Quinto dia do Cena Contemporânea 2014. Mais um ingresso na mão para conferir outra peça integrante da programação do festival. Desta vez no Teatro II do CCBB. Camilo e André também tinham entrada para o mesmo espetáculo. Assistimos juntos. Como estava marcada para ter início às 19 horas, meia hora antes já estávamos na rampa de acesso ao teatro. A montagem era Mundaréu, textos de Plínio Marcos adaptados por Alexandre Ribondi, dirigido por Alice Stefânia e encenado pela companhia brasiliense Dois Tempos Cia de Teatro. A cena inicial aconteceu quando ainda estávamos na fila, do lado de fora, na grade bem perto de onde eu estava. Cena rápida, mas de uma energia fenomenal. Dois adolescentes em um embate para ver quem domina a área no submundo do crime. Duas performances fortes que nos deram o tom de como seria dentro do teatro. Já devidamente acomodados, mais uma vez a produção conta o número de cadeiras vazias e libera a venda de ingressos para quem esperava na bilheteria do CCBB. Teatro lotado. Três músicos posicionados do lado esquerdo do palco. Uma música pontua o seguimento da trama. O cenário nem tem grandes arroubos, todo em ferro, com estruturas que os atores empurravam entre uma cena e outra, bem dentro do clima tenso dos textos sempre atuais de Plínio Marcos. Tais estruturas serviam como cama, como esconderijo, como prisão, tudo dependia do que era retratado no momento. O adolescente é Querô (há um filme brasileiro que narra a história deste personagem), que fora atingido por um tiro dado por um policial. Ele agoniza enquanto um jornalista quer gravar seu depoimento para uma reportagem. Ao mesmo tempo, o grupo nos mostra a mãe de Querô, uma prostituta que tem seu filho retido pela cafetina Violeta logo que ele nasce e vai trabalhar com uma travesti, em prostíbulo definido pelo texto como um mocó. A história tem narrativa não linear, indo e vindo no tempo, fazendo um contraponto entre a história do adolescente Querô e sua mãe Dilma tentando economizar dinheiro para dar ao filho uma vida decente. Os atores se entregam nos seus papéis de forma contundente, passando uma verdade nua e crua. Alice Stefânia tem uma direção segura, sem firulas, onde o que importa é a verdade passada pelos atores em cena, em excelente trabalho corporal.
A cena das mortes de Dilma e Querô, que acontecem em tempos distintos na cronologia da história, mas que nós, o público, presenciamos acontecendo ao mesmo tempo no palco, tem um apelo tão forte junto ao público que algumas pessoas chegaram a se emocionar. Um jovem sentado na mesma fila em que eu estava chorava tanto, com resfolegares intensos, que tive a impressão que Davi Maia, um dos atores do grupo, ao dizer sua fala final, tentava achar, no público, de onde vinha aquele choro.
Além da força do grupo, as interpretações individuais são dignas de nota. Miguel Peixoto, além de fazer a travesti, é um dos músicos do trio que toca ao vivo durante os cerca de setenta minutos do espetáculo.
Helena Miranda dá um show fazendo dois papéis: a cafetina Violeta e a prostituta amiga de Dilma.
Ao sair do teatro, só ouvia elogios dentre aqueles que tiveram o privilégio de assistir àquela sessão. Já é uma das minhas peças favoritas do Cena. E olha que ainda faltam mais oito dias para terminar esta maratona de teatro.
Helena Miranda realmente conseguiu acertar a Violeta na temporada do Cena, visto que na primeira temporada do espetáculo estava uns dois tons acima do que a personagem pedia... Mas com certeza, como boa atriz que é, fez uma análise crítica do seu trabalho e conseguiu aparar as arestas... Como a amiga de Dilma, desde a primeira temporada a atriz vinha mandando muito bem...
ResponderExcluirE teremos a oportunidade de vê-los mais uma vez em cena, pois estão na programação do Ocupação Funarte em setembro.
ExcluirUm abraço