Direção de Jane Campion. No elenco: Benedict Cumberbatch (Phil), Kirsten Dunst (Rose), Jesse Plemons (George) e Kodi Smit-McPhee (Peter).
Enfim, consegui ver o aclamado e tão incensado filme Ataque dos Cães na Netflix. É um dos grandes favoritos a vários Oscar 2022, já tendo ganhado algumas dezenas de prêmios em 2021, especialmente como filme, direção, ator, ator coadjuvante, roteiro adaptado e fotografia.
Confesso que minhas expectativas eram muito altas, tendo em vista não só os prêmios já arrebatados, mas também às notas que a crítica especializada tem dado ao filme. Ao final, não me arrebatou, embora reconheça um belíssimo trabalho de direção e de interpretação de todo o elenco (méritos para Jane Campion).
Jane Campion traz para esse faroeste passado nos anos 1920 vários elementos de seu famoso filme O Piano (1994), pelo qual ela ganhou o Oscar de roteiro original: a contemplação da natureza (as paisagens de Ataque dos Cães são de tirar o fôlego de tão belas e ao mesmo tempo, sufocantes), o ritmo lento das cenas, os detalhes focados em primeiro plano, a dificuldade de se estabelecer um amor de verdade, os conflitos internos dos personagens, e, claro, um piano.
Há uma desconstrução proposital do mito viril de um vaqueiro, que por décadas tem ficado no imaginário popular como a encarnação de um John Wayne. Em Ataque dos Cães, Phil é um vaqueiro amargurado com a vida, se irrita facilmente com a felicidade alheia, prefere a solidão (quase um ermitão, pois nem banho gosta de tomar), e tem um conflito interno enorme em relação à sua sexualidade. Ele quer demonstrar para as pessoas com quem convive que é um macho viril, com atitudes machistas, homofóbicas, que faz questão de verbalizar sua heterossexualidade. No entanto, quando está sozinho, isolado em sua natureza particular, toma banho pelado no rio, e sonha com seu mentor como vaqueiro, de quem guarda um lenço.
Por outro lado, Peter é um jovem afeminado que vai morar no rancho porque Rose, sua mãe, se casou com George, irmão de Phil. Uma relação de amor e ódio se instala entre Phil e Peter, que vai ser treinado pelo primeiro, para ser um vaqueiro. Ao longo do filme, Peter se mostra, apesar de sua fragilidade aparente, ser forte a ponto de matar animais sem nenhum tipo de piedade. Ele, sim, é o verdadeiro vaqueiro, mas sem aquela áurea de macho viril como nos faroestes dirigidos por John Ford.
Há várias insinuações sexuais no filme que demonstram a atração de Phil por Peter - a mais explícita para mim é, já quase no final, o plano fechado que a diretora faz no modo como Phil trança a corda de couro, que é um presente para Peter.
É um filme lírico, talvez o motivo pelo qual não tenha me arrebatado, pois poesia não é o meu forte, mas é um bom filme, merecedor dos prêmios que tem ganhado.
Vi, em 22/12/2021, na Netflix.
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