Como escrevi na postagem anterior, começou a Mostra Internacional de Teatro (MIT) no CCBB, ocupando o Teatro I. A primeira peça veio da Argentina. Montagem da Companhia Alejandro Catalán chamada "Amar". Três casais, vividos pelos excelentes atores Edgardo Castro, Lorena Veja, Natalia López, Toni Ruiz, Federico Liss e Paula Manzone, fazem uma viagem para um balneário. Não há indicação qual o motivo, tanto pode ser uma temporada de férias quanto um final de semana. A ação se passa em uma noite neste balneário, onde os três casais interagem. Dos seis, cinco já se conheciam, sendo uma apenas a intrusa, ou a novata no grupo, recém namorada do "garotão" da turma. Todos estão na casa dos trinta anos, menos a novata, que tem 26 anos. Nesta noite, onde eles estão em um local com um jardim externo e uma pista de dança de boate (para mim, um hotel), a conversa começa inocente, com o papo rolando em torno do dia a dia, mas na medida em que a noite avança e as bebidas começam a fazer efeito, algumas "verdades" sobre o relacionamento de todos aparecem, trazendo momentos tensos e dramáticos. É o verdadeiro cair o pano da hipocrisia de uma sociedade que exige que as pessoas simulem comportamentos, principalmente quando estamos lidando com relacionamentos amorosos, com o amar, título da peça. Como nas peças mais recentes do teatro argentino (falo tendo como referência as que vi nos últimos anos, especialmente as de Daniel Veronese), o diretor Alejandro Catalán optou pelo naturalismo. A história pode acontecer com qualquer um de nós e os atores estão bem soltos, bem naturais. Não há iluminação direta. Cabe aos atores posicionarem ou segurarem lanternas para iluminar rostos, corpos e partes de corpos, dependendo do que o texto exige que se ressalte. Quando estão dançando, aqueles que não estão na cena tremulam as lanternas, simulando as luzes de uma boate. Outro efeito cênico interessante é o barulho do mar, feito a partir da manipulação de dois suportes feitos com garrafas de plástico cheias de grãos. O subir e descer dos grãos dentro da estrutura de plástico simula o vai e vem das ondas do mar. A peça começa assim, com dois atores manipulando a engenhoca, mostrando ao público que a história se passará à beira mar, e também termina do mesmo modo, porém o fim é na escuridão total, apenas o mar e a conversa bem baixinho dos personagens, revelando-nos que eles foram tomar uma brisa, foram colocar os pés na água, que a vida continua, apesar de tudo o que vivenciaram em uma intensa noite. Além do ótimo texto, destaco também a opção do diretor em mostrar para o público como são feitos os efeitos cênicos, além da entrada e saída dos atores da cena (eles nunca deixam o palco, mas ficam na penumbra, como se não estivessem sendo vistos por nós). O MIT começou bem. Gostei muito do que vi.
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