Esteve em cartaz no último final de semana em Brasília o musical Orfeu, em nova montagem após cinquenta anos de sua estreia. Para esta nova encenação, o diretor Aderbal Freire Filho ambientou a história clássica de Orfeu e Eurídice nos dias atuais, mantendo a estética idealizada por Vinícius de Moraes em transportar a história para os morros cariocas. Agora, temas o tráfico de drogas, a violência e o baile funk como parte do enredo. O elenco, como na primeira montagem, é formado de atores e atrizes negros, dos quais a mais conhecida do grande público é Isabel Fillardis. Freire Filho adicionou algumas canções da dupla Tom Jobim e Vinícius que não estavam no original, além de ter colocado um personagem que faz um link com a história do passado e a presente. Ele é o poeta. O cenário é composto de um grande painel que nos remete aos barracos amontoados das favelas, mas, para quem é de Brasília, lembra a arte de Athos Bulcão também. Além deste painel, duas escadas de madeira fazem as vezes das escadarias das favelas cariocas, e algumas cadeiras de madeira completam o cenário. Há muita troca de roupa durante as quase duas horas de musical, com algumas araras expostas nas laterias do palco. Também em cena, seis músicos comandados por Jaques Morelembaum e Jaime Alen, garantem a execução da música ao vivo. A iluminação de Maneco Quinderé dá força ao espetáculo. Destaco esta interação da luz com a cena em duas oportunidades: a aparição da morte, vivida por Fillardis, em um figurino todo branco e uma máscara prateada, e a cena de sexo entre Eurídice e Orfeu, muito bonita, por sinal. Há algumas tiradas ótimas, em flerte com a comédia, como quando, em uma mesa de bar, o poeta pede ao garçon uma oficial de justiça mal passada. O garçon traz a tal oficial em seus braços. O poeta pede que ela reabra o clube para que a história da mitologia grega possa continuar e ela responde que mitologia não é sua área, pois é especializada em Direito Civil. O baile funk é ótimo, especialmente a caracterização das "popuzudas", entre elas, uma bichinha pra lá de pintosa. Quanto às interpretações, há altos e baixos, mas, no geral, não há prejuízo para o conjunto do musical. O ator (Érico Bras) que faz Orfeu é muito bom na composição de um sambista do morro, mas não tem uma extensão de voz boa o suficiente para cantar as músicas mais lentas de Tom e Vinícius. No seu todo, o musical cresce na segunda metade, terminando com uma bela e justa homenagem a Vinícius de Moraes. Gostei muito do musical, genuinamente brasileiro, mostrando que não devemos nada aos importados da Broadway. Pena que o teatro não estava lotado, com várias cadeiras vazias nas suas laterais. O preço do ingresso não pode ser motivo destes vazios, pois custou R$ 40,00 (meia entrada - cupom Sempre Você). O público brasiliense perdeu uma ótima opção de entretenimento. Fica a dica para as demais cidades nas quais Orfeu ainda será exibido.
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segunda-feira, 11 de outubro de 2010
ORFEU
Esteve em cartaz no último final de semana em Brasília o musical Orfeu, em nova montagem após cinquenta anos de sua estreia. Para esta nova encenação, o diretor Aderbal Freire Filho ambientou a história clássica de Orfeu e Eurídice nos dias atuais, mantendo a estética idealizada por Vinícius de Moraes em transportar a história para os morros cariocas. Agora, temas o tráfico de drogas, a violência e o baile funk como parte do enredo. O elenco, como na primeira montagem, é formado de atores e atrizes negros, dos quais a mais conhecida do grande público é Isabel Fillardis. Freire Filho adicionou algumas canções da dupla Tom Jobim e Vinícius que não estavam no original, além de ter colocado um personagem que faz um link com a história do passado e a presente. Ele é o poeta. O cenário é composto de um grande painel que nos remete aos barracos amontoados das favelas, mas, para quem é de Brasília, lembra a arte de Athos Bulcão também. Além deste painel, duas escadas de madeira fazem as vezes das escadarias das favelas cariocas, e algumas cadeiras de madeira completam o cenário. Há muita troca de roupa durante as quase duas horas de musical, com algumas araras expostas nas laterias do palco. Também em cena, seis músicos comandados por Jaques Morelembaum e Jaime Alen, garantem a execução da música ao vivo. A iluminação de Maneco Quinderé dá força ao espetáculo. Destaco esta interação da luz com a cena em duas oportunidades: a aparição da morte, vivida por Fillardis, em um figurino todo branco e uma máscara prateada, e a cena de sexo entre Eurídice e Orfeu, muito bonita, por sinal. Há algumas tiradas ótimas, em flerte com a comédia, como quando, em uma mesa de bar, o poeta pede ao garçon uma oficial de justiça mal passada. O garçon traz a tal oficial em seus braços. O poeta pede que ela reabra o clube para que a história da mitologia grega possa continuar e ela responde que mitologia não é sua área, pois é especializada em Direito Civil. O baile funk é ótimo, especialmente a caracterização das "popuzudas", entre elas, uma bichinha pra lá de pintosa. Quanto às interpretações, há altos e baixos, mas, no geral, não há prejuízo para o conjunto do musical. O ator (Érico Bras) que faz Orfeu é muito bom na composição de um sambista do morro, mas não tem uma extensão de voz boa o suficiente para cantar as músicas mais lentas de Tom e Vinícius. No seu todo, o musical cresce na segunda metade, terminando com uma bela e justa homenagem a Vinícius de Moraes. Gostei muito do musical, genuinamente brasileiro, mostrando que não devemos nada aos importados da Broadway. Pena que o teatro não estava lotado, com várias cadeiras vazias nas suas laterais. O preço do ingresso não pode ser motivo destes vazios, pois custou R$ 40,00 (meia entrada - cupom Sempre Você). O público brasiliense perdeu uma ótima opção de entretenimento. Fica a dica para as demais cidades nas quais Orfeu ainda será exibido.
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