Na última vez em que estive no Rio de Janeiro, aproveitei a oportunidade para conferir a peça Camélia, que esteve em cartaz no início do ano em Brasília, mas não consegui ver. Trata-se de um texto vencedor da sexta edição do projeto do CCBB chamado Seleção Brasil em Cena. Este projeto premia textos novos para dramaturgos de Brasília e do Rio de Janeiro, havendo um vencedor para cada cidade. As peças escolhidas ficam em cartaz nos centros culturais que o Banco do Brasil mantém nestas duas cidades. Camélia se baseia em um relato de Freud sobre sua paciente homossexual. A peça narra a história de uma mulher que viveu 100 anos, praticamente o Século XX inteiro, quando viveu a experiência de duas guerras mundiais, era judia, fugiu da perseguição de Hitler, viajou o mundo, chegando até a morar no Brasil. Foi apaixonada por uma mulher casada e viveu intensamente este amor ao longo de sua vida. O texto é de Ronaldo Ventura e a direção de Luana Proença, que optou por utilizar somente atores novatos, gente pouco conhecida no meio teatral brasiliense. A vida da mulher não é contada de forma linear, o que exige do público uma atenção maior, sendo a protagonista a responsável por nos contar sua vida. A maior parte do tempo a atriz que interpreta a mulher centenária fica de costas para o público, trajando um vestido longo, com chapéu e um véu que cobre a parte de trás da cabeça. A roupa e acessórios indicam para nós que, embora de costas, é a frente da mulher que vemos e isto fica evidente com o gestual da atriz, que fica simulando que está fumando um cigarro enquanto narra sua vida. O trabalho de corpo da atriz é muito bom. Figurino, cenário e trilha sonora integram completamente ao enredo. Tais elementos ajudam a manter o clima, principalmente nas passagens de tempo. Ao final, um belo texto, com ótimas interpretações. Vida longa ao projeto que descobre novos talentos.
artes cênicas
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