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terça-feira, 26 de agosto de 2014

ELEFANTE - CENA CONTEMPORÂNEA 2014

Já vi vários espetáculos e filmes que têm a velhice e/ou a relação do homem com a morte como tema. Alguns ótimos, outros bons e outros sofríveis. Assim que terminou a peça Elefante, dentro da programação do Cena Contemporânea 2014, imediatamente a coloquei no rol das ótimas. Fui ver a sessão das 21 horas do domingo, dia 24 de agosto, no Teatro Funarte Plínio Marcos. Além das cadeiras normais do local, foram colocadas outras tantas no palco, dando uma sensação de teatro de arena, com a trama sendo desenvolvida em um círculo no centro do palco. Teatro completamente lotado. Iluminação marcada e o texto indicavam o espaço físico onde rolava uma determinada cena, podendo ser na casa do fotógrafo casado com uma médica, na casa dos pais do fotógrafo, ou no consultório médico da mulher do fotógrafo. Não há troca de figurinos. O destaque fica por conta do texto, da direção e da interpretação leve, bem humorada, mas no tom certo, sem a comédia suplantar o drama, ponto alto da peça. Montagem da Probástica Cia de Teatro, grupo do Rio de Janeiro, que conta no elenco com Igor Angelkorte (também responsável pela direção), Samuel Toledo, Fernando Bohrer, Chandelly Braz e Livia Paiva. Elefante tem como mote a velhice, a forma como todos nós lidamos com ela, além de discutir a relação dos humanos com a própria morte.
A história acontece em um tempo onde as pessoas permanecem jovens a partir de uma descoberta de uma pílula da juventude. Mas existe uma ilha, para onde só se vai com autorização do governo, chamada Sênica, onde as pessoas não tomam esta pílula, envelhecem e morrem naturalmente. A pílula garante a juventude sem doenças, mas não garante vida eterna. As pessoas continuam a morrer por causas não naturais, como acidentes e assassinatos. Por causa da longevidade, o governo exerce um rigoroso controle de natalidade, só podendo ter filhos os casais que recebem uma autorização para tal. O fotógrafo vai para a ilha fazer um trabalho encomendado pelo governo para estampar mais uma campanha publicitária da pílula. O contato com os moradores da ilha, especialmente os mais velhos, e com o modo de vida daquele local, transformam sua vida e sua forma de pensar a morte, a sua própria morte. Ele decide largar tudo para viver em Sênica. Dez anos depois, ele retorna com as marcas da velhice esculpidas em seu corpo e também acaba por mudar a vida da sua mulher e de seus pais. Tudo isto é contado de forma leve, mas sem deixar de lado a profundidade do tema. Além da questão da velhice e da morte, a busca desenfreada pela juventude nos dias atuais, por meio da medicina e da tecnologia, também é retratada no texto. Em todo momento, em todas as cenas, mesmo as mais banais, há pontos para uma boa reflexão.
A cena mais tocante acontece quando o fotógrafo, já velho, vai tirando a sua roupa em frente a sua mulher, mostrando suas rugas, sua corcunda, as marcas do tempo em seu corpo. Ela, tocada com a situação, pega uma máquina fotográfica e faz algumas fotos dele ali parado, nu, no centro do palco. Uma lágrima rolou pelo canto dos meus olhos. Muito choro silencioso rolou no teatro.
Lindo, comovente, bem dirigido, bem encenado.

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