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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

UM DIA NO CINE BRASÍLIA

Depois de um ótimo café da manhã neste domingo, decido passar a tarde/noite no Cine Brasília (EQS 106/107, Asa Sul), acompanhando a programação do 42º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Com a experiência de anos anteriores, fui cedo comprar entrada para a sessão da mostra competitiva das 20:30 horas. A bilheteria abria às 15 horas. Saio de casa antes das 14:30, pensando que encontraria uma fila enorme. Ledo engano. Apenas quatro pessoas na minha frente. O primeiro da fila era um senhor que acompanha há vinte anos o festival. Ele me disse que a edição de 2009 está igual à de 2008 (não acompanhei a edição do ano passado), com uma participação de público mais modesta. Os ingressos (R$6,00 a inteira) não estavam mais sendo disputados. Comprei a minha entrada e fui almoçar. Como a intenção era ficar até o final da noite e tendo encontrado uma excelente vaga para estacionar o carro, resolvi ir a pé até o Beirute (SCLS 109, Bloco A, lojas 2 a 4, Asa Sul). Foi uma caminhada de vinte minutos com um sol escaldante. Restaurante cheio, como sempre. Consigo uma mesa bem localizada. Peço um filé a cavalo. Básico. Comida bem feita, preço justo. Volto a pé para o Cine Brasília, já por volta das 16 horas, para conferir a Mostra Brasília 35 mm, com entrada gratuita. Havia duas filas grandes para entrar. Escolho uma e espero. Abrem as portas somente às16:50 horas, quando a sessão tinha início marcado para 16:30 horas. A sala logo ficou cheia, com gente sentada nas escadas e laterais. Nada de brigadistas para retirar estas pessoas. Qualquer situação de emergência podia ter consequências ampliadas, pois não havia acessos livres para as saídas. Para piorar, colocaram nas laterais caixas de som e armações para luzes. A hora passa e nada de começar a sessão. Mais uma prova da desorganização que permeia esta edição do festival. Comentam em cadeiras próximas a que eu estava que no sábado foi o mesmo atraso com o agravante de o ar condicionado ter sido desligado e o som ter falhado na exibição da cópia restaurada do filme A Hora da Estrela, de Suzana Amaral. Às 17:30 horas a apresentadora oficial do festival sobe ao palco e anuncia os três curtas da tarde. Quanto ao longa, O Galinha Preta, de Cibele Amaral, ela comunica que não ficou pronto a tempo. Sobem ao palco diretores e respectivas equipes técnicas dos curtas e fazem seus agradecimentos. O produtor do primeiro curta, Rojer Madruga, critica a gestão de Silvestre Gorgulho à frente da Secretaria de Cultura do Distrito Federal. Aplausos da plateia. Ao final dos agradecimentos, a produtora e a diretora do longa que seria exibido sobem ao placo para pedir desculpas. Cibele Amaral, visivelmente transtornada, diz que fez de tudo para o filme ficar pronto e estrear naquele domingo. Se desculpa mais uma vez, em especial à comunidade de Brazlândia que foi prestigiar o filme. Parte da plateia se levanta e sai da sala. Creio que eram parte das pessoas que se deslocaram para ver O Galinha Preta. As projeções dos três curtas começaram, na seguinte ordem:
01) Senhoras, de Adriana Vasconcelos, com 11 minutos de duração. História singela de duas senhoras, mãe e filha, dentro de um apartamento em Brasília em pleno feriado de Carnaval. Achei fraco. Aplausos protocolares da plateia.
02) A Descoberta do Mel, de Joana Limongi, com 16 minutos de duração. Baseado em um quadro de Piero di Cosimo, é um delírio. Faunos descobrem o mel e se fartam em uma orgia no cerrado. Lembrei-me dos filmes experimentais da década de setenta. Detestei. Plateia dividida, com aplausos ensandecidos e com algumas vaias.
03) Reconhecimento, de Ítalo Cajueiro, com 12 minutos de duração. Início com atores que se transformam em animação. História de um sequestro relâmpago baseado em fatos reais. Inusitado. Gostei. Aplausos e vivas da plateia.
Sem o longa, fiquei na Praça de Alimentação montada atrás do cinema. Uma verdadeira estufa. Li jornais e revistas que tinha dentro da mochila, até a hora do início da sessão noturna. 20 horas. Fila grande. Muita gente vai chegando e ficando na frente. Não se identificava mais a fila. Um bolo de gente se armou na frente da porta. Com novo atraso, abrem as portas às 20:45 horas. Não conferem os ingressos de quem pagou meia ou inteira. Sala novamente muito cheia, com pessoas sentadas nas escadas e vias de acesso. Novamente, nenhum brigadista, embora presentes, age. Os apresentadores anunciam os filmes competidores da noite e as respectivas equipes sobem ao palco para agradecer. O longa, É Proibido Fumar, de Anna Muylaert, trouxe para o palco o par de atores principais, Glória Pires e Paulo Miklos. A projeção tem início na seguinte ordem:
01) Carreto, de Marília Hughes e Cláudio Marques, produção da Bahia com 12 minutos de duração. História de amizade entre um garoto e uma menina com deficiência nas pernas, se passa no Recôncavo Baiano. Emocionante, ganhou a plateia com muitos aplausos. Gostei.
02) A Noite Por Testemunha, de Bruno Torres. Produção de Brasília com 24 minutos de duração. Atores e equipe técnica da cidade, quase todos presentes no cinema. Baseado na fatídica noite de 20 de abril de 1997 quando jovens de classe média atearam fogo no índio Galdino em uma parada de ônibus de Brasília. Filme forte, com boas atuações e muitos cortes, com idas e vindas no tempo. Final marcante e reflexivo. Plateia em delírio. Gostei muito.
03) É Proibido Fumar, de Anna Muylaert, produção de São Paulo com 86 minutos de duração. É uma história de amor entre duas pessoas da classe média baixa paulistana, Baby (Glória Pires), uma professora de violão que mora em um apartamento herdado da mãe, e seu novo vizinho Max (Paulo Miklos), um cantor de churrascaria. Para quem viu Durval Discos, o primeiro e único, até então, longa da diretora, pode soar mais do mesmo, embora com uma roupagem diferente. A solidão, a música, o vinil e a estética retrô estão presentes, como no primeiro filme. A primeira metade é melhor, uma comédia leve. Já a segunda metade, com nuances de policial, perde um pouco o viço. Nada, porém, que prejudique o filme como um todo. Glória Pires e Paulo Miklos dão um show de interpretação. Interessante as aparições relâmpago de Paulo César Pereio (o dono da churrascaria), Antônio Edson (Seu Chico, o porteiro), veterano ator do Grupo Galpão de Belo Horizonte, Antônio Abujamra, André Abujamra e José Abujamra (vô, pai e filho no elevador); Etty Fraser (uma avó que mora no prédio de Baby e Max), Lourenço Mutarelli (o corretor), Pitty (uma das pretensas locatárias), Alessandra Colassanti (Stellinha), Marisa Orth (Pop, irmã de Baby) e Dani Nefussi (Teca, irmã de Baby). Divertido, cativou a plateia com muitas risadas. Palmas calorosas ao final. Parece que já é o favorito do público. Gostei muito, mesmo com a perda de ritmo na segunda metade. Final surpreendente. Ao final, a organização do festival informa que o filme O Galinha Preta será exibido na tarde de segunda-feira. Muitos questionaram em risadas. Será?
O episódio do filme de Cibele Amaral é mais um neste infindável festival de desorganização desta edição do FBCB. Como programam um filme não acabado para uma mostra competitiva? Lastimável. O festival precisa se modernizar. Ele ainda é prestigiado pela imprensa nacional, há muitos prêmios, inclusive em dinheiro, disponíveis e um público cativo em Brasília. Porque não melhorá-lo? Fazer um rodízio de curadoria, por exemplo. Porque não fazer uma pesquisa junto ao público para sentir os motivos da perda de interesse nos últimos dois anos? Excesso de documentários? Fora as questões de infraestrutura, com necessidade de reforma do Cine Brasília mais do que urgente, fato já anunciado e propagado pela imprensa local.
Cansado, ainda dou uma passada na Praça de Alimentação e converso com amigos. Volto para casa depois de meia noite, já na madrugada de segunda-feira.

2 comentários:

  1. Nossa Noel, porque será essa confusão toda?
    A direção já não está há tanto tempo a frente do Festival? Ou seja, tem experiência.
    Bjs

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  2. Pek,

    Pois é, parece que a experiência não está contando...

    Bjs.

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