Um comunicado no sistema de som no terminal de embarque do Aeroporto de Lisboa informa que o voo da Transportes Aéreos de Cabo Verde, previsto para decolar às 19 horas, sofreria um atraso de 50 minutos. Eu estava exausto, pois saíra de Brasília no início da noite de sábado, fazendo uma conexão em Salvador (BA), chegando no final da manhã de domingo em Lisboa, Portugal. Assim que toda a delegação brasileira que participaria de evento na Cidade da Praia, capital de Cabo Verde se reuniu, pois foram itinerários diferentes até a capital portuguesa, deixamos as bagagens de mão no guarda-volumes, e fomos dar um giro pela cidade, visitando rapidamente o Mosteiro dos Jerônimos, o Padrão dos Descobrimentos, comemos o famoso pastel de belém na histórica pastelaria que o criou, seguindo para o bairro do Chiado, onde almoçamos, retornando ao aeroporto. Estávamos no check in da cia aérea por volta de 17:45 h. O atendimento foi informal, com muita simpatia. As bagagens de porão só veríamos no nosso destino final. Com sono, vontade de tomar um bom banho e cansado, não gostei do anúncio do atraso, mas não havia outra forma, tinha que esperar sentado em frente ao portão 41. Passada mais de uma hora, começaram a chamar para o embarque, iniciando pelas prioridades. Pediram para ninguém fazer fila, mas o povo insistia em se perfilar, com malas, sacolas, carrinhos de bebê, pacotes, bolsas enormes e afins. Nossos assentos eram situados na parte traseira da aeronave, motivo pelo qual fomos um dos primeiros a embarcar. O bagageiro já estava parcialmente cheio com objetos da tripulação e do avião. De qualquer forma, todos nós conseguimos acomodar nossas malas de mão. Os passageiros iam entrando e ficava cada vez mais problemático colocar as malas no compartimento superior da aeronave. Meu assento era no corredor. Na janela estava uma senhora com uma criança de um ano e meio no colo. Ela falava ao celular e o menino arrancava todos os protetores de cabeça dos assentos da frente. Assim que terminou a ligação, a senhora passou o celular para uma mulher da fileira de trás, que também fez uma chamada. Mais duas mulheres usaram o mesmo telefone. Fiquei a pensar se aquele celular seria comunitário. Um dos últimos passageiros a entrar foi um senhor que carregava uma sacola verde limão. Seu assento era na janela de uma fileira onde estavam duas colegas de delegação. Não havia lugar no bagageiro para sua sacola. Ele ficou a caminhar pelo corredor, abrindo e fechando os bagageiros, sem sucesso. Ele largou a sacola no meio do corredor e resolveu se sentar. Depois de se acomodar, acho que mudou de ideia, pedindo licença às colegas. A sacola continuava no mesmo lugar. Ele a pegou, retornou ao seu lugar, tentando acomodá-la debaixo do assento a sua frente. Era muito larga para caber. Então, ele abriu a sacola. Era uma impressora grande, com uma resma de papel ofício e muitos livros. Retirou tudo, colocando, enfim, a impressora debaixo do assento. Obviamente que ficou muito desconfortável para ele. Quando pensei que todos já estavam acomodados, uma senhora resolve levantar da saída de emergência, saindo a procurar um local para sua enorme bolsa. Vendo que não havia lugar, deixou-a no corredor, indo para o fundo do avião bater papo. As comissárias já se posicionavam para demonstrar as questões de segurança, e a tal senhora ainda de pé. Uma das comissárias larga tudo, pega a bolsa e vai atrás da passageira. O avião já taxeava. A senhora retorna e assenta. A demonstração volta a ocorrer. A senhora resolve se levantar para trocar de lugar com alguém da fileira de trás. Ela fica na frente da comissária, atrapalhando tudo. A outra aeromoça pede que a senhora se acomode, pois estava atrapalhando a decolagem. Todos assentados, o avião decolou com uma hora e meia de atraso. Logo que se pode sair dos assentos, um trança-trança se estabeleceu no voo. O capitão resolve falar, com discurso bem informal. Pelo falar, identifiquei que era brasileiro. Enquanto isto, o menino ao meu lado aprontava e sua mãe fingia que nada via. De repente, como se estivesse com uma grande necessidade, ela quase passou por cima de mim, saindo com o menino em direção ao banheiro à frente da aeronave. Demorou um tempo razoável. Quando voltou, tive a impressão que ela cheirava a cigarro. Era fato! Uma comissária uou o sistema de som pra avisar que era terminantemente proibido fumar dentro do avião, inclusive nos banheiros. Olhei para a mulher. Ela fez cara de paisagem. O serviço de bordo começou com muita simpatia. O comandante voltou a falar. Desta vez para informar que uma das aeromoças estava fazendo aniversário, pedindo aos passageiros para cantar parabéns. Todos bateram palmas, cantando a plenos pulmões, enquanto um comissário registrava o momento em fotos. Achei hilário. O serviço continuou. Fiquei surpreso, pois ofereceram jantar em um voo de quatro horas, muito diferente do que ocorre no Brasil atualmente. O cesto de pães caiu no chão e teve gente que pegou alguns para comer. O menino ao meu lado fazia uma verdadeira instalação de arte com a comida, jogando coisas no chão, lambuzando o assento em sua frente. Sua mãe continuava fazendo cara de paisagem. O voo foi muito tranquilo, com poucas turbulências. Decorridos três horas de viagem, o garoto dormiu. A mãe não teve dúvidas. Pegou, sem pedir licença, o meu travesseiro particular para acomodar a cabeça do menino. Olhei para ela, recebendo apenas uma afirmativa: é para ficar mais confirtável para o menino. Deixei! Em seguida, ela se levantou, quase me atropelando de novo, dizendo que estava aflita. Perguntei se fumaria de novo? Ela me lançou um olhar ameaçador. Chamei a comissária e pedi para ficar de olho. No entanto, houve um momento de turbulência e todos tiveram que voltar aos seus assentos. Ela pediu para eu me sentar na janela para facilitar a sua saída. Recusei, alegando que não apreciava viajar na janela. Ela passou por cima de mim. Não voltaram a apagar o sinal de apertem os cintos, pois começamos a descer. Para o anúncio da descida, as comissárias convidaram uma das muitas crianças a bordo. Assim que começamos os procedimentos de aterrizagem, a comissária voltou a falar, mas não concluiu sua informação, pois teve uma crise de risos, levando os passageiros às gargalhadas. O voo chegou com atraso. O desembarque foi rápido, mas a espera das malas foi longa, acrescido o fato de todos nós estarmos apreensivos se elas chegariam. A minha chegou toda amassada. Uma Rimowa! Fui procurar alguém da cia para fazer a reclamação, custando a achar. Sempre remetiam a um colega que nunca aparecia. Enfim, uma mulher resolveu anotar minha reclamação em um pedaço de papel. Não era um formulário. Perguntei sobre minha cópia, recebendo a resposta de que deveria voltar na manhã seguinte ao aerporto para pegá-la. Tinha que levar cópia do passaporte, cópia do bilhete aéreo, cópia da fatura da mala (!) e a própria mala avariada. Ali constatei que minha reclamação seria inútil. Desisti, mas peguei nome e telefone de quem procurar no dia seguinte. Para piorar, a mala de uma colega foi arrombada, sendo furtado o seu notebook. Outra demora insana para fazer uma reclamação. Conseguimos deixar o aeroporto no início da madrugada. Um carro nos esperava. No hotel, foi entrar no quarto, tomar um banho, e dormir. Antes, porém, desfiz a mala e consegui desamassá-la totalmente. Afinal, é uma Rimowa!
turismo
Nenhum comentário:
Postar um comentário