minha viagem a Buenos Aires para fazer a leitura de Antes do Baile Verde.
A cada história lida, minha vontade era iniciar imediatamente a próxima. Os contos me envolveram de uma forma que há muito não acontecia comigo. São histórias distintas, todas ficcionais, com personagens que poderiam estar no nosso convívio diário. Todos são tranquilos no início da narrativa, nos transmitindo equilíbrio. No entanto, na medida em que avançamos na leitura, a harmonia aparentemente instalada vai se dissolvendo como açúcar em um forte café preto. A forma como Lygia escreve é incrível, fazendo com que o leitor se transporte imediatamente para dentro da história, ficando ali, no canto da sala, atrás do túmulo no cemitério, dentro de um cinema, observando a vida ou a mente de cada um dos personagens fluir naturalmente.
Ao final do livro, há uma reprodução de uma carta do poeta Carlos Drummond de Andrade para Lygia Fagundes Telles na qual ele define, de maneira muito lúcida e acertada, alguns textos da autora que foram publicados em jornais e ela mesma revisou em 1968 para publicação em livro: "Parece escrito de novo, mais preciso e ao mesmo tempo mais vago, essa vaguidão que é um convite ao leitor para aprofundar a substância, um dizer múltiplo, quase feito de silêncio".
Aceitei de pronto este convite e me aprofundei ao final de cada história, imaginando as sequências daqueles finais abertos, embora precisos.
Leitura obrigatória.
Obrigado pelo presente querido Pek.

literatura

FÉRIAS EM BERGEN, NORUEGA



Durante meu giro pela Escandinávia nas férias de maio de 2014, dormi duas noites na simpática cidade de Bergen, na Noruega, onde cheguei após um cruzeiro de trem e barco por parte dos fiordes noruegueses. Eu, Dora, Cláudia, Vera e Bruno tivemos muita sorte, pois Bergen é famosa por sua constante chuva. Não choveu em nenhum momento durante nossa curta estadia por lá. Desembarcamos no porto, que fica na parte central da cidade, por volta de 20:40 horas. Estávamos com muita fome, pois o almoço tinha sido um desastre na cidade de Flam. O sol ainda brilhava forte no céu, apesar do adiantado da hora. Mesmo com bolsas e mochilas, saímos a procurar um local para comer. Nas anotações de Cláudia havia alguns restaurantes. Achamos o mais cotado, mas não havia lugar disponível para jantar. Fomos para uma espécie de praça de alimentação em um prédio histórico, mas era um bar de tapas, com pouco movimento. Resolvemos ir para o hotel. Tínhamos reserva no Radisson Blu Royal Hotel (Bryggen, 5). Era perto de onde estávamos. Fomos a pé, passando pelo casario medieval do Bryggen, onde estão instalados bares, restaurantes e lojas. Paramos em frente a um destes edifícios, onde estava localizado outro restaurante da lista de Cláudia. Fui o responsável por subir as escadas para checar se tinha vaga. Fiz uma reserva para 21:30 horas. Tempo suficiente para fazer o check in no hotel, pegar as malas que lá foram deixadas pela Fjords Tours (despachamos nossas malas desde Oslo), entrar no quarto, deixar as bolsas, e voltar para a rua, com luz do dia. No horário marcado, estávamos sendo acomodados em uma mesa para cinco pessoas no Enhjorningen, o restaurante especializado em peixes e frutos do mar mais antigo de Bergen. Ele fica no segundo piso de uma edificação medieval que está torta, como a maioria dos prédios do Bryggen. A sensação é engraçada ao sentar, pois a gente sente nitidamente a inclinação do piso do restaurante. Quando as taças de vinho branco foram preenchidas, notamos o desnível do líquido dentro delas. De entrada, pedi aspargo fresco, onipresente nas mesas escandinavas nesta época do ano. Seguiu-se um filé de turbot, peixe branco local, de carne tenra e saborosa. Cansados, voltamos para o hotel para descansar, pois o dia seguinte seria pesado em termos de caminhadas.
Acordamos cedo em 28 de maio para aproveitar bem o dia. Tomamos o café da manhã juntos no Filini Bar & Restaurant, restaurante do hotel, saindo em seguida para conhecer a cidade. Primeiro passeamos com calma pelo Bryggen, conhecendo e tirando fotos dos prédios medievais. Eles se orgulham de ter o conjunto de prédios medievais mais bem preservados da Europa. São doze prédios com arquitetura parecida, todos de madeira, pintados em cores fortes. Hoje são voltados para o turismo. Na enorme calçada em frente a eles são montadas mesas dos restaurantes, onde turistas e locais aproveitavam o raro sol que fazia na cidade. Uma competição de ciclismo acontecia na cidade e o ponto final era justamente em frente ao Bryggen.
Continuamos nosso passeio, parando em uma feira montada em frente ao Bryggen, do outro lado da rua. Nela eram vendidos produtos locais, especialmente os de origem no mar, como caviar, camarões e carne de baleia. A barraca maior e mais movimentada oferecia pequenos pedaços desta carne para experimentar. E os seus empregados falavam diversas línguas, incluindo o português. Provei um pedacinho. A carne é preta e dura. Gosto forte. Não vai figurar entre as minhas preferidas. Um pouco mais à frente fica o Mercado de Peixes, para onde Vera, Bruno e Cláudia foram comprar caviar. Eu e Dora ficamos sentados em uma grande mesa de madeira que ficava atrás da feira, com vista para o porto. Assim, enquanto esperávamos os outros, curtimos o movimento da feira, que foi crescendo na medida em que o relógio chegava perto de meio dia. Muita gente aproveita o sol para sair e comer na feira. Com o grupo refeito, caminhamos em direção ao funicular que nos levou para o Monte Floyen, de onde se tem um belíssima vista de toda a cidade. Havia uma fila para comprar o bilhete (compramos ida e volta) e outra para entrar no funicular. O local estava lotado de gente, mesmo sendo uma quarta-feira. De lá, avista-se o porto, os canais que cortam a cidade, a imponente catedral e muitos prédios antigos que dominam a paisagem. Além da vista, há um parque com trilhas para caminhadas no local. Um enorme boneco do troll, um simpático ser mítico da Noruega, com pés e nariz enormes, é parada obrigatória para fotos. Fizemos uma pequena caminhada, apreciando a vista. Passamos por uma área onde o cheiro que dominava o ar era insuportável. Algo ardido no nariz, como se alguma coisa estivesse podre. Uma placa pendurada em uma árvore solucionava o mistério. O cheiro vinha daquela árvore, chamada de bruxa por lá. A frase, em inglês, indicava que alguém tinha desagradado a bruxa, motivo do cheiro ruim no ar. Seguimos andando. Era hora de descer.
Assim que chegamos na parte baixa da cidade, entramos em uma farmácia, e , depois, fizemos uma caminhada pelas ruas do entorno, sem direção definida. Parei para tirar fotos de uma exposição de esculturas em madeira que tomava conta de algumas ruas e praças da cidade. O contraste do moderno expressado nas esculturas com as construções antigas era muito interessante.
Resolvi voltar para o hotel, enquanto Bruno seguia para almoçar. Cláudia, Vera e Dora foram passear em outras bandas. No caminho, como era dia internacional do hambúrguer, resolvi comer um sanduíche para matar a fome. Fomos nos encontrar novamente às 18 horas, pois tínhamos reserva no concorrido restaurante Cornelius confirmada para 19 horas. O restaurante fica na localidade de Breidvik e chega-se lá por barco. No preço do menu degustação está incluído o transporte desde Bergen. O barco sai de um cais em frente ao nosso hotel. O percurso demora cerca de quarenta minutos. O visual é bonito.O tempo estava lindo, com o sol brilhando e refletindo nas águas por onde o barco ia. O Cornelius Restaurant fica em um deck de madeira, como se fosse um pequeno cais, com paredes de vidro que nos permite apreciar a beleza do por do sol. Eles só trabalham com menu degustação com cinco pratos. Perguntam antes se há alguma restrição alimentar. Nossa permanência no restaurante foi longa, mais de três horas. Comemos bem, bebemos os vinhos sugeridos para a harmonização com os pratos, nos divertimos muito. O tal Cornelius, que dá nome ao restaurante, percorreu todas as mesas, desfilando simpatia. Ele parece o personagem Crocodilo Dundee do famoso filme australiano. Voltamos para Bergen no mesmo barco. A diferença é que o retorno é muito mais animado, com as pessoas falando alto, rindo e andando pelo barco. Efeitos do álcool...
Chegamos ao hotel depois das 23 horas. Todos fomos dormir, pois no dia seguinte tínhamos um voo cedo para Copenhague, dando seguimento ao nosso tour pela Escandinávia.
Acordamos cedo, tomamos café, fizemos o check out e pegamos o ônibus do hotel, cujo bilhete é pago diretamente ao motorista. O trajeto dura cerca de quarenta e cinco minutos. Chegamos ao aeroporto pouco antes das 9:00 horas de 29 de maio. Fizemos o check in nos totens de autoatendimento. Nosso voo era da SAS, O SK 2865, que saiu de Bergen às 09:55 horas, durando uma hora e vinte minutos até a capital da Dinamarca, última cidade destas minhas férias.

CHACRINHA - O MUSICAL

No domingo, dia 30 de novembro de 2014, fui com Karina, Alberto e Cristiano conferir Chacrinha - O Musical, em cartaz no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro. A faixa etária do público era bem alta, indicando um certo saudosismo que o musical provoca. Adorava ver Chacrinha, especialmente quando ele era atração da Rede Bandeirantes, com menos luxo nos cenários, atrações de maior apelo popular e um desbunde das Chacretes. Minha expectativa em relação ao musical era grande, potencializada pelo fato de ser a estreia do cineasta Andrucha Waddington na direção de um musical, pois gosto muito dos filmes que ele dirigiu.
Cenários e figurinos são muito bons, sinal que a indústria do entretenimento realmente consolidou os musicais como atrações rentáveis no Brasil e está investindo.
A peça dura em torno de três horas, dividida em dois atos.
O primeiro ato é mais onírico, mostrando a formação do apresentador Chacrinha, um dos grandes comunicadores da televisão brasileira. Mistura presente e passado, com apresentações relâmpagos de cenas do programa televiso, com atores interpretando cantores, cantoras e bandas que eram figurinhas fáceis nos palcos da Buzina do Chacrinha e da Discoteca do Chacrinha. Como eram muitos estes cantores, a qualidade de interpretação de alguns deixa a desejar. Algumas destas aparições são ótimas, como as de Adriana, Ney Matogrosso e Titãs, enquanto outras beiram o pastiche, como as de Rosana e Fábio Júnior. Mas a força deste primeiro ato é realmente a construção física e psicológica do famoso comunicador, mostrando a saída de Abelardo Barbosa do interior de Pernambuco para a cidade grande, culminando com sua chegada ao Rio de Janeiro e apresentando seu primeiro programa da Rede Globo. Nesta fase, Chacrinha é interpretado de forma competente e carismática pelo ator Leo Bahia. O fim deste ato mostra, de forma simples, mas cheia de brilhos, em todos os sentidos, a passagem de Abelardo Barbosa para o apresentador Chacrinha, quando Bahia cede o papel para Stepan Nercessian. Hora do intervalo. Roda, roda e avisa, um minuto de comercial...
O segundo ato, na sua maior parte, é uma réplica das tardes de sábado, quando ia ao ar o programa do Chacrinha. Durante o intervalo, algumas pessoas do público presente são escolhidas para compor a plateia do programa televiso, o que os faz ver o restante do musical em arquibancadas montadas no palco. Nesta parte, o musical fica chato e repetitivo, embora Nercessian segure muito bem o papel, com tiradas a la Chacrinha perfeitas. Tem até o famoso bordão "quem quer bacalhau?", quando réplicas em espuma são jogadas para o público do teatro.
Neste segundo ato, muito rapidamente, as Chacretes são apresentadas, mas nada como era nos programas televisivos. Para piorar, a ausência de Gretchen no musical, que era uma das presenças mais constantes do programa, foi "compensada" com a intérprete de Rita Cadillac, talvez a mais famosa das Chacretes, cantando os sucessos da Rainha do Bumbum. Posso até estar enganado, mas não me recordo de Cadillac cantar as músicas de Gretchen durante os programas. Lembro-me dela se lançar cantora na década de oitenta cantando uma música que lembrava os sucessos de Gretchen, mas isto não é retratado no musical, mesmo porque a história enfocada é a do Chacrinha. Faltaram, no entanto, questões ligadas à relação do apresentador com suas assistentes de palco. A aparição das Chacretes ficou muito superficial.
O final volta a ser onírico, com Leo Bahia e Stepan Nercessian juntos no palco, quando passado e presente se fundem na mente confusa do apresentador.
O musical é bom tecnicamente, as canções escolhidas refletem a história do apresentador, mas faltou uma dose de emoção. Deixei o teatro com a sensação de que vi uma história contada mecanicamente.
Poderia ter sido melhor.

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