E minha maratona de teatro continuou na noite de quinta-feira, 28 de abril de 2014. Por causa de um engarrafamento grande na L4, cheguei ao Teatro II do CCBB faltando cinco minutos para o horário previsto para ter início a peça Adaptação, espetáculo brasiliense dentro da programação do Cena Contemporânea 2014.
Sala cheia para ver a performance de Gabriel F. no monólogo que ele assina texto e direção, além da interpretação. No palco, ele vive uma atriz de 29 anos em início de carreira. Ela aperta os dedos das mãos sem parar, mostrando nervosismo por ser seu primeiro trabalho e o diretor, vivendo conflitos existenciais, não lhe entregou um texto para decorar e nem se faz presente, tendo preferido uma sessão de cinema para espairecer.
Ela simplesmente está no palco, diante de um público, sem saber o que falar. Seu diretor lhe disse que aquela apresentação seria uma experiência cênica sobre o vazio, sobre a falta de ideias. Mas o texto de Adaptação mostra o contrário, demonstra como estava inspirado Gabriel F. ao concebê-lo. Mesmo em uma cena que poderia soar boba, quando a atriz nos conta que seu diretor havia lhe questionado se ela interpretaria um dinossauro. O público riu muito, mas, em seguida, a cena é tão carregada de lirismo, que as risadas se transformam aos poucos em uma quase comoção pela situação do dinossauro.
A peça dura cerca de uma hora. Durante todo este tempo Gabriel F. vive a mesma personagem, a atriz em início de carreira, mas relata situações vivenciadas por outras pessoas, como o seu diretor ou um professor de piano que ela teve quando morava no interior, que circulavam em torno do mesmo tema: a necessidade de se adaptar em várias fases da vida.
Há frases muito interessantes durante o monólogo, entre elas lembro-me bem quando diz que tem 29 anos, idade em que é jovem para ser velha, mas velha para ser jovem.
Além de interpretar, Gabriel F. também toca piano no palco, quando interpreta uma triste canção. Ao final, ele/ela fica em pé diante de um microfone de pedestal e canta uma deliciosa canção sobre a adaptação que a atriz se sujeita para ser aquela mulher.
O tempo inteiro do monólogo fica a dúvida: mulher ou transexual? A resposta está em detalhes sutis durante o espetáculo.
Ao final, o público ovaciona o belo trabalho de Gabriel F. Mais uma peça de Brasília que deu um show no Cena Contemporânea 2014.
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