Um clarão. Um estrondo. Black out. Estava sentado em frente à televisão. Via um filme. A casa ficou mergulhada nas trevas. Procurei uma vela. Depois de acendê-la, fui ver o que aconteceu. A chuva desabou. Via da varanda de minha casa uma fumaça saindo do transformador que fica no poste em frente. Tudo estava escuro. Voltei para dentro de casa. Pensei em ligar para a companhia de energia, mas meu telefone fixo é ligado na eletricidade. Estava mudo. O telefone celular, sem bateria. Sem comunicação com o mundo fiquei. Esperei um tempo. Tentei ler, mas a luz da vela não era suficiente. Deitei. Dormi.
No dia seguinte, notei que a energia estava de volta. Liguei a televisão. Não funcionou. Parece que queimou com o raio que caiu no transformador. O telefone deu sinal. Liguei para reclamar e perguntar se a companhia pagaria o conserto de minha tv. Uma voz sensual atendeu:
- Central Elétrica, bom dia, Maninha falando, serviço de reclamações, anote o número do protocolo por favor, esta conversa está sendo gravada.
Muita informação em uma frase dita de um só fôlego. Prossegui a conversa.
- Minha tv queimou depois que um raio caiu na minha rua durante a chuva de ontem. Quero que a empresa arque com meu prejuízo e conserte meu aparelho.
- Forneça seu endereço, por favor. Já lhe falaram que você tem uma voz deliciosa?
Fiquei sem entender a última frase. Disse meu endereço. Ela voltou a falar:
- Endereço anotado. Em 72 horas o senhor receberá um retorno da empresa. Se a voz é assim, imagino o todo.
Entrei no jogo:
- Quer conhecer o corpo?
- Porque não?
- É só agendar, disse eu.
- Que tal hoje, depois do expediente? Trabalho no prédio conhecido como pinheiro iluminado.
Sabia onde era o prédio. No centro da cidade. Era assim chamado porque, no período natalino, suas janelas ficavam acesas em formato de pinheiro.
- Combinado, eu falei. Como saberei que é você?
- 17:30 horas. Em frente ao prédio. Você me reconhecerá, com certeza.
Desliguei. Esqueci por completo da reclamação. Fiquei atordoado com a ideia deste encontro inusitado. O dia passou lentamente. A concentração me fugia no trabalho. Só pensava em Maninha.
Cheguei ao prédio um pouco antes do horário marcado. Loucura total. Muita gente saindo. Sem nenhuma referência da mulher com quem me encontraria. Enquanto esperava, fantasiava o encontro. No horário exato, uma estonteante morena veio em minha direção. Fiquei sem reação. Usava um vestido curtíssimo na cor preta, deixando à mostra suas belas pernas. Os seios brigavam com o decote, como se quisessem tomar um pouco de ar fresco e sair daquele aperto. Ela parou na minha frente.
- Sou Maninha. Vamos para minha casa. Moro em uma chácara nos arredores da cidade. Está de carro?
Apoplético, disse sim e a conduzi até meu carro. Ela indicava o trajeto. Eu dirigia sem saber o que estava fazendo. Entramos no anel rodoviário. Andamos cerca de 3 quilômetros e ela mandou que virasse à direita. Era uma estrada de terra. Pediu para que eu parasse. Parei. Achei que a transa aconteceria ali mesmo. Nada disto. Ela me mostrou uma Brasília velha estacionada no meio do mato.
- Meu carro. Siga-me, por favor.
A noite já dava sinais de sua chegada. O céu estava limpo, ao contrário da noite anterior. Meu carro ficou com o perfume dela. Estonteante. Não questionei nada. Simplesmente segui aquele carro velho. O veículo não combinava com a mulher.
Depois de rodarmos por vinte minutos, sem uma casa sequer no caminho, ela parou em frente a um portão de madeira. Desceu do carro. Abriu o portão. Voltou para o carro e entrou, fazendo sinal com as mãos para eu também entrar. Obedeci. Quando parei o carro, percebi que ela já estava fechando o portão com uma corrente e um cadeado. Não me preocupei. O tesão falava mais alto. Entramos na casa. A decoração me fez lembrar os filmes de Almódovar. Cores berrantes e muitas figuras de santos. Ela pediu para eu esperar. Sentei-me no sofá verde limão. Ela voltou somente com um véu transparente no corpo, deixando à mostra a perfeição. Fiquei louco e corri para abraçá-la, beijá-la. Ela me repeliu com as mãos. Disse que era uma rainha. Que deveria me ajoelhar. Achei ridículo, mas ajoelhei. Ela começou a gritar nomes. Perguntei o que fazia.
- Chamo meus duendes.
Ri muito. Um olhar de reprovação me fez calar. Fez um sinal para seguí-la. Fomos para um jardim, muito bem cuidado, nos fundos da casa. Ela começa a apontar e pede para eu conversar com seus súditos. Não via nada. Pensei que era um sonho. Dei um tapa em minha cara, mas estava acordadíssimo. Ela me puxava pelas mãos. Sua força era incrível. Disse que era seu prisioneiro. Achei aquilo demais.
- Que fetiche mais louco é este?
- Você agora me pertence. E o que é meu, também é de meus duendes. Eles te querem.
- Eu não sou de ninguém.
- É sim. Você é de Maninha, a rainha dos duendes.
No dia seguinte, notei que a energia estava de volta. Liguei a televisão. Não funcionou. Parece que queimou com o raio que caiu no transformador. O telefone deu sinal. Liguei para reclamar e perguntar se a companhia pagaria o conserto de minha tv. Uma voz sensual atendeu:
- Central Elétrica, bom dia, Maninha falando, serviço de reclamações, anote o número do protocolo por favor, esta conversa está sendo gravada.
Muita informação em uma frase dita de um só fôlego. Prossegui a conversa.
- Minha tv queimou depois que um raio caiu na minha rua durante a chuva de ontem. Quero que a empresa arque com meu prejuízo e conserte meu aparelho.
- Forneça seu endereço, por favor. Já lhe falaram que você tem uma voz deliciosa?
Fiquei sem entender a última frase. Disse meu endereço. Ela voltou a falar:
- Endereço anotado. Em 72 horas o senhor receberá um retorno da empresa. Se a voz é assim, imagino o todo.
Entrei no jogo:
- Quer conhecer o corpo?
- Porque não?
- É só agendar, disse eu.
- Que tal hoje, depois do expediente? Trabalho no prédio conhecido como pinheiro iluminado.
Sabia onde era o prédio. No centro da cidade. Era assim chamado porque, no período natalino, suas janelas ficavam acesas em formato de pinheiro.
- Combinado, eu falei. Como saberei que é você?
- 17:30 horas. Em frente ao prédio. Você me reconhecerá, com certeza.
Desliguei. Esqueci por completo da reclamação. Fiquei atordoado com a ideia deste encontro inusitado. O dia passou lentamente. A concentração me fugia no trabalho. Só pensava em Maninha.
Cheguei ao prédio um pouco antes do horário marcado. Loucura total. Muita gente saindo. Sem nenhuma referência da mulher com quem me encontraria. Enquanto esperava, fantasiava o encontro. No horário exato, uma estonteante morena veio em minha direção. Fiquei sem reação. Usava um vestido curtíssimo na cor preta, deixando à mostra suas belas pernas. Os seios brigavam com o decote, como se quisessem tomar um pouco de ar fresco e sair daquele aperto. Ela parou na minha frente.
- Sou Maninha. Vamos para minha casa. Moro em uma chácara nos arredores da cidade. Está de carro?
Apoplético, disse sim e a conduzi até meu carro. Ela indicava o trajeto. Eu dirigia sem saber o que estava fazendo. Entramos no anel rodoviário. Andamos cerca de 3 quilômetros e ela mandou que virasse à direita. Era uma estrada de terra. Pediu para que eu parasse. Parei. Achei que a transa aconteceria ali mesmo. Nada disto. Ela me mostrou uma Brasília velha estacionada no meio do mato.
- Meu carro. Siga-me, por favor.
A noite já dava sinais de sua chegada. O céu estava limpo, ao contrário da noite anterior. Meu carro ficou com o perfume dela. Estonteante. Não questionei nada. Simplesmente segui aquele carro velho. O veículo não combinava com a mulher.
Depois de rodarmos por vinte minutos, sem uma casa sequer no caminho, ela parou em frente a um portão de madeira. Desceu do carro. Abriu o portão. Voltou para o carro e entrou, fazendo sinal com as mãos para eu também entrar. Obedeci. Quando parei o carro, percebi que ela já estava fechando o portão com uma corrente e um cadeado. Não me preocupei. O tesão falava mais alto. Entramos na casa. A decoração me fez lembrar os filmes de Almódovar. Cores berrantes e muitas figuras de santos. Ela pediu para eu esperar. Sentei-me no sofá verde limão. Ela voltou somente com um véu transparente no corpo, deixando à mostra a perfeição. Fiquei louco e corri para abraçá-la, beijá-la. Ela me repeliu com as mãos. Disse que era uma rainha. Que deveria me ajoelhar. Achei ridículo, mas ajoelhei. Ela começou a gritar nomes. Perguntei o que fazia.
- Chamo meus duendes.
Ri muito. Um olhar de reprovação me fez calar. Fez um sinal para seguí-la. Fomos para um jardim, muito bem cuidado, nos fundos da casa. Ela começa a apontar e pede para eu conversar com seus súditos. Não via nada. Pensei que era um sonho. Dei um tapa em minha cara, mas estava acordadíssimo. Ela me puxava pelas mãos. Sua força era incrível. Disse que era seu prisioneiro. Achei aquilo demais.
- Que fetiche mais louco é este?
- Você agora me pertence. E o que é meu, também é de meus duendes. Eles te querem.
- Eu não sou de ninguém.
- É sim. Você é de Maninha, a rainha dos duendes.
Aproveitei que ela me soltou e corri para o portão. Trancado. Pedi para que ela abrisse. Negativo. Comecei a ficar preocupado. Achei que iria morrer. Que aquilo era uma armação, quem sabe um ritual satânico. Comecei a suar frio. Pensei uma maneira de me safar. Entrei no jogo. Conversei com os duendes. Ela ficou calma. Sorria.
- Os duendes gostaram de você.
- Eu sei. Eles me pedem um presente. Tenho em minha casa. Preciso buscá-lo.
- Não posso deixar você sair. Você não voltaria.
- Porque não? O duende mais velho confia em mim.
- Mesmo? Vou perguntar a ele.
- Ele quer um objeto que está no meu jardim.
Furiosa, ela vai até o portão e destranca o cadeado. Deixa eu entrar no carro e sair. Acho que ela acreditou que eu falei com um duende.
- Te espero amanhã com o presente.
- Até amanhã.
Esbocei um sorriso. Acelerei e só parei no asfalto novamente. As pernas tremiam. O coração estava na garganta. Abri a porta do carro e vomitei.
Já em casa, não consegui dormir. Só olhava o teto e pensava na fria em que me meti. No dia seguinte, fui trabalhar. Esqueci por completo a reclamação que havia feito em relação à minha tv queimada. Dois dias depois, ao recolher as cartas em minha caixa de correio, vi um envelope com o timbre da companhia de energia. Abri o envelope. Apenas um adesivo. "Eu agora acredito em duendes". Achei uma brincadeira de mal gosto e liguei para a empresa. Um homem me atende. Pergunto por Maninha. Ele disse que não havia ninguém com aquele nome na empresa. Pior, no setor de reclamações só trabalhavam homens. Dei o número do protocolo. Nada foi encontrado. Será que sonhei? Fui trabalhar novamente. Na saída, compro uma nova tv.
Quando chego em casa, não havia água nas torneiras. Resolvo ligar para a empresa responsável.
- Companhia de Águas, boa noite, Maninha falando, serviço de reclamações, anote o número do protocolo por favor, esta conversa está sendo gravada.
Pálido, desliguei o telefone.
- Eu sei. Eles me pedem um presente. Tenho em minha casa. Preciso buscá-lo.
- Não posso deixar você sair. Você não voltaria.
- Porque não? O duende mais velho confia em mim.
- Mesmo? Vou perguntar a ele.
- Ele quer um objeto que está no meu jardim.
Furiosa, ela vai até o portão e destranca o cadeado. Deixa eu entrar no carro e sair. Acho que ela acreditou que eu falei com um duende.
- Te espero amanhã com o presente.
- Até amanhã.
Esbocei um sorriso. Acelerei e só parei no asfalto novamente. As pernas tremiam. O coração estava na garganta. Abri a porta do carro e vomitei.
Já em casa, não consegui dormir. Só olhava o teto e pensava na fria em que me meti. No dia seguinte, fui trabalhar. Esqueci por completo a reclamação que havia feito em relação à minha tv queimada. Dois dias depois, ao recolher as cartas em minha caixa de correio, vi um envelope com o timbre da companhia de energia. Abri o envelope. Apenas um adesivo. "Eu agora acredito em duendes". Achei uma brincadeira de mal gosto e liguei para a empresa. Um homem me atende. Pergunto por Maninha. Ele disse que não havia ninguém com aquele nome na empresa. Pior, no setor de reclamações só trabalhavam homens. Dei o número do protocolo. Nada foi encontrado. Será que sonhei? Fui trabalhar novamente. Na saída, compro uma nova tv.
Quando chego em casa, não havia água nas torneiras. Resolvo ligar para a empresa responsável.
- Companhia de Águas, boa noite, Maninha falando, serviço de reclamações, anote o número do protocolo por favor, esta conversa está sendo gravada.
Pálido, desliguei o telefone.
Inacreditável! Como isso pode ser baseado em uma história real?
ResponderExcluirDe qualquer maneira, delicioso! Prende a atenção e dá vontade de chegar logo ao final! Adorei!
E estava realmente com saudades dos seus contos!
Mil beijos,
Kitty
P.S. Consigo até pensar em te perdoar depois dos vários "NÃO" que me disse hoje
Kitty,
ResponderExcluirAcredite se quiser, mas realmente é baseado em fatos reais em BH.
Bjs.
Noel,
ResponderExcluirEm fatos reais????????
Como assim?????
Bjs
Pek,
ResponderExcluirÉ difícil de acreditar, mas juro que alguém teve que ver duendes para sair de uma chácara em Macacos.
Bjs.
Interessante. Mistura de suspense e fantasia. Narrativa fantástica com algo de absurdo.
ResponderExcluirPrezado Anônimo,
ResponderExcluirObrigado pela visita e pelos comentários.