Produzido por Fernando Meirelles e Ramin Bahrani, dirigido por Alexandre Moratto, tendo como protagonistas os atores Rodrigo Santoro (Luca) e Christian Malheiros (Mateus).
Venceu os prêmios Orizzonti Extra (prêmio do público) e Sorriso Diverso Venezia Award (melhor filme em língua estrangeira), ambos no Festival Internacional de Cinema de Veneza.
Mateus e mais três jovens do interior de São Paulo decidem deixar a família e o trabalho na roça para tentar a sorte na capital. Eles são aliciados por um homem que, na despedida dos jovens, entrega um pacote de dinheiro para seus familiares, sinalizando que o futuro seria melhor. Em São Paulo, são deixados em um ferro velho controlado por Luca, que será um verdadeiro carrasco para eles. Os quatro ficam alojados com condições degradantes em um aposento no próprio local de trabalho e têm seus documentos retidos. Logo descobrem que o tal futuro promissor viraria um pesadelo. Mateus, líder nato, passa a questionar Luca sobre seus direitos e pagamento de salários, quando descobre que estavam devendo um montante astronômico, pois seriam descontados do salário deles o dinheiro entregue para a família, o alojamento, a comida, os itens de higiene. Trabalhariam sem nada receber até quitar a dívida, que, logicamente, aumentaria sempre.
O filme me deixou tenso na maior parte da projeção, pois sempre esperava Mateus liderar a turma para não só escapar, mas também se vingar, e para isso teve várias oportunidades. No entanto, o que vemos é a perpetuação do ciclo, pois Mateus, aos poucos, vai saindo do lado dos jovens escravizados (escravidão contemporânea), passando para o lado do opressor. Neste rito de passagem, ele tem acesso às estratégias de funcionamento do tráfico de pessoas para o trabalho forçado em São Paulo. Tal tráfico é tanto de jovens como ele, mas também de imigrantes que viam no Brasil uma oportunidade melhor do que em seus países de origem.
Percebe-se, ainda, que Luca não é simplesmente um patrão frio e mal, pois ele faz parte de uma engrenagem da qual existem pessoas acima dele, incluindo um político que entra em campanha para novas eleições. Ele dá ordens, mas também as recebe. A questão é muito mais complexa do que possa parecer.
Mateus fez uma opção clara: deixar seu passado para trás e ter um futuro melhor para si e para sua família, mesmo que isso custe a liberdade e a dignidade de outras pessoas, incluindo seus companheiros que iniciaram a jornada junto com ele.
Ao final, um dos companheiros queima, com um cigarro, o braço de Mateus. Ao partir com Luca para uma nova etapa (participar da campanha política), ele, dentro do carro, olha para a queimadura. Ele abandonava ali seu passado, mas a sua marca ficaria para sempre.
O final não é o que esperamos, mas reflete a vida como ela é.
Há alguns erros no roteiro, especialmente no que diz respeito à fiscalização trabalhista que acontece no ferro velho. Os fiscais se identificam como fiscais do Ministério Público do Trabalho - MPT, enquanto nos seus coletes está escrito Auditoria Fiscal do Trabalho. O MPT não tem fiscais, mas sim procuradores do trabalho, enquanto a fiscalização trabalhista é de competência do Ministério do Trabalho e Previdência. O modus operandi da fiscalização também é eivado e erros.
Vi, em 01/12/2021, na Netflix.
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