Com curadoria de Lu Araújo está em cartaz na Galeria 2 e no Pavilhão de Vidro do CCBB de Brasília a exposição "Pixinguinha". Simplesmente imperdível. Uma justíssima homenagem a este grande nome da música brasileira. Fui conferir esta mostra em um domingo à tarde, sem pressa. Sem ver o tempo passar, fiquei mais de duas horas mergulhado na história de Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha. Comecei pela Galeria 2 sem saber se havia um roteiro cronológico. O melhor é começar pelo Pavilhão de Vidro e depois seguir para a galeria, pois se tem uma noção melhor da trajetória deste músico fantástico. Na Galeria 2 o percurso é rápido, com saletas dedicadas aos seus parceiros, onde há um pedestal indicando a programação musical da sala. Na galeria estão os instrumentos musicais que pertenceram ao artista, cadeiras de balanço para ver a projeção de fotografias, algumas fotos e uma imagem de São Jorge, santo de sua devoção. A sala à direita da entrada é dedicada ao parceiro Vinicius de Moraes (há um documentário feito exclusivamente para a exposição) e ao filme Sol Sobre A Lama (1963), dirigido por Alex Viany, cuja trilha sonora foi composta por Pixinguinha. Em uma espécie de labirinto de paredes escuras construído no Pavilhão de Vidro a história de Pixinguinha e da música brasileira é contada, desde o seu nascimento no Rio de Janeiro até os dias atuais, quase quarenta anos após a sua morte, ocorrida em uma terça-feira de carnaval em 1973 na sacristia da Igreja Nossa Senhora da Paz em Ipanema. A notícia se espalhou depressa pelos arredores onde a Banda de Ipanema desfilava. Em uma emocionante homenagem, os foliões cantaram Carinhoso em frente à igreja, fato que se repete anualmente até os dias atuais. Com certeza muitos foliões de hoje desconhecem os motivos da banda parar em frente à mesma igreja todos os anos e entoar os versos de Carinhoso. Na exposição estão fotografias, documentos pessoais, condecorações e medalhas recebidas pelo músico ao longo da carreira, discos, gravações de programas de rádio, vídeos da época, instrumentos musicais, entre eles o saxofone e a flauta de Pixinguinha. Foi uma delícia o passeio pelo pavilhão, lendo os textos aplicados nas paredes, vendo as fotos, sabendo um pouco sobre os parceiros do músico, como seu irmão China, Donga, Benedito Lacerda, João da Bahiana, entre tantos outros. Em locais estratégicos, há espaço para ver alguns vídeos ou ouvir os programas da Rádio Tupi apresentados por Almirante nos quais Pixinguinha se apresentava. Nestes espaços, podemos sentar e relaxar. Parei para ver o filme mudo Good Glue Sticks (La Colle Universelle), dirigida por Georges Mèlies, em 1907. A música que acompanha o filme é O Gato e O Canário, de Pixinguinha e Benedito Lacerda, ilustrando a parte da exposição que fala sobre o emprego do músico nos cinemas do Rio de Janeiro. Em outra sala, desta vez sem possibilidade de assentar, um vídeo interessante sobre o carnaval nas ruas do Rio de Janeiro no início do século passado. Mais à frente, um espaço reservado para ilustrar a viagem do grupo de Pixinguinha, os Oito Batutas, para Paris, onde fizeram muito sucesso. Uma pequena sala, em seguida, passa um vídeo antigo sobre os anos loucos na capital francesa. Mais à frente, uma mesa redonda tem algumas cópias de rádios antigos (na verdade são aparelhos modernos, com comandos de toque na tela) onde é possível sentar, colocar o fone de ouvido e escolher um ou todos os 12 programas gravados. Escolhi o Programa 1, com uma compilação de dois programas da Rádio Tupi, ambos de 1947, narrados por Almirante, onde Pixinguinha e seu grupo executam as músicas instrumentais Esquecida, Cochichando e Oito Batutas. Muitas crianças, atraídas pela interatividade e pela mistura do antigo com o moderno, acabam se sentando e curtindo as gravações. Na próxima sala, há um documentário que deixei para ver depois (pretendo voltar à exposição para ver e ouvir o que não consegui nesta primeira visita), passando para a penúltima sala do pavilhão, toda ela dedicada à composição mais famosa de Pixinguinha: Carinhoso. No meio da sala está a partitura da música, na parede à direita, uma série de fotos do músico e seu saxofone e na parede da esquerda estão nove telas de televisão. Em cada um delas, uma interpretação para Carinhoso. Para ouvir, basta colocar o fone de ouvido disponível abaixo de cada tela. Ouvi todas: Hamilton de Holanda (2011), Orlando Silva (1979), Marisa Monte & Paulinho da Viola (2003), Braguinha (2007), Caetano Veloso & Jaques Morelenbaun (não há indicação de data na exposição), Tom Jobim (1976), Ney Matogrosso, Maria Rita & Hamilton de Holanda (2010), Elizeth Cardoso & Radamés Gnatalli (1976), e Carlos Malta & Quinteto de Cordas (2001). Com a música na cabeça, cheguei à última sala do pavilhão, onde há um lindo painel em todas as paredes com fotos e capas de vinil de intérpretes da música brasileira que gravaram Pixinguinha. Fiquei sentado um bom tempo vendo cada foto, cada disco, alguns deles faziam parte da minha coleção de vinil. Ótima exposição. Fica em cartaz até o dia 06 de maio de 2012.
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