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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

FILMOTECA ESSENCIAL - BRASIL (08)


Escolhi um terror brasileiro para figurar em minha lista de uma filnoteca básica do cinema nacional. À Meia Noite Levarei Sua Alma, produção de 1963, lançada em 1964. Este filme é a primeira parte de uma trilogia que o diretor só conseguiu concluir nos anos 2000 (o segundo filme também é da década de sessenta). Dirigida e estrelada por José Mojica Marins, o famoso Zé do Caixão, a história é ótima, descontados as condições precárias de gravação (isto até dá um certo charme ao filme). Zé do Caixão, um coveiro em uma cidade interiorana, quer ter um filho para perpetuar suas ideias, mas sua mulher não pode lhe dar o tão sonhado rebento. Ele a mata para tentar ficar com Terezinha, a mulher de Antônio, seu amigo e colega de trabalho na funerária. Mas ela o rejeita. Possuído pela ideia fixa de gerar um filho, ele mata Antônio e violenta Terezinha. Neste meio tempo, ele é amaldiçoado por uma vidente. Terezinha se vinga de Zé do Caixão, suicidando-se, mas antes promete voltar dos mortos para levar a alma de Zé para o inferno, daí o título do filme. No decorrer da história, Zé do Caixão é atroz, usando e abusando da violência física com os homens da cidade, subjugando-os e marcando-os fisicamente. É interessante a forma que ele critica a religião, utilizando objetos ligados à crença religiosa para fazer maldades (em especial a cena onde ele utiliza a coroa de espinhos de uma imagem de Cristo para ferir o rosto de um homem no bar). Os efeitos especiais são toscos se comparados aos dias de hoje, mas tem papel crucial no filme. A cena em que Zé do Caixão arranca uma parte do dedo de um jogador de cartas com uma garrafa quebrada é ótima, assim como aquela em que o médico galã do filme tem seus olhos perfurados com as unhas enormes do coveiro. Os momentos finais são marcantes, com Zé do Caixão apavorado com a proximidade de sua morte. A transformação do rosto deformado de Zé na torre de um relógio marcando meia noite é o ápice da história e o cumprimento da promessa de Terezinha. Mesmo com problemas perceptíveis na gravação da fita, como as cenas noturnas no meio do mato, onde percebemos que tudo foi gravado em estúdio (é só reparar as sombras dos atores na parede do fundo, atrás das árvores, estas visivelmente artificiais), o filme merece ser visto e revisto. Foi o que fiz na noite desta última quarta-feira. Aproveitei e vi alguns extras do dvd, como um filmete de nove minutos quando José Mojica Marins dirigia um curta metragem com árabes que se passava na Amazônia (!). Ele faz o papel de um sultão do mal que é derrotado pelo mocinho da história. O filme é mudo, mas há uma narração do diretor discorrendo sobre o enredo e os bastidores da gravação. Imperdível!

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