Esteve em cartaz no CCBB de Brasília até o último dia 08 de abril, no Teatro I, a peça A Mecânica das Borboletas. Texto de Walter Daguerre com direção de Paulo de Moraes, diretor à frente da Armazém Companhia de Teatro, do Rio de Janeiro. Como sempre acontece naquele centro cultural, os ingressos foram muito disputados. Consegui comprar entrada para a noite de quinta-feira, dia 05 de abril, pagando R$ 3,00 (meia entrada por ser correntista do Banco do Brasil). O teatro ficou quase lotado, mesmo com os ingressos esgotados. Todos que estavam na fila de desistência conseguiram adquirir entrada, pois muita gente não foi trocar as cortesias recebidas, como sempre acontece. O cenário fica à vista de quem entra. Tem um carro desmontado à esquerda e uma espécie de copa à direita, com pia, mesa e cadeira. Algumas ferramentas, halteres de musculação e utensílios de cozinha completavam a decoração. Nitidamente era uma oficina mecânica em âmbito familiar. A peça se passa em uma cidade no interior do sul do país. Um casal em crise, vivido por Ana Kutner (Liza) e Otto Jr (Remo), vive com Rosália (Suzana Faini), até a chegada do irmão gêmeo de Remo, Rômulo, interpretado por Eriberto Leão. Rosália cuida do jardim onde estão as cinzas de seu esposo. Ela rega as plantas e observa as borboletas azuis enquanto conversa com seu marido, demonstrando que desde que ele morrera ela se trancara em um mundo particular. Remo e Liza discutem sobre ter filhos, vontade dela, após dez anos de casados, e da necessidade dele procurar uma ajuda com psicólogos pelos transtornos de sono que vem tendo nos últimos tempos. Ele rechaça ambas as hipóteses. Rômulo chega depois de mais de vinte anos que partiu sem dar notícias. Sua chegada se dá no mesmo dia 16 de junho em que tinha partido. Ele não soube da morte do pai, nem que seu mentor, um hippie que vivia em um trailer, também havia partido da cidade. Obviamente que Remo não gosta desta volta surpresa e as coisas pioram quando Rosália pensa que seu filho Rômulo é seu marido que voltara dos mortos. Para adicionar um pouco mais de problema, Rômulo e Liza já tinham sido namorados na juventude e acabam transando após uns tapas em um baseado. Rômulo volta rico, escritor de livros na linha dos beatniks, tentando encontrar um eixo para seu novo romance. Ele aflora nos personagens todas as angústias que convivem há anos. Este é o mote da peça, que tem duração de cerca de 80 minutos. Ela trata de conflitos vividos por qualquer ser humano ao longo da vida decorrentes de escolhas, às vezes acertadas e outras não, e de como tais opções mexem não só com quem as fez, mas também com aquelas com as quais se relacionam. Também traz uma interessante discussão sobre a vida pacata no interior, com uma rotina estabelecida, e sobre a vida de aventuras, cheia de altos e baixos, vivenciada pelo personagem Rômulo. Suzana Faini é uma gigante em cena. Ela consegue levar a plateia a gargalhar para, em seguida, deixar os nossos olhos marejados de lágrimas. Contracenando com os demais atores da peça, ela é o grande destaque. Mas isto não quer dizer que os demais estejam ruins. Longe disto. Todos crescem durante a apresentação. Ana Kutner consegue imprimir um sofrimento em Liza em cada gesto que faz. Otto Jr foi uma grata surpresa para mim, expondo toda a amargura que Remo guardava desde que Rômulo deixou a família. Este amargor é materializado na montagem, peça a peça, que faz em sua oficina de uma moto Harley Davidson. Eriberto Leão desfaz de sua condição de galã para dar vida a um bon vivant também em crise. Gostei muito.
artes cênicas
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