Pela primeira vez no Brasil uma exposição individual de Cai Guo-Qiang, artista chinês que já ganhou importantes prêmios internacionais no campo das artes plásticas. A mostra Cai Guo-Qiang - Da Vincis do Povo (Peasant Da Vincis) ocupa os espaços expositivos do Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília e dois andares do Museu Nacional dos Correios. Fui conferir esta exposição em uma tarde ensolarada de domingo. Entrada gratuita. Primeiro fui ao CCBB, onde está a maior parte da exposição. Minha visita se iniciou pelo pavilhão ao ar livre localizado no gramado da parte de trás do centro cultural. Lá estão protótipos de objetos voados, como aviões, asa-delta, helicópteros e disco-voadores, feitos a partir de sucata e material reciclado. Todos estes objetos voadores estão espalhados pelo pavilhão, alguns pendurados com fios que pendem do teto, ficando em alturas diversas, enquanto outros estão colocados em mesas de madeira ou mesmo no chão. Quando o pavilhão é visto de longe, temos uma leitura diferente de quando estamos dentro do pavilhão ou na escada de ferro montada ao lado. Esta visão à distância dá uma ideia de conjunto bem interessante, pois por cima do teto do pavilhão, montado na laje, está um protótipo de porta-aviões, cujos detalhes podem ser observados por quem sobe a escada de ferro. A leitura que fiz é que o porta-aviões flutuava no céu azul de Brasília, levando consigo todas as máquinas voadoras. Para subir, tive que esperar um pouco, pois apenas dez pessoas, por questões de segurança, podem ficar no alto da escada, onde há uma plataforma de observação. Do alto, além de poder ver os detalhes do porta-aviões, obra que recebeu o nome de Complexo (Complex), há ótima vista da Ponte JK, o que rende belas fotos. O navio foi encomendado por Cai a um chinês chamado Tao Xiangli, especializado em construir, de forma amadora, submarinos. Alguns submarinos estão colados no navio na sua parte lateral. Os objetos voadores que ficam no pavilhão também são encomendas de Cai a inventores chineses. A próxima parada foi na Galeria I. No piso principal, uma vídeo-instalação ocupa quase toda a sala, na qual 49 inventores chineses que colaboraram com Cai são homenageados. São 49 pipas brancas que ficam flanando no ar e em cada uma delas é projetado um vídeo de cruta duração sobre um dos artistas. A instalação exige que a sala fique às escuras. No mesmo piso, está uma homenagem a um outro inventor chinês que morreu pilotando um de seus aviões. O motor destroçado do avião é a parte principal da instalação feita por Cai. A sensação de leveza que a obra passa não combina com o pesado motor, parte principal da instalação. No subsolo da galeria estão dezenas de invenções, com robôs feitos de tudo quanto é material. Tais robôs foram confeccionados por camponeses da China. Não gostei desta parte. Achei sem graça e sem apelo artístico. Crianças e aficionados por robôs são os que devem mais gostar desta parte da exposição. Em seguida, fui para a Galeria II, onde está a parte mais interessante da exposição do CCBB. Três grandes painéis ocupam as três paredes da galeria. Todas elas são desenhos inéditos que Cai Guo-Qiang produziu no Brasil, no próprio centro cultural alguns dias antes da inauguração de sua exposição, quando muitos colaboradores da cidade puderam não só ver o artista em ação, mas também puderam ajudar. Os desenhos são únicos, pois são feitos a partir da utilização de pólvora, uma das invenções mais aclamadas da China. Um vídeo completa a exposição nesta galeria, onde o processo de produção dos desenhos ali expostos é mostrado. A série de desenhos recebeu o nome de Ensaio de Carnaval (Carnival Rehearsal). Os desenhos fazem alusão ao carnaval brasileiro e a discos voadores, numa mistura que combina com o imaginário que nos passa o desfile de escolas de samba do Rio de Janeiro. Da Galeria II fui para o Pavilhão de Vidro, onde apenas uma instalação está presente, chamada Em Espera (Waiting). O inventor Tao Xiangli, autor do porta-aviões que está no telhado do pavilhão ao ar livre, é o co-autor da obra juntamente com Li Yuming, uma vez que os submarinos da instalação foram construídos por eles. O que chama a atenção é que todos os submarinos estão presos em um bloco de gelo (o gelo da obra é real), como se esperassem o degelo para prosseguir o curso. Por fim, fui ver a exibição dos robôs que ficam no grande vão entre a bilheteria e o restaurante do local. As crianças ficam fascinadas pelos robôs quando eles estão em movimento. Monitores são os responsáveis por não deixar ninguém tocar nos robôs, por fazer as devidas explicações e por fazer os tais robôs funcionarem. Quando lá estive, três funcionavam: um cachorro de lata, um robô-criança que cuspia água e um robô-pintor que pintava um quadro com tinta azul. Terminado o recorrido no CCBB, peguei o carro e fui para o Museu Nacional dos Correios, onde há mais obras de Cai. Elas ocupam dois andares. Comecei pelo terceiro andar, onde estão oito vídeos sobre os trabalhos realizados pelo artista pelo mundo. Ele foi um dos responsáveis pelo belíssimo show de abertura das Olimpíadas de Pequim, em 2008. Um dos vídeos mostra este show, focando no trabalho do artista. A maioria dos vídeos mostra os trabalhos com fogos de artifício, quando Cai utiliza cores inusitadas para esta atração, como o preto. Nem sempre vejo os vídeos por completo, mas fiquei tão entretido com eles, que só não vi o da abertura das Olimpíadas. Assim que terminei de assistir os pequenos filmes, continuei a visita, descendo ao segundo andar, onde estão mais oito desenhos encomendados pelo Banco do Brasil especialmente para a mostra. São desenhos feitos com pólvora e um deles é colorido. São todos lindos e de uma leveza incrível. De longe, o que mais gostei foram os desenhos feitos com pólvora. As engenhocas de sucata e material reciclável são interessantes, mas não me cativaram.
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