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domingo, 29 de abril de 2012

UM DIA NA ILHA DE SANTIAGO - CABO VERDE

Após uma semana de intenso trabalho na Cidade da Praia, capital de Cabo Verde, tivemos o sábado livre para conhecer um pouco a Ilha de Santiago, uma das dez ilhas que formam o país africano de língua portuguesa. Nosso voo de volta estava marcado para 23:45 horas do sábado. Assim, o dia era todo nosso. Éramos oito pessoas, seis brasileiros e duas portuguesas. Contratamos uma van com motorista e uma guia para fazer um percurso pela ilha, iniciando na Cidade da Praia, percorrendo o interior até Tarrafal, cidade no extremo oposto, retornando pelo litoral. Pagamos 11000$00, cerca de € 110, para o tour. Às 9:00 horas, motorista e guia já estavam na portaria do Hotel Vista, onde estávamos hospedados. Os seis brasileiros entraram no carro, quando fomos até o Hotel América para buscar as duas portuguesas. Grupo completo, fomos para a parte mais baixa da Praia, onde fizemos nossa primeira parada: Mercado de Sucupira. Na verdade, é uma feira enorme, um labirinto de barracas, puxadinhos, bancas, galpões, que vendem de tudo: roupas, calçados, tecidos, artesanato, comida típica, verduras, legumes, frutas, cereais, galinhas vivas, peixes, doces, cds, cabelos, cosméticos, jóias, bijuterias, enfim, de tudo um pouco, incluindo muito produto de grife falsificado made in China. Quem me conhece sabe que não gosto deste tipo de lugar, mas como estava em grupo, acabei curtindo o tal mercado. As barracas e lojinhas que vendem cabelo foram novidade para mim. Muita trança e mechas embrulhadas em embalagens individuais ficam penduradas nas barracas que também funcionam como um salão de beleza, onde as mulheres colocam ali mesmo os apliques que compram. Cabo Verde é um país muito musical e isto se nota fortemente neste mercado, pois além de sempre haver música tocando, há um sem número de lojinhas vendendo cds, a maioria deles visivelmente piratas, com o melhor do ritmo local. Até uma versão em crioulo, dialeto local, da música Ai Se Eu Te Pego eu ouvi enquanto estava na feira. O artesanato caboverdiano não é bonito e isto já tinham me avisado durante o evento. As peças interessantes que achamos no mercado vinham quase todas do Senegal. Para comprar, a negociação é regra. Muita barganha para levar um cesto de palha para casa. Não era para mim, apenas ajudei uma das brasileiras a barganhar, pois o vendedor era senegalês e resolvia falar francês de uma hora para outra. Quando achamos o setor de tecidos, aqueles bem coloridos, típicos da África, um fato me chamou a atenção. Em todas as barracas há um ou dois homens (nunca mulheres) que cortam e costuram blusas, vestidos, saias, na hora. É escolher o tecido, o modelo, tirar as medidas, sentar e esperar. Enquanto o pessoal comprava os tais tecidos, fui conhecer o pedaço da feira que vendia os alimentos. Praticamente tudo que lá é vendido é de produção familiar, sem agrotóxicos. Não há muita variedade de legumes, frutas e verduras, com as mesmas coisas que vemos todos os dias em feiras e mercados brasileiros. No mesmo local estão as galinhas vivas que podem ser abatidas ali mesmo e as bancas com os peixes, que chegam todos os dias pescados no mar local e limpos na frente do freguês. O cheiro não é muito agradável nesta parte do mercado. Outro lugar que me chamou a atenção foi um galpão com muitos tambores. As pessoas abriam tambor por tambor, que estavam repletos de roupas. As roupas eram separadas e vendidas ali mesmo. Curioso, fui perguntar de onde vinham os tambores. Todos eles eram despachados dos Estados Unidos por parentes de caboverdianos que viviam na América. Durante a visita à ilha, vimos vários tambores em frente às casas, com as roupas expostas no chão para quem quisesse comprar. Ainda no mercado, em barracas com produtos senegaleses, vi a flor seca do bissap, cujo suco tomamos a semana inteira durante os almoços no evento internacional do qual participei. Parece um hibisco e seu suco tem uma cor bem viva, bonina, com sabor muito doce. Saímos do mercado e pegamos a estrada em direção a São Domingo. No caminho, vimos um campo de captação de vento para a geração de energia eólica. A paisagem era árida, muito seca, marrom. A guia nos disse que a vegetação só fica verde no período de chuvas, que acontece nos meses de julho e agosto. O céu estava claro, azul, mas com uma espécie de névoa, deixando o horizonte um pouco embaçado. A pobreza é visível durante a viagem, com muitas casas sem terminar, sem esgoto ou saneamento básico, com muitas galinhas e cabras pelas ruas. Nossa primeira parada foi na Barragem do Poilão, construída pelos chineses para represar a água da chuva, possibilitando a irrigação das plantações no seu entorno, além de garantir o abastecimento de água à população local durante a seca. Um inusitado pagode chinês foi construído em uma das extremidades da barragem. Segundo a guia nos disse, um festival do milho ocorre no local anualmente no dia 01º de novembro. Deixamos o interior em direção ao litoral, passando por pequenos vilarejos, em estradas bem ruins, motivo pelo qual a van sacolejava muito, impedindo uma maior velocidade. Paramos duas vezes para tirar fotos do belo litoral, sem praias, apenas pedras, tanto na cidade Pedra Badejo quanto na cidade Calheta de São Miguel. Após quase três horas de viagem, chegamos à Tarrafal, uma cidade litorânea usada pelos caboverdianos como um balneário, pois ali há praias com areia. Era nosso destino. Descemos, e, com fome, fomos direto almoçar no restaurante Baía Verde. Após o almoço, o grupo foi até onde alguns senegaleses vendiam artesanato. Uma colega quis comprar uma máscara, mas a que ela gostou estava quebrada. O vendedor disse que era uma máscara antiga, achando que ela era trouxa e cairia neste conto do vigário. Claro que ela não comprou. Todos quiseram descer até a praia e entrar no mar. Fui com eles para conhecer a pequena baía, mas logo me alojei em uma sombra, enquanto a turma se refestelava nas águas caboverdianas. Depois foi um problema para achar água doce para tirar o sal do corpo, principalmente dos cabelos. Demoraram cerca de trinta minutos nesta aventura. Voltamos para o carro, seguindo em direção a uma pequena localidade chamada Chão Bom onde está o Museu da Resistência, também conhecido como Campo de Concentração do Tarrafal. Pagamos 100$00 cada um para entrar e conhecer onde presos políticos do governo português ficavam confinados entre as décadas de 1930 a 1970. Em tom amarelo, com conservação mediana, a edificação é considerada monumento nacional. A visita é bem rápida. Uma frase dita por um médico que trabalhou no local mostra bem o grau de sacanagem que havia naquela prisão: "não estou aqui para curar, mas para passar certidões de óbito". Quando saímos do museu, fomos cercados por dezenas de crianças e adolescentes pedindo uma moeda ou uma caneta para a escola. Dá para cortar o coração a cara que as crianças fazem. Seguimos em frente, tomando a estrada que liga Tarrafal à Cidade da Praia pelo interior da ilha. A volta foi mais tranquila, pois o maior trecho é percorrido em estradas asfaltadas. No caminho, vimos as montanhas e a vegetação que estão na área do Parque Natural da Serra da Malagueta. Passamos por dentro da cidade de Assomada, mais estruturada do que as outras que vimos na ida, chegando novamente em São Domingo. Antes de retornar à Praia, o motorista pegou o caminho da Cidade Velha, primeira capital do país, onde estão monumentos históricos como o Forte de São Filipe, as ruínas da Sé Catedral e do Pelourinho, que, na época do tráfico negreiro, funcionava como um entreposto entre a África e o Brasil. Infelizmente quando chegamos nas muradas do Forte de São Filipe já era noite, impedindo-nos de entrar e conhecê-lo. Resolvemos não descer para a Cidade Velha, já que o forte fica em um planalto, voltando para o nosso hotel, onde chegamos por volta de 20 horas, cansados e tendo que ser rápidos para tomar banho, acabar de fechar as malas, fazer o check out para ir para o aeroporto, já que o nosso transporte sairia do hotel às 21:15 horas. Para piorar, todos estavam no mesmo quarto, uma vez que tivemos que entregar os demais quartos antes de sairmos em excursão pela ilha. No fim, tudo deu certo. Embarcamos perto de meia noite para nosso regresso à Brasília, fazendo uma conexão em Lisboa, Portugal.


Barraca de venda de cabelos - Mercado de Sucupira


Tecidos no Mercado de Sucupira


Paisagem árida da Ilha de Santiago - Cabo Verde


Pagode chinês na Barragem do Poilão


Barragem do Poilão


Litoral de Calheta de São Miguel


Praia de Tarrafal


Praia de Tarrafal


Praia de Tarrafal


Museu da Resistência - Chão Bom, Tarrafal


Museu da Resistência - Chão Bom, Tarrafal


Museu da Resistência - Chão Bom, Tarrafal


Museu da Resistência - Chão Bom, Tarrafal


Museu da Resistência - Chão Bom, Tarrafal

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